A poucos quilômetros ao sul de Soledad, o rio Salinas desce bem junto ao flanco da colina e corre profundo e ver¬de. Sua água é morna, pois desliza cintilando ao sol por so¬bre areias amarelas antes de alcançar o estreito lago natural. De um lado do rio, os flancos dourados da colina sobem si¬nuosos até as montanhas Gabilan, fortes e rochosas, mas do lado do vale a água acha-se orlada de árvores — salgueiros frescos e verdes a cada primavera, mostrando nas junções das folhas inferiores fragmentos rochosos das enchentes de in¬verno; sicômoros com troncos e ramos brancos, pintalgados, debruçam-se também sobre a água imóvel.
Na margem arenosa sob as árvores, a camada de folhas é tão profunda e quebradiça que um lagarto a faz estalar quan¬do corre sobre ela. Ao anoitecer, os coelhos deixam as moi¬tas e vêm sentar-se na areia e os baixios úmidos ficam cobertos com as pegadas noturnas dos guaxinins e dos cães de fazen¬da e com as marcas em forma de cunha dos cervos que che¬gam para beber no escuro.
Por entre os salgueiros e sicômoros há um caminho du¬ramente batido pelos meninos que descem das fazendas pa¬ra nadar no lago e pelos vagabundos de estrada que à noite, cansados, acampam junto à água. Diante do galho baixo e horizontal de um sicômoro gigante vê-se um monte de cin¬zas produzido por inúmeras fogueiras; gasto e polido, o ga¬lho já serviu de assento para muitos homens.
serviu de assento para muitos homens.