Os primeiros aviões a sobrevoar Cabo Verde
No dia 5 de abril de 1922, Gago Coutinho e Sacadura Cabral chegaram à ilha de S. Vicente rumo à primeira travessia aérea do Atlântico Sul. De S. Vicente voaram no pequeno hidroavião para a ilha de Santiago no dia 17 de abril, neste mesmo dia rumaram para águas brasileiras.
O arquipélago de Cabo Verde a partir de 1927 foi muito cobiçado pelas grandes companhias de aviação. França, Itália e Alemanha faziam esforços para o governo da Colónia assinar acordos para o estabelecimento do correio aéreo entre a Europa-África e a América do Sul.
A "Compagnie Generale D' Entreprises Aeronautiques" com sede em Paris, pretendia inaugurar o serviço aéreo entre França e a América do Sul e fizeram o pedido ao Governo Português no dia 27 de outubro de 1927.
Em meados de novembro de 1927, apareceu na ilha de S. Thiago, Mr. Chaulet Pierre (1), chefe dos mecânicos da "Compagnie Générale d'Enterprises Aéronautiques", portador de uma carta da mesma companhia a solicitar ao governo bom acolhimento ao seu enviado, que se fazia acompanhar de material para a instalação, no porto da Calheta de S. Martinho na ilha de Santiago, da base aérea-marítima da linha França-Senegal-Argentina. O pedido para escalar em Porto Praia as aeronaves da sua linha postal França-América do Sul, cujo funcionamento pretende iniciar em prolongamento da carreira França-Senegal. Nessa linha a companhia tenciona utilizar hidroaviões entre Saint Louis (Senegal) e Porto Praia, dali até Fernando Noronha navios rápidos e de Fernando Noronha até Natal hidroaviões, sendo o restante percurso feito em aviões.
Em novembro do mesmo ano é solicitada autorização para fazer as instalações necessárias bem como a instalação de um posto T.S.F.(estação rádio telegráfica) privativo para o serviço dos seus aviões e navios. Só no dia 30 de dezembro foi aprovado o Diploma Legislativo n.70, que autorizou as instalações com as cautelas recomendadas. Este diploma foi publicado no Boletim Oficial n.º53 de 1927.
Figura1- Calheta de S. Martinho
Reunido o Conselho do Governo na sua 20ª sessão, de 30 de dezembro e ouvido sobre o pedido da companhia francesa, foi aprovado o Diploma Legislativo n.º70 que autorizou as instalações com as devidas cautelas, este diploma foi publicado no B. O. n.º53 de 1927.
O primeiro hidroavião chegou em 1928 à Calheta de S. Martinho, pilotado pelo tenente Paulin Paris. (1)
Figura2-Piloto e hidroavião na Calheta de S. Martinho em março de 1928.
(1) Documentos do Arquivo Ultramarino.
Em 1931 foi a vez do "Navio-Voador" Do.X visitar a ilha de Santiago, previsto para finais de janeiro, mas tal só aconteceu nos primeiros dias do mês de junho.
Figura2-Do.X
O certo é que a companhia francesa acabou desistindo dos hidroaviões para passar a apostar nos aviões, escolhendo então para local de aterragem a Achada Grande, junto à cidade da Praia.
A primeira Mala Postal de Avião entre a Praia e a Europa aconteceu a 31-7-1934, o correio foi obliterado com uma marca especial.
Figura 4-Carimbo da 1ª mala Praia-Europa
No dia 14 de abril de 1935 o voo da Air France transportou correio para Lisboa e informaram os correios portugueses que poderiam levar correio de volta no dia 20 do mesmo mês. Ainda não estava assinado nenhum acordo postal entre a Air France e o governo de Cabo Verde, o que só viria a acontecer nos primeiros dias de maio de 1935.
A Inauguração do Correio aéreo para Cabo Verde (Sáb. 11-5-1935)
1. Aeroporto da ilha de Santiago (cidade da Praia)
Figura 5- recorte do Diário de Lisboa de 10-5-1935.
2. Aeroporto da ilha do Sal (Espargos)
Durante o ano de 1939, Itália submeteu um pedido ao governo português para fazer um aeroporto na ilha do Sal, na localidade de Espargos. Em novembro do mesmo ano foram feitos vários voos de teste, . O acordo postal foi assinado e depois de fixadas as sobretaxas foi aberto, este serviço, ao público o correio aéreo da linha Roma-América do Sul pela "Linee Aeree Transcontinentali Italiane-L.A.T.I." no dia 21 de dezembro de 1939.
Figura 6 - recorte do Diário de Cabo Verde, 23-12-1939.
Com o ataque dos japoneses a Pearl Harbour em 7 de Dezembro de 1941 e a declaração de guerra dos países do eixo em 11 de Dezembro do mesmo ano aos Estados Unidos, era previsível o fim da L.A.T.I.
O mapa N.º4-A da Estatística Postal de Cabo Verde do ano de 1945 alude sobre o número de malas aéreas permutadas durante os últimos dez anos, neste caso começa em 1939 e os dados vão até ao ano de 1944, abrange o período da 2º Grande Guerra Mundial.
A atividade nestes 6 anos foi bastante irregular como se pode verificar no quadro seguinte:
Em 1939 foram expedidas 3 malas para a Metrópole e 1 mala para o Estrangeiro, desta contabilidade verifica-se que apesar de só ter havido dois voos oficiais, um no dia 21 e outro no dia 28 de dezembro, existiu, pelo menos, mais um voo percursor. Já no ano de 1944, as 33 malas não são de correio expedido nem recebido, são provenientes do estrangeiro em trânsito para a Metrópole.