PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Reflexões sobre o preconceito linguístico: quem fala a sua língua sabe falar a sua língua.

O linguista Marcos Bagno, um dos maiores autores quando o assunto é preconceito linguístico publicou o livro "Preconceito linguístico: o que é, como se faz" em 1999. Esse livro é base para entender do assunto e ele é bem curtinho, vale muito a pena ler na íntegra. Mas aqui vamos trazer algumas reflexões para pensarmos sobre o assunto.

Há diversos preconceitos que são discutidos diariamente pela população - homofobia, gordofobia, racismo, gênero, transfobia e preconceito social. Apesar das lutas contra qualquer tipo de preconceito serem travadas todos os dias, há um que acarreta, muitas vezes, essas demais intolerâncias: o ignorado preconceito linguístico. Esse, que se torna gravemente poderoso por ser invisível, além de ser cometido pela grande maioria dos falantes.

Entende-se por preconceito linguístico o espaço que existe entre a norma padrão estabelecida pela elite letrada e o seu real uso - ou seja, a ignorância dos profissionais da língua em não reconhecer a diferença existente entre as duas situações. A língua, em sua faceta verdadeira, é viva - e não estagnada, como vários gramáticos defendem. Marcos Bagno, em seu livro “Preconceito Linguístico”, afirma que “uma coisa é aprender sobre a língua, outra coisa, muito diferente, é aprender a usar a língua” (2015, p. 171).

Bagno (2009, p.73) coloca a definição de gramática em que, no grego, significa exatamente “a arte de escrever”. E a escrita é um saber que aprende, uma tecnologia que não é inata ao ser, contrária à língua que, segundo Chomsky, é, de fato, inata. O que nos leva a concluir que, se a gramática é a arte de escrever, ela é aprendida, e não adquirida como a língua. Dessa forma, é possível concluir que os puristas defendem uma tecnologia que não é a língua viva em constante mudança; eles defendem uma língua ortodoxa cheia de regras e leis que inferiorizam aqueles que não a falam, transformando-os em “pecadores”. O preconceito acontece, essencialmente, por não saberem essa diferença entre gramática e língua.

A ignorância quanto essa diferença faz com que falácias sejam perpetuadas pelos falantes da língua. Dentre essas, há o sexto mito argumentado por Bagno, “O certo é falar assim porque se escreve assim”, o qual retrata o panorama da educação brasileira que supervaloriza a escrita enquanto despreza a língua falada, estimulando a reprodução de uma língua artificial - a gramática - diferente daquela adquirida universalmente enquanto criança. O preconceito é formado, nesse caso, quando o professor ignora a língua obtida na aquisição natural fazendo o aluno menosprezar o próprio conhecimento. Dessa forma o preconceito é praticado pelo professor e pelo aluno - denominando-se em sua própria concepção como “burro”. Outro mito exposto pelo autor é o “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”, cujo expõe a ideia de uma inversão histórica como se a língua derivasse da gramática, quando na verdade é o contrário. Isso é exemplificado pelo autor por meio do trecho “as plantas por acaso só existem porque os livros de botânica as descrevem? É claro que não” (BAGNO, 2015, p. 97). O que acontece é que a gramática foi inventada - depois da língua já existir - para manter os ritos religiosos intactos. Atualmente, ela é utilizada como base educacional do ensino de português ao invés do letramento dos alunos, o que acaba elitizando a “língua” - como se ela fosse apenas a gramática - e excluindo aqueles que não a conhecem. O preconceito é dado exatamente nessa exclusão.

Sabendo que a gramática é uma tecnologia inventada, ela não é inata como o exposto acima. Já a língua, que aprendemos enquanto criança, é um processo de aquisição natural e progressiva. Todos os seres humanos são capazes de adquirir uma língua se não apresentarem quadros de afasia e outras limitações. Essa é dada com a junção de dois fatores: o primeiro é a faculdade da linguagem a qual trata-se de um aparato biológico que se desenvolve com o segundo fator, o do input que são os dados recebidos pelos infantes. O input não é perfeito, ele é cheio de “erros” e mesmo assim a criança tem a noção do que pode ou não na língua, o que é provado pela Gramática Universal, alegando que todas as línguas possuem equivalências. Segundo Bagno (1999, p. 121) “Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna [...] Só se erra naquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário” Dessa forma, ignorar tal língua e impor a gramática normativa é cometer um crime com todo o processo natural e, dessa maneira, cometer os atos de preconceito discutidos nos parágrafos acima descritos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico o que é, como se faz. 51ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.


Autor(a): Daniele Slaga Paraízo

RELATO DE PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Vídeo produzido pelas alunas Daniele Slaga, Emanoelle Marafon, Gabriela Zapf e Giovanna Setti.

Você já cometeu algum ato de preconceito linguístico?

No fundo, o preconceito linguístico trata-se de um preconceito social, os mais afetados são as pessoas mais desfavorecidas que não tiveram o privilégio de aprender a variante de prestígio, mas isso não significa que essa pessoa tenha que ser desvalorizada, muito pelo contrário.

Mesmo sem saber essa variante, a senhora do relato apresentado no vídeo, conseguia se comunicar e tinha conhecimento o suficiente para chegar onde estava, isso significa que a língua portuguesa ela sabe falar e saber a língua, não significa saber a gramática.

Ninguém merece ser humilhado por não ter um conhecimento específico e cabe a nós, alfabetizados e letrados, contribuirmos para mudar isso utilizando do nosso conhecimento para incluir as pessoas e não exclui-las.

MAPA MENTAL

Já parou para pensar em como nosso pensamento funciona quando estamos lendo um texto e assimilando as ideias?

O "Mapa Mental" é uma ferramenta muito interessante para ilustrar esse processo. Desde a infância, nós aprendemos de forma linear da esquerda para direita conforme o professor coloca no quadro da sala e conforme escrevemos em nossos cadernos, mas será que essa forma estímula o nosso pensamento?

De acordo com Buzan (2002 apud CAMARA, 2012), não. Isso, pois, nossas conexões mentais não são lineraes. Ele diz que essa assimilação segue um percurso pessoal, pois cada indivíduo ao ler um texto terá uma bagagem de informações as quais irá relacionar. Para entender a informação, criamos ilustrações mentais, esquemas, relações e marcações; por isso que o mapa mental nos ajuda muito a sintetizar um conteúdo para posteriormente o assimilarmos.

Veja, por exemplo, a imagem acima. Ele é um mapa mental feito a partir do texto "Noções introdutórias e uso no dia a dia", discutido na disciplina de Comunicação Oral e Escrita do curso de Publicidade e Propaganda. O texto traz algumas reflexões da língua, fala e escrita; também discute gêneros textuais; o processo comunicativo e também neologismos. Para esquematizar, foi colocado em forma circular com os tópidos ao redor do tema principal: comunicação. Isso, pois, ela depende desses processos e, além disso, veja que cada temática possui uma cor, assim na hora de estudar, podemos utilizar a cor como relação para memorizar e entender aquele tópico.

A explicação acima é um pouco das ideias obtidas ao construir o mapa mental trazido
acima que fez sentido para quem criou, mas como dito acima, essa esquematização do pensamento é algo pessoal, então o mapa mental de outra pessoa terá marcações diferentes e até destaques do texto que o criador desse exemplo não destacou.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARA, Luciana Azevedo. PERCORRENDO ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM COM MAPAS MENTAIS: DOIS CASOS DE APRENDIZES DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA. Capítulo 04 - Mapas Mentais. Disponível em <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=20655@1> Acesso em 23/09/2021.

Autor(a): Daniele Slaga Paraízo

FUNÇÕES DA LINGUAGEM