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Conteúdo com artigos sobre meio ambiente. Responsável por esta página: Professor Dr. José Luis Domingues.

Artigo 1:

BIOCOMBUSTÍVEIS E ESCASSEZ DE ÁGUA

por José Luiz Domingues

A crescente diminuição da disponibilidade de água potável e mesmo a falta completa de água é preocupante em muitas regiões do mundo. Há regiões onde os lagos, rios e nascentes estão desaparecendo e as pessoas agora fazem gestões para defender seus direitos, lutando para manter seu ambiente original. Pelo direito de manter seus recursos hídricos, as discussões prévias sobre quaisquer mudanças estratégicas, regionais ou locais, são lícitas e necessárias.

Na onda da alteração da matriz energética, muitos países têm procurado diminuir a dependência de petróleo ou carvão, substituindo-os por energia eólica, solar ou hidrelétrica. Entretanto, a opção pelo biocombustível tem sido contestada por alguns técnicos e políticos, principalmente de países importadores de alimentos.

O primeiro sobressalto é dos produtores de petróleo, obviamente por motivos estratégicos e econômicos. O segundo é daqueles que criticam a geração de agroenergia como risco certo pela a diminuição de áreas de cultivo de alimentos. Na terceira onda de motivos surgem os que temem que as culturas para produção de energia poderão diminuir a água disponível nos sistemas atuais.

Alguns erram dolosamente ao defenderem interesses escusos ou o lucro rápido e irresponsável, com estudos parciais e ações paliativas que apenas encenam uma preocupação sócioambiental. Outros têm razão ao questionarem se a adoção de alternativas energéticas, como os biocombustíveis, será conduzida de forma criteriosa, sem concorrer com a produção de alimentos ou com a disponibilidade de água.

O fato é que a água disponível neste planeta é limitada, tanto em qualidade quanto em quantidade, apresentando uma distribuição muito irregular. Não há dúvidas que sua disponibilidade diminuirá desde o momento em que for retida pelos vários organismos vivos. Seja em corpos humanos, nos animais de produção, nos alimentos vegetais ou nas árvores, essa água fará parte da estrutura intrínseca de cada um desses seres e ficará temporariamente "fora de circulação".

Pelos estudos existentes a respeito da capacidade de retenção de águas nos solos e sobre a evapotranspiração nas diferentes culturas, podemos estimar quanto o aumento nos cultivos para a produção de energia e alimentos irá concorrer para a diminuição na disponibilidade de água dos mananciais. Conhecemos também de perto os efeitos negativos, ambientais, econômicos e sociais das monoculturas regionais e da falta de manejo correto dos solos e das águas.

A falta de água em curto prazo também será reflexo do aumento da população, da falta de saneamento, da ausência de educação ambiental e do uso irresponsável das fontes e cursos de água durante séculos. Embora os processos bioquímicos de fixação a liberação de água pelas culturas apresente um equilíbrio com o tempo, não conseguimos prever adequadamente este prazo, atenuar a intensidade desse desequilíbrio ou reverter seus efeitos em um curto prazo.

A necessidade em atender as demandas em alimentos, água e energia já vem causando alterações no uso dos rios e promovendo conflitos pelo seu controle. Reversão do sentido de rios, alterações no seu curso e transposição de suas águas, são temas bastante atuais, por isso a discussão prévia sobre a adoção de novos modelos locais para seu uso e para garantir a manutenção dos recursos hídricos é saudável e recomendável.

Por conta do desperdício de água e de energia, estamos finalmente nos dando conta que o conteúdo da lamparina, da panela e da moringa está quase no limite para atender aos convidados que chegam para o banquete terrestre.

(*) Engenheiro Agrônomo.