“Como jovem budista, descobri como um presente a oportunidade de estudar em um colégio católico lassalista. Ao entrar no colégio, me tornei lassalista sem querer, mas agora sou lassalista de coração, porque aprendi que ser lassalista não depende da religião, da cor, da raça ou da cultura, mas antes de quem sou e de minha capacidade para deixar que o bem maior brilhe através de mim. Também me ocorreu que a religião, a cor, a raça ou a cultura não me tornam diferente dos demais, mas de uma forma muito bonita aprendi que quem sou para os demais e o que faço em benefício dos necessitados é o que faz a diferença”16.
Essa imagem de um Lassalista contemplando a imensidão da vida pode mover-nos a conhecer Deus e a experimentar seu amor, a descobrir sua vontade para conosco e a lembrar o mandato de Jesus: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei: assim, amai-vos uns aos outros”17. O objetivo último de toda Pastoral Vocacional é descobrir o amor de Deus e partilhá-lo com os demais, porque onde há amor, ali há vida. Ao final, através de nossa vocação, damos a conhecer nossa forma de amar e de viver.
Como filhos e filhas de Deus, assumimos uma certa disposição que nos permite escutar seu chamado para descobrir nossa vocação, já que sua palavra “requer tempo para ser compreendida e interpretada; a missão à qual Deus chama se revela pouco a pouco”18, com o tempo e através de processos de descoberta pessoal. Todas as experiências da vida são uma forma de descobrir, compreender e avançar. Neste itinerário, podemos descobrir que todos somos chamados por Deus à santidade e à plenitude do amor: “Sede santos porque eu, o Senhor, sou santo”19.
Para os cristãos, o batismo marca o início de nosso itinerário e se converte na fonte da vocação e da missão. É o fundamento de nossa vida de fé e que exige uma resposta pessoal concreta20. A Exortação Apostólica nos convida a isso: “Deixa que a graça do teu batismo frutifique em um caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e para isso opta por ele, escolhe Deus repetidas vezes. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para que seja possível, e a santidade, no fundo, é fruto do Espírito Santo em tua vida, com todo o ministério pastoral dirigido para ela”21.
Sabemos que toda pastoral é vocacional, porque “a vocação é o eixo em torno do qual se integram todas as dimensões da pessoa. Este princípio não diz respeito apenas a cada crente, mas também à pastoral em seu conjunto. Portanto, é muito importante explicar que somente na dimensão vocacional toda a pastoral pode encontrar um princípio unificador, porque nela descobre sua origem e seu cumprimento”22.
Precisamente porque se trata de uma pastoral global, a dimensão vocacional exige um compromisso com todos e se centra em todas as vocações. Nossa animação vocacional vai mais além da dimensão lassalista. De fato, muitos Lassalistas em nossas obras educativas optam por outros carismas e estilos de vida. Estamos conscientes de que o cristianismo é uma religião minoritária em muitas partes do Instituto e para a Família Lassalista. No entanto, também estamos conscientes de que somos mediadores do chamado de Deus para outros caminhos de vida e de serviço, tanto na Igreja como em outras culturas e tradições. Nesses contextos, a Declaração lembra aos Lassalistas que ao darmos às pessoas “os meios para cultivar a terra para que produza seus frutos e se converta em uma habitação digna da família humana, ao prepará-las para que saibam o suficiente para participar nas atividades dos grupos sociais, ao levá-las ao conhecimento de si mesmas e ao domínio de si mesmas, de todas essas formas se aperfeiçoam à imagem de Deus no ser humano, e se torna possível que os seres humanos cumpram a vocação que Deus lhes tem dado...”, para cuidar da terra23. O diálogo e o respeito que devem sustentar qualquer interação com essas culturas, religiões e tradições está maravilhosamente plasmado em uma declaração dos bispos asiáticos quando falam do diálogo com as religiões locais: “Neste diálogo os aceitamos como elementos significativos e positivos na economia do desígnio de salvação de Deus. Neles reconhecemos e respeitamos os profundos significados e valores espirituais e éticos. Durante muitos séculos foram o tesouro da experiência religiosa de nossos antepassados, da qual nossos contemporâneos não cessam de receber luz e força. Foram (e continuam sendo) a expressão autêntica dos anseios mais nobres de seus corações, e o lugar de sua contemplação e oração. Ajudaram a dar forma às histórias e culturas de nossas nações”24.
Como Lassalistas, nos perguntemos:
• A que Deus está me chamando?
• Como posso conhecer o plano de Deus para minha vida?
• O que significa para mim ser Lassalista?
São perguntas que surgem quando a semente, uma vez lançada, conseguiu enraizar em cada pessoa e se converte em terra eficaz para uma “cultura vocacional”. Estamos convencidos de que algumas sementes foram semeadas no campo lassalista, e sem descuidar outras possibilidades, também estamos conscientes de nossa responsabilidade com aqueles que desejam seguir caminhando vocacionalmente no carisma lassalista. Portanto, neste capítulo queremos propor alguns elementos-chave para uma Pastoral Vocacional Lassalista.
16 Dilasaha Gamage, jovem lassalista de Sri Lanka.
17 Jo 13, 34.
18 Sínodo de 2018, Documento final, 77.
19 Lv 20, 26.
20 Cf. Papa Francisco, Catequese. Roma, 18 de abril de 2018.
21 GE 15.
22 Documento final do Sínodo 2018, 139.
23 A Declaração do Irmão das Escolas Cristãs no mundo atual, 41. 3.
24 FABC (Conferência da Federação de Bispos da Ásia), Taipei 14.