Refractor
Reflector
Dobsonianio
Catadióptrico
Será que o telescópio vai ser realmente usado e não se vai juntar à arrecadação de objectos inúteis? Utilizar um telescópio implica habitualmente deslocá-lo até um local ermo, onde as luzes da cidade não impossibilitem a observação do firmamento.
Ao chegar ao local, montar o instrumento e alinhá-lo demora sempre algum tempo. Depois da sessão, é necessário desmontar o telescópio e voltar a transportá-lo. Ora, nem todos têm o entusiasmo e a paciência necessários para estes trabalhos.
Em alternativa, pode-se montar em casa um pequeno observatório. Mas nem sempre se tem um horizonte desobstruído. Se o leitor tem a certeza de ir utilizar frequentemente o telescópio, então vale a pena comprá-lo. Se não, será melhor começar por comprar binóculos, antes de se abalançar a um instrumento mais poderoso.
A compra de um telescópio deve ser cuidadosamente pensada. Os instrumentos que se encontram em lojas não especializadas não costumam ter uma qualidade aceitável. Simples binóculos acabam por ter uma óptica mais aperfeiçoada do que esses instrumentos de brinquedo. Vale a pena aprender um pouco sobre telescópios, ler os catálogos e folhear alguns livros sobre astronomia de amadores.
Há telescópios de todos os tamanhos e a todos os preços. Se o leitor pretende instalar o telescópio em casa, num sótão, varanda ou outro observatório improvisado, então poderá adquirir um instrumento mais volumoso, naturalmente um reflector, que oferece uma maior abertura para um mesmo preço. Se, pelo contrário, pretende transportá-lo frequentemente de local para local, então será melhor escolher um instrumento mais pequeno e leve.
Não é só o instrumento óptico que deve ser considerado. Num telescópio, é absolutamente essencial um tripé ou outro sistema de suporte. Mesmo quando se funciona com ampliações relativamente fracas, qualquer pequena oscilação traduz-se em movimentos visuais extremamente rápidos. É impossível ver alguma coisa através de um telescópio se este não estiver apoiado num bom suporte. Uma parte importante dos custos (15% ou mesmo mais) vai habitualmente para o tripé.
A articular o tripé com o telescópio tem de existir um sistema de montagem que oriente o tubo óptico na direcção desejada. Esse sistema costuma ser de dois tipos: azimutal ou equatorial. O primeiro tipo, mais simples e mais económico, conjuga movimentos horizontais (em azimute) com movimentos verticais (em altura). O segundo tipo, claramente preferível, permite alinhar um dos eixos, dito polar, perpendicularmente ao equador - daí o nome de sistema equatorial. O outro eixo deste sistema, perpendicular ao primeiro, é chamado eixo de declinação. Como o eixo polar fica paralelo ao eixo de rotação da Terra (Norte-Sul), seguir o movimento aparente dos astros não é difícil, basta rodar o instrumento em torno desse eixo em sentido contrário ao da rotação do nosso planeta.
Um telescópio deve também vir munido de um motor, que é absolutamente indispensável quando se pretende fazer fotografias de exposição prolongada e é mais do que útil quando se pretende observar pormenorizadamente um astro. O movimento da esfera celeste parece muito lento à vista desarmada, mas é muito rápido quando visto num telescópio. A Terra roda sobre si própria 360 graus em 24 horas (23h 56min 4s, se nos referirmos ao movimento relativo às estrelas). Quer isto dizer que as estrelas parecem mover-se 15 graus em uma hora. Se estivermos a utilizar um campo de visão de quarto de grau, tudo desaparece da nossa visão em um minuto: as estrelas movem-se na imagem e é preciso estar constantemente a rodar o telescópio.
Para contrariar o movimento da esfera celeste, vale a pena ter um sistema equatorial e um motor que obrigue o instrumento a rodar e a seguir o movimento dos astros. Se o telescópio não vier munido desse motor, assegure-se de que o pode adquirir e acoplar.
Todos os instrumentos razoáveis devem permitir mudar as objectivas conforme a ampliação que se pretende obter. Devem igualmente permitir que se lhes adapte o corpo de uma câmara fotográfica reflex, para tirar fotografias utilizando o telescópio como teleobjectiva, e que se ponha às cavalitas («piggyback») do tubo óptico uma câmara, para tirar fotografias directas, mas seguindo o objecto celeste com o motor do telescópio.
Em todos os instrumentos, o fundamental é a abertura, que mede a capacidade de captação de luz do instrumento. Uma grande ampliação com uma pequena abertura apenas consegue provocar imagens pouco nítidas. Uma ampliação maior é sempre possível substituindo as oculares, que são, aliás, tanto mais baratas quanto maior a ampliação que permitem obter.
Há quem recomende uma abertura mínima de 10 cm (4 polegadas) e quem diga que menos do que 15 centímetros (6 polegadas) não é aconselhável. Uma abertura de 10 cm será pouco para observar objectos de céu profundo, tais como galáxias e nebulosas, mas será mais do que suficiente para observar a Lua e os planetas, com excepção de Plutão. Um telescópio, mesmo modesto, abre uma janela inesgotável sobre o cosmos.
29/7/2000, texto de Nuno Crato - Universidade de Coimbra