Para tocar bem uma música e transmitir sua mensagem de forma verdadeira, nosso som precisa ser bonito, nossa leitura da partitura precisa ser precisa, e nossos dedos precisam ser ágeis, tocando cada nota com clareza e sem erros. O início de cada nota — ou seja, nossa articulação — deve ser nítido e belo. Além disso, devemos variar a dinâmica e as cores do som para expressar sentimentos que toquem os corações.
Tocar bem não se resume apenas a ler corretamente a partitura — embora isso seja fundamental —, mas também a interpretar a musica, adicionando dinâmica, nuances no som e transmitindo a emoção que a letra e a melodia carregam.
Para entender isso melhor, pense em um contador de histórias que muda a voz conforme o drama, a alegria ou o suspense que está narrando. Da mesma forma, ao tocar uma música, precisamos "contar a história" dela com nosso instrumento. Outro exemplo é o do pintor, que usa diversas cores e texturas para dar vida e profundidade à sua obra; assim também deve ser nossa sonoridade.
Comece estudando bem a leitura da partitura e, depois, trabalhe na interpretação: coloque sentimento em cada frase musical, utilizando variações de dinâmica e articulação para dar vida à música.
Assim como modulamos a voz ao falar para expressar diferentes sentimentos, devemos fazer o mesmo na música: falar forte para transmitir intensidade e suavizar para expressar paz ou gratidão. Com o instrumento, a dinâmica do som e as variações de timbre são as ferramentas que temos para transmitir essas emoções.
Tocar música não é só acertar as notas. Cada nota é como uma palavra, e juntas elas formam frases que precisam fazer sentido e expressar emoção.
Imagine que você está falando algo bonito para alguém: você não fala batendo as palavras de forma seca; você fala com intenção, muda a voz, respira, cria curvas no som.
Quando tocar, procure:
Fazer ligações suaves entre as notas (mesmo que esteja articulando, procure uma articulação clara, porém nunca agressiva).
Pensar nas linhas de direção: cada frase tem um início, um desenvolvimento e um relaxamento, como se estivesse contando uma história.
Usar dinâmica (volume): algumas notas são naturalmente mais fortes, outras mais suaves; isso cria emoção.
Trabalhar para que o som seja arredondado, sem batidas ou choques — como um fio contínuo de ar e som.
Sentir a intenção de cada nota: algumas notas são mais tensas, outras mais relaxadas, como se fossem diferentes cores dentro da frase.
Pense menos em “nota por nota” e mais em um movimento contínuo de emoção e respiração.
Explicando com metáforas
A seguir, algumas metáforas práticas muito eficazes para ensinar a construção de frases musicais mais expressivas, arredondadas e emocionantes:
"Pintar uma linha com o som"
Imagine que o som é um pincel, e que cada frase musical é uma linha contínua que você está pintando no ar. Se você parar ou machucar essa linha, a pintura ficará prejudicada. Mantenha o traço fluido, redondo, suave — mesmo quando mudar de cor (nota).
"Falar uma poesia com o instrumento"
Tocar não é falar sílabas duras como um robô; é como recitar uma poesia. Às vezes você fala mais forte, outras vezes mais suave; em alguns momentos alonga uma palavra, em outros a encurta. A música precisa respirar e ter emoção igual a uma poesia falada.
"Cada nota é uma gota que desliza até a próxima"
Imagine que cada nota é uma gota de água deslizando naturalmente em direção à próxima. Se você jogar a gota bruscamente, ela quebra; mas, se deixá-la fluir, ela se juntará suavemente à próxima, formando uma transição natural e bonita.
"Subir e descer morros com o som"
Em vez de tocar todas as notas no mesmo nível, imagine que você está caminhando por morros e vales. Algumas notas irão crescer (subir o morro, aumentando a intensidade), e outras irão relaxar (descendo suavemente).
"Cantar no instrumento"
Toque como se estivesse cantando a música dentro de você. Quem canta não bate nas notas; quem canta sente o peso natural das palavras, alonga, encurta, colore. Você deve fazer a flauta ou qualquer outro instrumento cantar com sentimento.
"Arco de respiração"
Cada frase tem um arco natural, semelhante a uma respiração completa: inspiração, crescimento, clímax, expiração. Tocar bem é respeitar esse arco em cada frase, evitando um som "parado", "truncado" ou sem vida.
Aqui estão alguns exercícios práticos e eficazes para desenvolver a interpretação expressiva na execução de peças clássicas:
1. Exercício das Dinâmicas Crescentes e Decrescentes
Escolha uma frase musical curta.
Toque-a repetidamente, fazendo um crescendo gradual até atingir o ápice da frase, seguido por um decrescendo suave até o final.
Varie o ponto de maior intensidade a cada repetição, para perceber diferentes possibilidades expressivas.
2. Exercício de Articulação Variada
Escolha uma frase e experimente tocá-la de diferentes maneiras:
Legato (ligado): o mais suave possível, conectando cada nota.
Staccato (curto): cada nota destacada, mas nunca agressiva.
Portato: notas articuladas, porém suavemente conectadas, criando pequenas ondas de som.
Depois misture essas articulações dentro da mesma frase musical.
3. Exercício do Arco de Respiração (Fraseado)
Respire profundamente antes de cada frase musical.
Toque como se estivesse cantando: permita que cada frase tenha um início claro, desenvolvimento expressivo e fim suave.
Após cada frase, respire novamente como se estivesse cantando.
4. Exercício do "Cantar no Instrumento"
Antes de tocar o instrumento, cante a frase musical em voz alta e, ao tocá-la na flauta, mantenha a ideia musical que você cantou.
Em seguida, toque tentando reproduzir a mesma sensação, respiração e dinâmica que você usou ao cantar.
Essas peças são excelentes para desenvolver as habilidades mencionadas acima:
"Sicilienne" (Gabriel Fauré)
Para trabalhar dinâmica, fraseado e suavidade nas transições.
Gravação com Jean-Pierre Rampal
Meditation" de Thaïs (Jules Massenet)
Ótima para desenvolver intensidade emocional, fraseado fluido e dinâmicas expressivas.
Gravação com Jean Pierre Rampal
"Clair de Lune" (Debussy)
Essencial para praticar controle sutil da dinâmica e nuances delicadas.
É uma peça perfeita para estudar fraseado longo, controle da sonoridade, dinâmica suave e ligados naturais.
Gravação com Jean-Pierre Rampal
Inicie devagar:
Toque lentamente, prestando atenção em cada detalhe dinâmico e de articulação.
Divida em frases curtas:
Trabalhe frase por frase, explorando diferentes interpretações emocionais.
Use gravações como referência:
Ouça músicos profissionais interpretando as peças para captar nuances e ideias que você possa adaptar ao seu estilo.
Grave sua prática:
Avalie sua execução, ouvindo especialmente se a interpretação está clara e expressiva.
Esses exercícios e peças proporcionam não só o desenvolvimento técnico, mas principalmente uma compreensão mais profunda sobre como a música clássica pode e deve ser interpretada com sensibilidade e expressão emocional.
Por Nilson Mascolo Filho
Nesta seção, você pode ouvir e baixar as partituras das mais belas músicas para flauta, interpretadas pelos grandes mestres. São concertos, sonatas, solos e outras peças. Aqui você encontra as gravações juntamente com as respectivas partituras.