2023
No dia 11 de agosto de 2023, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade que integra o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, realizou, em parceria com o Grupo Folha, a 14ª edição do Prêmio Octavio Frias Oliveira, iniciativa que visa estimular e premiar a produção científica no Brasil na esfera da prevenção e do combate ao câncer, em três categorias: Personalidade de Destaque, Pesquisa em Oncologia e Inovação Tecnológica.
Foram laureados os autores principais dos estudos vencedores das categorias Pesquisa em Oncologia e Inovação Tecnológica em Oncologia, bem como a Personalidade de Destaque em Oncologia, que reconhece pessoas que contribuíram de modo significativo para a área.
O trabalho de Bruna Moretto, desenvolvido pelo Laboratório Onkos Diagnósticos Moleculares, foi o vencedor da categoria Inovação Tecnológica. No estudo, os pesquisadores apresentaram resultados de um teste genético desenvolvido no Brasil para diagnóstico de malignidade em nódulos de tireoide. Foi possível constatar que a tecnologia pode apoiar decisões clínicas e reduzir a quantidade de cirurgias realizadas para fins diagnósticos.
Os premiados em Pesquisa em Oncologia foram o João Agostinho Machado-Neto e a Keli Lima, da USP, que apresentaram um estudo que descreve o mecanismo de ação do THZ-P1-2, um composto inibidor das proteínas PIP4K2s, no combate a células leucêmicas.
E o homenageado na categoria Personalidade de Destaque foi o ex-senador José Serra, governador do estado de São Paulo na época da inauguração do Icesp. Durante o evento foi apresentado um vídeo com depoimento do professor titular da disciplina de oncologia clínica do departamento de radiologia e oncologia da FMUSP, Prof. Dr. Paulo Hoff, que recordou o início das atividades do Instituto.
Entre as contribuições do ex-senador para a área da saúde no país, ele foi um dos responsáveis pela redução de 28% na probabilidade de óbito prematuro por câncer de pulmão no Brasil, por sua atuação na criação da Lei Estadual Antifumo, na restrição das propagandas de cigarro e na obrigatoriedade de advertências nos maços.
O evento foi conduzido pela repórter da Folha de S. Paulo Cláudia Collucci, que anunciou os vencedores e mediou uma roda de conversa entre eles. Este ano, a cerimônia contou com uma homenagem ao Prof. Dr. José Eluf Neto, que faleceu em janeiro, e foi professor titular do departamento de medicina preventiva da FMUSP e membro do conselho diretor do Icesp.
Além da presença de pesquisadores, a premiação também contou com a participação de autoridades, como o reitor da USP, Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Júnior; da diretora da FMUSP, Profa. Dra. Eloisa Bonfá; do professor titular de radiologia da FMUSP, Prof. Dr. Giovanni Guido Cerri; do professor titular da disciplina de oncologia na FMUSP, Prof. Dr. Roger Chammas; do professor titular da disciplina de urologia do departamento de cirurgia da FMUSP e presidente do conselho diretor do Icesp, Prof. Dr. William Nahas; do diretor-presidente da FFM, Dr. Arnaldo Hossepian; da diretora executiva do Icesp, Joyce Chacon Fernandes; e do presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marco Antonio Zago.
Confira neste link uma matéria detalhada da Folha de S.Paulo sobre os premiados
2022
No dia 5 de agosto de 2022, foi realizada a cerimônia da XIII edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira. A premiação é uma iniciativa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do Grupo Folha que visa estimular e premiar a pesquisa científica na esfera da prevenção e do combate ao câncer, em três categorias: Personalidade de Destaque, Pesquisa em Oncologia e Inovação Tecnológica.
Após dois anos sendo realizada online, este ano a premiação ocorreu presencialmente no auditório do Icesp, e foi comandada pela jornalista Cláudia Collucci e contou com a participação dos laureados, do Presidente do Conselho Diretor do Icesp, Prof. Dr. Paulo Hoff, e do diretor de Redação da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila.
“Esse prêmio surgiu com a iniciativa da família Frias que queria junto ao Instituto do Câncer perpetuar a memória do Sr. Octavio Frias, de maneira que também ajudasse no desenvolvimento da oncologia brasileira. A cada ano, ao longo desses 13 anos de Prêmio, fomos surpreendidos com a qualidade dos trabalhos desenvolvidos, mostrando a pujança dos pesquisadores brasileiros”, disse o Prof. Dr. Paulo Hoff.
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Personalidade de Destaque em Oncologia
O médico urologista e Professor Titular da Disciplina de Urologia do Departamento de Cirurgia da FMUSP, Prof. Dr. Miguel Srougi, 75 anos, foi eleito a Personalidade de Destaque em Oncologia por seus 40 anos de carreira e excelência no tratamento de câncer urológico.
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Pesquisa em Oncologia
Na categoria Pesquisa em Oncologia, a premiação ficou com a Profa. Dra. Laura Sichero, que coordena o Laboratório de Biologia Molecular do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Icesp. A pesquisadora e sua equipe trabalham com variantes do HPV (Papilomavírus Humano).
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Inovação Tecnológica em Oncologia
A pesquisa vencedora nesta categoria foi desenvolvida pelo Dr. Jean Felipe Lestingi, que liderou uma pesquisa sobre a importância da retirada mais extensa dos linfonodos pélvicos em operações de cânceres de próstata graves.
Assista aos vídeos sobre os premiados em 2022

Personalidade de Destaque

Pesquisa em Oncologia

Inovação Tecnológica em Oncologia
2021
Pesquisa que avaliou o potencial do exercício físico para combater a caquexia, condição que acompanha e agrava o câncer, é a vencedora do 12º Prêmio Octavio Frias de Oliveira na categoria Pesquisa em Oncologia.
Na categoria Inovação Tecnológica, o trabalho vencedor propôs um caminho para facilitar e complementar o rastreamento e acompanhamento de câncer colorretal, usando dosagens de moléculas de microRNA.
Os vencedores foram revelados em matéria publicada pela Folha de S.Paulo no dia 31 de julho e concorriam com mais dois finalistas em cada categoria. Assim como em 2020, em decorrência da pandemia de Covid-19, a cerimônia aconteceu no formato de LIVE e foi transmitida no Canal da TV Folha no YouTube, no dia 05 de agosto.
Na categoria Personalidade de Destaque em Oncologia o premiado foi o Prof. Dr. Hugo Aguirre Armelin, biólogo e pesquisador, responsável por descobertas que envolvem a molécula conhecida como fator de crescimento de fibroblastos, em que se dedica desde a década de 1970. A molécula estimula a proliferação das células e está ligada também à proliferação de células tumorais e de vasos – do surgimento do câncer, portanto. Atualmente o Prof. Armelin coordena o Centro de Toxinas, Resposta Imune e Sinalização Celular da Fapesp.
O estudo vencedor da categoria Pesquisa em Oncologia, liderado pela professora Patrícia Chakur Brum, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, demonstrou o potencial do exercício para combater a caquexia, condição que provoca intensa perda muscular e agrava quadros de câncer. A pesquisa mostrou, em roedores, que o exercício é capaz de aumentar a sobrevida e que uma das alavancas moleculares que explicam o efeito é a proteína COPS2.
Já na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, a pesquisadora Camila Meirelles de Souza silva, da Universidade Federal do Ceará, a ideia central da pesquisa é criar as bases para a realização de um novo exame que acelere o diagnóstico de câncer colorretal. O estudo encontrou quatro tipos de microRNA, moléculas importantes para a sinalização e funcionamento das células, que apareciam em grandes quantidades em pacientes com câncer colorretal.
Fonte: Folha de S.Paulo
FOTOS
FOTO 1: Live da entrega da 12ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira conduzida pela jornalista Claudia Collucci (à esq.), na foto Patrícia Chakur Brum, vencedora em Pesquisa em Oncologia. Malene Bergamo/Folhapress.FOTO 2: Hugo Aguirre Armelin, escolhido como Personalidade de Destaque - Karime Xavier/FolhapressFOTO 3: Patrícia Chakur Brum, vencedora na categoria Pesquisa em Oncologia - Folhapress.FOTO 4: Camila Meirelles de Souza Silva, vencedora na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia - Pierre Duarte/Folhapress
2020
Pesquisa que decifrou o papel de uma célula do sistema imunológico no câncer colorretal foi a vencedora do 11º Prêmio Octavio Frias de Oliveira na categoria Pesquisa em Oncologia.
Na categoria Inovação Tecnológica, o trabalho vencedor propõe redução de custo de um dos tratamentos modernos contra a leucemia.
Os vencedores foram revelados em matéria publicada pela Folha de S.Paulo no dia 02 de agosto de 2020. Diferente dos anos anteriores, a cerimônia de entrega da premiação não aconteceu como prevista no Teatro da Faculdade de Medicina da USP. Em decorrência da pandemia de Covid-19, a cerimônia aconteceu em formato de live no Ao Vivo em Casa, série de lives da Folha, no dia 05 de agosto.
Na categoria Personalidade de Destaque em Oncologia a premiada foi a Dra. Anamaria Aranha Camargo, Diretora do Instituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa, pela substancial contribuição e liderança na condução de estudos na área de Genética e Biologia Molecular. A bióloga e pesquisadora têm como principal linha de pesquisa o estudo de alterações genéticas e epigenéticas que ocorrem na célula tumoral, visando o desenvolvimento de novas ferramentas para o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento do câncer.
O estudo vencedor categoria Pesquisa em Oncologia, liderado pelo médico Caio Abner Leite, visa encontrar mecanismos de controle da inflamação intestinal e do câncer, através do estudo do papel de células que controlam a inflamação, conhecidas como linfócitos T reguladores (Treg), produzidos após uma infecção grave. A pesquisa inédita demonstra o potencial dos Treg em inibir o câncer colorretal e abre perspectivas para estratégias terapêuticas mais eficazes na prevenção deste tipo de câncer.
A pesquisa vencedora da categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, desenvolvida pela bióloga Luiza Abdo, apresenta uma inovação no preparo de células para Imunoterapia. Atualmente Imunoterapias com CAR-T têm se destacado no combate de tumores, entretanto o procedimento tem custos elevados devido ao protocolo complexo de modificação genética e expansão das células. O trabalho apresenta uma nova metodologia de preparo destas células com função antitumoral equiparável às geradas pela metodologia atual, com potencial de torná-la mais acessível, em especial para países em desenvolvimento como o Brasil.
Fonte: Folha de S.Paulo
FOTOS
FOTO 1: Live da entrega da 11ª edição do Prêmio. A jornalista Claudia Collucci e Caio Abner Leite, um dos premiados - Gabriel Cabral/FolhapressFOTO 2: A bióloga e pesquisadora Anamaria Aranha Camargo, 48, vencedora do prêmio Personalidade de Destaque em Oncologia - Zanone Fraissat/FolhapressFOTO 3: Caio abner Leite, 34, médico e líder do estudo vencedor da categoria Pesquisa em Oncologia - Danilo Verpa/FolhapressFOTO 4: Luiza Macedo Abdo, bióloga vencedora na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia - Zo Guimarães/Folhapress
2019
Um estudo que aponta como a análise da microbiota (conjunto de micro-organismos) intestinal pode predizer a ocorrência de câncer colorretal venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do 10º Prêmio Octavio Frias de Oliveira.
Já a criação de uma droga contra a leucemia a partir de levedura de panificação ganhou na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia.
Os nomes dos vencedores foram revelados em cerimônia de entrega na noite de 05 de agosto de 2019, no teatro da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo.
O médico e escritor Drauzio Varella foi o vencedor na categoria Personalidade de Destaque por sua trajetória e contribuição à oncologia.
A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.
Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, ressaltou as semelhanças que existem entre os valores cultivados pelo jornal e pelo Icesp e que também se refletem na láurea: a promoção do conhecimento, a investigação da verdade dos fatos, o combate aos obscurantismos e o incentivo ao debate amplo e substancioso.
“Todos esses foram valores cultivados pelo seu Frias, Octavio Frias de Oliveira, e por Otavio Frias Filho [que dirigiu a Redação da Folha de 1984 até sua morte, em 2018]. São compromissos perenes, públicos do jornal”, disse.
Ganhadores e indicados ao Prêmio Octavio Frias de Oliveira, realizado no Teatro da Faculdade de Medicina da USP - Adriano Vizoni/Folhapress
Para cada categoria, a premiação é de R$ 20 mil. Os vencedores são apontados por uma comissão composta por representantes do Icesp, da Faculdade de Medicina da USP, do HC da USP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Ciências, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oncocentro de São Paulo e da Folha.
A cerimônia no teatro da Faculdade de Medicina foi conduzida pelo ator Odilon Wagner e estiveram presentes autoridades médicas e científicas.
Roger Chammas, que comandou da comissão julgadora do prêmio, ressaltou a importância da existência de tentativas de baratear o tratamento do câncer. Um dos trabalhos finalistas, do pesquisador Carlos Wagner de Souza Wanderley, do Crid (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP), descobriu efeitos ainda desconhecidos de uma droga barata e já disponível no SUS, e que é usada contra o câncer, o paclitaxel. Além de destruir a célula cancerosa, a droga pode ativar o sistema imunológico.
“É possível reposicionar, dar um outro propósito para uma droga já em uso. Pode haver um impacto social fabuloso, como no câncer de mama”, diz Chammas.
"O câncer é hoje a doença de maior incidência no mundo, a que mais cresce e a que mais mata. A valorização daqueles que se dedicam ao estudo do câncer é muito importante", disse Marco Antônio Zago, presidente da Fapesp.
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Pesquisa em Oncologia
O estudo vencedor na categoria Pesquisa em Oncologia é da autoria de Andrew Maltez Thomas, que hoje faz pós-doutorado na Universidade de Trento, na Itália, e colegas.
O grupo de cientistas analisou 969 amostras fecais de bancos de dados internacionais, tanto de pessoas saudáveis quanto de indivíduos com câncer. Com essa informação em mãos, desenvolveram modelos —alimentando computadores com grandes bases de dados para que eles encontrassem padrões— que buscavam diferenciar as amostras normais das que tinham a doença.
No fim, os autores descobriram que a presença de 16 bactérias namicrobiota intestinal pode indicar a existência de câncer colorretal em estágio inicial. Também puderam detectar a doença em diferentes populações, com dietas e estilos de vida distintos. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Medicine.
Segundo Thomas, o modelo desenvolvido por sua equipe não deve substituir formas atuais de diagnóstico, mas, sim, ser um aliado ao exame de sangue oculto nas fezes. Testada dessa forma no estudo, a técnica aumentou a detecção de câncer.
"O teste de sangue oculto diz que tem algo errado com seu trato gastrointestinal, mas nem sempre se sabe o que é. Já a assinatura do microbioma é específica para câncer colorretal. A união dos dois pode reduzir as colonoscopias desnecessárias, que são caras, invasivas e têm riscos", diz ele.
Formado em biologia na Universidade Mackenzie, Thomas fez mestrado no A.C. Camargo Cancer Center sob a supervisão de Emmanuel Dias-Neto, que também assina a pesquisa vencedora, e doutorado em bioinformática na USP.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
O trabalho vencedor na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, de autoria de Luciana Facchinetti de Castro Girão, do Departamento de Bioquímica da UFRJ, tinha como alvo a criação de uma nova versão da enzima asparaginase que cause menos efeitos colaterais graves.
A enzima asparaginase, que é produzida por uma bactéria, é o principal medicamento para a leucemia linfoide aguda, que afeta principalmente crianças. Embora seja eficaz, o remédio pode causar forte reação imunológica, que dificulta ou até impede seu uso.
A parceria entre a UFRJ, a Fiocruz e a Universidade de Lisboa obteve a asparaginase a partir da levedura de panificação --em combinação com outras substâncias, a enzima ajudou a impedir que o organismo reconheça o medicamento como um corpo estranho, reduzindo assim as reações adversas graves.
"Criamos uma barreira que faz com que o sistema imune não reconheça ou reconheça menos a droga como um corpo estranho, e essas alergias diminuem ou até somem. Com isso, mais pacientes podem ser tratados", diz Girão.
A droga foi testada em células leucêmicas. O grupo agora busca uma parceria público-privada para avançar à próxima fase e testar a formulação em animais. Girão afirma que os testes são caros, e os recursos para a ciência minguaram nos últimos anos. Neste ano, seu projeto ficou sem verba.
Fonte: Folha de S.Paulo
Assista aos vídeos sobre os premiados em 2019
Personalidade de Destaque
Pesquisa em Oncologia
Inovação Tecnológica em Oncologia
2018
Uma pesquisa da USP que testou o uso de um corante alimentício como forma de impedir o avanço de um tipo de câncer que atinge principalmente crianças venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do 9º Prêmio Octavio Frias de Oliveira.
Já um exame que investiga, com ajuda de inteligência artificial, a origem de um tumor que se espalha pelo organismo foi o vencedor da categoria Inovação Tecnológica em Oncologia.
Os nomes dos ganhadores foram revelados em cerimônia de entrega que ocorreu na noite 06 de agosto de 2018, no teatro da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. A apresentação ficou a cargo da atriz Denise Fraga.
O oncologista pediátrico e fundador do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), Sérgio Petrilli, 71, foi o vencedor na categoria Personalidade em Destaque. A ONG, criada em 1991, é referência no câncer infantojuvenil.
A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.
Para cada categoria, a premiação é de R$ 20 mil. Os vencedores são apontados por uma comissão composta por representantes do Icesp, da Faculdade de Medicina da USP, do HC da USP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Ciências, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oncocentro de São Paulo e da Folha.
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Pesquisa em Oncologia
O estudo vencedor na categoria Pesquisa em Oncologia foi liderado pela professora de bioquímica da USP Claudiana Lameu. Em um discurso emocionado, ela falou das dificuldades de fazer ciência no Brasil.
“Estamos na luta para superar as dificuldades na ciência. Precisamos de incentivos como esse prêmio, especialmente diante do medo de cortes de verba. Podemos nos sentir heróis por nosso trabalho. Parabenizo todos os brasileiros na luta pela ciência do país”, disse.
O alvo da equipe de investigadores foi o neuroblastoma, câncer que comumente surge na glândula suprarrenal. Quase 90% das ocorrências desse tumor são em crianças, e cerca de 50% a 60% delas já têm metástase (ou seja, o espalhamento do tumor para outros locais do corpo) no momento do diagnóstico. O neuroblastoma pode se espalhar para a medula óssea, osso, fígado, gânglios linfáticos ou, menos comumente, pele ou cérebro.
Os pesquisadores testaram então um corante alimentício que dá a cor azul a alimentos para, de alguma forma, bloquear essa metástase. Os testes foram feitos em camundongos —curiosamente, os animais que receberam o corante também ficaram azuis.
Resultado: o corante conseguiu bloquear um receptor do sistema purinégico —trata-se de um conjunto de possíveis alvo farmacológicos descoberto há pouco tempo e que está em todas as células; dependendo do local, esses receptores podem funcionar como ativadores do sistema imune.
Com isso, houve diminuição do tamanho do tumor (em comparação com os roedores que não receberam a substância) e, o mais importante, houve também uma redução na disseminação das células tumorais.
Segundo Claudiana Lameu, a equipe pretende, no futuro, usar a nanotecnologia para produzir uma versão mais potente, o que vai permitir o uso de uma dose menor, com menos efeitos colaterais —incluindo a coloração azul.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
Já o prêmio na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia foi dado a Marcos Tadeu dos Santos, da startup Onkos Diagnósticos Moleculares. Uma parceria da empresa com o Fleury, o Hospital de Câncer de Barretos e a Universidade Federal do Maranhão permitiu o desenvolvimento de um exame que analisa 95 genes com ajuda de inteligência artificial e descobre a origem de um tumor que já se espalhou para diferentes órgãos.
Ao apontar a origem do tumor, o objetivo é indicar também tratamentos mais eficazes, segundo Santos.
Em seu discurso, ele disse que essa relação entre indústria e universidade ainda é incipiente no Brasil e tem espaço para crescer. “A pesquisa de verdade é colaborativa, com apoio de várias frentes. O que começou no computador de uma república de estudantes hoje pode ajudar os pacientes com câncer.”
Fonte: Folha de S.Paulo
Assista aos vídeos sobre os premiados em 2018
Personalidade de Destaque
Pesquisa em Oncologia
Inovação Tecnológica em Oncologia
2017
Personalidade de Destaque
Ana Amélia Lemos
Pelos direitos das pessoas com câncer
“Quem tem câncer não pode esperar”, sentenciou a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP-RS) em um de seus discursos no Senado Federal. Desde o início de seu mandato, em 2011, ela tem promovido debates e proposto leis que estão ajudando a melhorar o atendimento das pessoas com câncer no país.
Ana Amélia foi a relatora da Lei 12.732/2012, obrigando o Sistema Único de Saúde (SUS) a iniciar o tratamento de pessoas com câncer em no máximo 60 dias após o diagnóstico. Ela foi a relatora também da Lei 12.802/2013, determinando que o SUS faça a reconstrução da mama na mesma cirurgia de retirada do tumor. É ainda autora de duas leis. A mais relevante, a Lei 12.880/2013, obriga os planos de saúde a incluir a quimioterapia oral no tratamento domiciliar. Já a Lei 13.362/2016 facilita às mulheres com deficiência o diagnóstico e tratamento dos cânceres de mama e de colo de útero no SUS.
“Permanecerei atenta a essa área e continuarei contribuindo para que a prevenção e o tratamento do câncer e outras doenças possam ser melhorados, ouvindo sempre especialistas e pacientes”, afirmou. Antes de assumir o cargo no Senado, ela conheceu um grupo de pessoas com câncer no interior do Rio Grande do Sul e lançou um manual sobre os direitos das pessoas com câncer, já com quase 10 mil exemplares distribuídos. Sua motivação decorre também de razões familiares. Ela perdeu a irmã Vera Lúcia aos 44 anos com câncer de mama; outra irmã, Evani, venceu-o e hoje é chefe de cozinha em Carazinho, Rio Grande do Sul.
Nascida em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, em 1945, Ana Amélia trabalhou como repórter e apresentadora do grupo RBS em Porto Alegre e em Brasília de 1977 até 2010. Sem filhos, foi casada com o procurador de justiça Octávio Omar Cardoso (1930-2011), senador pelo Rio Grande do Sul (1983-1987). Seu mandato segue até 2019.
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Pesquisa em Oncologia
Para ampliar a ação de um fármaco
Como resultado de pesquisas iniciadas há 10 anos, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) verificaram que o aumento dos níveis celulares da proteína NRF-2 (nuclear factor erythroid 2-related factor 2) e do peptídeo glutationa pode bloquear a ação do fármaco temozolomida (TMZ) no tratamento de gliomas (tumores do cérebro), um dos tipos mais agressivos de câncer, e melanoma, o mais agressivo dos tumores de pele.
Tanto o NRF-2 quanto a glutationa, em conjunto com outras moléculas, atuam contra o estresse oxidativo, caracterizado pelo acúmulo de formas reativas de oxigênio nas células. Inversamente, a TMZ amplia o estresse oxidativo como um dos mecanismos de eliminação das células tumorais.
O uso experimental de um inibidor de síntese de glutationa mostrou-se promissor como estratégia para reduzir a resistência ao medicamento e restabelecer sua ação.
Coordenadores: Clarissa Ribeiro Reily Rocha e Carlos Frederico Martins Menck – ICB-USP
Estágio atual
Experimentos in vitro e in vivo indicaram que o tratamento com TMZ induz a um aumento dos níveis do NRF-2 e, em consequência, da glutationa, reduzindo a eficácia do fármaco. As estratégias para deter a ação do NFR-2 ampliaram a ação do fármaco sobre as células tumorais.
O uso combinado de um inibidor de síntese de glutationa, a butionina sulfoximina (BSO), com a TMZ também se mostrou eficiente para induzir a eliminação de células anormais. A BSO apresentou uma toxicidade aceitável em estudos pré-clínicos e está sendo avaliada em testes clínicos como um possível adjuvante em tratamentos quimioterápicos contra o câncer.
Perspectivas
A combinação de BSO com TMZ mostrou-se promissora para ampliar a eficácia do tratamento quimioterápico contra gliomas, melanomas e potencialmente outros tipos de tumores.
Trabalho Premiado
ROCHA, C.R.R. et al. NRF2 and glutathione are key resistance mediators to temozolomide in glioma and melanoma cells. Oncotarget, v. 7, n. 30, p.48081-92, 2016.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
A eficácia da endomicroscopia a laser
Uma equipe da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) avaliou a eficácia do uso da endomicroscopia confocal a laser com sonda (probe-based confocal laser endomicroscopy, pCLE) no rastreamento de tumores de esôfago em pessoas com câncer de cabeça e pescoço. Tumores de esôfago podem surgir nos indivíduos com tumores de cabeça e pescoço por decorrerem das mesmas causas, principalmente tabagismo e alcoolismo.
A pCLE consiste de uma sonda que pode ser introduzida no canal de trabalho do aparelho de endoscopia, fornece imagens in vivo de alta resolução a nível celular e identifica lesões neoplásicas de imediato. A sensibilidade, a especificidade e a acurácia desta técnica de diagnóstico por imagem foram elevadas.
Coordenadores: Adriana Vaz Safatle-Ribeiro e Fauze Maluf Filho – Icesp-HC-FM-USP
Estágio atual
A equipe da FMUSP avaliou o uso da pCLE, seguida de biópsia das lesões de esôfago, em 37 pacientes com história pregressa de tumores de boca, laringe ou faringe, selecionados entre 497 pacientes tratados e acompanhados no Icesp de janeiro de 2014 a agosto de 2015. A idade média era 59 anos e 70% eram homens. Todos os pacientes eram fumantes e 22 deles tinham histórico de consumo de bebidas alcoólicas. O diagnóstico revelou carcinoma de células escamosas de esôfago em 17 pacientes e lesões benignas em 20, com graus de sensibilidade, especificidade e acurácia do diagnóstico histológico respectivamente de 94,1%, 90,0% e 91,9%.
Perspectivas
Já adotada nos Estados Unidos e na Europa e em fase inicial de uso no Brasil, a pCLE tem-se mostrado promissora para aprimorar o diagnóstico em tempo real de lesões do trato gastrointestinal sem a necessidade de biópsia.
Outras aplicações – para diagnóstico de lesões nas vias biliares, pâncreas e intestino – estão sendo investigadas.
Trabalho Premiado
SAFATLE-RIBEIRO, A.V. et al. Diagnostic accuracy of probe-based confocal laser endomicroscopy in Lugol-unstained esophageal superficial lesions of patients with head and neck cancer. Gastrointestinal Endoscopy, v. 85, n. 6, p. 1195-1207, 2017.
2016
Personalidade de Destaque
Aristides Pereira Maltez Filho
Referência em oncologia no Nordeste
Além de consolidar uma das mais antigas instituições de combate ao câncer no país, o médico Aristides Pereira Maltez Filho ajudou a construir uma referência ética e de solidariedade no atendimento médico nessa área na Bahia.
Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1957, ele assumiu em 1992 a presidência da Liga Bahiana Contra o Câncer (LBCC), em Salvador, dando prosseguimento ao trabalho do pai, Aristides Maltez, que idealizou um instituto para atender as pessoas pobres com câncer. Inaugurado com 15 leitos em 1952, nove anos depois da morte de seu criador, o Hospital Aristides Maltez (HAM) tornou-se um dos principais centros de combate ao câncer do Brasil.
Como presidente da LBCC, instituição mantenedora do HAM, Maltez Filho implantou centros de radioterapia, unidades de terapia intensiva, centros de imagem, cuidados paliativos e assistência domiciliar. Ele ampliou a capacidade do hospital para 232 leitos e enfatizou o aprimoramento de profissionais de saúde e a implantação de campanhas de prevenção do câncer na Bahia. “Atendemos em média 3.500 pessoas por dia, exclusivamente pelo sistema público de saúde, o SUS”, orgulha-se.
“No trato com o paciente portador de câncer e sua família, não existe lugar em nenhum instante para omissões e covardia”, disse ele em 2014 em um congresso voltado à valorização do atendimento psicológico a pessoas com câncer. “Não há, pois, por que termos medo, pudor ou vergonha nos difíceis e delicados caminhos da luta contra o câncer; temos, isto sim, de estar convictos e identificados com o que representamos e com o que buscamos.”
Em 2016, aos 83 anos, o médico atua também no fortalecimento das políticas públicas em oncologia como presidente da Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer (Abificc), criada por ele em 1990. “O papel das instituições filantrópicas de combate ao câncer é fundamental para a garantia de um sistema de saúde cada vez mais efetivo, justo e humanizado”, ele diz.
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Pesquisa em Oncologia
Proteínas da saliva para avaliar o câncer oral
Proteínas da saliva podem indicar a evolução do carcinoma oral de células escamosas (OSCC), um dos tipos mais frequentes de câncer de boca, com taxa de sobrevida de aproximadamente 20% em cinco anos após o diagnóstico. Pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Icesp compararam as proteínas de amostras de saliva e de vesículas extracelulares salivares de 10 indivíduos saudáveis e de 20 com OSCC, com e sem lesão ativa, por meio da técnica de proteômica, baseada em espectrometria de massas.
A análise revelou diferenças significativas na composição de proteínas da saliva, permitindo uma classificação dos indivíduos saudáveis e daqueles com câncer oral com 90% de acurácia. Diferenças marcantes na expressão de proteínas foram observadas entre os participantes do estudo com e sem lesão ativa: foram identificadas 38 proteínas apenas no grupo de indivíduos com lesões ativas de câncer oral e 5 encontradas 5 apenas no grupo de indivíduos sem lesão ativa:
Coordenadora: Adriana Franco Paes Leme – LNBio
Estágio atual
Nas amostras analisadas, o perfil de expressão de proteínas da saliva de pessoas com OSCC indicou alterações de processos associados à resposta imune e inflamatória, entre outros.
A menor abundância da proteína PPIA, envolvida na ativação de células de defesa e no transporte de outras proteínas, pode estar associada a um pior prognóstico.
Perspectivas
O trabalho fortalece a possibilidade de uso de saliva como marcador biológico complementar não invasivo da progressão de tumores de boca. O grupo de pesquisa pretende avaliar amostras de saliva, sangue e tecidos de um número maior de indivíduos saudáveis e com lesões orais, ativas ou não, para validar essa nova abordagem.
Trabalho Premiado
WINCK, F.V. et al. Insights into immune responses in oral cancer through proteomic analysis of saliva and salivary extracellular vesicles. Scientific Reports. v. 5, 16305, 2015.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
Novos alvos nas células tumorais
Como resultado de um trabalho iniciado em 2006 no Instituto Butantan, o Amblyomin-X, uma proteína da glândula salivar do carrapato-estrela (Amblyoma cajennense), está emergindo como um promissor antitumoral. Em testes in vitro, o Amblyomin-X inibiu a proliferação de 23 linhagens de células tumorais humanas, sem ação sobre células normais (fibroblastos, células endoteliais e outras), usadas como padrão de comparação.
Pesquisadores do Instituto Butantan observaram que o Amblyomin-X, caracterizado inicialmente como anticoagulante, tem grande afinidade por células tumorais. Uma vez incorporado por elas, reduz a atividade do proteassoma, estrutura responsável pela eliminação de resíduos do metabolismo celular, e das mitocôndrias, responsáveis pela respiração celular. Como resultado, a proteína impede a proliferação de células tumorais.
A dineína, uma molécula envolvida no transporte intracelular, desempenha papel fundamental no transporte e na atividade do Amblyomin-X. Desse modo, o proteassoma e a dineína passaram a ser vistos como novos alvos potenciais do Amblyomin-X para a eliminação de células tumorais.
Coordenadora: Ana Marisa Chudzinski Tavassi – Instituto Butantan
Estágio atual
O mecanismo de ação do Amblyomin-X em células tumorais está bastante caracterizado. Os testes pré-clínicos em modelos animais (camundongos e coelhos) indicaram toxicidade aceitável, e as provas de conceito, em tumores, mostraram ação significativa do Amblyomin-X, obtido como proteína recombinante em Escherichia coli.
Perspectivas
A equipe que realiza esse trabalho iniciou a transferência da tecnologia de produção para uma empresa farmacêutica nacional, com a qual trabalha em colaboração neste projeto. O início dos testes de segurança e eficácia do Amblyomin-X em seres humanos está previsto para 2017. Os estudos sobre a ação intracelular do Amblyomin-X representam novas rotas bioquímicas e alvos moleculares potenciais a serem explorados para o desenvolvimento de novos antitumorais.
Trabalhos Premiados
MORAIS, K.L. et al. Amblyomin-X induces ER stress, mitochondrial dysfunction, and caspase activation in human melanoma and pancreatic tumor cell. Molecular and Cellular Biochemistry. v. 415, n. 1-2, p. 119-31. 2016.
PACHECO, M.T.F. et al. Specific Role of Cytoplasmic dynein in the mechanism of action. Experimental Cell Research. v. 340, n. 2, p. 248-258. jan. 2016.
2015
Personalidade de Destaque
Marco Antônio Zago
Renovador dos métodos da hematologia
Ao valorizar e disseminar o uso de técnicas de análise de alterações de cromossomos, genes e proteínas associados a doenças do sangue, o médico hematologista Marco Antonio Zago ampliou a abordagem analítica da hematologia proposta na década de 1970 pelo professor Cassio Bottura na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), onde ele fez a graduação, o mestrado e o doutorado.
Seu pós-doutorado na Universidade de Oxford, em 1976 e 1977, permitiu-lhe prosseguir na renovação dos métodos aprofundados de investigação das doenças do sangue. Até então os hematologistas preparavam os diagnósticos com base apenas nas variações das formas das células do sangue.
Em seus artigos científicos – os primeiros publicados em 1979 –, Zago mostrou as possibilidades de diagnósticos cada vez mais precisos e aprofundados e, ao mesmo tempo, alertou os profissionais da saúde sobre a importância de valorizar uma abordagem sistêmica, integrando os aspectos moleculares, genéticos, fisiológicos e clínicos das doenças do sangue, muitas das quais expressas por meio de dor e inflamação.
“Zago modernizou a hematologia ao criar novos métodos de trabalho”, sintetiza Dimas Covas, diretor do Hemocentro de Ribeirão Preto e professor da FMRP-USP, que trabalha com ele desde a década de 1980.
Como professor da FMRP-USP, Zago fez estudos pioneiros em genética de populações, verificando que a prevalência e a evolução clínica de anemias hereditárias poderiam variar entre os grupos étnicos. Ele esteve à frente dos projetos Genoma Xylella e Genoma Clínico do Câncer e, de 2000 a 2014, coordenou o Centro de Terapia Celular, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Nascido em Birigui, interior paulista, em 1946, Zago foi presidente e diretor científico do Hemocentro de Ribeirão Preto, diretor clínico do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, presidente do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pró-reitor de Pesquisa da USP, da qual é reitor desde 2014.
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Pesquisa em Oncologia
Mutação frequente em tumores de rim em crianças
Um grupo de pesquisadores do A. C. Camargo Cancer Center identificou uma mutação frequente no gene DROSHA responsável por 12% dos casos de tumor de Wilms, o tipo de câncer de rim mais comum em crianças.
O gene DROSHA, que ainda não havia sido associado a esse tipo de tumor, controla a produção de pequenas moléculas (microRNAs) que regulam a expressão de genes, um processo fundamental para a formação correta dos órgãos durante a gestação. As mutações nesse e em outros genes envolvidos no processo de produção de microRNAs, identificadas neste trabalho, estavam presentes em mais de 30% dos tumores de Wilms.
Além disso, os pesquisadores caracterizaram o provável impacto de ação da mutação frequente no gene DROSHA na produção das moléculas de micro-RNAs. Antes desse trabalho, em menos de 30% dos casos era possível identificar alguma mutação nos poucos genes associados a esse tipo de câncer. Agora, mais de 60% dos tumores passaram a apresentar alguma mutação, fortalecendo a hipótese de que o descontrole na produção de micro-RNA é um m mecanismo importante para o desenvolvimento dessa doença.
Coordenadora: Dirce Maria Carraro – A. C. Camargo Cancer Center
Estágio atual
Os pesquisadores estão desenvolvendo uma estratégia para identificar mutações específicas do tumor em DNA colhido de urina com o propósito de fazer o diagnóstico de forma precisa e menos invasiva e monitorar a resposta ao tratamento.
Perspectivas
A identificação de uma mutação frequente no DROSHA e em outros genes participantes do processo de micro-RNAs abre perspectivas de desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais que os atuais.
Trabalho premiado
TORREZAN, G.T. et al. Recurrent somatic mutation in DROSHA induces microRNA profile changes in Wilms tumour. Nature Communications. v. 5, p.1-10, 2014.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
FabC4, anticorpo monoclonal para câncer de mama
O anticorpo monoclonal FabC4 mostrou-se capaz de identificar uma proteína relacionada ao desenvolvimento do câncer de mama, a Citoqueratina 10, em testes feitos com amostras de tecido tumoral de grupos de mulheres de São Paulo e Minas Gerais.
Desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a partir do RNA de pacientes com câncer de mama, o FabC4 também viabilizou o prognóstico de um subtipo de tumor de mama, o triplo-negativo, caracterizado pela ausência de receptores hormonais ou da proteína HER-2, que se expressa em 25% dos casos de câncer de mama. Tumores do tipo triplo-negativo respondem apenas a químio e radioterapia, mas mulheres desse grupo que se mostraram sensíveis ao FabC4 apresentaram uma sobrevida maior que as não reagiram ao anticorpo.
Coordenadora: Thaise Gonçalves de Araújo – UFMG
Estágio atual
Os pesquisadores estão detalhando as formas de ação do FabC4, que parece ser capaz de induzir a apoptose, o mecanismo de morte programada das células, e frear a multiplicação das células tumorais.
Perspectivas
Uma das metas é desenvolver uma alternativa mais eficiente que as hoje adotadas para o tratamento do câncer de mama, um dos mais frequentes em mulheres.
Trabalho premiado
ARAÚJO, T.G. et al. A novel highly reactive Fab antibody for breast cancer diagnostic and staging also discriminates a subset of good prognostic triple-negative breast cancers. Cancer Letters. v. 343, n. 2, p. 275-285, 2014.
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Menção Honrosa
Revendo a estratégia de transfusão de sangue
Na linha oposta à prática habitual, uma equipe do Icesp verificou que o tratamento mais intensivo da anemia, em comparação com o hoje recomendado aos pacientes, poderia reduzir as taxas de eventos adversos e de mortalidade após grandes cirurgias para o tratamento do câncer.
A conclusão apoia-se em um estudo realizado com 198 pacientes. Depois de passarem por cirurgias para a retirada de tumores abdominais, 97 deles foram submetidos à transfusão de hemácias quando o nível de hemoglobina se encontrava abaixo de 9 gramas por decilitro (g/dl) de sangue e 101 receberam hemácias quando a concentração de hemoglobina se encontrava abaixo de 7 g/dl de sangue, de acordo com o protocolo hoje adotado.
As taxas de anemia e de mortalidade foram quase duas vezes maiores no segundo grupo, no qual se adotou a chamada estratégia restritiva, em comparação com o primeiro, no qual se empregou a estratégia liberal.
Coordenadores
Juliano Almeida – Icesp
Ludhmila Abrahao Hajjar – Icesp
Estágio atual
Os pesquisadores estão planejando um estudo com um número maior de pacientes e a participação de vários centros de pesquisa médica para testar a hipótese de que a estratégia liberal poderia ser mais benéfica do que a restritiva em pacientes submetidos a grandes cirurgias.
Perspectivas
Esse e outros trabalhos que obtiveram conclusões semelhantes poderão servir para rever as estratégias de transfusões de hemácias após grandes cirurgias e fortalecer a possibilidade de adoção de critérios individualizados para a indicação de transfusão de hemácias.
Trabalho premiado
ALMEIDA, J. P. de et al. Transfusion Requirements in Surgical Oncology Patients: A Prospective, Randomized Controlled Trial. Anesthesiology. v. 122, n. 1, p. 29-38, 2015.
2014
Personalidade de Destaque
Angelita Habr-Gama
Cirurgiã renovadora da coloproctologia
Logo após terminar a graduação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), em 1958, Angelita Habr-Gama tornou-se a primeira mulher residente em cirurgia geral do Hospital das Clínicas, à época reduto exclusivo dos homens.
Aos poucos, ela venceu as resistências e conquistou seus próprios espaços. Tornou-se a primeira mulher cirurgiã da USP, organizou o primeiro curso prático e teórico de colonoscopia e destacou-se na reestruturação dos métodos de trabalho em coloproctologia, especialidade que trata as doenças na porção final do intestino grosso. Primeira professora titular em cirurgia da USP, criou o Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.
Em 1991, com base em sua experiência como cirurgiã, Angelita propôs uma nova abordagem para o tratamento do câncer de reto. Ela recomendava que esse tipo de neoplasia fosse tratado inicialmente com rádio e quimioterapia e acompanhado de modo contínuo, em vez de ser encaminhado de imediato para a cirurgia radical. Sua abordagem mostrou bons resultados – a terapia com medicamentos e radiação levou à regressão total do tumor em cerca de 30% dos 700 casos tratados desde 1991 – e ganhou a adesão de outros especialistas da área.
Filha de imigrantes libaneses, Angelita foi além do hospital e da sala de aula. Ela criou e preside a Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapreci), destacando-se na coordenação do programa de prevenção do câncer colorretal. “Fazer as coisas pela metade não faz parte de meu temperamento. Este é o meu conceito, reproduzindo Fernando Pessoa: ‘Põe quanto és no mínimo que fazes’”, comentou em 2010 ao receber um dos muitos prêmios de sua carreira. Em 2016 ela mantém sua atividade cirúrgica e de consultório da mesma maneira que seu marido, o cirurgião Joaquim José Gama Rodrigues, professor titular de cirurgia da FMUSP.
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Pesquisa em Oncologia
Vacina experimental contra tumores causados pelo HPV
Em estudos realizados no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), uma vacina experimental de DNA induziu as células de defesa de camundongos a identificar e eliminar células de tumores causados pelo papilomavírus humano, o HPV, do tipo 16, causador de câncer de colo do útero, de cabeça e pescoço, de pênis e de ânus, o HPV, do tipo 16, causador de câncer de colo do útero, de cabeça e pescoço, pênis e ânus. A vacina experimental age após o estabelecimento da infecção causada pelo vírus que pode induzir a formação de células tumorais, ativando células (linfócitos T CD8) que procuram deter as células infectadas.
Coordenadores
Luís Carlos de Souza Ferreira e
Mariana de Oliveira Diniz – ICB-USP
Estágio atual
A versão mais eficaz da vacina experimental contém antígenos contra as oncoproteínas E6 e E7, produzidas pelo HPV no interior das células saudáveis.
O direito de privilégio de uso por meio de patente no Brasil já foi solicitado.
Perspectivas
Os pesquisadores pretendem obter recursos financeiros e estabelecer acordos de colaboração com empresas ou hospitais para ampliar a escala de produção, realizar os testes de toxicidade e seguir rumo aos testes clínicos, que poderiam levar a uma nova estratégia de tratamento de tumores causados pelo HPV.
Trabalho premiado
DINIZ, M. O. et al. Enhanced therapeutic effects conferred by an experimental DNA vaccine targeting human papillomavirus-induced tumors. Human Gene Therapy. v. 24, n. 10 out. 2013.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
RebmAb200, anticorpo monoclonal contra câncer de ovário
Pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo (USP) e da empresa Recepta Biopharma desenvolveram uma linhagem de células capaz de produzir anticorpos monoclonais, assim chamados por serem feitos a partir de um único clone de células. Em testes de laboratório, o anticorpo monoclonal humanizado RebmAb200 ligou-se a moléculas específicas da superfície das células tumorais de ovário, rim e pulmão, agindo apenas sobre elas, diferentemente da quimioterapia e da radioterapia, os tratamentos convencionais, que podem eliminar também células normais.
Coordenadores
Ana Maria Moro – Instituto Butantan
José Fernando Perez – Recepta Biopharma
Estágio atual
Os pesquisadores selecionaram linhagens de células capazes de produzir anticorpos monoclonais com uniformidade e estabilidade. Testes feitos no Brasil e na Suécia indicaram que o RebmAb200 poderia também transportar substâncias radioativas, usadas na radioterapia, às células tumorais, e ser usado em diagnóstico. Os estudos sobre a distribuição e o tempo de ação (meia vida) do anticorpo no organismo já foram concluídos. Protegido por meio de um pedido de patente depositado nos Estados Unidos e na Europa, o RebmAb200 está sendo produzido na Holanda desde 2014.
Perspectivas
Almeja-se a realização de testes clínicos e a produção em larga escala no país, de modo a criar uma alternativa aos tratamentos usuais principalmente contra o câncer de ovário.
Trabalho premiado
LOPES DOS SANTOS, M. et al. RebmAb200, a humanized monoclonal antibody targeting the sodium phosphate transporter NaPi2b displays strong immune mediated cytotoxicity against cancer: a novel reagent for targeted antibody therapy of cancer. PLoS One. 31 jul. 2013.
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Menção Honrosa
Ações integradas contra a leucemia na América Latina
Após criarem uma rede colaborativa e adotarem novos métodos de tratamento, pesquisadores, médicos e outros profissionais de saúde do Brasil, do México, do Chile e do Uruguai conseguiram prolongar a sobrevida de pessoas com leucemia promielocítica aguda (LPA), tipo raro e agressivo de câncer do sangue e da medula óssea.
Em conjunto, os especialistas fizeram um ajuste no método habitual de tratamento, trocando um dos medicamentos usados em outros países, o ácido all-trans-retinoico, por outro, a daunorrubicina, de menor custo e disponível nos sistemas públicos de saúde dos países participantes do estudo.
O método foi aplicado em 180 pessoas com LPA nos quatro países de 2006 a 2010. Como resultado, 153 pessoas tratadas apresentaram uma recuperação completa.
O uso da daunorrubicina, somado a um método já adotado de detecção de uma mutação genética responsável pela leucemia, permitiu diagnosticar pessoas com LPA mais rapidamente, diminuindo os índices de mortalidade após o diagnóstico.
Coordenador: Eduardo Magalhães Rego – USP
Estágio atual
Os pesquisadores ampliaram o estudo — já trataram 320 pessoas por meio desse método — e estão incorporando grupos médicos do Peru e do Paraguai interessados em aplicar a nova abordagem.
Perspectivas
Pretende-se ampliar dos atuais 50% para 80% taxa de sobrevida de 80% em pessoas com esse tipo de câncer e promover a adoção dessa forma de tratamento em hospitais públicos dos países participantes.
Trabalho premiado
REGO, E. M. et al. Improving acute promyelocytic leukemia (APL) outcome in developing countries through networking, results of the International Consortium on APL. Blood. v. 121, n. 11, p. 1935-43, 2014.
2013
Personalidade de Destaque
Silvia Regina Brandalise
Inovadora da oncologia pediátrica
Ao lado de sua equipe do Centro Infantil de Investigações Hematológicas Dr. Domingos A. Boldrini, em Campinas, e de colegas de outras instituições do Brasil e de outros países, Silvia Brandalise aperfeiçoou e, quando necessário, criou padrões de tratamento do câncer pediátrico. Ela centralizou o atendimento, evitando que crianças e pais tivessem de ir a vários hospitais, e, indicada por diversas sociedades médicas, implantou tratamentos de maior eficácia e menor toxicidade, como os protocolos para leucemia linfoide aguda, o câncer infantil mais frequente. Como resultado, a taxa de cura das crianças com leucemia linfoide aguda passou dos 5% do final da década de 1970 para os atuais 80%.
Médica formada pela Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Silvia Brandalise começou a dar forma ao Centro Boldrini em 1970. O apoio de instituições filantrópicas e empresas de Campinas possibilitou a construção de laboratórios, salas de quimioterapia e ambulatório e a expansão da prestação de serviço gratuito aos pacientes e famílias. O hospital ocupa hoje 40 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 100 mil metros quadrados. A construção de um prédio anexo para o centro de pesquisa deve fortalecer o trabalho científico e fundamentar a implantação de novas estratégias de tratamento.
Em 2013, aos 70 anos, ao receber o Prêmio, Silvia Brandalise comentou de sua batalha contínua: “A incidência de câncer é ascendente entre crianças e adolescentes, e a taxa de mortalidade em cinco anos no Brasil é de 50%, ainda muito alta quando comparada com os 20% dos Estados Unidos e outros países”. Muito mais se poderia avançar, segundo ela, por meio de aprimoramentos na organização da rede pública de serviços de diagnóstico e tratamento às crianças com câncer.
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Pesquisa em Oncologia
Teste molecular para tumores de cabeça e pescoço
Um teste molecular não invasivo desenvolvido por pesquisadores e médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do A.C. Camargo Cancer Center e do Hospital do Câncer de Barretos tem permitido a detecção precoce do risco de reaparecimento de tumores de cabeça e pescoço (em pessoas que já os tiveram), antes dos primeiros sinais clínicos, desse modo ampliando a eficácia do tratamento.
O teste consiste no exame molecular de células epiteliais encontradas na saliva. O DNA dessas células é extraído e se avalia se os genes supressores de tumores apresentam um tipo de alteração chamada hipermetilação.
Pessoas cujos genes supressores sofreram essa alteração apresentaram um risco cinco vezes maior de reaparecimento dos tumores de cabeça e pescoço do que as pessoas cujos genes estavam inalterados.
O teste poderia ser usado também para identificar alterações genéticas prejudiciais em quem não teve a doença para saber se há risco de desenvolvê-la.
Coordenador: André Luiz Vettore de Oliveira – Unifesp
Estágio atual
Os pesquisadores continuam analisando amostras de saliva de mais pessoas para aumentar a precisão do teste. Quase 350 já foram examinadas.
A técnica de detecção das mutações dos genes supressores de tumores (metilação do DNA) ainda não foi patenteada pelos pesquisadores.
Perspectivas
O grupo de pesquisa enfrenta dificuldades de financiamento para expandir o número de pessoas examinadas por meio desse teste. Há interesse em dar prosseguimento ao trabalho por meio de colaboração com empresas e em promover a incorporação dessa técnica na rotina médica.
Trabalho premiado
RETTORI, M. M. et al. Prognostic significance of TIMP3 hypermethylation in post-treatment salivary rinse from head and neck squamous cell carcinoma patients. Carcinogenesis. v. 34, n. 1, p. 20-27, 2013.
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Inovação Tecnológica em Oncologia
O Imunomodulador P-MAPA
Uma molécula de alto peso molecular conhecida como P-MAPA mostrou-se capaz de reduzir em 95% os tumores de bexiga urinária de modelos animais (roedores), por meio da ativação de receptores celulares do sistema imune inato (receptores toll-like) e da restauração das funções da proteína p53, essencial para desfazer as lesões do DNA que podem originar células tumorais.
Coordenadores
Iseu Nunes – Farmabrasilis
Wagner José Fávaro e Nelson Duran – Unicamp/Farmabrasilis
Estágio atual
Já foram concluídos os testes de toxicidade e de avaliação in vivo da capacidade de restauração das defesas do organismo (imunocompetência), incluindo expressiva habilidade de impedir a formação de vasos sanguíneos que nutrem os tumores (ação antiangiogênica), indução de morte celular (apoptose) e regressão tumoral.
Os estudos de mecanismos de ação do P-MAPA em câncer de bexiga foram completados, indicando ampla capacidade de resposta contra as células tumorais.
A proteção de direitos de propriedade intelectual por meio de patentes foi solicitada e/ou obtida no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.
Perspectivas
Os resultados dos estudos pré-clínicos fortalecem a perspectiva de acordos de colaboração com empresas farmacêuticas para a realização da etapa final do desenvolvimento – os testes de avaliação da segurança e eficácia em seres humanos – do P-MAPA como terapia adjuvante no tratamento de câncer de bexiga.
A substância tem apresentado amplo espectro de ação e baixa toxicidade.
Estudos feitos em universidades públicas de São Paulo caracterizaram, em modelos animais, a ação do P-MAPA também contra tumores de próstata e de pâncreas.
Trabalho premiado
FÁVARO, W. J. et al. Effects of P-MAPA Immunomodulator on Toll-Like Receptors and p53: Potential Therapeutic Strategies for Infectious Diseases and Cancer. Infectious Agents and Cancer. v. 7, n. 1 jun. 2012.
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Menção Honrosa
As proteínas que desregulam as células infectadas com HPV
Estão um pouco mais claros os mecanismos pelos quais o papilomavírus humano (HPV) pode favorecer o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como os de colo de útero, de canal anal, vagina, vulva, pênis e orofaringe. A evolução da infecção causada pelo vírus para lesões que podem evoluir para tumores pode estar ligada a proteínas chamadas fatores de transcrição, produzidas pela célula infectada. Os fatores de transcrição, quando se ligam à região regulatória viral, podem estimular a expressão das proteínas virais E6 e E7, oncoproteínas que alteram o ciclo de divisão de células normais e, desse modo, induzem a formação de tumores. Um grupo de pesquisadores de São Paulo examinou 704 fatores de transcrição do HPV dos tipos 16 e 18 e encontrou 28 proteínas capazes de ativar e 36 de inibir a transcrição do DNA viral que contém genes a partir dos quais se formam proteínas que favorecem o crescimento de tumores. Os pesquisadores identificaram 8 novos fatores de transcrição (MYC, TP53, GATA 3, TFAP2B, ETV4, ASCL1, THAP7 e FOXA1) que influenciam a expressão dos genes a partir da região regulatória no DNA do vírus, induzindo a atividade viral.
Coordenadoras
Luisa Lina Villa – Icesp
Laura Cristina Sichero Vettorazzo – Icesp
Estágio atual
Os pesquisadores estão analisando outros mecanismos pelos quais os fatores de transcrição celulares poderiam ser produzidos em maior ou menor quantidade que o normal no interior das células infectadas.
Perspectivas
A definição de proteínas que estimulem a expressão das oncoproteínas virais pode indicar o risco de lesões causadas pelo vírus evoluírem para tumores e ajudar a prever a frequência de cânceres causados por esse vírus na população brasileira.
Trabalho Premiado
SICHERO, L., SOBRINHO, J. S. e VILLA, L. L. Identification of Novel Cellular Transcription Factors that Regulate Early Promoters of Human Papillomavirus Types 18 and 16. The Journal of Infectious Diseases. v. 206, n. 6, p. 867-74, 2012
2012
Personalidade de Destaque
Família Ermírio de Moraes – Grupo Votorantim
Tradição em filantropia
Nascido em 1900 em um engenho de cana-de-açúcar próximo ao Recife, em Pernambuco, José Ermírio de Moraes criou o Grupo Votorantim, um dos maiores do país, foi senador e ministro da Agricultura. Ele criou também uma tradição familiar: a participação na gestão e no apoio financeiro a hospitais filantrópicos.
José Ermírio de Moraes foi presidente do Hospital Beneficência Portuguesa durante duas décadas. Seu filho Antônio Ermírio o sucedeu na presidência do hospital, que visitava quase diariamente, de 1971 a 2008. Rubens Ermírio de Moraes, filho mais novo de Antônio Ermírio, ocupou seu lugar e foi reeleito em 2015.
Um dos irmãos de Antônio Ermírio, José Ermírio de Moraes Filho, foi presidente, durante 12 anos, da Fundação Antônio Prudente, ligada ao Hospital do Câncer, hoje A.C. Camargo Cancer Center. Em 1983, ele passou a direção para Ricardo Brentani e permaneceu no conselho curador até 2011. Sucessor de Moraes Filho, José Ermírio de Moraes Neto preside o conselho há 11 anos.
“Os filhos continuaram as obras que os pais ou os tios haviam começado, e é natural, não é pedido nem imposto”, observa Liana Maria Carraro de Moraes, esposa de Moraes Neto. Em 1999, a convite de Brentani, ela assumiu a presidência da Rede Voluntária de Combate ao Câncer Carmem Prudente e atualmente é diretora executiva do A.C. Camargo Cancer Center. “O Brasil precisa de união. Ninguém consegue resolver os problemas sozinho.”
Desde 2008, Liana Moraes integra o Conselho Consultivo do Icesp, ao qual, em 2011, a família Ermírio de Moraes doou R$ 2,5 milhões para a compra de um ultrassom com foco de alta intensidade para tratamento de pessoas com câncer.
Em paralelo, Regina Helena Scripilliti Velloso, depois de 15 anos como voluntária, assumiu em 2012 a presidência do conselho de administração da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), sucedendo o pai, Clóvis Scripilliti, cunhado de Antônio e de José Ermírio Moraes Filho.
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Pesquisa em Oncologia
Controlar a inflamação para deter tumores
Por meio da inibição da produção de uma substância inflamatória, o fator de necrose tumoral alfa, TNF-alfa, no tecido gorduroso, foi possível interromper a progressão de tumores colorretais em modelos animais. A inflamação é um processo comum na obesidade que pode favorecer o desenvolvimento desse tipo de câncer.
Em laboratório, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) induziram o câncer colorretal em camundongos magros (grupo controle) e em obesos por meio de substâncias carcinogênicas. Em seguida, aplicaram o medicamento infliximabe, um inibidor de TNF-alfa, nos dois grupos. A redução dos níveis dessa molécula preveniu o surgimento dos tumores nos animais magros e interrompeu sua progressão nos obesos.
Coordenador: José Barreto Carvalheira – Unicamp
Estágio atual
Os pesquisadores estão investigando outras conexões entre obesidade, inflamação e câncer de cólon. Estão também avaliando em modelos animais o uso do medicamento metformina associada à radioterapia como alternativa para o tratamento do câncer de reto.
Perspectivas
Os testes de segurança e eficácia a serem feitos, se apresentarem os resultados esperados, poderão indicar um novo uso para o infliximabe, já adotado para tratar doenças auto-imunes e algumas formas de inflamação do intestino que não respondem a outros tratamentos.
Trabalho premiado
FLORES, M. B. et al. Obesity-Induced Increase in Tumor Necrosis Factor-α Leads to Development of Colon Cancer in Mice. Gastroenterology. v. 143, n. 3, p.741-53, 2012.
2011
Personalidade de Destaque
Ricardo Renzo Brentani
O prazer de entrar em territórios desconhecidos
“Não gosto de andar por trilha onde outros já passaram”, disse um dia Ricardo Brentani, expressando seu apego ao desconhecido. Como primeiro professor titular de oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), escola na qual se formou em 1962 e pela qual foi contratado em 1980, teve um papel importante na organização do ensino, na pesquisa e na redefinição dos métodos de atendimento nessa área.
Brentani iniciou uma revolução silenciosa em 1983 ao assumir a direção do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, então instalado no Hospital do Câncer de São Paulo, e outra em 1990 ao se tornar diretor do próprio hospital. Gestor de pulso firme e reconhecedor do talento dos integrantes de suas equipes, ele fez do instituto e do hospital centros de excelências em pesquisa e atendimento médico.
Como cientista, Brentani promoveu a biologia molecular. Ele publicou seu primeiro artigo na revista “Nature”, sobre a atividade da enzima ribonuclease, quando cursava o terceiro ano da faculdade, com o professor Michel Rabinovitch. Uma síntese de sua tese de doutorado, sobre a ação do nucléolo no processamento do RNA-mensageiro, também saiu na “Nature”. Em vez de se dedicar a um único assunto ao longo da carreira, como é comum, ele descobria problemas originais para investigar. E assim, com suas equipes, fez outros trabalhos relevantes, um dos quais sobre o papel de proteínas conhecidas como príons em doenças psiquiátricas.
Nas décadas de 1990 e 2000, Brentani foi um dos coordenadores do Projeto Genoma do Câncer, cujo objetivo era mapear as características genéticas dos principais tipos de tumor da população brasileira. O Genoma do Câncer foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da qual ele foi diretor-presidente de 2004 até falecer, em 2011.
Nascido em Trieste, na Itália, em 1937, Brentani veio com os pais para o Brasil com um anode idade e naturalizou-se brasileiro.
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Pesquisa em Oncologia
Novo uso para um medicamento contra diabetes
A combinação de metformina, medicamento usado no tratamento de diabetes tipo 2, com o quimioterápico paclitaxel poderá representar uma estratégia alternativa aos tratamentos atuais contra o câncer, se os testes de avaliação da eficácia apresentarem resultados satisfatórios.
Em estudos iniciais com modelos animais realizados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a combinação dos dois medicamentos impediu a multiplicação de células tumorais. A metformina induziu a atividade da proteína AMPK, que, por sua vez, inibiu a ação da proteína mTOR, uma das responsáveis pelo crescimento do tumor. O paclitaxel ampliou a atividade da AMPK, que interrompeu a divisão das células tumorais, inibindo o crescimento do tumor.
Coordenador: José Barreto Carvalheira – Unicamp
Estágio atual
A eficácia da combinação dos dois medicamentos contra o câncer está sendo avaliada em pacientes (testes clínicos) com tumores de cabeça e pescoço atendidos na Unicamp e no Hospital do Câncer de Barretos. A segurança de uso da metformina já foi avaliada antes, para diabetes. Outros testes estão indicando que a metformina também poderia melhorar os efeitos da radioterapia.
Perspectivas
Como a metformina é um medicamento genérico já produzido no país, os testes clínicos, se apresentarem os resultados esperados, poderão resultar em uma alternativa de custos mais baixos que os tratamentos usuais contra alguns tipos de câncer.
Trabalho premiado
ROCHA, G. Z. et al. Metformin Amplifies Chemotherapy-Induced AMPK Activation and Antitumoral Growth. Clinical Cancer Research. v. 17, n. 12, p. 3993-4005, 2011.12
2010
Personalidade de Destaque
Marcos Fernando de Oliveira Moraes
Articulador de políticas públicas
Ao longo de 30 anos, o cirurgião Marcos Fernando de Oliveira Moraes contribuiu de modo intenso para a formulação e implantação das políticas públicas de tratamento e prevenção do câncer hoje em vigor no Brasil. Em 2012, ao receber outro prêmio de sua carreira e rever sua trajetória profissional, ele classificou de “obstinada” sua política de combate ao tabagismo. Moraes participou da definição das restrições crescentes, estabelecidas por lei, ao tabagismo em espaços públicos e dos limites máximos para substâncias cancerígenas como o alcatrão e a nicotina nos cigarros vendidos no país.
Alagoano nascido em 1936 em Palmeira dos Índios, formou-se pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1963. Em 1974, ele se mudou para os Estados Unidos para fazer residência médica na Universidade de Illinois, em Chicago. Em 1990, de volta ao Brasil, foi convidado para elaborar o Programa Nacional de Controle de Câncer.
De 1990 a 1998, como diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Moraes incentivou a pesquisa científica no hospital e aprimorou os mecanismos institucionais para formalizar contratos com empresas farmacêuticas e receber doações. Em outra frente de atuação, ele valorizou o aprimoramento das equipes de cuidados paliativos para doentes em fase terminal. “Quando não há mais nada a fazer, sempre há alguma coisa a fazer” é uma frase que ele repete quando aborda esse assunto.
Criada por Moraes em 1991, a Fundação do Câncer facilitou a contratação de profissionais da área médica para o Inca e fortaleceu as campanhas de detecção precoce do câncer e de combate ao tabagismo. Aos 80 anos, como presidente do conselho de curadores da Fundação, Moraes tem priorizado o investimento em uma medicina mais humanizada e a assistência em internação domiciliar de pacientes terminais.
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Homenagem especial
José Alencar da Silva
Desistir, jamais
Em 2003, logo após ser eleito vice-presidente da República, o empresário mineiro José Alencar ganhou a admiração dos brasileiros por causa da transparência e da coragem com que enfrentou o tratamento contra vários tumores no abdômen – os primeiros, no rim e no estômago, haviam sido identificados seis anos antes, em 1997. Apresentando-se sempre com otimismo, ele não escondia da imprensa informações sobre seu estado de saúde. Durante o tratamento, insistia em que os médicos lhe informassem os detalhes de sua doença e as estratégias empregadas para combatê-la.
José Alencar passou por várias cirurgias e, no Brasil e no exterior, submeteu-se a tratamentos experimentais, nem sempre eficazes para deter o crescimento dos tumores. “Se o corpo reclamava da doença, dos remédios, das cirurgias, a cabeça resistia bravamente”, escreveu a jornalista Eliane Cantanhêde no livro “José Alencar – Amor à Vida”.
Paulo Hoff, diretor-geral do Icesp, conheceu José Alencar em julho de 2006, ao ser chamado pelos colegas médicos Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi para opinar sobre as possibilidades de tratamento. “Dou meu testemunho de que ele nunca esmoreceu, [nunca] se revoltou ou deixou de fazer o que lhe era recomendado”, observou Hoff no prefácio ao livro.
Apenas uma vez Hoff encontrou o vice-presidente desanimado. Foi em setembro de 2009, após haver falhado um tratamento experimental a que se submetera nos Estados Unidos.
Caminharam pelo Palácio do Jaburu, em Brasília, conversaram, e Alencar decidiu retomar o tratamento. “Para nossa alegria, [o tratamento] teve uma resposta espetacular, que durou um ano inteiro”, relatou Hoff.
Nascido em Muriaé, Minas Gerais, José Alencar saiu de casa aos 14 anos, abriu sua primeira loja aos 18, construiu um conglomerado têxtil e participou da vida política do país. Casado, pai de três filhos, Alencar morreu no dia 29 de março de 2011, aos 79 anos, após uma luta de quase 15 anos contra o câncer.