Narrativas
Ode ao Gato com Vicente van Gogh
óleo sobre tela
90 x 150 cm
2012
Aceitei o desafio de "pintar" um poema de Pablo Neruda.
O meu saudoso gato Vicente van Gogh, companheiro de vida, de lutas e de afecto, tornou a obra maior do que eu tinha imaginado.
Ele já partiu! Esta obra nunca partirá das minhas paredes!
O Baptismo de Jesus
óleo sobre tela
165 x 75 cm
2021
“Este é o Meu Filho bem amado: escutai-O” Mt 3,17
Jesus vai receber o Pai.
E este é um momento único e íntimo que nos liga directamente ao Pai.
Para a realização desta obra recorri às minha memórias e vivências.
É que sendo adulta, eu vou pelo meu passo, de forma voluntária e consciente, pedir ao Pai que me receba como sua filha.
Que me dê a Graça do entendimento, do discernimento e da felicidade da sua presença.
Para ter a sabedoria, a inteligência, a coragem e a determinação de praticar a sua palavra com todas as forças do meu ser.
Ser abençoada com o seu amor!
Vou despir-me do meu “eu” feito só matéria para me deixar cobrir desse “em Mim” que me coloca ao seu serviço. Também como filha(o) amada(o)!
E esse momento é vivido a dois. Eu e Ele!
Com João a transmitir e a revelar essa Graça!
Por isso coloco só 2 figuras na tela, envoltas nos elementos terra, água, ar.
Resguardadas, mas acimadas pela protecção da manifestação da morada do Pai (nuvens no céu).
No centro e isoladas do resto do mundo!
E porque o momento e o acto do baptismo é solene e profundo demais para podermos prestar atenção a qualquer outra coisa circundante, Jesus inclina a cabeça para receber a Graça, coloca a mão no peito em jeito de humilde reverência, fecha os olhos.
Para quando os voltar a abrir “ver” com a divina Graça do Espírito Santo!
E o sorriso sereno e de felicidade é inevitável face à enorme alegria que nos assola!
Jesus veste túnica branca.
Tal como para cada um de nós, o baptismo vem revestir-nos dessa nova possibilidade de vida. Dessa nova roupagem pura, sem mácula.
Assumindo a nossa condição humana, simbólica e ritualmente, Jesus também irá vestir a túnica branca para esse novo (re)começo de vida.
Porque também é a partir daqui que Jesus começará a mostrar a derradeira pureza da sua imaculada vida!
A mão dada com o primo João é o elo da ligação física inevitável e necessária à transmissão dessa Graça. Porque se vamos receber, alguém nos vais entregar!
E João traja as suas peles de camelo.
E João olha bem de frente e de perto para o seu primo.
Meio incrédulo, meio surpreso, meio emocionado.
Mas de forma tranquila a assumir esta sua responsabilidade de apresentar ao mundo a pessoa de quem não se achava sequer digno de desapertar as sandálias.
O caminho de terra aberto desde a nossa linha de observação leva-nos directamente à água e ao local onde está Jesus e João.
A transição da terra para a água fica esbatida. Quase como um contínuo entre ambos os meios. Sem obstáculos!
Personificando o convite a caminhar ao encontro desta proposta que Deus tem para todos nós. O dom do Espírito Santo!
Tal como aqui se vê, basta querermos e avançarmos a esse encontro que não há nada a impedir. Basta querermos!
E atrás o deserto! Para onde Jesus irá orar depois do Seu baptismo.
E do seu lado direito, a emergir das águas atrás de si, a rocha! A rocha (pedra-Pedro) sobre a qual será erigida a sua Igreja.
Vemos que surge junto a Jesus, banhando-se igualmente nesta água do seu baptismo, mas saindo da tela não se conseguindo vislumbrar o seu limite.
Porque a igreja de Jesus não se limita, nem limita. É universal!
Consegue-se vislumbrar o seu trono?
A paisagem verdejante que ladeia o caminho para a água parece ser divergente de uma margem para a outra. Mas tal como acontece com a natureza das criaturas de Deus, somos todos diferentes. E é dessa junção das diferenças que se faz a paisagem plena e perfeita da Criação!
A pomba simbolizando o Espírito Santo é luminosa, serena, delicada e tranquila.
Mesmo com a dinâmica da sua anunciação e chegada.
A Multiplicação dos Pães
óleo sobre tela
165 x 75 cm
2021
“Eu sou o Pão da Vida
Aquele que vem a Mim, jamais terá fome!” Jo 6, 35
Jesus vai oferecer-Se e oferecer-nos o Pai. Reparte e partilha!
Jesus acolheu, ensinou.
Jesus veio saciar a fome da alma, do espírito e do corpo.
São muitos, somos sempre muitos com fome. Com muita fome!
O que há parece insuficiente, pouco! Cinco pães e dois peixes.
Entregues pelas mãos de um rapazito.
É o mais pequeno que oferece todo o pouco que tem para o colocar à disposição dos muitos que não têm nada. Desapegando-se do seu “ter”, dá como só as crianças sabem dar.
Aqui coloco Jesus à frente da cena entre a assembleia (os que O seguiram na altura, nós que aqui estamos hoje, todos os que queiram vir a colocar-se diante de si no futuro), e a promessa de Deus.
Apontando para onde nos vai/pode levar. Porque só chegaremos ao Pai pelo Filho!
Está neste meio não como uma barreira ou forma de controle, mas como guia que acolhe e orienta para a viagem a bom porto.
Como também nós deveríamos colocar a nossa vida ao acolhimento dos outros.
Porque também nós deveremos ser uma forma desse pão que dá vida a quem procura igualmente o alimento dessa verdadeira salvação.
Jesus eleva a sua mão direita ao céu proclamando a bênção sobre os bens e estende-nos a sua mão esquerda aberta, convidando então a ir tomar este novo alimento. Este novo Pão da Vida!
E Jesus olha-nos de frente de forma calma, serena e firme enquanto nos faz este convite.
Consegue-se vislumbrar o seu Imaculado coração?
O rapazito que de forma alegre e inocente dá tudo o que tem, encerra em si uma natureza angelical e pura. Motivo pelo qual o represento também de túnica.
Não completamente branca como a do Mestre, mas a encerrar cores púrpuras e arroxeadas. Que também aqui cercam as nuvens que apresentam as citações bíblicas.
Em termos bíblicos, as cores da majestade, da realeza, do reinado, da autoridade!
Atrás de Jesus, o monte (o lugar da divindade) ao qual subirá para orar. O Divino subirá ao lugar que é d’Ele mesmo!
E porque fisicamente quanto mais elevado o local for, mais perto nos levará dos céus; o monte aqui também não deixa antever o seu limite.
Mas para quem segue com Jesus, não há altos/distâncias/limites que não se possam alcançar.
E também não há locais impossíveis de encontrar, tal como se pode vislumbrar pela presença dos três montículos por detrás e acima da cabeça de Jesus, aludindo à materialização da cena bíblica das três tendas.
O barco repousa na outra margem!
O barco da pesca, do alimento de e para muitos, da ligação entre margens, do lugar da manifestação das inseguranças e dos medos dos homens, do pouso sereno do sono descansado e confiante de Jesus.
Aqui aparece na outra margem, fora do nosso alcance. Aparentemente!
Quer exista ou não ligação por terra à outra margem (aqui optei por deixar a água tocar ambos os lados da tela, tendo cada um de nós a possibilidade de tornar esse “obstáculo” mais ou menos presente na nossa mente tal como nas nossas vidas), temos sempre à nossa frente esse Jesus timoneiro que nos fará com Ele alcançar a dita outra margem. A pé enxuto se for preciso!
Ao fundo, atrás de Jesus e sobre a paisagem terrena, uma representação da Árvore da Vida. A árvore dos bons frutos (frutos de imortalidade) que Jesus coloca acessível a todos e a cada um de nós. Ligando-nos à terra e ao céu!
A Árvore da Vida novamente colocada à frente da humanidade, possibilitando agora a nossa escolha acertada.
E por fim, somando a minha presença, ou a de quem quer que seja que esteja em frente à tela, perfazemos o número de sete pessoas.
O número divino! E estamos lá!