Motos e estrada.

Data de postagem: Aug 09, 2011 8:23:10 PM

Gosto de moto. Sempre gostei. Gosto de estrada. Sempre gostei. Obviamente, meus pais nunca permitiram eu possuir uma moto, ainda mais para andar na estrada. Sem problemas. A vontade ficou adormecida.

Ocorre que uma hora a vontade volta. Para mim voltou depois dos 25 anos de idade. Veio forte, mas aí empacava em um problema. Não tinha dinheiro para uma moto --- tinha que priorizar outras coisas que no momento eram mais importantes.

Como casar, por exemplo. Constituir família. Mobilhar a casa. Essas coisas.

Mas a vontade não passava. Daí veio a janela de oportunidade. Na véspera de casar consegui comprar uma Tornado usada... semi-nova. Tinha apenas 4 mil km rodados. Tinha um objetivo escondido para essa moto -- iria casar dali uns meses e gostaria de levar a moto na lua-de-mel. Minha esposa disse: "Ótimo!"

E não foi isso mesmo que a gente fez? Olha aí a danada em Barra do Maraú, na Bahia. Essa moto rodou boa parte do litoral baiano. A gente parava nas praias e pilotava na areia de moto... e arrumávamos um lugarzinho, uma hospedagem para passar a noite. Um mês de passeio pelo mar, e a Tornado ali foi nossa companheira na beira da praia.

Ano passado fui para Argentina e Chile de moto. Passamos pelo deserto do Atacama, no norte do Chile. Um lugar lindo. Desolado. Um lugar que merece ser conhecido, por ser completamente diferente de nossa realidade de matas, florestas e vegetação.

É uma viagem que ao mesmo tempo é maravilhosa e intimidante. Maravilhosa porque os locais que a gente passa. Intimidante porque um sujeito do interior que, apesar de ter trabalhado no pregão da bolsa, naquela loucura que era antes de tudo migrar para o mercado eletrônico, a gente se sente meio com receio da dimensão do projeto. Ir ao pacífico de moto! Não dá. Dá sim!

Daí fui com outra moto, maior, dessas estradeira mesmo. Na realidade eu também tinha um objetivo escondido ao comprar essa outra moto. Desde o início o objetivo era fazer viagens enormes. Pelo país ou se desse certo, para o exterior.

Comprei a moto, primeira viagem? Sul do Brasil. Eita região bonita, rapaz.

Não imaginava tanto. Aquela rota que vai de Torres até a região dos Vinhos, esqueci agora o nome daquela estrada. Foi até hoje uma das estradas mais bonitas que já percorri. Empata com o vale dos vinhos no norte da Argentina, na região de Cafayate, perto de Salta.

Daí a coisa foi indo. O comichão desse tipo de aventura se instalou. Não consigo mais pensar em uma viagem que não seja para tirar da zona de conforto, mexer com o medo. Não saber o que nos aguarda. Ser arrebatado pela paisagem que não se esperava. Se encantar com o contato das pessoas. Tenho que admitir. A moto quebra um gelo danado. Imagine você em qualquer posto de gasolina. Você estaciona para abastecer. Alguém chega para puxar papo? Alguém chega para te cumprimentar, perguntar de onde você é?

Hmm, de caro? Acho que não.

Mas você pilotando uma moto isso é a coisa mais normal do mundo. Aliás, o estranho é ninguém parar para te cumprimentar, puxar papo, saber de onde você é, perguntar quanto custa a moto, para onde você está indo, etc.

Uma vez, de passagem por Goiânia, estava vindo de São Paulo, capital, e indo para o Tocantins. Ali perto do shopping Flamboyant um motociclista --- motoboy --- parou do meu lado no farol e puxou papo perguntando essas coisas. Eu estava completamente carregado, cheio de bagagens e com os baús laterais montados. Quando falei que estava vindo de SP e indo para o TO fiquei até emocionado.

O sujeito arregalou os olhos e disse assim: "Puxa, que incrível. Isso é o meu sonho."

Vou te falar, na hora arrepiei. Fiquei com a imagem do rosto sonhador do motociclista durante muito tempo. Me senti feliz. Pensei: "É companheiro, esse sonho não é só seu."

Eis que agora estou realizando o objetivo escondido dessa moto. Transamazônica e Rodovia Fantasma. Mais nos próximos blogs, inclusive uma foto de toda a carga que se leva na moto!