A 10ª REGIONAL DE BELO HORIZONTE
A cidade de Belo Horizonte está praticamente toda construída. Restam somente 4% de áreas desocupadas. A Granja Werneck e demais regiões do Ribeirão Isidoro representam 90% dessas áreas que restam.
Para desenvolver o novo bairro, foram contratadas pesquisas e diagnósticos de impactos ambientais, sociais, econômicos e viários. A proposta é criar uma nova centralidade no vetor Norte de Belo Horizonte, complementando os projetos que já estão em andamento nessa área e permitindo a expansão da cidade. Outro objetivo é fomentar a vida em comunidade na região, tornando-se uma referência urbana para a vizinhança.
Formado por propriedades particulares, por muito tempo o cinturão verde na divisa com o município de Santa Luzia ficou à mercê da ocupação irregular, sem qualquer intervenção do poder público. A implantação da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, a construção da Linha Verde, além da transformação do aeroporto de Confins em terminal industrial mudaram o perfil da região.
A Granja Werneck, que faz divisa com os bairros Novo Tupi, Ribeiro de Abreu, Lajedo e Tupi B, contará com prédios, um centro comercial e de serviços, um parque público municipal e novas vias de acesso. As comunidades e a instituição de longa permanência já existentes na região também serão preservadas e incluídas no projeto, cujo planejamento urbano está sendo conduzido por Jaime Lerner, um dos maiores especialistas do país em desenvolvimento urbano com sustentabilidade.
Segundo ele, “a característica desse projeto é manter as condições de encontro e diversidade. Vida, trabalho e lazer juntos. A sustentabilidade é uma equação entre aquilo que se poupa e aquilo que se desperdiça. E todos esses conceitos foram contemplados na Granja Werneck”, garante Jaime.
Para viabilizar a ocupação urbana da região foi realizada uma pesquisa junto à população local para ouvir sua avaliação, percepção e opinião sobre o futuro bairro. Ao tomarem conhecimento dos detalhes do projeto, 77% se mostraram favoráveis. A intenção é desenvolver a iniciativa contando com a contribuição e participação local. Também foram realizados levantamentos sobre as estruturas de saúde e educação e índices socioeconômicos da região.
Conforme explica Renato Michel, coordenador do projeto Granja Werneck, os bolsões de ocupação distribuídos ao longo do projeto serão ocupados por um mix de usos que visa trazer diversidade e animação ao projeto. “Próximo a cada área voltada ao uso habitacional estarão localizadas atividades complementares de comércio, serviços e institucionais. Essas atividades terão um peso maior na área central do projeto, a Aldeia, que funcionará como polo de atração para a área do projeto e também para a ocupação de seu entorno, sendo composta preferencialmente por uso misto (comercial, de serviços e habitacional) e equipamentos institucionais de maior porte”, pontua.
Para garantir a sustentabilidade do empreendimento, empresas especializadas, como a mineira Myr Projetos Sustentáveis, analisaram fontes de água e vegetação. Uma das principais orientações do estudo foi a definição de uma grande área verde a ser preservada, que será transformada em parque público, o segundo maior de Belo Horizonte. A iniciativa visa proteger as nascentes, impedir desmatamentos e acúmulo de lixo e se transformar num espaço de lazer único para a população da região. Atualmente, a área vem sofrendo com graves problemas de ocupação irregular, entulho, poluição de córregos e retirada de recursos naturais.
NATUREZA
Em toda a Bacia Hidrográfica do Isidoro, principal contribuinte do Ribeirão do Onça, importante afluente da Bacia do Rio das Velhas, são 64 córregos e 280 nascentes, sendo 66 drenadas ou aterradas. A área da bacia corresponde a cerca de 20% de BH e está situada, em grande parte, na Região do Isidoro.
O Córrego dos Macacos, que nasce no terreno, é considerado o último curso d’água limpo de BH. No entanto, sofre com o assoreamento. Devido à extração ilegal de madeira, formou-se uma voçoroca que vem despejando terra no leito. O projeto prevê sua recuperação. Todo o esgoto gerado será destinado à Estação de Tratamento de Esgoto do Onça, que já tem rede de coleta na região.
Outros parques serão instalados, com playground, quadras, trilhas e um espaço para shows e eventos. Além disso, o bairro terá praças e ciclovias e as construções vão obedecer a padrões ecológicos, como a redução do consumo de água e aproveitamento de luz e ventilação naturais.
O Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, que trabalha pela revitalização da Bacia do Rio das Velhas, afirma que o projeto de urbanização traz muita dor de cabeça. “A região já tem um grande passivo ambiental, com muito esgoto clandestino lançado diretamente nos córregos, fora os problemas sociais de habitação e violência. Qualquer outro empreendimento seria extremamente trágico e agravaria esses passivos."
Para o coordenador-geral do Manuelzão, o médico Apolo Heringer Lisboa, diante da Região do Isidoro está a oportunidade de a prefeitura aplicar toda a experiência acumulada no que diz respeito a bacias hidrográficas e sistemas de drenagem. “A prefeitura tem que ter uma nova postura. Já era para ter aprendido a incorporar os rios e córregos à vida urbana, implantando parques lineares nas margens dos cursos d’águas e transformando-as em grandes corredores ecológicos”, diz.
A GRANJA WERNECK
O antigo sanatório para tuberculosos passou a atender idosos na década de 1970. Hoje o Recanto Boa Viagem está desativado
A história da Granja Werneck começou no início do século 20, quando o médico carioca Hugo Furquim Werneck veio do Rio de Janeiro para morar em BH, a fim de se tratar de tuberculose. Antes disso, seu pai, o dr Francisco Werneck de Almeida, que foi médico da princesa Isabel, enviara o jovem para a localidade de Arosa, perto de Davos, na Suíça, com a mesma finalidade. “Quando ele voltou, disseram que a nova capital de Minas tinha ótimo clima e podia fazer muito bem à sua saúde”, conta o neto Fernando Vianna Werneck.
Mas o destino reservava boas surpresas para o jovem médico, que foi um dos fundadores da Escola de Medicina, da Santa Casa, dos hospitais Madre Tereza e São Lucas. Belo Horizonte, explica Fernando, dispunha apenas de um posto de saúde. Um dia, estando lá, Hugo Werneck socorreu uma parturiente, que apresentava complicações, e conseguiu salvar a mãe e a criança. A partir desse episódio, voltou a clinicar, pois sua fama de bom médico correu longe. Animado, acabou comprando o terreno de então 638 hectares, que apresentava a média anual climática semelhante à de Arosa.
Em 1928, Hugo Werneck inaugurou um sanatório para tuberculosos, que foi erguido com seus próprios recursos. Alguns o criticaram. Ele respondeu que ‘uns plantam couve e outros plantam carvalho'.
Curiosamente, ele não morreu de tuberculose, mas de câncer, em 1935, aos 57 anos.
Na década de 1970, o prédio de mais de 8 mil metros quadrados, que fica numa área de 250 mil metros quadrados e 98 quartos, se tornou o Recanto Nossa Senhora da Boa Viagem, vinculado à Fundação de Obras Sociais da Paróquia da Boa Viagem. Infelizmente, hoje desativado.
Foto de Denilson Novaes/Internet
Referências https://acervo.racismoambiental.net.br/2010/03/28/de-ultima-fronteira-verde-a-10%C2%AA-regional-de-bh/ e outros sites da Internet
PATRIMÔNIO CULTURAL: O QUILOMBO DAS MANGUEIRAS
Na região existe um quilombo, conhecido como Quilombo das Mangueiras. O sanatório Hugo Werneck, atual Recanto Nossa Senhora da Boa Viagem, também é considerado área de interesse histórico-cultural.
Segundo o NuQ - Núcleo de Estudos de Populações Quilombolas e Tradicionais-UFMG, o Quilombo de Mangueiras possui 15 casas e é composto por 19 famílias com quase 60 pessoas.
"Todos os descendentes do casal de lavradores negros Cassiano e Vicência, moram ali desde a segunda metade do século XIX, época anterior a criação da cidade de Belo Horizonte. Esse casal, junto com seus 12 filhos, utilizavam estas terras para seu sustento e para a reprodução do seu modo de vida, em uma área de aproximadamente 8 alqueires, cerca de 387 mil metros quadrados. Do território original o grupo hoje vive em cerca de 17 mil metros quadrados, dos quais, cerca de 90% apresentam fortes restrições ambientais devido a forte aclividade da área e das inúmeras nascentes de água."(NuQ, 2010).
Invisibilidade
Apesar da posse de uma territorialidade centenária, a história oficial da cidade não considera a região como propriedade dos quilombolas. Desde a década de 1920 quando a família Werneck se instalou na região, o local passou a ser conhecido com Granja Werneck, desaparecendo com o antigo nome de Região do Isidora (nome original do ribeirão Isidoro).
Localização do Quilombo Mangueiras, destaque vermelho do mapa.
Fonte: http://wikimapia.org/#lat=-19.8301182&lon=-43.9097571&z=16&l=9&m=b
(CLIQUE NAS IMAGENS PARA VÊ-LAS EM TAMANHO MAIOR)
LEIA MAIS:
http://www.manuelzao.ufmg.br/assets/files/noticias/Estado%20de%20Minas%2028032010.pdf
MAIS FOTOS DO RECANTO DA BOA VIAGEM:
https://picasaweb.google.com/denilsonfotos/RecantoDaBoaViagemBHMG#
MAIS FOTOS DO RECANTO DQ QUILOMBO MANGUEIRAS:
https://picasaweb.google.com/ifahermeto/CemigLuzParaTodosComunidadeQuilombolaMangueiras#
Referências:
http://www.abant.org.br/conteudo/002PRINCIPAL/Nota_sobre_Mangueiras.pdf
https://picasaweb.google.com/ifahermeto/CemigLuzParaTodosComunidadeQuilombolaMangueiras
http://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/regi%C3%A3o%20do%20izidoro-/ /
http://blogdanorte.blogspot.com/2010/04/pbh-apresenta-plano-para-ocupacao-da.html
https://picasaweb.google.com/denilsonfotos/RecantoDaBoaViagemBHMG#5432573971