Por: Professor Morim.
Rio de Janeiro, bairro do Rocha, sob o céu estrelado que cobria o final dos anos 60 e início dos anos 70, três garotos, movidos por uma curiosidade sem limites e sonhos que ultrapassavam as fronteiras do céu, embarcaram em uma aventura que marcaria suas vidas para sempre. Antônio Morim, eu, apelido Carlinhos, ao lado de Paulo César, o Paulinho e Luiz Carlos, também conhecido como Ratinho, formávamos um trio inseparável, unidos pelo fascínio do desconhecido e pelo anseio de alcançar as estrelas.
A conquista da Lua pelos astronautas da Apollo 11 não foi apenas um marco histórico; para nós, foi o acender de uma faísca que incendiaria nossa imaginação e curiosidade. Em nossas mentes jovens e ávidas, o espaço não era mais uma fronteira distante, mas um desafio que nos chamava. E assim decidimos: construiríamos nossa própria nave espacial, não para competir com os gigantes da NASA, mas para tocar, mesmo que simbolicamente, o manto estrelado que nos cobria todas as noites.
Com recursos modestos, mas com uma inventividade que só a infância proporciona, começamos a planejar nossa jornada. Paulo César, com sua eloquência e acesso a recursos um pouco mais abundantes, sugeriu o uso de balões de hélio, vendidos aos domingos por um vendedor ambulante, como meio de elevar nossa nave aos céus. Luiz Carlos, o Ratinho, com suas mãos habilidosas, imaginou o uso de tubos de papel higiênico para a estrutura da nave e, juntos, decidimos que nossa astronauta seria uma corajosa barata, capturada em uma das nossas incursões pelo quintal.
A construção da nave foi um processo de aprendizado e descoberta. Cada estágio, meticulosamente planejado, seria separado pela queima controlada de barbantes embebidos em cera, uma solução engenhosa que imaginei e que nos permitia simular, ainda que de forma rudimentar, a complexidade de uma verdadeira missão espacial. O último estágio, equipado com um paraquedas improvisado, garantiria o retorno seguro da nossa valente astronauta à Terra.
Porém, mais do que o desafio técnico, o que nos movia era o sonho e a possibilidade. Em cada etapa de nossa jornada, enfrentávamos questionamentos que nos forçavam a pensar, a calcular e a imaginar soluções. Como recuperar nossa nave após o lançamento? Como garantir a segurança da nossa astronauta? Como prever a direção do vento? E o tempo de queima do barbante que podia variar por conta do material e da altitude? Eram perguntas que, embora simples, alimentavam nosso desejo de explorar e compreender o mundo à nossa volta.
Essa experiência, além de nos unir como amigos, nos ensinou lições valiosas sobre cooperação, persistência e criatividade. Embora eu, lutasse com os desafios do TDAH, sem entender bem o que eu tinha de diferente, descobri nas estrelas e na companhia dos meus amigos um foco e uma paixão que me guiariam ao longo da vida. Através de nossos esforços e experimentos, aprendemos que, mesmo com recursos limitados, é possível alcançar o inimaginável quando se tem curiosidade, determinação e um sonho a seguir.
"Quando Eu Crescer, Eu Quero Ser Astronauta" não é apenas o relato de uma aventura de infância, mas uma mensagem de inspiração para educadores e gestores do século XXI. Ela destaca a importância de nutrir a curiosidade, a criatividade e o espírito de exploração nas mentes jovens. Ao encorajar essas qualidades, podemos ajudar as crianças a desenvolver não apenas o conhecimento acadêmico, mas também as habilidades e a confiança para enfrentar os desafios do futuro. Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, são esses sonhadores, inovadores e exploradores que moldarão nosso destino, alcançando as estrelas e além. Afinal, durante a vida em meus 65 anos, tive muitos sonhos aspiracionais e alguns desses realizados.
Imagino um jovem hoje, pensando assim: “ Quando eu crescer quero ser como Sam Altman”, mas isso é tema da próxima newsletter