Guia Prático da Carta Pecuária - Parte 3 de 13 - Fichas Regionais

Data de postagem: Dec 05, 2016 2:47:23 PM

Guia Prático da Carta Pecuária

Parte 3 de 13

"Fichas Regionais"

Na parte 1 desse guia (clique aqui) levantamos a questão das razões para a gente ter comprado ou vendido gado naquele "dia". Com "dia" quero dizer qualquer dia... sempre que você tomou a decisão de negociar animais imagino que alguma coisa passou pela sua cabeça para executar essa negociação.

A proposta da Carta Pecuária é formalizar isso. Tornar a decisão de compra e venda de gado baseada em critérios técnicos. Vender gado quando os preços estão bons para serem vendidos. Comprar gado quando está bom para comprar gado. Isso parece simples. Parece fácil à primeira vista. Basta acompanhar os preços, certo? Qual a dificuldade de enxergar isso?

Bom, fazem duas décadas que faço isso, caro leitor. Nunca achei fácil decidir a hora de comprar e vender, porque não possuía subsídios concretos que me diziam que realmente, ali, naquele momento, estava bom historicamente para se vender.

O que quero dizer é que a negociação baseada em emoção, e aqui defino emoção como o contrário da decisão técnica, a emoção nem sempre é nosso melhor guia.

Simplesmente nossas emoções nos arrebatam --- quando o mercado está subindo e em alta queremos mais. Queremos dois reais a mais para vender. Daí os dois reais chegam e não mais queremos vender ali. Já vem aquele sentimento "e se...", e se o mercado subir mais um pouco? "Vou esperar."

O que queremos é a possibilidade de comprar e vender sem emoção. É claro, a emoção sempre estará lá. Mas a decisão de compra e venda deve ser baseada em coisas verificáveis. Até porque se você precisar explicar para outra pessoa o que te levou a vender ou a comprar ali, você poderá colocar na mesa os fatores que levou em consideração para tal decisão.

Isso torna sua decisão registrável. Você pode ver com o passar do tempo se está sendo consistente consigo mesmo. Isso, em minha opinião, é o caminho para uma boa negociação de gado.

Depois disso, na parte 2 desse guia (clique aqui) começamos a desvendar os caminhos para chegar a tal decisão. Falamos sobre os preços gerais do boi, bezerro, milho e carcaça bovina. Colocamos também uma explicação básica de como funciona um estudo de gráficos --- linhas de tenência, suporte, resistência.

Nessa parte 3 de 13 do Guia Prático da Carta Pecuária para negociação de gado iremos para o outro extremo, caro leitor.

Iremos falar do "micro". Iremos abordar separadamente cada uma das praças dispostas e medidas pelo Cepea. Qual é a ideia? A ideia é que, depois de olhar o geral, iremos olhar o local. Ou seja, depois de observarmos o ambiente geral dos preços, como a minha praça, o meu local está se comportando?

O meu local está em linha com o geral? Ou seja, se o ambiente é de baixa, minha praça está subindo ou caindo? Imagine que você está em uma praça que está contradizendo o geral. Imagine que o geral está subindo, mas a sua praça está caindo. Imagine o contrário, sua praça está subindo, mas o geral está caindo. O que você tira disso?

O documento que é enviado aos assinantes chama-se "Fichas Regionais".

Quais são as praças de preços de pecuária do Cepea? Entenda "praça" como uma região geográfica relativamente coesa.

  1. Araçatuba

  2. São José Do Rio Preto

  3. Bauru / Marília

  4. Presidente Prudente

  5. Noroeste Do Paraná

  6. Três Lagoas

  7. Campo Grande

  8. Dourados

  9. Cassilândia

  10. Pantanal

  11. Triângulo Mineiro

  12. Goiânia

  13. Rio Verde

  14. Norte De Goiás

  15. Tocantins

  16. Pará

  17. Cuiabá

  18. Rondonópolis

  19. Cáceres

  20. Colíder

  21. Oeste Da Bahia

  22. Itamaraju

  23. Rondônia

  24. Rio Grande Do Sul

Em cada uma dessas praças criamos uma ficha. Em cada uma dessas fichas colocamos o acompanhamento dos preços e indicadores abaixo:

  1. Boi Gordo

  2. Vaca Gorda

  3. Desconto da arroba da vaca para o boi

  4. Boi Magro

  5. Bezerro

  6. Escala de Abate

  7. Reposição de boi magro

  8. Reposição de bezerro

  9. Diferencial de base

Uma explicação rápida de cada um desses itens, pode ser?

Para o Boi gordo e vaca gorda usamos o boi gordo à vista de cada praça.

O desconto da arroba da vaca para o boi diz quanto a arroba da vaca está mais barata que a do boi.

Para os preços do Boi magro e bezerro usamos os valores à vista por cabeça.

A Escala de abate afere quantos dias os frigoríficos estão estocados com animais gordos comprados.

A Reposição do boi magro e bezerro mostra como está o poder de compra de bois magros e bezerros, respectivamente, com a venda de um boi gordo.

O Diferencial de base mostra quanto a arroba da praça vale abaixo ou acima da arroba do Indicador Esalq/BVMF (não mostrado aqui), que é o preço geral para o estado de São Paulo e é o valor utilizado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (onde é negociado o contrato do boi gordo) para o fechamento dos preços dos contratos no final de cada mês.

A forma que o documento é enviado para os assinantes é essa abaixo. No exemplo explicativo a seguir iremos usar a praça do Triângulo Mineiro.

A leitura desse documento é feita assim:

Para cada praça as informações são colocadas da mesma forma e sequência. Isso facilita a visualização.

Em seguida vamos pegar essa praça do Triângulo e estudar os gráficos um a um.

Comecemos pelo boi gordo. Observe que o mercado vinha em alta até ao redor de R$ 145 e ali achou um pico. O boi gordo está resistindo a alta aqui. Os preços não conseguiram romper para cima a resistência formada ao redor essa reta vermelha.

Em seguida vemos os preços da vaca gorda. A movimentação está parecida com os preços do boi, uma alta que foi interrompida com a formação de uma resistência estabelecida ao redor de 137 reais. Na arroba da vaca, entretanto, a formação mostra um triângulo ascendente nos preços. Triângulos ascendentes são formações com perfil altista.

Quando olhamos para o desconto na arroba da vaca para a arroba do boi gordo vemos que esse desconto está diminuindo ao longo do tempo. Isso significa que a arroba da vaca está ficando mais valorizada, que a vaca está mais demandada agora em dezembro. A mesma formação de triângulo ascendente vemos aqui.

Em seguida olhamos para os preços do boi magro e a sua taxa de reposição. Em algumas praças a apuração diária desses animais de reposição se torna errática, caro leitor. Nem todos os dias os colaboradores Cepea (que pode ser qualquer um, incluindo você) reportam negócios no mercado físico naquele dia. Nesse caso, a análise técnica fica prejudicada. Nem todas as praças possuem esse comportamento, entretanto.

O que podemos fazer? Ainda assim dá para usar a informação quando cruzamos ela com o gráfico da taxa de reposição. Veja que desde setembro até agora a taxa de reposição de boi magro no Triângulo Mineiro encontra-se no melhor momento.

A mesma coisa vemos acima o bezerro. Repare que os preços oscilam ao redor de 1200 reais, caro leitor. Tem sido assim desde setembro e também a taxa de reposição está muito boa para o passado recente.

Quando olhamos as escalas de abate do Triângulo vemos que elas estão trabalhando entre um pico de oferta ao redor de 9 dias e um piso ao redor de 6 dias. Atualmente a oferta dessa praça está caindo vindo dos 9 dias para baixo e hoje se encontra ao redor de 7 dias de bois comprados pelos frigoríficos.

Para finalizar a ficha do Triângulo Mineiro, observe o movimento no diferencial de base. O diferencial de base mede o desconto que a arroba da praça local possui em relação a "base" que, aqui, no caso, é o indicador Cepea, que é medido em São Paulo. Então basicamente é o desconto do Triângulo para São Paulo que o temos aqui. Observe que também vemos a formação de um triângulo ascendente. A base parou de subir ao redor de um desconto de -3%, porém aos poucos o desconto de um modo geral vem subindo ao longo dos meses.

Depois de olhar cada mercado e indicador de forma isolada, o que tiramos de informação do conjunto da ficha do Triângulo Mineiro?

Minha leitura é que o mercado está pressionado para cima, porém não encontra brecha para subir. Ao mesmo tempo, o momento da região favorece a reposição.

Agora abaixo coloco todas as fichas.

Clique nas imagens para expandi-las.

Aqui termina a parte 3. No próximo texto continuaremos a olhar as praças regionais, só que com outro tipo de visualização no documento "Ranking Cepea".

Um abraço e até mais.

Rogério Goulart.