Luiz Tudrey

Reparador e Fabricante de Bocais para Flauta

Homenagem a Luiz Carlos - 15 de Março de 2024

Aposentadoria do Tudrey - 2018

Artigo de Jornal de Maio de 1980 : Consertador de flauta por Neusa Ribas

Homenagem a Luiz Carlos - 15 de Março de 2024

Luiz Carlos Tudrey, um renomado consertador de flautas, nos deixou no dia 15 deste mês, deixando um legado de dedicação e maestria que ressoará nas memórias da comunidade musical. Sua jornada começou com humildes inícios, vendendo sapatos e estudando História, até que seu amor pela música o levou a perseguir uma carreira artesanal que poucos ousariam sonhar.

Na Europa, Tudrey refinou suas habilidades por dois anos, um período em que seu compromisso com a música se fundiu com a mestria técnica, sob a influência inspiradora de Toninho Carrasqueira. Ao retornar ao Brasil, ele estabeleceu não apenas um ofício, mas uma referência em um campo de nicho, transformando desafios em oportunidades.

Em um mundo onde o cuidado e a conservação de instrumentos musicais muitas vezes passam despercebidos, Tudrey destacou-se como um guardião da harmonia e um restaurador da voz dos instrumentos que consertava. Seu trabalho ia além do reparo; ele infundia nova vida em cada peça que tocava, garantindo que cada nota pudesse ser tocada novamente com clareza e beleza.

Seu sonho de fabricar flautas pode não ter se realizado plenamente, mas ele deixou sua marca, aproximando-se do ideal ao criar um bocal artesenalmente.

Luiz Tudrey dedicou muitos anos à fabricação artesanal de bocais para flauta, utilizando principalmente prata e algumas peças em ouro. Seus bocais destacavam-se por serem fáceis de tocar e por produzirem um som de excepcional beleza.

Luiz Carlos Tudrey superou desconfianças iniciais para construir uma clientela fiel que transcendeu fronteiras estaduais. Sua habilidade, paciência e conhecimento técnico eram excepcionais, tornando-se sinônimo de confiança e qualidade. Sua falta será sentida profundamente, mas sua arte permanece, cada nota tocada em uma flauta por ele consertada será um eco da sua memória.

O legado de Tudrey serve como um lembrete poderoso de que a paixão pelo ofício e a busca pela excelência têm o poder de transformar vidas. Que sua memória inspire futuras gerações a seguir a melodia de seus sonhos com a mesma determinação e graça que ele demonstrou em sua vida.

Aposentadoria do Tudrey - 2018

3 de Agosto de 2018 - Postagem no Facebook:

Luiz Carlos Tudrey, um respeitado luthier e mestre, foi sempre uma referência para mim. Fiz inúmeras visitas à sua oficina para a manutenção de minhas flautas, mesmo estando a uma hora de distância. Sua presença era sempre agradável, e às vezes, sem qualquer motivo específico, eu me sentia compelido a visitá-lo apenas para admirar o seu trabalho. Tudrey era perfeito em sua arte, gentil e transmitia uma paz inspiradora. Por muitos anos, ele salvou a vida de diversos flautistas, trazendo sorrisos ao revitalizar nossas flautas. Seus bocais artesanais eram, e continuam sendo, excepcionais, superando muitos bocais importados renomados. No entanto, o tempo passa para todos, e nosso estimado luthier e construtor de bocais se aposentou. Desejo-lhe paz, alegria e saúde em sua nova fase de vida, aproveitando sua família e relembrando os bons momentos de sua nobre carreira. Como alguém que segue seus passos na reparação de flautas, ele é minha inspiração, e aspiro ser ao menos um pouco do que ele foi. Meu sincero agradecimento a Luiz Tudrey, acompanhado de um fraterno abraço.

Artigo de Jornal de Maio de 1980 : Consertador de flauta por Neusa Ribas

Antes de escolher a profissão de consertador de flautas de forma definitiva, Luiz Carlos Tudrey empreendeu diversas atividades: foi vendedor de sapatos em uma loja, responsável pela contabilidade de uma empresa e estudou História até o terceiro ano. Casou-se e partiu para a Europa, onde passou dois anos viajando e trabalhando. Durante esse tempo, conheceu o músico Toninho Carrasqueira, que o incentivou na carreira musical.

Ao retornar ao Brasil, Luiz Carlos, também conhecido como Alemão, aprendeu a profissão com seu tio, Omar Gonçalves, que era industrial e músico. Já são três anos vivendo deste meticuloso ofício que demanda sensibilidade e extrema paciência. É essencial para um consertador de flautas saber tocar o instrumento; por isso, Alemão teve aulas com Toninho Carrasqueira.

"No começo, foi extremamente difícil, pois os músicos duvidavam da minha competência. Agora, tendo superado essa desconfiança inicial, possuo clientes até de outros estados."

A arte de consertar flautas é dominada por poucos. Em São Paulo, existem somente quatro consertadores, além dos funcionários da fábrica Galasso, especialistas no ramo.

"Seria essencial que o flautista cuidasse melhor do seu instrumento, pois além do alto custo de uma flauta importada — cerca de 120 mil cruzeiros —, trata-se de um instrumento complexo para consertar", destaca Alemão.

Normalmente, os principais problemas estão nas sapatilhas. A reparação exige materiais importados, o que complica o trabalho do especialista. Contudo, para mitigar a falta desses materiais no mercado nacional, que não produz a película nem o feltro, Luiz Carlos já iniciou pesquisas. O feltro, de tecido específico, é difícil de ser produzido nacionalmente, mas a película, que é feita a partir da nadadeira de peixe, poderia ser fabricada localmente. Alemão já chegou perto de replicar a qualidade da película importada, faltando-lhe apenas aprofundar os estudos sobre o curtimento da nadadeira.

Outro anseio — ou sonho — de Alemão é produzir flautas. "Contudo, trata-se de um sonho quase inatingível, considerando que o investimento necessário é significativo. O metal amarelo nacional não atende às exigências de qualidade para tal fim. Seria necessário importar o metal branco, o que representaria um custo elevado. Além disso, competir com fabricantes internacionais seria um grande desafio. Ainda assim, não desejo descartar essa ideia, pretendo manufaturar flautas de forma artesanal e sob encomenda."

As ambições de Luiz Carlos não se limitam a isso, ele é um profissional apaixonado pelo que faz "por amor à arte". "Seria vital que o Senai oferecesse um curso nessa área. Na Inglaterra, existem escolas que ensinam tanto a fabricação quanto o conserto de instrumentos. Por isso, um dos meus focos é passar adiante o que sei para outras pessoas. Talvez um dia consiga abrir meu próprio curso..."

Consertar flautas não é uma atividade que traz grande retorno financeiro. O que Luiz Carlos ganha mal cobre suas necessidades básicas: "Não é uma carreira lucrativa. Escolhe-se esse caminho mais pelo amor à arte. Por isso, esforço-me para entregar um serviço de qualidade, muito cuidadoso. É importante para o desempenho do músico que seu instrumento esteja em excelentes condições. Por vezes, passo uma semana restaurando uma única flauta. Mas ver um músico tocar bem com uma flauta que arrumei é extremamente gratificante. Aos trinta e dois anos, encontrei minha vocação profissional, faço o que amo, sem chefe e sem preocupações financeiras."

Artigo de Jornal de Maio de 1980 : Consertador de flauta por Neusa Ribas da Revista Música, Editora Imprima.

Bocal Tudrey

Fabricação: Tudrey fabricava seus bocais de forma artesanal em sua oficina na Rua Bairi, 79, Alto da Lapa, em São Paulo.

A partir de chapas de prata, Tudrey fazia o tubo soldado, porta-lábio por forjamento em estampa, e riser fundido.

Luiz Tudrey também fabricava sua coroa em torno e era pioneiro na fabricação de stoppers de plástico.

Seus bocais alcançaram grande reconhecimento, sendo algumas unidades vendidos na Europa e utilizados por renomados flautistas, entre eles, Toninho Carrasqueira e Antonio Rocha.