Diante das condições logísticas e avanço da colheita, os prêmios tendem a sustentar as quedas, puxando os preços da soja no mercado físico brasileiro para baixo; Foto: Wenderson Araujo/CNA
20/03/2023 | Ruan Sene, Grão Direto
A semana que passou mostrou a volta da peste suína africana na China, o aumento do percentual de mistura de biodiesel no diesel e as chances de El Niño na Ásia. Nesta semana, o contrato com vencimento em março/23 se encerrou, passando a vigorar o contrato com vencimento em maio/23, que finalizou a semana sendo cotado a U$ 14,76 o bushel (-3,02%). Já o contrato com vencimento em julho/23, a U$ 14,61 o bushel (-2,21%).
A epidemia de peste suína africana na China já começou a apresentar para o mercado o mesmo sentimento de 2021, quando o país asiático teve que abater 40% de seu rebanho de suínos. Na época, a doença colaborou para uma queda expressiva nos prêmios da soja brasileira, e agora, em 2023, isso poderá acontecer novamente, agravando ainda mais as quedas atuais. O mercado de suinocultura é o maior demandante de farelo de soja no mundo, que é usado para alimentação do rebanho e, um novo abate expressivo, diminuiria significativamente a demanda pela soja brasileira.
Por outro lado, nesta semana, o governo brasileiro decidiu que a mistura de biodiesel no diesel passará de 10% para 12% a partir do próximo mês, pretendendo chegar em 15% até 2026. Isso impacta em aumento na demanda por soja no mercado interno, já que o derivado óleo de soja é uma das matérias primas para o biodiesel, abrindo assim, novas oportunidades de venda para o produtor brasileiro.
Conforme vamos nos aproximando do início da safra norte-americana, o mercado vai ficando mais cauteloso em relação ao clima. O fenômeno La Niña está enfraquecendo, indicando uma possibilidade da ocorrência do fenômeno El Niño. Normalmente, o fenômeno apresenta um inverno menos frio, com volumes maiores de chuvas para o sul do Brasil, enquanto que nos Estados Unidos, normalmente nota-se um volume de chuvas maior com temperaturas mais elevadas, principalmente nas regiões centrais do sul e sudeste. No mais, dependendo da intensidade e variações do fenômeno, ele poderá causar fortes secas com aumento no volume de furacões e tempestades na região Leste dos Estados Unidos.
O dólar teve uma semana de alta nas cotações, fechando a US$ 5,27 (+1,15%). Durante a semana, as atenções se voltaram para o Vale do Silício, onde o maior banco financiador das startups: Silicon Valley Bank (SVB), apresentou balanços negativos, vindo à falência. Esse cenário reacende o temor de uma possível recessão econômica nos EUA, impactando o mercado global. Diante disso, mesmo com a alta apresentada na cotação do câmbio, não foi suficiente para surtir efeitos positivos nos preços da soja no mercado físico.
O que esperar do mercado de soja?
Segundo Ruan Sene, analista de mercado da Grão Direto, para esta semana, o mercado ficará de olho na reunião do Banco Central dos Estados Unidos (FED), que deverá definir o rumo para as taxas de juros do país, logo após a quebra do SVB, tendo em vista que havia anunciado uma desaceleração nos aumentos das taxas de juros. Contudo, os temores de recessão, juntamente com as informações do Payroll, mostrando a economia aquecida, podem ser fatores determinantes para um possível aumento.
Além disso, o mercado manterá as atenções nas informações sobre o avanço da peste suína africana na China. O vírus tem um alto poder de contaminação e pode, rapidamente, se espalhar entre os suínos, causando a morte ou a necessidade de abate. Podemos ver uma fomentação no mercado interno de suínos, intensificando a demanda interna por farelo de soja, já que é utilizada para fabricação da ração para alimentação do animal.
Diante das condições logísticas e avanço da colheita, os prêmios tendem a sustentar as quedas, puxando os preços do mercado físico brasileiro para baixo. O cenário com uma diminuição da demanda chinesa, devido à peste suína, tende a fazer uma pressão de baixa nas cotações de Chicago para a próxima semana.
Como o mercado do milho se comportou na última semana?
A semana que passou foi marcada pela continuidade das negociações sobre o acordo do Mar Negro, plantio da 2ª Safra de milho e mais uma queda na expectativa da produção da Argentina. Diante disso, as cotações de Chicago finalizaram a semana sendo cotadas a U$ 6,35 o bushel (+1,28%) para o contrato com vencimento em maio/23.
As negociações do acordo de exportação de grãos do Mar Negro continuam e há um consenso de renovação. Porém, neste momento, ainda há um embate em relação à extensão do acordo, em que a Rússia defende uma renovação de 60 dias, enquanto as Nações Unidas, Turquia e Ucrânia, uma extensão de 120 dias. Um período de extensão mais curto aumenta, de forma significativa, os riscos envolvendo a logística para os navios, considerando que demora, em média, 40 dias para finalizar todo o processo de carregamento e liberação.
O plantio da safrinha 2023 continua progredindo, porém teve um ritmo mais lento na semana. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), houve evolução de 8,9% durante a semana, atingindo 72,5% a nível nacional. Apesar do avanço, ainda encontra-se com 14,9% de atraso em relação ao ano anterior. No geral, as lavouras seguem em bom desenvolvimento, mas ainda precisam da continuidade do clima favorável.
As exportações brasileiras continuam aquecidas, se comparadas ao ano anterior. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em apenas 8 dias úteis do mês de março, o Brasil exportou em torno de 730 mil toneladas de milho, superando as 14 mil toneladas exportadas em todo mês do ano anterior. Isso reforça a continuidade da demanda internacional pelo milho brasileiro.
O que esperar do mercado de milho?
Para Ruan Sene, analista de mercado da Grão Direto, o clima continuará favorecendo o plantio no Brasil durante a semana, mas começa a apresentar algumas dúvidas em relação a chegada do outono no Brasil. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) aponta que essa estação é caracterizada pela transição entre o verão quente e úmido e o inverno frio e seco, principalmente no Brasil Central, em um cenário que poderá frustrar a expectativa de produção recorde.
Notícias sobre a renovação do acordo de exportação envolvendo Rússia e Ucrânia poderão provocar movimentação nas cotações, principalmente se houver algum tipo de resistência ou exigências adicionais de alguma das partes envolvidas. O mercado espera que o acordo seja renovado por mais 120 dias e a exportação de milho continue.
As cotações brasileiras poderão continuar pressionadas diante das projeções otimistas de produção no país, e dessa forma, ter uma semana de desvalorização em relação aos preços.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/soja-e-milho-como-o-mercado-se-comportou-20032023
O principal fundamento para o cenário de baixa em 2022 é a forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, que tem corroído o PIB ao longo das cadeias; Foto: Wenderson Araujo/CNA
20/03/2023 | Cultivar
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a avaliação toxicológica do fungicida Pyriofenone técnico. O processo de registro segue agora nos demais órgãos (Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Agricultura). O produto foi desenvolvido pela Sangyo Kaisha Biosciences (ISK) e é comercializado em outros países sob as marcas Property, Prolivo, Kusabi e Uncicut.
Pyriofenone é um fungicida seletivo para combater, principalmente, o oídio em videiras. Todavia, há relatos científicos apontando que possui alta eficácia contra fungos fitopatogênicos da ordem Erysiphales, o que pode aumentar seu uso para diversas culturas.
O produto, pertencente à família química chamada benzilpiridina, age interrompendo a função da actina (código FRAC 50), inibindo o desenvolvimento da doença em todas as etapas do processo de infecção.
O Pyriofenone apresenta excelentes resultados em termos de resistência à chuva e atividade residual, além de possuir ação de vapor e movimento translaminar, características que aumentam sua eficiência no controle do oídio.
Estudos realizados com o Pyriofenone demonstram que a substância ativa, quando aplicada preventivamente, inibe a formação de apressórios e a subsequente penetração das hifas nas células da planta. Já quando aplicada na presença da doença, impede a formação de hifas secundárias, micélio e esporos, reduzindo assim as infecções secundárias.
O modo de ação do Pyriofenone consiste na indução de "má-localização" da actina a partir do ápice da hifa, resultando em transporte apical interrompido, inchaço induzido, colapso e ramificação anormal das pontas das hifas.
Figura: Pyriofenone - modo de ação
Figura: Pyriofenone - Propriedades físico-químicas
Figura: Pyriofenone - Toxicologia
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/anvisa-aprova-avaliacao-toxicologica-do-fungicida-pyriofenone
O principal fundamento para o cenário de baixa em 2022 é a forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, que tem corroído o PIB ao longo das cadeias; Foto: Wenderson Araujo/CNA
17/03/2023 | Cepea
O PIB do agronegócio brasileiro, calculado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), caiu 4,22% em 2022. Esse cenário foi registado após o PIB ter atingido sucessivos recordes em 2020 e em 2021, com esse biênio se caracterizando como um dos melhores da história recente do agronegócio brasileiro.
Segundo pesquisadores do Cepea, o principal fundamento para o cenário de baixa em 2022 é a forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, que tem corroído o PIB ao longo das cadeias. Considerando-se os desempenhos da economia brasileira e do agronegócio, a participação do setor no total alcançou 24,8% em 2022, abaixo dos 26,6% registrados em 2021.
Enquanto o PIB do ramo agrícola recuou expressivos 6,39%, o do pecuário avançou 2,11%. Pesquisadores do Cepea indicam que o resultado negativo do PIB do ramo agrícola esteve atrelado à forte alta dos custos com insumos para a produção agrícola dentro da porteira, como fertilizantes, defensivos, combustíveis, sementes e outros. Esse aumento dos custos superou em grande medida o crescimento do faturamento: considerando-se a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, houve elevação real de 6,44% do faturamento e crescimento real de 37,4% dos custos com insumos. Ademais, o PIB agrícola também foi pressionado pela redução da produção em culturas importantes, especialmente soja, que detém peso expressivo no PIB.
Quanto ao ramo pecuário, o crescimento do PIB em 2022 esteve atrelado aos avanços nos segmentos primário e de agrosserviços. No segmento primário, a alta decorreu de algum aumento do valor bruto da produção (produção maior, haja vista os menores preços frente a 2021), somado à redução dos custos com insumos; neste último caso, em relação ao patamar expressivamente elevado alcançado em 2021.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/apos-recordes-em-2020-e-2021-pib-do-agro-cai-422percent-em-2022
14/03/2023 | Cultivar, com informações Bayer
Bayer anunciou hoje o lançamento de novas soluções baseadas na nuvem para a indústria agrícola em parceria com a Microsoft. Os Serviços AgPowered da Bayer, combinados com o Gerenciador de Dados do Azure para Agricultura da Microsoft, oferecem capacidades prontas para uso para empresas e organizações, desde startups até empresas globais, para licenciar e usar em suas próprias soluções digitais internas ou voltadas para o cliente.
A nova infraestrutura em nuvem permitirá às empresas de tecnologia agrícola construir ferramentas digitais que apoiem resultados agronômicos favoráveis para os produtores, enquanto as empresas de bens de consumo poderão utilizar as ofertas de nuvem para construir soluções que ofereçam insights sobre nutrientes, sustentabilidade e práticas de produção para construir confiança com consumidores, stakeholders e investidores.
As soluções em nuvem também apoiam um ecossistema que permite uma maior transparência ao longo de toda a cadeia de valor da produção de alimentos, possibilitando a colaboração entre empresas de bens de consumo e produtores com base em como as colheitas são cultivadas e ajudando os consumidores a tomar decisões de compra mais informadas com base em práticas de origem.
Os modelos de dados que impulsionam os Serviços AgPowered da Bayer são desenvolvidos usando dados disponíveis publicamente, informações meteorológicas, imagens de satélite e dados agronômicos ricos, além de dados agregados, anonimizados e aprimorados do Climate FieldView. Todas as soluções baseadas na nuvem são projetadas para atender ou exceder os requisitos globais de privacidade de dados, fornecendo armazenamento de dados na nuvem mais confiável do mundo com as principais ofertas de segurança.
As soluções construídas no Azure Data Manager podem beneficiar os agricultores que buscam rastrear doenças, pressão de pragas e ervas daninhas, aplicar insumos de precisão, identificar padrões de crescimento e produção de culturas, medir o potencial de rendimento, rastrear e capturar emissões de carbono e analisar o impacto do estresse térmico, precipitação, granizo e dados meteorológicos.
A parceria é um passo significativo e estratégico para alcançar a meta da Bayer de vendas 100% digitalmente habilitadas em sua divisão de proteção de cultivos até 2030 e acelerar sua capacidade de fornecer novos valores e soluções habilitadas digitalmente baseadas em resultados para seus clientes agricultores. A Bayer está comprometida em estabelecer um novo padrão para a indústria em inovação digital baseada em dados. A ideia, no fim, é passar da venda de insumos para a venda de serviços, de resultados.
Além de usar a plataforma para desenvolver suas próprias plataformas digitais internas e voltadas para o cliente, empresas e organizações terão a capacidade de trazer suas próprias soluções para o Azure Data Manager para Agricultura e disponibilizá-las para licenciamento, semelhante à forma como a Bayer está oferecendo esses Serviços AgPowered iniciais como complementos à infraestrutura robusta do Azure Data Manager e às capacidades centrais:
• Bayer Imagery Insights - Acompanhamento da sanidade da lavoura ao longo do tempo e identificação de áreas que precisam de atenção por meio de uma série de imagens de satélite e dados de suporte dentro de áreas geográficas selecionadas individualmente.
• Bayer Growing Degree Day Calculation - Cálculo para dias de grau de crescimento, uma entrada crítica para modelos que se concentram em identificar o momento chave de variáveis que afetam o crescimento, sanidade e saída da safra, bem como o surgimento e desenvolvimento de importantes insetos e doenças nas culturas.
• Bayer Crop Water Use Maps - Informações para auxiliar a definir a quantidade de água que uma lavoura está usando ou perdendo durante um período de 24 horas. Os usuários podem entender os níveis de evaporação e transpiração da cultura e áreas potenciais de perda de safra devido à falta de água, que é um fator chave para o planejamento de irrigação.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/bayer-e-microsoft-lancam-solucoes-em-nuvem-para-o-agro
09/03/2023 | Cultivar, com informações Conab
A produção brasileira de grãos na safra 2022/23 pode chegar a 309,9 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Quase metade desse volume total é resultado das lavouras de soja, com uma colheita prevista de cerca de 151,4 milhões de toneladas.
Caso essa previsão se confirme, o volume de soja colhido nesta temporada será 20,6% superior ao registrado no ciclo anterior, apontando uma recuperação na produtividade das lavouras que foram afetadas pelas condições climáticas adversas em 2021/22. No entanto, a estimativa da Conab sofreu uma variação negativa de 1% em relação ao último anúncio, devido aos danos causados pela estiagem no Rio Grande do Sul.
Apesar disso, essas perdas foram compensadas, em parte, pelos ganhos observados em Tocantins, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. A colheita da soja está avançando em todas as regiões produtoras, mas com percentuais abaixo do registrado na safra anterior, devido a motivos distintos, como o excesso de chuvas.
O atraso na colheita da soja impacta a semeadura do milho 2ª safra, que já tem semeada 63,6% da área prevista para a cultura em todo o país. A Conab projeta crescimento na produção de 11,3% podendo chegar a 95,6 milhões de toneladas. No entanto, semear o milho fora da janela ideal pode aumentar os riscos durante o desenvolvimento das lavouras.
Para o algodão, houve um aumento de 4% na área semeada, atingindo 1,66 milhão de hectares. A expectativa é que a colheita da pluma atinja 2,78 milhões de toneladas. No caso do arroz, a produção é estimada em 9,9 milhões de toneladas, 8,4% inferior ao volume produzido na safra passada, devido à redução de área e às condições climáticas adversas. Já a colheita do feijão é estimada em 2,92 milhões de toneladas, somando as três safras.
Apesar dos desafios enfrentados pelas lavouras brasileiras, a previsão é de um aumento na produção de grãos na safra 2022/23. Com a colheita da soja em alta, a perspectiva é de um bom desempenho no mercado agrícola, contribuindo para a economia do país.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/integracao-de-lavoura-e-pecuaria-reduz-infestacao-de-caruru-em-plantios-de-soja
Foto: Felipe Rosa
07/03/2023 | Felipe Rosa, edição Cultivar
Pesquisas da Embrapa, Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e da empresa Três Tentos demonstraram que a integração da lavoura de verão com a pecuária no inverno pode reduzir em até 90% a infestação de caruru (Amaranthus palmeri) em soja.
Segundo estudo prévio avaliando a interferência negativa de caruru, uma planta dessa espécie pode causar redução da produtividade da soja na ordem de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Além disso, o relato da resistência do caruru ao glifosato, principal herbicida empregado no campo, aponta a necessidade de estratégias integradas de manejo de plantas daninhas para controlar a infestação.
A pesquisa aponta que a implantação do azevém na estação fria pode funcionar como uma barreira física para o crescimento do caruru, pois a palhada resultante da dessecação da forrageira dificulta o estabelecimento desta espécie daninha.
Além disso, a pesquisadora da Embrapa, Fabiane Lamego, recomenda a prática da semeadura direta e o uso de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso para evitar que o banco de sementes do solo seja abastecido com as plantas indesejadas.
A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao controle químico. “O manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavoura no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavoura) e reduz a pressão de seleção de novos biótipos resistentes", ressalta o professor do IFSul, Carlos Schaedler.
Em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) no Sul do Brasil, o cultivo de espécies como azevém e aveia-preta no inverno para pastejo, sucedido pela lavoura no verão, já é prática bastante comum. No entanto, é importante realizar o manejo do pasto de forma adequada, respeitando os princípios técnicos para reduzir o fluxo de emergência de plantas daninhas no estabelecimento inicial da soja em sucessão.
De acordo com Marlon Bastiani, pesquisador da Três Tentos, as estratégias integradas de manejo de plantas daninhas dão sustentabilidade ao uso de métodos de controle importantes como o uso de herbicida. “Esse, se bem posicionado e com planejamento na rotação de mecanismos de ação herbicidas, tende a controlar eficientemente as plantas daninhas e atrasar a evolução para novos casos de resistência”, completa o pesquisador.
Dados sobre a pesquisa
Os experimentos foram realizados na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), entre 2021 e 2022, e basearam-se na comparação de três sistemas: o primeiro com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo, com manutenção da pastagem em altura de 25 cm e posterior dessecação para formação de palhada; o segundo, com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo mais intenso, com manutenção da pastagem em altura de 10 cm e posterior dessecação para formação de palhada; e um terceiro com preparo convencional da área com aração e gradagem, sem implantação de pastagem de inverno. Todos os modelos foram sucedidos pelo plantio de soja no verão e avaliação da incidência da planta daninha caruru.
O primeiro sistema, com azevém mantido a 25 cm, proporcionou massa seca de parte aérea (MSPA) equivalente a 4,4 toneladas por hectare (t/ha) na dessecação para semeadura da soja, enquanto a parcela mantida a 10 cm de altura obteve MSPA de 2,7 t/ha. Na área testemunha, sem palhada/resíduo de pastejo e sem uso de herbicida pré-emergente, foram observadas 69,5 plantas/m² de caruru aos 12 dias após implantação da lavoura. Esse número foi reduzido em 48% na cobertura com 2,7 t/ha de azevém, manejado em altura de 10 cm. O melhor desempenho, porém, foi observado na parcela com azevém manejado a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha, onde houve 90% de redução da infestação do caruru na soja. A mesma situação foi observada na pré-colheita da soja, quando foram contabilizadas 42 plantas de caruru/m² no preparo convencional, contra 12 plantas/m² no manejo com azevém a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha.
Estudo prévio avaliando a interferência negativa de caruru mostrou que uma planta dessa espécie pode causar redução da produtividade da soja na ordem de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Ou seja, pode ocorrer, na média, redução de 6,4% na produtividade da soja quando há presença do caruru. Na pesquisa realizada na Embrapa, a produtividade da soja também apresentou diferentes resultados em cada sistema. Em um ciclo de estiagem no Rio Grande do Sul, o sistema com maior cobertura alcançou 2,4 mil kg/ha do grão; o sistema com menor cobertura chegou a 1,6 mil kg/ha; enquanto na condição de semeadura convencional foram colhidos 969 kg/ha.
Conforme a pesquisadora da Embrapa, Fabiane Lamego, é essencial manter estratégias de manejo integrado, reunindo técnicas como o uso da palhada para dificultar o estabelecimento das plantas daninhas e a aplicação de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso, para evitar que o banco de sementes do solo seja abastecido com as plantas indesejadas. Ela também recomenda a prática da semeadura direta, sem revolvimento do solo, fator que estimula as sementes de espécies daninhas presentes e favorece o estabelecimento do caruru. “A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao controle químico,” informa a pesquisadora.
“O manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavoura no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavoura) e reduz a pressão de seleção de novos biótipos resistentes. Isso porque se tira o foco exclusivo do controle químico e passa-se a usufruir das estratégias conjuntas da integração”, ressalta o professor do IFSul, Carlos Schaedler.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/integracao-de-lavoura-e-pecuaria-reduz-infestacao-de-caruru-em-plantios-de-soja
A Anvisa aprovou a avaliação toxicológica do isocycloseram técnico
06/03/2023 | Cultivar
A Anvisa aprovou a avaliação toxicológica do isocycloseram técnico. Trata-se de nova molécula inseticida da Syngenta no Brasil, com nome comercial Plinazolin. A empresa espera comercializar produtos com base nela ainda neste ano.
Produto técnico é aquele composto por teor definido de ingrediente ativo e destinado à obtenção de produtos formulados ou de pré-misturas. Pode-se entendê-lo como um passo anterior e necessário à obtenção do produto formulado, aquele que será efetivamente colocado no mercado.
O Ministério da Agricultura avalia a eficiência dos pesticidas. É o responsável por conceder o registro. Todavia, antes, cabe ao Ministério da Saúde realizar a classificação toxicológica dos produtos e avaliar seu risco à saúde humana. Por semelhante modo, a Ministério do Meio Ambiente realiza avaliações em sua área de competência.
A Revista Cultivar divulgou informações completas sobre o isocycloseram (Plinazolin) em fevereiro deste ano.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/anvisa-aprova-isocycloseram-tecnico
Foram de 37,71 milhões de toneladas, com redução de 11,3% ante as 42,54 milhões de toneladas registradas em igual período do ano de 2021
03/02/2023 | Kevin Costner
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) indica que as entregas de fertilizantes ao mercado brasileiro, no acumulado de janeiro a novembro de 2022, foram de 37,71 milhões de toneladas, com redução de 11,3% ante as 42,54 milhões de toneladas registradas em igual período do ano de 2021. Em novembro de 2022, foram entregues 3,74 milhões de toneladas, com redução de 10,8% em comparação ao mesmo mês de 2021, quando foram registradas 4,20 milhões de toneladas.
O Estado de Mato Grosso, líder nas entregas ao mercado, concentra maior volume no período analisado (23,9%), atingindo 9 milhões de toneladas. Seguem-se: Goiás (4,13 milhões), Rio Grande do Sul (4,12 milhões), São Paulo (3,95 milhões), Paraná (3,84 milhões) e Minas Gerais (3,60 milhões).
As importações de fertilizantes continuam chegando ao mercado brasileiro, na velocidade que o produtor rural tem demandado para garantir a produção de safra recorde. Nesse sentido, a ANDA reitera o permanente empenho, competência e a resiliência do setor para garantir a continuidade das importações e superar os cenários desafiadores da conjuntura mundial.
Produção Nacional
A produção nacional de fertilizantes intermediários encerrou novembro de 2022 com 583 mil toneladas, representando queda de 4,1%, na comparação de janeiro a novembro de 2022, foram 6,85 milhões de toneladas, com aumento de 5,2% em relação a igual período do ano de 2021, quando foram produzidas 6,51 milhões de toneladas.
Importações
As importações de fertilizantes intermediários alcançaram em novembro 2,32 milhões de toneladas, com redução de 44,6%. No acumulado de janeiro a novembro de 2022, o total importado foi de 32,35 milhões de toneladas, significando redução de 9,3% em relação ao mesmo período de 2021, quando foram importadas 35,67 milhões de toneladas.
No porto de Paranaguá, principal porta de entrada dos fertilizantes, foram desembarcadas 8,87 milhões de toneladas, com redução de 11,2% em relação a 2021, quando foram descarregadas 9,99 milhões de toneladas. O terminal representou 27,4% do total importado (fonte: Siacesp/MDIC).
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/entregas-de-fertilizantes-acumularam-queda-de-11percent-de-janeiro-a-novembro-de-2022
Lavoura de trigo sequeiro na região do Distrito Federal e entorno; Foto: Jorge Chagas
03/03/2023 | Embrapa
O trigo cultivado no período da segunda safra (safrinha) sem irrigação após a colheita da soja vem ganhando cada vez mais espaço nas lavouras do Cerrado do Brasil Central. Estima-se que nesta safra devem ser semeados cerca de 200 a 250 mil ha do cereal na região. O cultivo tem avançado principalmente entre produtores que desejam diversificar culturas, mitigar problemas e diminuir riscos, ou mesmo para aproveitar áreas que ficariam em pousio ou seriam cultivadas com plantas de cobertura.
Com o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas à região, o trigo tem sido adotado no sistema de cultivo em plantio direto, principalmente em sucessão à soja e em rotação com o milho e o sorgo, diversificando o sistema de produção e diminuindo riscos. A inserção do cereal em rotação no sistema tem proporcionado inúmeros benefícios agronômicos, como a quebra do ciclo de pragas e doenças na área, principalmente fungos de solo, plantas daninhas e nematoides.
Outro benefício é a possibilidade de rotação de princípios ativos de defensivos agrícolas, como herbicidas que podem agir no controle de plantas daninhas resistentes ao glifosato usado nas lavouras de soja RR, bem como no controle de plantas de soja germinadas após a colheita, contribuindo com o vazio sanitário da cultura e para eliminar plantas tigueras de cultivos de milho na área. “Assim, o cultivo do trigo tem proporcionado o controle de plantas daninhas, além de fornecer uma excelente palhada, favorecendo o plantio direto nas áreas”, aponta o pesquisador Jorge Chagas, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS).
A adoção do trigo após a soja permite que o produtor utilize cultivares de soja com ciclos mais tardios e, consequentemente, com tetos produtivos superiores aos de variedades precoces e superprecoces semeadas visando ao cultivo do milho safrinha. Outro ponto positivo é que o grão produzido na região do Cerrado é o primeiro trigo a ser colhido na safra no Brasil, podendo ser comercializado a preços mais atrativos. “Como a colheita do trigo safrinha é realizada no período seco, entre os meses de junho e julho, isso tem garantido um produto de excelente qualidade tecnológica de grãos e livre das micotoxinas que costumam afetar lavouras do Sul do País em anos de muita chuva na colheita”, observa Júlio Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados (DF).
Os rendimentos das lavouras têm variado de 35 a 65 sc/ha em anos de precipitação normal, e as receitas com a com as vendas têm agradado os produtores e estimulado a ampliação da área cultivada na região.
Produtores devem estar atentos às recomendações de manejo
Os pesquisadores ressaltam que o trigo de sequeiro é indicado para cultivo em regiões com altitude igual ou acima de 800 metros. O produtor interessado nessa opção de cultivo deve verificar se o trigo safrinha é indicado para a sua região e quais cultivares são adequadas. As portarias com as informações sobre o zoneamento agrícola de risco climático para o trigo estão disponíveis na página do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e no aplicativo Zarc Plantio Certo, da Embrapa, disponível para Android e iOS.
Eles recomendam que seja feita a análise do solo, que deve ser corrigido quanto à acidez com o uso de calcário, enquanto o alumínio em profundidadedeve ser neutralizado com o uso de gesso agrícola. O solo também deve estar livre de camadas compactadas, o que permite o aprofundamento das raízes das plantas e o melhor aproveitamento de água e nutrientes, além de minimizar os efeitos dos períodos secos, como os veranicos. Outra medida recomendada para amenizar os problemas com a falta de chuvas é o plantio direto, com a semeadura direta sem a incorporação da palhada da cultura de verão. A palhada protege o solo das altas temperaturas, amenizando a perda de água por evapotranspiração, além de permitir maior infiltração da água das chuvas, entre outros benefícios.
Para obtenção de maiores produtividades, a semeadura deve ser realizada do início de março até o final do mês, de acordo com as precipitações na região – onde as chuvas param mais cedo, o trigo safrinha deve ser plantado no começo do mês. O escalonamento da semeadura, ou seja, a semeadura das áreas em diferentes momentos dentro do período recomendado, ou a semeadura de cultivares de ciclos diferentes, são estratégias interessantes. “Assim, a lavoura terá talhões com plantas em diferentes estádios de desenvolvimento, o que reduz o risco de a falta de chuva atingir todo o plantio em um único momento crítico, como a floração das plantas”, diz Jorge Chagas. É também fundamental seguir as recomendações de manejo de cada cultivar para a região, como a densidade ideal de semeadura.
O pesquisador acrescenta que no início da janela de plantio é importante o uso de cultivares mais tolerantes a doenças, principalmente as manchas foliares e a brusone, doença fúngica que, na região do Cerrado do Brasil Central, pode causar prejuízos em anos com excesso de chuvas nos meses de abril e maio. Já para semeaduras mais tardias, após o dia 15 de março, o produtor deve semear cultivares mais tolerantes à seca. A baixa precipitação e temperaturas acima do normal também podem causar prejuízos, principalmente pela ocorrência de veranicos comuns nesse período.
Cultivar indicada pela Embrapa
A cultivar de trigo BRS 404 foi desenvolvida para condições de baixa precipitação, aproveitando a umidade do solo e o restante das chuvas dos meses de março, abril e maio. A cultivar tem como principais características uma maior tolerância ao déficit hídrico, ao calor e ao alumínio no solo, além de maior produção de matéria seca (palhada) e excelente qualidade tecnológica de grãos. Apresenta ciclo precoce, variando de 105 a 118 dias, sendo que o período entre a semeadura e o espigamento é de 57 a 67 dias, dependendo do local e da altitude do cultivo. É moderadamente suscetível à brusone e à mancha amarela.
“Em algumas regiões com maior volume de chuvas, como o Sul de Minas Gerais, os produtores têm alcançado produtividades de até 75 sc/ha com a BRS 404. Já no Planalto Central, a produtividade pode chegar a 60 sc/ha, desde que as chuvas tenham boa distribuição no período de safrinha”, informa Júlio Albrecht.
Classificada pela indústria como trigo pão, a cultivar, mesmo em anos secos, tem entregado pesos hectolítricos (PH) de grãos acima de 80 kg/hl, sendo muito bem aceita pelos moinhos da região. A força de glúten (W), medida que representa o trabalho (energia) de deformação da massa e indica a força de panificação da farinha, varia de 250 a 400 x 10-4 J, sendo bem superior à exigência mínima dos moinhos (220 x 10-4 J). Também apresenta elevada estabilidade (tempo de batimento da massa acima de 15 minutos), o que favorece a panificação.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/trigo-safrinha-comeca-a-ser-plantado-no-cerrado-do-brasil-central
Estão abertas as inscrições para a 3ª edição da "Escola de Herbicidas", que será realizada de 20 a 22 de março pela Fundação MT; Foto: Divulgação
01/03/2023 | Kassiana Bonissoni
Conhecimento técnico é importante em todas as etapas da atividade agrícola e na hora de controlar as plantas daninhas isso não é diferente. Pensando em auxiliar a classe produtora e profissionais do setor com este problema que a cada safra causa perdas de produtividade e prejuízos, a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) promove a terceira edição da Escola de Herbicidas. Serão aulas em turmas, de 20 a 22 de março, em Primavera do Leste/MT. O principal intuito é o de levar informações que garantam maior precisão e segurança para decisões acerca da matocompetição nas lavouras.
O treinamento será realizado 100% a campo, de forma prática, com foco em observar o controle de plantas daninhas e a seletividade dos herbicidas para as culturas agrícolas. Conforme explica o pesquisador da instituição, doutor em Fitotecnia, Lucas Barcellos Júnior, na oportunidade haverá demonstração de eficácia de misturas de herbicidas; novos produtos disponíveis no mercado, seletividade de herbicidas para culturas e controle de plantas daninhas jovens e velhas. Isso totalizará mais de 2.000 combinações diferentes a campo.
Dinâmica do curso
O público alvo da Escola de Herbicidas é principalmente produtores, consultores, engenheiros agrônomos, equipe técnica de fazendas, estudantes e demais pessoas ligadas ao agronegócio com interesse no assunto. Para o profissional, é fundamental a capacitação técnica individual e coletiva no conhecimento dos herbicidas. “Sem dúvidas, entender a eficácia de controle dos herbicidas e a seletividade para as culturas agrícolas, possibilitará tomada de decisão mais assertiva no posicionamento e recomendação dos produtos para as próximas safras”, completa Barcellos.
Os participantes saberão mais sobre: aplicação em dois estágios de desenvolvimento das plantas daninhas; aplicação em área gradeada para observação de residual de herbicidas; e aplicação em pré-emergência de cinco culturas, visando avaliar a seletividade. Além disso, obterão entendimento sobre aplicação em pós-emergência de cinco culturas, visando avaliar a seletividade; mistura de herbicidas; aplicação de herbicidas do mercado com registro para soja, milho e algodão, além da abordagem de 12 mecanismos de ação.
As Inscrições podem ser realizadas no site da instituição.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/treinamento-ajuda-na-tomada-de-decisao-para-o-controle-das-plantas-daninhas
23/02/2023 | Dayane Pozzer, edição Cultivar
A calagem é uma prática crucial para a produção de soja e outras culturas no cerrado mato-grossense. A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) conduz há 15 anos um experimento que avalia diferentes sistemas produtivos envolvendo o manejo dessa prática, dividido em ‘Calagem na cultura da soja’ e ‘Rotação de culturas na soja’. O experimento é conduzido no Centro de Aprendizagem e Difusão da instituição, em Itiquira/MT (CAD Sul).
Os sistemas produtivos no experimento de rotação de culturas incluem monocultivo da oleaginosa, sucessão de culturas com foco em soja e rotação de culturas envolvendo soja, crotalária e milho safra ou segunda safra consorciado com braquiária, variando ao longo do tempo. O experimento ‘Calagem na cultura da soja’ envolve três sistemas produtivos (monocultivo, sucessão e rotação de culturas) e diferentes doses de calcário.
Felipe Bertol (foto acima), pesquisador de Solos, Nutrição e Sistemas de Produção da Fundação MT e responsável pelo experimento, destaca que o objetivo sempre foi orientar os agricultores sobre o impacto de suas decisões para a lavoura e defender uma agricultura mais sustentável. Esses objetivos foram sendo atualizados e renovados ao longo do tempo.
Resultados do trabalho
O pesquisador Felipe Bertol constatou que nos seis primeiros anos de um ensaio, não houve diferença significativa entre os sistemas testados. Se o experimento tivesse terminado nesse período, a conclusão seria que a adoção de palhada e a degradação do solo não geravam resultados distintos.
Entretanto, devido a uma série de eventos, como o aumento na população do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), a introdução de variedades de ciclo mais curto e a ocorrência de déficits hídricos, os sistemas de sucessão e rotação de culturas passaram a apresentar resultados superiores aos monocultivos.
Segundo Bertol, essa diferença se manteve ao longo do tempo, chegando a uma produção máxima de 91 sacas por hectare em um ano recorde. No entanto, nos últimos três anos, a variabilidade climática e o aumento do nematoide de cisto têm causado diferenças entre os sistemas produtivos, mas ainda não é possível prever com clareza o impacto da rotação e sucessão de culturas na produtividade da soja.
Outro ponto importante observado em um dos sistemas de monoculturas é o revolvimento do solo, onde a introdução de braquiária há três anos levou a um aumento rápido e evidente na produtividade da soja. Em três safras, a quantidade de palhada em superfície proporcionada pela braquiária na segunda safra resultou em tetos produtivos semelhantes aos da sucessão de culturas em um curto espaço de tempo, em comparação com o revolvimento do solo. O pesquisador completa que a conclusão ainda é inconclusiva e requer mais estudos.
Mais constatações
“O que o agricultor está realizando não é totalmente inadequado”. Essa foi uma das principais constatações do experimento, externa o especialista, no entanto, há a ressalva de que, caso o produtor mantivesse uma agricultura dita convencional, ou seja, com pousio e/ou revolvimento do solo, o cenário seria devastador. Além disso, os resultados indicam que o milho, como cultivo de segunda safra, faz bem ao sistema e se equipara aos demais cultivos de cobertura testados, quando se trata de sucessão de culturas.
Em paralelo, a pesquisa demonstra a importância da rotação de cultivos no manejo de nematoides e também na promoção de melhores condições de palhada, que se destacam em anos com déficit hídrico. “Isto acontece em todos os sistemas, sendo rotação ou sucessão, que aportam material orgânico e estrutura do solo”, define o especialista.
Por fim, relativo ao solo, o pesquisador coloca que o pilar: física – química – biologia tem grande impacto no potencial produtivo. “Quimicamente os sistemas são muito parecidos, mas os tetos produtivos são muito inferiores nos monocultivos em relação à sucessão e rotação de culturas e os motivos são as condições biológicas e físicas destes ambientes”, esclarece Bertol.
Aumento de nematoides
No 10º e 11º ano do experimento, os pesquisadores envolvidos passaram a observar em alguns dos sistemas de cultivos o aumento das populações de nematoides que, apesar de já presentes, cresceram porque o ambiente passou a dar condições para isso. As espécies encontradas foram Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.
Rosangela Silva, nematologista e pesquisadora da Fundação MT e que acompanha o experimento desde o início, explica que no caso do nematoide de cisto, o aumento nas doses de calcário e a falta de cobertura no ambiente (matéria orgânica) favoreceu muito a crescente das populações.
“Principalmente quando foi priorizado a cultivar de soja suscetível, pensando apenas na produtividade do material e deixando de lado o problema com os nematoides ocorrentes”, completa.
Já no sistema rotacionado, a especialista conta que as populações de cisto foram menores, devido à diversidade de cobertura e aumento de microrganismos antagonistas aos cistos. “Em um ambiente mais diversificado biologicamente ou biologicamente mais ativo, a população do nematoide foi menor e houve um acréscimo de 17 sacas de soja em relação ao sistema soja-pousio”, esclarece.
A mensagem que fica após o longo período de experimento, de acordo com Rosangela, é que mesmo em um ambiente diversificado para o nematoide de cisto, se a cultivar resistente não for priorizada haverá perdas na produtividade.
“O ambiente ajuda, mas as demais ferramentas de manejo não podem ser esquecidas, por isso a primeira coisa a saber é quais espécies você tem? Qual o tamanho do problema, como está a distribuição na área e quais ferramentas de manejo devem ser priorizadas? Assim, o produtor pode esperar a produtividade almejada, pagando os custos de produção”, orienta a nematologista.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/experimentos-revelam-efeitos-de-sistemas-de-producao-e-impacto-da-calagem-na-soja
Lagarta falsa-medideira (Rachiplusia nu)
16/02/2023 | Embrapa, edição Cultivar
Em Mato Grosso do Sul, produtores rurais estão preocupados com a ocorrência da lagarta falsa-medideira (Rachiplusia nu) em soja Bt, principalmente a de primeira geração no Brasil (Intacta RR2 Pro). Segundo o pesquisador Crébio José Ávila, da Embrapa Agropecuária Oeste, a ocorrência histórica dessa espécie é mais usual nos estados da região Sul do Brasil e na Argentina.
Porém, a partir da safra 2019/2020, lagartas de Rachiplusia nu têm sido encontradas com mais frequência em outras regiões, como no norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, tanto em cultivares de soja convencional quanto na soja Bt de primeira geração.
“Esse fato tem levado à suspeita de que as lagartas de R. nu já estejam resistentes a essa tecnologia, ou seja, que o processo de evolução de resistência a essa praga já esteja ocorrendo no campo”, analisa Ávila. Todavia, segundo o pesquisador, a incidência dessas lagartas na lavoura de soja tem sido pequena, não causando níveis de desfolha que justifique o controle.
O pesquisador enfatiza que um dos requisitos necessários para não permitir ou retardar a resistência dessas pragas às cultivares Bt é a utilização de refúgio estruturado em 20% da área cultivada com soja. “Essa é a principal ferramenta do Manejo da Resistência a Insetos (MRI) para que aconteça manejo da resistência de lagartas em soja Bt e prorrogação da vida útil dessa tecnologia”, afirma Ávila.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/resistencia-de-lagarta-a-soja-bt-preocupa-produtores-de-ms
Painel de abertura do XIV Encontro Técnico Algodão com o tema 'Desafios da cultura do algodão e tendências para o futuro’
04/11/2022 | Publicado originalmente em 03/07/2020
Principal praga do algodoeiro, o bicudo Anthonomus grandis é responsável por perdas próximas a 360 milhões dólares por ano no Brasil. Seu combate exige atenção permanente, manejo intenso e ausência de plantas de algodão na entressafra, de modo que seja possível conviver com este inseto sem resultar em pesados prejuízos.
De todas as pragas que atacam o algodoeiro no Brasil, o bicudo-do-algodoeiro [Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae)] é sem dúvida a principal. Características da biologia, ecologia e comportamento deste inseto impõem ao produtor um grande desafio. Isto porque mesmo com emprego de medidas de controle, se não forem bem planejadas e adotadas em sua totalidade conforme preconizado pelo programa de manejo, ainda haverá perdas de produtividade. Levantamento realizado recentemente pela equipe de Entomologia do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) revelou que o produtor de algodão no Brasil perde aproximadamente 375 dólares por hectare/ano para o bicudo, contabilizadas perdas causadas pela praga e os custos com manejo (inseticidas, armadilhas, tubo-mata-bicudo, destruição de tigueras, rebrotas, etc.). Estendendo isso para a área total cultivada, o Brasil perde para o bicudo aproximadamente 360 milhões de dólares/ano (perdas de produção + custos de manejo), valores que justificam qualquer investimento relacionado ao planejamento para a redução populacional da praga.
As perdas ocasionadas pelo bicudo são elevadas devido ao ataque nas estruturas reprodutivas do algodoeiro, tanto para a alimentação como para a reprodução. O inseto completa o seu desenvolvimento passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto (Figura 1), sendo que as três primeiras ocorrem protegidas no interior das estruturas reprodutivas (por ex. botões florais). Desta forma, somente os adultos ficam expostos e são suscetíveis às pulverizações. O adulto é facilmente identificado por ser um besouro da família Curculionidae, podendo ter de quatro a dez milímetros de comprimento, apresenta um rostro (aparelho bucal) longo e curvo, que normalmente mede a metade do comprimento do seu corpo, e sua coloração pode variar de marrom claro, pardo acinzentado a marrom escuro.
Usualmente, o bicudo-do-algodoeiro entra na lavoura de algodão quando as plantas começam a fase reprodutiva, ou seja, assim que as plantas emitem os primeiros botões florais, e, quando ocorre o estabelecimento na área por falta de controle ou adoção de medidas ineficazes de controle, as infestações se mantêm até o fim do ciclo da cultura. A partir da colonização, a dispersão do bicudo dentro do talhão está relacionada com as futuras gerações/multiplicação, e o progresso deste deslocamento é influenciado pelo manejo adotado. O monitoramento via armadilhas com feromônio ou monitoramento via monitores nas bordas e dentro dos talhões é atividade primordial para uma tomada de decisão correta para o controle do bicudo. Isso porque o sucesso do controle químico está relacionado com as aplicações de inseticidas no momento da colonização acusada pelo monitoramento. Assim, é recomendado que as aplicações inseticidas nos talhões apresentando infestação após a detecção da praga sejam de forma sequencial, normalmente em número de três aplicações com intervalo de cinco dias entre elas. Estas aplicações são importantes para obter sucesso no controle daqueles adultos emergindo, o que ocorre constantemente (fluxos de emergência), bem como para controlar os indivíduos que escapam das pulverizações anteriores.
Imagem - Detalhes das injúrias de alimentação (esquerda) e oviposição (direita).
O manejo do bicudo-do-algodoeiro não se limita ao monitoramento e as aplicações corretas de inseticidas. É necessária adoção de medidas de manejo durante o ano todo, ou seja, desde a cultura instalada, em fim de ciclo, colheita e, ainda, no período de entressafra (pós-colheita). Desta forma, é possível afirmar que o manejo do bicudo não depende somente de uma ferramenta, como os inseticidas, mas sim de um somatório de ações que resultará em menor pressão da praga nas safras subsequentes e, consequentemente, menores perdas.
O manejo de entressafra deve ser adotado por todos de forma rigorosa, especialmente com relação às plantas espontâneas de algodão nesse período, que devem ser todas eliminadas, sejam tigueras, soqueiras e/ou rebrotas, independentemente do lugar que se encontram. Como o bicudo possui poucos hospedeiros que são utilizados na sua alimentação e, no Brasil, até o momento, não há relatos dele se reproduzindo em outras espécies de plantas a não ser em algodoeiro, a eliminação de plantas de algodão no período de entressafra é medida essencial para a redução populacional do bicudo, garantindo assim menor população para infestar as lavouras nas safras subsequentes. Vale salientar que a prática de destruição de plantas de algodão fora da época de cultivo é amparada por lei, sendo dever o cumprimento do vazio sanitário do algodoeiro.
Produtores de algodão de Mato Grosso, responsáveis por mais da metade da produção de todo o algodão do Brasil, devem ficar vigilantes para as recentes mudanças na Instrução Normativa (SEDEC/INDEA-MT Nº 001/2016) que trata sobre as normas de datas de plantio, vazio sanitário, destruição de soqueira, controle do bicudo e outras. Em especial, com relação às alterações das datas de vazio sanitário, que foram regionalizadas, dividindo Mato Grosso em duas regiões, sendo a Região 1 integrada pelos Núcleos Regionais Sul, Centro-Leste e Centro; e a Região 2 pelos Núcleos Regionais Noroeste, Médio Norte, Centro Norte e Norte. Essa divisão é apresentada na Figura 1. As datas para o vazio sanitário em cada região ficaram estabelecidas assim:
Região 1 – compreendido entre 1º de outubro e 30 de novembro;
Região 2 – compreendido entre 15 de outubro e 14 de dezembro.
Outro ponto importante para o qual os produtores devem ter atenção é com relação ao termo utilizado para autuação. Antes era empregado “planta viva” de algodão, sendo o produtor autuado quando encontrada qualquer planta viva em sua propriedade no período do vazio sanitário, enquanto que o termo atual é “planta com risco fitossanitário”, cuja definição é: plantas de algodão tigueras acima do estádio V3 e plantas rebrotadas (soqueiras) com mais de quatro folhas por broto ou presença de estruturas reprodutivas.
Com exceção das lavouras de algodão, as propriedades devem manter as áreas livres de planta com risco fitossanitário em qualquer período do ano.
- Realizar um bom manejo da praga no período de desenvolvimento da cultura, manter este manejo até o fim de safra, com monitoramento e aplicações corretas de inseticidas, mesmo em fim de ciclo do algodoeiro, não colocando a perder todo o trabalho realizado durante a safra;
- Buscar manter as áreas com ausência de hospedeiro do bicudo na entressafra, através da eliminação de plantas de algodão de qualquer local (talhões, beira de estradas, algodoeiras, confinamentos, etc.), eliminar também plantas de algodão presentes em talhões cultivados com soja e milho;
- Realização de medidas de manejo de forma conjunta e coordenada entre as propriedades algodoeiras a fim de buscar padronização das boas ações.
Com relação ao trabalho em conjunto da cadeia produtiva do algodão, o IMAmt, através do projeto Controle Efetivo do Bicudo-do-algodoeiro em Mato Grosso, tem criado Grupos Técnicos do Algodão (GTAs), com a finalidade de promover a interação dos integrantes dessa cadeia produtiva e, com isso, realizar troca de informações, padronização de ações, visitas técnicas, entre outras ações que contribuem para o sucesso do manejo do bicudo e outras pragas. Até o momento, em Mato Grosso, foram formalizados nove GTAs: Sapezal, Sorriso, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Diamantino/Deciolândia, Campo Novo do Parecis, Rondonópolis (região da Serra da Petrovina), Primavera do Leste e Campo Verde. Para facilitar o diálogo e interação dos integrantes são realizadas reuniões mensais em cada localidade e, apesar da recente formação dos GTAs, já se observam avanços consideráveis com relação ao manejo do bicudo, especialmente no que diz respeito à destruição de soqueiras e tigueras de algodão, ao monitoramento, a aplicações sequencias de inseticidas, transporte de fardos e caroço de algodão, entre outros.
Apesar do clima “seco” ter sido desfavorável ao bicudo durante a safra 2015/2016, contribuindo para menores populações na fase final da safra, é necessário permanecer em alerta e realizar todas as ações recomendadas. Infelizmente, não se tem produzido grandes novidades em relação ao manejo do bicudo. Medidas de sucesso de manejo preconizadas desde a entrada desta praga no Brasil são as mesmas utilizadas atualmente, assim o que resulta em maior ou menor sucesso do manejo é a austeridade com que essas práticas são implementadas.
Eduardo Moreira Barros, Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt); Jorge Braz Torres, Guilherme Gomes Rolim, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Artigo publicado na edição 208 da Cultivar Grandes Culturas.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/artigos/estrategias-de-combate-do-bicudo-do-algodoeiro
Painel de abertura do XIV Encontro Técnico Algodão com o tema 'Desafios da cultura do algodão e tendências para o futuro’
04/11/2022 | Publicado originalmente em 30/08/2022 - Kassiana Bonissoni
Em 2020, o Brasil voltou a ocupar o quinto lugar entre os maiores produtores de algodão do mundo - ao lado de Índia, Estados Unidos, China e Paquistão, atualmente o País é o segundo maior exportador mundial da commodity. São dados que mostram não só a potência da produção nacional, mas a superação de desafios ao longo das décadas. Um exemplo foi o bicudo-do-algodoeiro que se alastrou e destruiu plantações inteiras nos anos 90 e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia que impôs dificuldades do cultivo à comercialização.
Nesta safra (2021/22), Bahia e Mato Grosso, responsáveis por 91% da produção nacional de algodão, estão contabilizando, na reta final da colheita, médias de produtividade abaixo da expectativa inicial e problemas com a qualidade de fibra de suas produções. O excesso de chuva no início da semeadura e o término das precipitações ainda no mês de abril são as causas dos fatores negativos deste ciclo. E apesar deste resultado e de aspectos que estarão presentes na próxima temporada, como o alto custo de produção, é possível vislumbrar mais crescimento e mais valorização do algodão brasileiro perante o mundo, e até mesmo os primeiros lugares em produção e exportação.
A expectativa foi apontada pelos participantes do painel de abertura do XIV Encontro Técnico Algodão, evento que teve início nesta segunda-feira (29) e segue até quarta-feira (31), e é realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) e Senar-MT, com apoio da Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e patrocínio de empresas do agronegócio. Com o tema ‘Desafios da cultura do algodão e tendências para o futuro’, o debate inicial mostrou que há muito trabalho sendo feito para aprimorar a imagem do algodão brasileiro perante mercados compradores exigentes, como Ásia e Europa.
Júlio Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), foi um dos convidados e citou o que ouviu durante visitas recentes a inúmeros países compradores do algodão brasileiro. “Estivemos em reunião em Dubai com empresas do Paquistão, visitamos indústria têxtil na Turquia, Indonésia, Tailândia e Bangladesh e em todos os lugares ouvimos a mesma coisa: que o algodão brasileiro tem melhorado nos últimos cinco anos e que querem comprar mais algodão do Brasil, cada vez mais”, destacou. A Missão Compradores, também da Abrapa, percorreu estados brasileiros que têm o cultivo há cerca de 20 dias e recebeu dos visitantes internacionais as mesmas informações positivas.
Para Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa, que participou do painel direto de Singapura, onde atua, o grande objetivo é fortalecer a confiança internacional sobre o algodão brasileiro para que ele possa ser vendido com um diferencial muito pequeno ou mesmo se igualar ao americano que é o referencial. “Não temos o que esconder, sabemos que tem ano bom, tem ano ruim, mas sabemos que a transparência é fundamental para garantir a confiança e essa mesma confiança vai fazer com que o Brasil ganhe mercado sem precisar vender mais barato, esse é o objetivo”, pontuou.
Assim como Busato, Duarte também reforçou o interesse de países asiáticos pela fibra do Brasil. “Em todos os mercados que nós visitamos a fila de maquinários para fiação que vai chegar nos próximos dois anos é grande, contando com o nosso algodão. É uma pena neste momento não ter a produção que a gente esperava, mas em qualidade temos nos destacado. E falar do algodão brasileiro é fácil, pois não querem só comprar, querem aprender como fazer com a gente”, acrescentou.
O cotonicultor Alexandre Bottan e o presidente da Ampa, Paulo Sérgio Aguiar, também presentes no painel de abertura, relataram os problemas climáticos vivenciados nesta safra, mas também apostam com otimismo na crescente do algodão nacional lá fora. “Vamos trabalhar nas questões de custo, temos novas tecnologias, excelentes biotecnologias e tudo para ter um produto sustentável para crescer. Então não há motivos para perder o ânimo, temos tudo para tocar esse negócio e vamos conseguir evoluir”, opinou Aguiar. Já Bottan apenas resumiu: “não me vejo longe da cotonicultura ao longo da minha vida”.
Além da melhor visibilidade do algodão brasileiro, que tem sido conquistada ao atender os critérios de qualidade exigidos pelos importadores, outros aspectos atuais contribuem para que o Brasil tenha mais chances de expandir suas posições nesse mercado. Uma delas está atrelada aos problemas climáticos dos Estados Unidos, segundo maior produtor atrás da Índia. “Secas como a do Texas e chuvas em excesso no sudeste americano, e a temporada de furacões que ainda nem começou, podem trazer nervosismo ao mercado”, externou Paulo Marques, head global de algodão da ADM, que participou da Suíça.
A China, por sua vez, não terá muito impacto em sua produção de algodão, porém, seu governo prioriza a segurança alimentar. Neste caso, se for preciso, a área do algodão é reduzida para dar lugar ao milho. “Não podemos e não iremos perder a oportunidade. O que nos trouxe aqui hoje é a união entre os produtores, pesquisa e a troca de informação que temos entre nós, então com certeza temos que agarrar essa oportunidade e estar unidos”, completou o presidente da Abrapa.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/para-especialistas-do-setor-algodoeiro-produtores-podem-continuar-otimistas
A metodologia pode colaborar com a ampliação do mercado para os produtos biológicos à base de bacilos no País; Foto: Zayame Vegette
Um novo protocolo pode ajudar a resolver um dos principais gargalos para a expansão do controle biológico no Brasil: a análise da qualidade dos bioprodutos à base de bacilos (bactérias) utilizados nas lavouras para combater doenças e pragas. Desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP), consiste na quantificação do número de estruturas viáveis dos microrganismos, expresso em unidades formadoras de colônias por mililitro ou grama (UFC/mL ou UFC/g). Além de garantir mais segurança a agricultores e consumidores, a metodologia pode aumentar a adoção e colaborar com a ampliação do mercado para os produtos biológicos à base de bacilos no País.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Wagner Bettiol, a mensuração por unidades formadoras de colônias é usada em microbiologia para estimar o número de bactérias viáveis. “Essa quantificação é indispensável para avaliar a qualidade do produto. É o que determina a concentração adequada do microrganismo para garantir a sua eficiência. Se os valores obtidos na análise forem inferiores aos informados no rótulo do produto registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há indicação de que o produto está fora do padrão e, portanto, sujeito aos procedimentos de fiscalização”, pontua Bettiol.
Segundo a engenheira agrônoma da Ballagro Agro Tecnologia Ltda. Zayame Vegette, o protocolo pode nortear as empresas na fase de desenvolvimento de produtos biológicos, visto que os valores obtidos permitem fazer os acertos necessários durante a produção e ao longo dos processos de registros do produto, além de fornecer informações fundamentais para as recomendações de rótulo.
Em relação à produção on farm ou “caseira”, largamente utilizada no País, cujos produtos não são comercializados, não há necessidade de garantia mínima do número de unidades formadoras de colônias por mL ou por grama. Mas, segundo Bettiol, os resultados podem auxiliar os agricultores na definição dos volumes a serem aplicados para poder atingir o efeito desejável no controle das doenças e das pragas, bem como colaborar na melhoria do processo de fermentação das bactérias.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), atualmente vinculada à CropLife Brasil, o mercado de agentes de controle biológico cresceu mais de 70% no Brasil nos últimos anos. Impulsionado principalmente pelas demandas dos consumidores por produtos mais saudáveis, enfrenta ainda como gargalo o controle de qualidade dos bioprodutos comerciais e caseiros. “A padronização de metodologias para a avaliação da qualidade e conformidade é fundamental para proteger a saúde dos produtores e dos consumidores”, acrescenta Bettiol.
O novo protocolo é resultado do projeto Qualibio, iniciado em 2008, com o objetivo de desenvolver metodologias para análise da qualidade de produtos biológicos. No momento, as metodologias desenvolvidas estão voltadas para a avaliação de bactérias do gênero Bacillus e também de fungos do gênero Trichoderma, que são os principais agentes de controle biológico de doenças de plantas no Brasil. Mas, futuramente, podem ser estendidas para outros microrganismos utilizados como agentes de biocontrole.
O Qualibio foi coordenado pela Embrapa Meio Ambiente e desenvolvido em parceria com a Embrapa Arroz e Feijão, Instituto Biológico de São Paulo, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
Clique aqui para saber mais sobre o novo protocolo.
O registro de produtos biológicos no Mapa indica expansão desse mercado no Brasil. De 27, em 2011, passou para 137, em 2018; 200, em 2019 e alcançou 500, em 2022. Esses dados indicam a tendência de adoção crescente de tecnologia mais sustentável pelos agricultores.
Os produtos formulados à base de bactérias e os obtidos via fermentação on farm são os mais utilizados no controle de doenças e de pragas das plantas no Brasil.
Além da eficiência, eles apresentam outra característica importante: o fato de formarem endósporos (estrutura de resistência), que permitem sua sobrevivência por longos períodos no ambiente, além de aumentar a sua vida de prateleira para período superior a dois anos.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/ciencia-desenvolve-protocolo-para-avaliar-qualidade-dos-produtos-biologicos-a-base-de-bacilos-no-brasil
26 de outubro de 2022
Patrícia Távora
A novidade é o registro do produto de baixa toxicidade com ingrediente ativo novo Phthorimaea operculella granulovírus, que teve aprovação para controle da traça do tomateiro, tornando-se uma boa opção para o manejo dessa praga.
Outro ingrediente ativo inédito, à base do óleo essencial de Cinnamomum verum, teve dois produtos registrados para o controle da mosca-branca (Bemisia tabaci raça B) na cultura da soja. Bemisia tabaci é uma das pragas prioritárias para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Para a agricultura orgânica, saiu o registro de uma isca formicida à base do extrato da planta Tephrosia candida. É o segundo registro de um formicida com base na Especificação de Referência nº 04, para controle de formigas cortadeiras Atta sedens rubropilosa e Atta laevigata.
O destaque dos nematicidas fica por conta dos dois produtos biológicos compostos por uma mistura de isolados de Bacillus paralicheniformis e Bacillus subtillis, com recomendação de controle de nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita), nematoide-do-cisto da soja (Heterodera glycines) e nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus).
Para o controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), uma das pragas elencadas como prioritárias no ano de 2022, o agricultor terá disponível mais uma ferramenta de controle com Baculovírus, de uso aprovado para a agricultura orgânica, além de um produto à base de Bacillus thuringiensis, isolado S 234 e outro à base de Metarhizium riley, Cepa CCT7771.
Outra praga também considerada como prioritária, o fungo Sclerotinia sclerotiorum que causa o mofo-branco, teve o registro de dois produtos biológicos à base de Trichoderma afroharzianum, linhagem CEN 287.
As culturas com suporte fitossanitário insuficiente, também conhecidas como minor crops, como araticum, atemóia, batata-yacon, cacau, cará, chalota, cherimóia, chuchu, cupuaçu, feijão-caupi, fruta-do-conde, gengibre, gergelim, grão-de-bico, graviola, guaraná, inhame, kiwi, lentilha, linhaça, mandioca, mandioquinha-salsa, maxixe, nabo, pinha, quiabo, rabanete e romã poderão receber tratamentos com o fungicida flutriafol (classificado pela Anvisa como categoria 5 - Improvável de Causar Dano Agudo). O registro de agrotóxicos para culturas com suporte fitossanitário insuficiente é importante para auxiliar no manejo de pragas pelos agricultores.
Já em relação aos registros químicos, ganha destaque os dois registros do herbicida Diquat (considerado o substituto do Paraquat), aumentando as opções para o sojicultor na safra que se inicia.
Os demais produtos utilizam ingredientes ativos já registrados anteriormente no país. O registro de defensivos genéricos é importante para diminuir a concentração do mercado e aumentar a concorrência, o que resulta em um comércio mais justo e em menores custos de produção para a agricultura brasileira.
Todos os produtos registrados foram analisados e aprovados pelos órgãos responsáveis pela saúde, meio ambiente e agricultura, de acordo com critérios científicos e alinhados às melhores práticas internacionais.
Revisão das Regras
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão trabalhando na revisão das regras aplicadas aos produtos de origem microbiológica, reconhecidamente de baixo impacto e que vem conquistando mercado nos últimos dois anos.
O trabalho conjunto resultará em breve na atualização das regras para registro de agrotóxicos de origem microbiológica, que otimizará a fase de avaliação deste tipo de produtos.
“Nos últimos 4 anos tivemos mais de 150 produtos registrados nesse grupo e é crescente o número de pedidos de registro, reforçando a importância da atualização do marco normativo que está vigente desde 2006”, destaca o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins, André Peralta.
A lista dos produtos pode ser obtida no link abaixo:
Clique aqui para baixar o arquivo anexado.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/produtos-de-baixo-impacto-para-o-controle-de-pragas-tem-registro-publicado
21 de outubro de 2022
A agricultura moderna tem exigido mais profissionalismo a cada safra. O antigo agricultor, que realizava apenas o trabalho braçal na lavoura, tem dado lugar ao novo empresário rural que, além de acompanhar o campo em seu cotidiano, também tem estado mais atualizado quanto às novas tecnologias, aquisição de insumos e comercialização de grãos.
A era digital chegou às fazendas com oferta, quase em tempo real, de informações sobre clima, valores das commodities e resultados de pesquisa que facilitam a tomada de decisão por parte dos agricultores e técnicos. Mas, por outro lado, aspectos básicos para alcançar maiores produtividades têm sido deixados de lado.
Não adianta escolher a cultivar mais adaptada para sua região e com maior teto produtivo; realizar a correção química, física e biológica do solo; adquirir os melhores programas de defensivos para aplicação em parte área; investir em máquinas modernas, se o agricultor esquecer que o início de tudo está na semente, que precisa ser protegida.
Poucos são os agricultores que realizam uma análise da qualidade fisiológica e sanitária da semente, principalmente dentre aqueles que “salvam” suas próprias sementes. E, como não há obrigatoriedade da realização da patologia de sementes, muitas vezes o próprio agricultor é responsável por introduzir novas doenças ou raças de patógenos em suas áreas. Aproximadamente 90% das culturas utilizadas para alimentação humana são provenientes de sementes, dentre as quais destacam-se a soja, feijão, arroz, milho, trigo, cevada, girassol e amendoim.
Plantas infectadas com a presença de lesões nos cotilédones
No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) existem regras e normas brasileiras para análises sanitárias de sementes e, tais testes têm como principal objetivo determinar a condição sanitária, provendo importantes informações, tais como: serviços de quarentena, certificação de sementes, valor cultural, resistência de cultivares aos patógenos, necessidade e eficiência de tratamento químico, além de qualidade de grãos armazenados (EMPRAPA, 2005).
Nas principais culturas há um grande número de patógenos importantes que interferem na germinação das sementes e emergência de plântulas resultando na redução de estande e, consequentemente nos parâmetros produtivos.
Dentre os patógenos da cultura da soja que têm disso verificados com maior frequência no Laboratório da Agro Carregal e que são disseminados por sementes destacam-se Phomopsis spp., Colletotrichum spp., Fusarium spp., Cercospora kikuchii, Macrophomina phaseolina, Aspergillus spp., Penicillium spp., Penicillium spp., Sclerotinia sclerotiorum e Rhizoctonia solani.
Como o uso de sementes certificadas não é garantia de que estejam isentas de patógenos, existe a necessidade crescente da realização do tratamento químico.
Sclerotinia sclerotiorum
Causador do mofo branco em diferentes culturas pode estar associado à semente através do micélio dormente e também pelo escleródio (estrutura de resistência do fungo) aderido (GOULART, 2005). Neste caso as sementes constituem um abrigo seguro à sobrevivência do fungo e também um eficiente método de disseminação às longas distâncias.
A incidência desse fungo nas sementes pode causar falhas de estande tanto pelo tombamento em pré quanto em pós emergência. Além disso, haverá a produção de escleródios que constituirão a fonte de inóculo para o próximo cultivo. Hoffman et al. (1998) verificaram 0,3 a 0,7% de incidência de S. sclerotiorum em sementes de soja colhidas em áreas com alta incidência da doença. Apesar de parecer baixa, tal porcentagem de sementes infectadas pode ser extremamente elevada. Para uma cultivar cuja população seja 300 mil plantas por hectare, o agricultor poderá estar introduzindo de 900 a 2100 sementes infectadas por hectare, o que muitas vezes explica a incidência da doença mesmo em áreas nunca cultivadas com soja anteriormente.
Devido à dificuldade de controle e ao potencial de destruição desse patógeno, o nível de tolerância de Sclerotinia sclerotiorum é zero em todas as categorias de sementes de soja comercializadas. Porém, esse índice é baseado somente na presença de escleródios no lote, não sendo obrigatório o teste de sanidade para detecção de micélio dormente.
A melhor alternativa para o agricultor (além de proceder a análise sanitária das sementes) é a realização do tratamento de sementes com fungicidas para tal finalidade. O tratamento de sementes pode ser realizado na própria fazenda (onfarm) ou solicitado na aquisição das sementes (TSI – tratamento de sementes industrial).
Nos experimentos desenvolvidos durante safra 2017/18 na Agro Carregal verificou-se eficiência de diferentes princípios ativos quando comparados à testemunha sem tratamento (7% de incidência em sementes infestadas artificialmente). Os principais fungicidas foram mancozebe, fluazinam, thiabendazol, carbendazim, tiofanato metílico e metalaxil M + fludioxonil, os quaisproporcionaram até 100% de controle.
Phomopsisspp.
O fungo Phomopsis causador da seca da haste e das vagens e também de infecção de sementes é muito comum nas áreas de cultivo de soja, causando perdas em produtividade e na qualidade dos grãos (Wrather et al., 2010). A senescência prematura de plantas de soja ocasiona redução na produtividade quando ocorre antes do completo enchimento de grãos, podendo ainda aumentar a infecção de hastes e sementes por Phomopsis spp., já que a senescência geralmente ocorre sob condições ambientais ótimas ao desenvolvimento da doença (Meriles et al., 2004).
Phomopsis spp, um dos patógenos mais frequentes transmitidos por sementes
Apesar da espécie Phomopsis longicolla ser mais comumente recuperada de sementes que as demais (Lu et al., 2010), todas as espécies desse complexo podem atacar e afetar a qualidade das sementes. As sementes infectadas podem não apresentar sintomas, mas geralmente são enrugadas e esbranquiçadas e acabam não germinando ou o fazem de forma mais lenta, resultando em tombamento pré ou pós emergência. Estudos histológicos têm demonstrado que os conídios de P. longicolla germinam e estabelecem-se dentro de 24 horas após sua chegada à superfície da vagem, ressaltando-se que, após 24 horas a 48 horas, ocorre a penetração nas vagens. As colonizações das sementes ocorrem após a colonização da vagem (DRINGRA, ACUNÃ, 1997).
Outros trabalhos têm demonstrado que sementes altamente infectadas por Phomopsis podem ter sua germinação drasticamente reduzida, quando avaliada pelo teste padrão rolo de papel toalha a 25°C. Porém, a emergência das plântulas oriundas de sementes no teste de solo ou areia não é afetada, se a qualidade fisiológica for boa e as condições forem adequadas para rápidas germinação e emergência. Esses resultados podem ser explicados por um mecanismo de escape em que a plântula, ao emergir, solta o tegumento infectado no solo, ao passo que, no teste padrão de germinação (rolo de papel) o tegumento permanece em contato com os cotilédones, causando sua deterioração. Esses resultados demonstram que o teste padrão de germinação, isoladamente, é inadequado para avaliar a qualidade de sementes de soja com alta incidência de Phomopsis.
Sementes infectadas superficialmente por Phomopsis spp., quando semeadas em solos úmidos, geralmente chegam a emergir. Porém, o fungo desenvolvido no tegumento não permite que os cotilédones se abram, impedindo a expansão das folhas primárias. Somente infecções que se iniciam nas vagens resultam em deterioração das sementes (ALMEIDA et al., 2005).
Dentro o manejo de doenças o tratamento das sementes com fungicidas do grupo dos benzimidazóis (carbendazin, tiofanato metílico e tiabendazol) pode reduzir a taxa de transmissão da doença e é recomendado para o controle de Phomopsis spp. (Tecnologias, 2010).
Sementes tratadas contra patógenos presentes no solo
Colletotrichum truncatum
A antracnose é a principal doença que afeta a fase inicial de formação das vagens e um dos principais problemas nos cerrados. A maior ocorrência pode ser atribuída à elevada precipitação, às altas temperaturas e ao adensamento de semeadura. É causada pelo fungo Colletotrichum truncatum, podendo ocorrer morte das plântulas, necrose dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes e vagens. Inoculo proveniente de restos de cultura e sementes infectadas pode causar necrose nos cotilédones, que tende a se estender para o hipocótilo, causando o dampingoff(tombamento) de pré e pós-emergência.
Fungicidas a base de thiram, benzimidazóis, determinadas estrobilurinas e também alguns triazóis apresentam controle efetivo da doença. Os produtos comerciais mais modernos têm apresentado alta eficácia de controle do patógeno nas sementes.
Com relação à perda de viabilidade desse patógeno nas sementes durante o armazenamento, pesquisas demonstraram que esse fungo é mais persistente que Phomopsis spp. e Fusarium semitectum, apesar de sua incidência diminuir quando as sementes são armazenadas em condições ambientes, por um período de seis meses.
O conhecimento da variabilidade espacial de C. truncatum, encontrado nos campos de produção de sementes e de grãos constitui-se em informações fundamentais para o entendimento do progresso da antracnose e para tomada de decisão de medidas de controle. Caso o inoculo primário disseminado via semente encontre ambiente favorável e o hospedeiro seja suscetível, os focos iniciais de infecção ocorrerão de forma aleatória a campo. Posteriormente, o progresso da doença no espaço e no tempo ocorrerá a partir da fonte de inóculo secundário (normalmente oriundo dos cotilédones sintomáticos), produzido nas primeiras lesões das plantas infectadas.
De acordo com Henning (2013), no Brasil não foi estabelecido nível de tolerância para C. truncatum em sementes de soja. Do mesmo modo, ainda não se tem muitas informações referentes à transmissibilidade da semente para a planta e da planta para a semente.
Cercospora kikuchii
O crestamento foliar de cercospora (Cescospora kikuchii) é um fungo cosmopolita e encontra-se em todas as regiões produtoras de soja do Brasil, causando o crestamento na folha e a mancha-púrpura na semente da soja, caracterizada visualmente pelo arroxeamento das sementes (CARREGAL et al. 2015). Esse fungo pode reduzir a qualidade e a germinação da semente, cuja incidência é favorecida por condições quentes e úmidas, desde a floração até a maturidade fisiológica da soja (FAO, 1995).
As perdas causadas por esta doença variam de 15% a 30% (EMBRAPA, 2000), podendo resultar em até 50% de perdas resultantes do chochamento das vagens (sem sementes), caso incidência elevada ocorra no estágio de granação (CÂMARA, 1998). Além disso, a desfolha antecipada, induzida por C. kikuchii, pode reduzir a produção, devido à formação de sementes de menor tamanho (FAO, 1995).
As sementes infectadas não parecem ser fonte importante de inóculo, a não ser em áreas novas, uma vez que a taxa de transmissão semente-planta-semente é bastante baixa. No teste de sanidade, a presença da coloração púrpura do tegumento facilita a identificação do fungo, bastando observar o seu crescimento e/ou esporulação. O controle da disseminação e da transmissão de patógenos por sementes pode ser realizado por meio do tratamento com fungicidas (MACHADO, 2000). Neste caso também, os produtos mais modernos e que normalmente contêm benzimidazóis em sua constituição têm apresentado controle eficiente.
É importante salientar que o tratamento de sementes é fundamental para proteger as sementes dos patógenos já presentes no solo e erradicar aqueles que estão infestando as sementes (lado de fora do tegumento). Já para o controle de sementes infectadas, a eficácia do tratamento pode variar grandemente.
O agricultor precisa entender que o efeito dos fungicidas em tratamento de sementes permanece efetivo por um período de 10 dias a 15 dias, protegendo inclusive a plântula (produtos sistêmicos) nos primeiros dias após a emergência. Após esse período a plântula estará desprotegida e outros medidas de controle como rotação de culturas são fundamentais para minimizar as perdas. Assim sendo, um engenheiro agrônomo deve sempre ser consultado.
Geliane Cardoso Ribeiro, Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
Artigo publicado na edição 230 da Cultivar Grandes Culturas, mês julho, ano 2018.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/artigos/tratamento-de-sementes-com-fungicidas
20/10/2022 | Daniel Popov
A cultura do milho segue enfrentando um dos principais desafios fitossanitários de sua história, o enfezamento, que pode reduzir em mais de 70% a produção de grãos em plantas suscetíveis, de acordo com informações da Embrapa. Além de cuidar para que a área esteja livre de plantas de milho voluntárias (tiguera ou guaxas), outro método que pode colaborar com a redução da incidência do problema é o tratamento de sementes, que auxilia na proteção da planta de milho até ela emergir e ganhar suas primeiras folhas.
Segundo o especialista em cultura do milho da Bayer, Paulo Garollo, tratar as sementes é uma prática de manejo determinante para manter longe da lavoura recém implantada de milho, os adultos das cigarrinhas (Dalbulus Maidis), inseto vetor e disseminador do complexo de enfezamento. “Esse manejo pode trazer uma eficiência de até 90% no início da semeadura, isso diminui sensivelmente a incidência da praga na lavoura, além de facilitar o manejo contra ela mais para a frente. Ou seja, é mais um cuidado preventivo que ajudará a evitar que o problema saia do controle”, comenta.
Um dos tratamentos de sementes que tem apresentado maior eficiência e bons resultados no campo é o grupo químico dos neonicotinóides, comenta Garollo, que não só colaboram com o manejo da cigarrinha, mas também de outra praga difícil de controlar, o percevejo barriga verde.
“A primeira dica para o produtor é observar se o tratamento de sementes adquirido tem registro na praga alvo, neste caso a cigarrinha, com a dose específica para ela. Alguns produtos comerciais recomendam maiores doses para cigarrinha, em relação ao percevejo, por exemplo.”
Tratamento industrial X Na fazenda
No ato da compra de sementes, o produtor tem a opção de escolher se as sementes já serão entregues com o tratamento industrial (TSI) ou farão a aplicação do revestimento na própria fazenda. Segundo Garollo, apesar dos custos parecerem mais baixos quando a opção é fazer por conta própria, vários fatores demonstram que isso não compensa.
“O tratamento feito com máquinas industriais garante que cada semente receba a quantidade exata do ingrediente ativo, de maneira homogênea e com maior aderência. No tratamento feito na fazenda, o produtor terá que dividir o tempo que já é corrido durante a semeadura para fazer o processo e, não conseguirá se dedicar como deveria. Além disso, o ingrediente ativo é colocado no tanque de mistura e não há garantia de que cada semente receberá a quantidade certa do mesmo, sendo capaz de gerar imperfeições que podem comprometer a proteção individual das plantas, além de aumentar a chance de travar a distribuição da plantadeira”, comenta o especialista em cultura do milho.
O tratamento industrial também evita que sementes fora do padrão de tamanho sejam repassadas ao produtor e que os maquinários específicos não causem fissuras ou rachaduras durante a aplicação dos ingredientes ativos. Já na fazenda, o manejo é mais rústico, realizado normalmente em tanques que podem gerar dano à semente.
“Se após o tratamento na fazenda a semente tiver uma fissura ou rachadura há grande chance de isso gerar doenças no período de emergência, ou mesmo facilitar a entrada de fungos que causam a morte de plantas antes mesmo de emergir. Ou seja, a economia gerada no tratamento trará prejuízos por conta dessa lavoura desuniforme e com falhas”, comenta Garollo. “Essa é uma dor de cabeça desnecessária, já que o custo benefício não compensa.”
Cuidados no armazenamento
Definido o método de tratamento, outro ponto de atenção que pode mudar drasticamente a eficácia dessa estratégia é o armazenamento das sementes. Segundo o especialista da Bayer, o produtor precisa estar atento ao momento combinado do recebimento da semente e que seja adequado ao calendário de início de plantio do milho, para não estender o tempo de galpão desta semente.
“Uma semente tratada armazenada por muito tempo pode perder a qualidade fisiológica e com isso ter seu potencial germinativo e o vigor reduzidos. É claro que o local de armazenamento também deve ser adequado, o espaço não pode ser muito quente e abafado. O ideal é optar por guardá-las sobre estrados, para garantir a boa circulação de ar e menor captação de umidade do solo, assim como evitar colocá-las próximas ao adubo ou sal para alimentação animal, que capturam umidade que podem ser transmitidas para as sementes”, diz Garollo.
Caso o produtor já tenha iniciado o plantio e tenha que interromper os trabalhos, principalmente em função das chuvas, é importante que as sementes armazenadas nos tanques da plantadeira não entrem em contato com a umidade.
“Manter as sementes nos depósitos da plantadeira de um dia para o outro não é um problema. Entretanto, este maquinário precisa ficar fora da chuva, guardado em um barracão, ou mesmo sob uma lona para que as sementes não entrem em contato com a umidade. Se elas tiverem contato com a umidade, além de ter boa chance de começarem a germinar, podem inchar, travar no disco e estragar o plantio”, comenta Garollo.
Manejo integrado e monitoramento
Garollo destaca que o tratamento de sementes isoladamente não é suficiente para minimizar o nível de incidência e os prejuízos causados pela cigarrinha. Também se juntam ao Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) a escolha de híbridos mais tolerantes, eliminação do milho voluntário e o monitoramento recorrente das áreas. Isso porque nem todo agricultor planta na mesma data e, como as cigarrinhas são capazes de se deslocar por grandes distancias por dia (acima de 20 km em um dia), a explosão de população pode acontecer até de um dia para o outro, por isso é importante ficar atento e agir antes de perder o controle.
“Tomados todos esses cuidados iniciais, o produtor deve ficar atento e seguir monitorando suas áreas. E, ao notar que a população de cigarrinha está aumentando, já optar pelo controle químico, completando as ações para minimizar os prejuízos gerados pelo complexo de enfezamento. Cada uma destas ações de manejo se complementam e diminuem a população da cigarrinha, aumentando a chance de sucesso”, finaliza o especialista.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/tratamento-de-sementes-pode-gerar-ate-90percent-de-eficiencia-no-controle-de-cigarrinhas-no-inicio-do-ciclo-do-milho
20/10/2022 | Luis Fernando Duarte
Quando a produtividade na lavoura cai, com falhas visíveis no desenvolvimento das plantas, causando grandes “reboleiras”, logo o agricultor imagina que tenha sido causado por nematoides, praga com histórico grave no Brasil. Entretanto, um novo tormento pode ser acrescido à cadeia produtiva da soja: a Scutigerella immaculata. Esse inseto, que ataca de forma silenciosa, causa graves prejuízos às raízes das plantas e, consequentemente, à rentabilidade do produtor.
“A Scutigerella é uma centopeia com hábito subterrâneo. Ela tem coloração esbranquiçada e pode mover-se verticalmente para camadas mais profundas do solo, dependendo da temperatura e da umidade. A presença dessa praga é pouco difundida e tudo indica que está em várias regiões do País”, explica Suellen Drumond, gerente de Tratamento de Sementes da Sumitomo Chemical.
O artrópode mede de 2 mm a 10 mm, tem movimentos ágeis e passa facilmente pelas rachaduras e galerias de solos com migração em até um metro de profundidade.
Segundo Drumond, um dos problemas mais visíveis nas lavouras é a diminuição da densidade da cultura de soja, com lentidão no desenvolvimento da vegetação, causando grandes reboleiras no campo e, assim, redução da produtividade. Isso acontece devido aos ataques às raízes das plantas. Batatas são usada como isca para detectar a presença da praga
Como identificar a praga na sua lavoura
A incidência da Scutigerella ainda é pouco difundida, logo não está no radar do agricultor brasileiro. Por isso, é fundamental a realização de testes de identificação em todas as regiões agrícolas do País.
O agrônomo de Desenvolvimento de Mercado da Sumitomo Chemical, Isaias Bertanha, destaca que o teste é simples e pode ser realizado pelo próprio agricultor. “Faça uma abertura no solo, com a mão ou uma pá, de 10 cm a 20 cm ou até encontrar umidade. Depois disso, pegue uma batata inglesa e corte-a ao meio, colocando no fundo da abertura, com a superfície cortada da batata no solo”, explica.
Em seguida, reforça Bertanha, cubra a batata com a terra e demarque a área. Após dois a três dias, verifique as iscas para confirmar a presença da centopeia. Em solos com alta umidade, veja em até dois dias, antes do apodrecimento da batata. Vale usar uma superfície escura, por exemplo, uma lona preta, para melhor identificação. Cubra a batata com a terra e demarque a área; após dois a três dias, verifique as iscas para confirmar a presença da centopeia
Solução
Caso o produtor identifique a Scutigerella, entre em contato com um representante da Sumitomo Chemical. A companhia tem em seu portfólio a única solução registrada no Brasil contra a praga, o Inside FS.
O produto é um inseticida voltado para tratamento de sementes e compõe a plataforma exclusiva Seed Protection, que apresenta soluções híbridas para a proteção do potencial produtivo da lavoura. A Seed Protection tem como soluções os inseticidas Inside FS e Maestro FS, o fungicida Apron, o bionematicida Aveo e o lançamento, também bionematicida, Loyalty Bio. Além deles, a plataforma também tem como integrantes o MycoApply EndoFuse e o MycoApply EndoMaxx, que otimizam a adubação do solo.
Fonte: https://revistacultivar.com.br/noticias/centopeia-pode-ser-a-causa-da-queda-de-rentabilidade-nas-lavouras-de-soja
18 de outubro de 2022
Flavio Lobo
Hoje, a segurança alimentar global está diante de sérios desafios. Ao mesmo tempo que o crescimento populacional faz aumentar a demanda por alimentos, as condições ambientais para a expansão da produção agrícola se mostram cada vez mais desafiadoras.
Depois de seis décadas, a “Revolução Verde”, que modernizou a agricultura a partir dos anos 1960, se depara com limites impostos pela degradação de solos e águas decorrentes da sua própria expansão. Situação que se agrava em razão das mudanças climáticas – em parte também causada por desequilíbrios e poluição ambientais causados direta ou indiretamente pela ampliação da agroindústria e da utilização de agrotóxicos e fertilizantes.
Nesse cenário, o aumento simultâneo da produtividade e da sustentabilidade da agricultura é um objetivo vital para todos – mais ainda para países que são grandes produtores agrícolas, cujas populações já vivem com taxas elevadas de insegurança alimentar e enfrentam desafios ambientais de relevância global. E o Brasil está nesses três grupos.
Iniciativa brasileira
Nos últimos anos, um grupo transdisciplinar de pesquisadores sediado no Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria também com o Centro de Energia Nuclear para Agricultura da USP – vem investigando efeitos e potenciais da associação entre nanomateriais e bactérias que colaboram para o crescimento das plantas.
Em artigo recém-publicado na revista 3 Biotech intitulado “O potencial para a agricultura de nanomateriais associados a bactérias promotoras de crescimento vegetal”, pesquisadores ligados ao CDMF demonstram que nanopartículas de silício, zinco, titânio e ouro podem favorecer a multiplicação e atuação dessas bactérias em benefício das lavouras. O estudo tem a doutoranda Amanda Carolina Prado de Moraes como primeira autora e foi coordenado pelo professor do Departamento de Química da UFSCar Emerson Camargo.
Falando à reportagem da Agência FapespAgência Fapesp, Camargo explica que os potenciais de nanofertilizantes estudos pela CDMF combinam aumento de produtividade com redução de uso de fertilizantes tradicionais e agrotóxicos. O potencial de ganhos ambientais – que também tornariam as atividades agrícolas mais sustentáveis e produtivas a médio e longo prazos – inclui maior equilíbrio e renovação do solo e redução da poluição das águas (rios e lençóis freáticos).
Bio e nano fertilizantes
Há “bactérias promotoras de crescimento vegetal” (PGPB, na sigla em inglês) que se localizar e atuam junto às raízes (bactérias rizosféricas) ou nas folhas, flores e tecidos internos das plantas (endofíticas). Elas favorecem a nutrição vegetal – por exemplo, fixando nitrogênio e outros nutrientes em torno das raízes – e protegem as plantas de patógenos e fatores de estresse.
Biofertilizantes bacterianos podem ser inoculados nas lavouras, aplicados no solo, nas sementes ou nas superfícies das plantas, já são reconhecidos como instrumento economicamente eficiente e ambientalmente benéfico. A associação do uso dessas bactérias com o de nanopartículas e nanofertilizantes poderá ser um fator importante para o enfrentamento do desafio de ampliar a produção de alimentos com sustentabilidade socioambiental.
Uma síntese sobre o potencial de nanofertilizantes pode ser encontrada aqui.
Para acessar outros artigos científicos recentes sobre o potencial da nanotecnologia aplicada à agricultura, clique nos links:
Biofertilizers and nanofertilizers for sustainable agriculture: Phycoprospects and challenges
Nanofertilizers for agricultural and environmental sustainability
Publicado em 21/09/2022 - Última modificação em 21/09/2022 às 00h23
Fonte: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/noticias/noticias/324-o-potencial-dos-nanofertilizantes-para-aumentar-a-produtividade-e-sustentabilidade-da-agricultura