Vivemos, em boa parte das universidades do mundo, um momento de transição do velho modelo de difusão do conhecimento, baseado na pedagogia literário-teatral, para novas formas ainda em construção. Independentemente de estarem ou não sistematizados em cursos regulares a distância, materiais como vídeos de aulas, conferências e pequenas exposições de tópicos específicos já abundam na internet, lado a lado com livros e software educativo de livre acesso. A distância entre o que já é possível e o que ainda ocorre na maioria das universidades, com disciplinas teóricas restritas a aulas presenciais e material escrito, faz com que nossas práticas de ensino exijam urgente revisão. Acreditamos ser possível, e nosso projeto pretende dar um passo nessa direção, romper as barreiras entre cursos regulares e de extensão, entre ensino presencial e ensino a distância: o mesmo material pode servir de apoio a alunos que assistem a um curso presencial e vão (ou não) às aulas; pode ser utilizado nas formas semipresencial ou à distância; e, também (ou mesmo principalmente), pode liberar o autodidata das amarras do ensino regular.

  A melhor analogia a que podemos recorrer é fazer referência ao que ocorreu, no espaço de cerca de meio século, com as artes do espetáculo: se, antes do cinema e da televisão, o teatro era a única possibilidade, este se tornou, hoje, o espaço de pesquisa e formação de pessoal para uma indústria gigantesca. A mudança de escala é impressionante: um ator do final do século XIX poderia almejar, ao longo de sua carreira, não mais do que alguns milhares de espectadores; hoje esse número, cujo crescimento não é interrompido pela morte, pode chegar a bilhões.

Nesse domínio, a Matemática tem uma especifidade que merece destaque. Boa parte do pensamento matemático se apoia em imagens. Entretanto, ao contrário das imagens das ciências, que existem no mundo real e que, quando se revelam diante dos olhos de um, podem ser filmadas e colocadas diante dos olhos de todos, as imagens da Matemática, frequentemente, existem apenas no mundo das ideias, ou nas cabeças dos matemáticos. Assim, podemos dizer que, neste caso, o desafio é colocar diante dos olhos de todos as imagens que se revelam apenas atrás dos olhos de alguns.