Poesia ao Artista

Ao Artista (Luiz Eduardo)

Chego medrosa, reverencio o artista

e penetro em seu santuário.

Vejo em sua obra uma oferenda, um renascimento

parece a eclosão de um mundo novo

recém-criado pelos contornos da beleza

na sua primitiva e sólida grandeza.

Grades, como garras, presas

somos os que perambulam pela sala

a intuir mistérios e surpresas

nos aduncos objetos, engenhos etéreos.

Árvores remodeladas pela força de seu gênio

que das próprias entranhas arranca o seu desenho

e como estigmas lanceados por um lenho

vai imprimindo em cada face a sua lágrima.

Mundo estranho e inocente, o das suas formas

tão agônicas, tão primícias e tão loucas

que desafiam nossas insignificantes e poucas

luzes, pois o cria num momento iluminado

onde a fantasia alarga o horizonte.

Podemos apenas olhar, com imenso pudor

sem dimensionar o fiel poder

sem penetrar a crosta das imagens

sem decifrar a profundeza das mensagens

que repousam na matéria em rebeldia.

Passeiam por elas nossos olhos passageiros

e o que traduzem os madeiros

não são os elementos naturais e verdadeiros

terra, luz, troncos, braços e espigas

Mas a obra hercúlea desafia a captação superficial

em que a perfeição da arte se projeta.

Essa arte revelada até o infinito

com um rito do formão e do martelo!

Ela nos narcotiza num ritmo desvairado

onde há sombras, cavernas e silêncios

é a nova humanidade refletida

nas histórias telúricas que ele inventa.

Suas mãos compõem o noturno das metamorfoses

e os seus dedos de aurora traduzem

daqueles estóicos braços erguidos

a epopéia de heróicos guerreiros

que ele canta poderoso como um bardo.

E ofuscados, caro Luiz Eduardo,

agradecemos o momento iluminado

em que penetramos pelas portas abertas de seu mundo!

Dilza Pinho Nilo