Histórico do LLICC

As atividades do LLICC (então ainda sem nome) tiveram início em 2002 com as discussões sobre línguas de sinais feitas por alguns dos participantes de um projeto de pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, intitulado Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura, História (ECS). Esse projeto agregava pesquisadores dos Departamentos de Letras Modernas, Linguística, Antropologia e História da FFLCH; da Escola de Aplicação e da Faculdade de Educação da USP; e das áreas de língua de sinais e antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina.

Em 2002, os pesquisadores do ECS que investigavam as línguas de sinais começaram a ler e discutir textos sobre vários aspectos dessas línguas. Logo ficou claro que os trabalhos mais interessantes e empiricamente mais confiáveis sobre essas línguas estavam sendo feitos no âmbito de teorias linguísticas de base cognitiva não-chomskyana. Esses pesquisadores passaram, então, a se dedicar ao estudo de vários dos modelos, como a gramática cognitiva, de Ronald Langacker; a semântica cognitiva, de Leonard Talmy; a teoria de metáforas conceituais, de George Lakoff e Mark Johnson; a teoria do corporeamento de Mark Johnson; a teoria de espaços mentais e de integração conceitual, de Gilles Fauconnier e Mark Turner; entre outros. Em comum, todos esses modelos têm a idéia de que o conhecimento linguístico de um falante se constrói a partir do uso da língua. Os estudos desses modelos deixaram claras algumas de suas limitações, especialmente relacionadas à ênfase que é colocada sobre o indivíduo. Vertentes mais modernas das ciências cognitivas e da filosofia da mente têm chamado a atenção para o fato de que a cognição humana não existe no vácuo, mas é fundamentalmente situada em interações sociais. O grupo passou, então, a se debruçar também sobre estudos da interação, inicialmente propostos no âmbito da sociologia e da antropologia, focalizando especialmente a interação face-a-face multimodal.

Com o passar do tempo, as discussões sobre as relações entre língua, cognição, cultura e interação passaram a atrair pesquisadores não particularmente interessados nas línguas de sinais, mas em línguas orais, em gestualidade, e em questões relativas à evolução e à mudança linguísticas associadas à interação entre diferentes grupos sociais. Desse modo, o LLICC ganhou autonomia e se independeu do ECS, passando a dar maior ênfase às questões teóricas, filosóficas e metodológicas que envolvem o estudo da língua e de outras linguagens de um ponto de vista de uma cognição situada e distribuída, sem, contudo, deixar de privilegiar a descrição e a análise de dados de língua em uso.