História de Inharica, da família Rocha e da Comenda Anna Theodora
História de Inharica, da família Rocha e da Comenda Anna Theodora
Diogo da Silva Rocha, filho de João da Silva Rocha (conhecido por Jango; 1810-1878) e sua esposa Francisca Vieira d´Oliveira (conhecida por Chica), nasceu em 12/11/1845.
Anna Theodora (Inharica), nasceu em 9 de novembro de 1858, em Vacaria, RS, filha de Fidêncio José de Oliveira e Ubaldina Maria de Jesus, como registrado na Certidão de Casamento. Fidêncio e Ubaldina casaram em 1841 em Ponta Grossa, Paraná.
Curiosidade: Inharica e Diogo eram primos irmãos. O Capitão Francisco José Dias de Almeida casado com Maria Salomé de Oliveira eram pais da Francisca (Chica, mãe de Diogo) e de Fidêncio (pai de Inharica).
Em 14 de agosto de 1877, Diogo (com 32 anos e um charme à la Vittorio Gassman !!) casou com a linda Anna Theodora (18 anos), na Igreja Nossa Senhora da Conceição em Passo Fundo . Anna Theodora e Diogo tiveram oito filhos: Benevenuto (1879), Lucinda (1882 - minha avó), Etelvina e Ubaldina (1886), Avelino (1889), Julieta (1893), Amanda (1900) e Alayde (1901). Mais adiante voltamos a mencionar os filhos.
Para escrever sobre a história da família Rocha é importante remontar ao casal, João e Francisca, pais de Diogo e proprietários de grandes fazendas. Jango e Chica, como eram conhecidos, eram descendentes de tropeiros, oriundos do Paraná, casaram-se no dia 25 de fevereiro de 1838 e migraram para a região de Passo Fundo, tendo uma passagem pelos Campos de Cima da Serra.
Em 18 de setembro de 1850, o imperador Dom Pedro II assinou a Lei de Terras, por meio da qual o país oficialmente optou por ter a zona rural dividida em latifúndios, e não em pequenas propriedades. No arquivo do Senado Federal tem um excelente artigo sobre a Lei de Terras: “Há 170 anos, Lei de Terras oficializou opção do Brasil pelos latifúndios”
“Os próprios senadores e deputados eram, em grande parte, senhores de terras.” Fonte: Agência Senado
A partir de 1850, com a criação da Lei de Terras, houve uma corrida para a legalização das estâncias no Rio Grande do Sul. O principal caminho era a busca pelo título de posse, ou seja, pela legitimação das terras que estavam sendo ocupadas por antigos moradores, mesmo que muitas vezes essas terras fossem devolutas (pertencentes ao Estado). Pelos documentos encontrados no Cartório de Registro de Imóveis de Passo Fundo, o primeiro estancieiro a legalizar as terras onde hoje se localiza o território do município de Vila Lângaro teria sido o casal Jango e Chica.
O bisavô Diogo recebeu uma parte de suas terras nos inventários de seus pais. Mas ele acrescentou outras áreas como explicitadas em seu inventário. Cada parte das terras tem a indicação, no inventário, de quem Diogo a comprou ou como herdou. Uma longa pesquisa seria necessária para verificar se as áreas compradas tinham sido realmente legalizadas. Parte era de terras devolutas.
Na publicação de Neivo Angelo Fabris “Colonização da região ao norte de Passo Fundo (1889-1918)” é mencionado que em 1907, Lindolpho Silva, Chefe da Comissão de Terras de Passo Fundo, realizou um roteiro de algumas semanas pelo chamado Sertão do Alto Uruguai. No relatório enviado aos superiores ele descreve “ter encontrado à margem direita do Rio do Peixe (Nota: Rio Piraçucê), Diogo da Silva Rocha (Nota: Um ano antes da morte de Diogo), que diz ter provas que é proprietário das referidas terras”. O relatório denuncia pontos positivos e negativos da região. Como ponto positivo, destaca a fertilidade das terras do vale do Rio do Peixe e como negativo, a grande devastação das matas e dos pinheiros nativos - a primeira riqueza explorada na área. E mais tarde, sobre essas terras, existiam 6 serrarias, que aos poucos foram abrindo espaço para as lavouras.
E Diogo tinha prova do que afirmou pois em 9 de Agosto de 1905 o então Presidente do Rio Grande do Sul (Borges de Medeiros) assinou o Título de Posse de uma área de 211.612.000 metros quadrados (isto é, 21.161 hectares !!!), com terras devolutas e particulares, confrontando a oeste com o Rio do Peixe.
O mapa abaixo, dá uma idéia da região onde se encontravam as terras de Diogo.
Entre Rio de Peixe à esquerda e Rio Carreteiro à direita. Atingia terras de Vila Lângaro, Tapejara e Água Santa. Loteamento de Ernesto Morsch resultou na Colônia Nova que aparece na parte inferior do mapa. No centro tem a Linha Schleder onde morava a filha Ubadina casada com Antonio Garbis Schleder, onde Inharica também morou. Ubaldina, conhecida como Dona Picuxa, era pessoa muito querida na região. Dona Picuxa doou terreno para a igreja e para o cemitério. Ubaldina e Antonio tiveram 12 filhos.
Além de Diogo, o casal João e Francisca tinha uma filha - Felicidade da Silva Rocha. Felicidade casou com Antherio Boeira no dia 22 de fevereiro de 1879. O casal herdou significativa quantidade de terras de seus pais e sogro que, posteriormente, foram repassadas a seus sucessores, dando início a uma ocupação mais efetiva do território onde hoje se localiza o município de Vila Lângaro. Com o passar dos anos os herdeiros das terras das famílias Rocha e Boeira foram colocando à venda parte de suas terras, atraindo assim a vinda de italianos e alemães para Vila Lângaro que na época seu território pertencia ao município de Passo Fundo.
Diogo faleceu em 25 de agosto de 1908, com 64 anos. Nos últimos anos de vida adquiriu vários campos, demonstrando muito empreendedorismo.
O Inventário de Diogo
A esposa Anna Theodora (Inharica) foi a Inventariante. O inventário de Diogo foi feito no “Cartorio de Orphãos e Ausentes” de Passo Fundo, em Agosto de 1909. Os advogados representando a inventariante e demais herdeiros foram o Coronel Gervásio Lucas Annes e José Prestes Guimarães. Interessante que Lucas Annes, além do honorário, recebe no inventário (dívida passiva) duas colônias de vinte alqueires (2x20x2,42 = 96 hectares) que ele afirmou que lhe tinham sido prometidas por Diogo em retribuição aos serviços prestados pelo advogado. Gervásio Lucas Annes foi advogado, jornalista e político (deputado estadual 1891-1895 e prefeito de Passo Fundo - nomeado de 1896 a 1900, e eleito de 1908 a 1912). Gervásio Lucas Annes era prefeito de Passo Fundo no ano do inventário. Sempre dá para achar tempo para um inventário tão interessante !
Gervásio Lucas Annes foi fundador da Colônia do Alto Jacuí, que deu origem a dois municípios, Tapera e Não Me Toque, em terras “compradas” do Governo Federal em 1897. A colonização foi feita pelo sócio Alberto Schmitt, também morador de Passo Fundo. Foram demarcados 674 lotes com área superficial total de 329.634.394 metros quadrados, isto é, 32.963 hectares !!! Na média dá 48,9 hectares por lote.
No inventário de Diogo os valores são expressos em Réis. Para comparação, em termos de poder de compra, vou utilizar R$ 130.000 como equivalente em 2024 a 1 Conto de Réis de 1909. Um Conto é igual a 1.000.000 Réis. Atualizarei os valores se me for justificado uma outra quantia mais apropriada como equivalente atual do Conto de Réis de 1909.
Os bens em dinheiro incluem uma participação significativa na casa comercial A.M. Araujo em Porto Alegre. Antonio Manoel Araujo era filho do Capitão Manoel José de Araujo (um dos líderes da emancipação de Passo Fundo) e de Emilia Schell (irmã de minha bisavó Leopoldina). Antonio Manoel mudou para Porto Alegre onde estabeleceu um comércio (A.M. Araujo). Faleceu cedo, com 47 anos, quando era diretor do Banco Franco-brasileiro. Cada herdeiro recebeu uma parte do investimento nessa casa comercial.
O negócio mais importante do casal Diogo e Inharica era a criação de mulas, muito procuradas para o transporte de mercadorias, em especial pelos tropeiros que iam até Sorocaba. O inventário inclui 175 mulas por 14.200.000 Réis (+- R$ 1.846.000) ou +- R$ 10.500 por mula. Uma mula resistente para carregar muito peso durante três meses (típica viajem dos tropeiros entre Passo Fundo e Sorocaba) eram valiosas, com preço equivalente a 40 vacas. Hoje em dia uma mula de raça pode valer R$ 20.000. O inventário tambem incluia 3 manadas de éguas para criação de mulas, num total de 3 burros e 77 éguas: 2.270.000 Réis (+- R$ 295.000). A mula é um mamífero híbrido originário do cruzamento do burro com a égua.
Além disso tinha muitos cavalos, mais de 300 bovinos e umas 200 ovelhas. O valor total dos animais era de 35.024.100 Réis (+- R$ 4.553.120).
A lista dos imóveis começa com a casa na Rua do Comércio (Avenida Brasil) em Passo Fundo. A casa era coberta de telhas, em terreno de 300 palmos de frente (66 metros !), incluia construções anexas, com o lado ao oeste dando para a travessa General Bento Gonçalves: 2.000.000 Réis (R$ 260.000 - equivalente talvez baixo considerando o tamanho do terreno). O terreno já incluia, no ano do inventário, as fundações para uma nova casa. A parte central do terreno, com 100 palmos de frente, foi comprada de Saturnino Victor de Almeida Pilar e as duas partes laterais, perfazendo 200 palmos de frente, foram obtidas da Intendência Municipal, em transferência de domínio, a título de licença para edificar. É conveniente ter boas relações com o Intendente!
A quadra na Avenida Brasil, entre a Rua Capitão Eleutério e a Rua Bento Gonçalves - lado direito na direção do centro - era propriedade de Inharica e Diogo. Mais adiante vamos mencionar as casas dos familiares construidas nessa quadra e uma parte doada.
Av Brasil entre Rua Capitão Eleutério e Rua Bento Gonçalves (Foto de Lando Fiori). A quadra em questão aparece de perfil.
No que refere a terras, o casal era proprietário de várias estâncias, chamadas de "invernadas" no inventário. Cada invernada tinha normalmente a casa de moradia, galpões, mangueiras, lavouras, benfeitorias, pomares, etc. As seguintes invernadas são mencionadas no inventário.
- Estância Santo Antonio, comprada de Maria Pilar de Albuquerque e Geraldo Nunes Vieira, com 2.200 hectares
- Invernada “de Fora”, comprada de Alfredo Issler, com 1.089 hectares
- Duas partes de uma posse de terras, uma havida por herança materna (com título de legitimação) e outra comprada de Leonidio Lemes de Oliveira, com 2.904 hectares
- Invernada “do Fundo” com limites ao oeste pelo Rio Carreteiro (Rio Tapejara) e pela Estância do Retiro e Invernada “de Fora”, com 3.795 hectares
- Estância do Retiro, havida por herança, confrontando com o Rio Carreteiro e com a invernada do Fundo, com 2.928 hectares
- Uma parte de campo e matos, havida por herança de dona Ubaldina Maria de Jesus, sogra do inventariado Diogo
O total de todas áreas é de pelo menos 12.916 hectares.
Pelo jeito muitas áreas devolutas, mas de posse, não foram incluídas no inventário, lembrando do documento assinado por Borges de Medeiros que menciona 21.161 hectares. Vou pesquisar mais essa discrepância.
Os bens no inventário de Diogo totalizavam 190.287.824 Réis (R$ 24.737.417)
- A meação (50% para a viúva) subraindo vários débitos: 93.914.320 Réis (R$ 12.208.862)
- Para cada um dos oito herdeiros 11.739.290 Réis (R$ 1.526.107,7)
A herança da esposa Anna Theodora (Inharica) incluiu, entre outros items, a criação de mulas, todos outros animais, a casa em Passo Fundo, uns 4.000 hectares de campo e matos, uns 1.000 hectares de terra de cultura e parte de campo herdado de sua mãe.
Para a parte dos herdeiros menciono só a parte de meu avô Ernesto Schell Morsch, herdeiro “pela cabeça de sua mulher Lucinda de Oliveira Rocha” !!!
Poderiam ter utilizado uma linguagem mais apropriada ! Lucinda, filha de Anna Theodora e Diogo, casou com Ernesto, agora quem manda é o marido! É ele que dá procuração ao advogado para representá-lo no inventário ! É ele que assina os documentos. A assinatura de Lucinda não é necessária!
Além de dinheiro, a herança incluiu boa parte da Estância do Retiro com casa e benfeitorias. Em 1936 o vô Ernesto Morsch deu uma procuração ao tio Hélio Morsch para colonizar as terras, dividindo-as em lotes rurais de 25 hectares. O preço do lote era de 6 Contos de Réis (para 1933 o equivalente do Conto hoje seria +-R$25.000), isto é R$ 150.000 (parece um pouco baixo, mas as terras não valiam muito). Quando eu era pequeno (+- 1947) me lembro de meu pai dizer que o metro quadrado de campo custava menos que o preço de um cigarro, nunca verifiquei essa afirmação. O loteamento resultou na Vila Colônia Nova, distrito de Vila Lângaro. Os primeiros habitantes cortavam os grandes pinheiros para fazer a roça. Valiam muito pouco! Uma das diversões aos domingos era derrubar um pinheiro para ver o tombo e ouvir o estrondo da queda. Às vezes faziam apostas para ver quem derrubava primeiro um pinheiro. Na frente da casa de Coxilha eu via passar os possantes caminhôes importados carregados de toras de madeira.
Em 1909, ano do inventário de Diogo, os filhos mais velhos
Benevenuto (era solteiro, casou em 1917 com Etelvina Schleder)
Lucinda casada com Ernesto Morsch
Etelvina casada com Juvencio da Silva Duro
Ubaldina casada com Antonio Garbis Schleder
moravam no Campo do Meio, nas casas das estâncias ou no distrito. Curiosidade: duas Etelvina !
Na lista acima encontramos dois Rocha casados com dois Schleder. Tem outra situação semilar adiante no texto.
Campo do Meio em 1912, três anos após o inventário
Mapa antigo do Rio Grande do Sul mostra Campos do Meio com sua importância relativa na época
Os filhos menores Avelino, Julieta, Amanda e Alayde moravam com Inharica na casa de Passo Fundo.
Inharica com 48 anos tem que assumir imediatamente a administração da propriedade, que tinha sido, na maior parte, responsabilidade de Diogo. Com os filhos pequenos na casa de Passo Fundo, tinha que fazer muitas ida e volta entre Passo Fundo e o Caminho do Meio. Umas dez horas (+-40 km) numa carroça em estrada ruim deviam ser bem cansativas. Inharica enfrentou logo uma tarefa complexa - o inventário de Diogo - em função da extensão da propriedade e do número de herdeiros, inclusive os menores sob sua responsabilidade.
A criação e venda de mulas continuou com o mesmo empenho do falecido marido.
Anna Theodora era uma estancieira “rica”. Na história do município de Vila Lângaro, Anna Theodora é mencionada como Inhá Rica. O nome Inhá era muito usado para se referir à esposa ou filha do proprietário de uma estância. Sabiam que ela era bastante rica, portanto "Inhá Rica". Mas na família e na sociedade de Passo Fundo ela era conhecida como Inharica.
Inharica participava ativamente em atividades típicas das estâncias da região. Dizem que em corridas de cavalo em linha reta, ela jogava no chão sua pelerine (pequena capa que cobre os ombros) para coletar as apostas. A confiança em Inharica era total.
Um ano antes do falecimento de Diogo, Julieta, que morava com Inharica em Passo Fundo, casou com Napoleão Antonio Duarte.
No ano do inventário - 1909 - Avelino (o filho mais velho dos que moravam com Inharica em Passo Fundo) casou com Asthre Marcellina Camatte. Tiveram três filhos: Renée, Maria e Raul.
As filhas menores vão crescendo e logo começaram aparecer os pretendentes. Em 1915, Amanda casou com o cirurgião dentista Armando Francesco Camatte. Tiveram três filhos: José, Jofre e Carmen. Em 1917, Alayde casou com o cirurgião dentista Francisco Camatte. Tiveram um filho, Oreste.
Benevenuto, o mais velho que inicialmente tinha ficado no Caminho do Meio, mudou para Passo Fundo e casou em 1917 com Etelvina Schleder. Três Rocha casaram com três Schleder. Duas Rocha casaram com dois Camatte. Isso era comum. Por exemplo, meu bisavó Guilherme Morsch e seu irmão Luiz eram casados com as irmãs Leopoldina e Anna Christina Schell, respectivamente.
Meus avós Lucinda e Ernesto Morsch construiram a casa mais ou menos no meio da quadra em questão. Com o tempo também foram construídas na mesma quadra as casas das filhas casadas com os Camatte. Avelino, fazendeiro, morou em Água Santa. Inharica morou um tempo com ele.
Julieta e Napoleão Antonio Duarte também moravam na Av Brasil, mas entre a Rua Coronel Chicuta e a Av 7 de Setembro. Mais tarde a casa foi vendida para o Dr Medeiros.
Benevenuto tinha uma casa num quarteirão inteiro na Vera Cruz. Meu amigo Carlos Madalosso, quando pequeno, brincava com um menino - Jango - que morava na casa. Na casa, falavam muito da Vó Inharica.
Mais tarde, Etelvina e Juvêncio da Silva Duro mudaram para Passo Fundo, se estabelecendo na Rua Silva Jardim. A atividade social e educadora de Etelvina foi intensa. Etelvina da Rocha Duro foi nomeada patrona de Escola Municipal. Um dos filhos, Firmino da Silva Duro, médico, foi Prefeito de Passo Fundo, consolidou o Parque da Gare. Ver https://projetopassofundo.wiki.br/index.php/Firmino_da_Silva_Duro
A quadra, "propriedade" de Inharica e Diogo, é uma das menos fotografadas de Passo Fundo. Darei prêmio para quem me enviar foto focando as casas em diferentes épocas 1920, 1935, etc.
Lugar reservado para foto que eventualmente receberei.
Na frente da Igreja Metodista era a casa de Inharica e Diogo na época do inventário de Diogo (1909). Na época da foto acima, a casa da esquina, na frente da Igreja, seria a casa da filha Alayde casada com Francisco Camatte. A casa seguinte seria da filha Amanda casada com Armando Francesco Camatte. A casa de meus avós Lucinda e Ernesto Morsch era mais adiante na mesma quadra. Depois era a sede da Loja Maçonica em terreno doado por Inharica e Diogo. No fim da quadra, esquina da Eleutério, teria sido a nova residência de Inharica. Mais tarde foi o local da residência do Doutor Cesar Santos.
A Loja Maçônica foi construída em terreno doado por Diogo e Inharica. Na época a maçonaria tinha muita afinidade com a classe conservadora.
Com o tempo e todos os filhos maiores, Inharica torna-se mais ativa na área social. Organizações sociais como hospitais procuram Inharica para obter, com urgência, os recursos necessários. Começa a ter mais presença na política, os estancieiros não estão satisfeitos com o Governo de Getúlio Vargas. Assumiu a presidência honorária do Grêmio Feminino Liberal, uma organização política de Passo Fundo, fundada em 1934 por mulheres que apoiavam o Centro Republicano Liberal, partido local que se opunha à ditadura de Getúlio Vargas. O Grêmio Feminino Liberal promovia atividades sociais e culturais, como palestras, bailes e eventos beneficentes, e também defendia os direitos e interesses das mulheres.
O Centro Republicano Liberal foi um partido político que existiu de 1916 a 1937. Foi fundado por dissidentes do Partido Republicano do Rio Grande do Sul, que se opunham à facção dominante liderada por Borges de Medeiros. Eminentes republicanos no estado incluía Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, Ramiro Barcelos, Assis Brasil. Defendeu o federalismo, as liberdades civis e as reformas sociais. Teve forte presença em Passo Fundo, onde elegeu diversos prefeitos e vereadores. Alguns dos seus membros proeminentes foram Emílio Lúcio Esteves (Prefeito de Passo Fundo 1928-1930), Firmino de Paula (médico, escritor, deputado federal), João Luso (Prefeito de Passo Fundo 1935-1937) e Anna Theodora Rocha. Este é o primeiro registro de participação política feminina, em Passo Fundo, nos espaços de predominância masculina. Em um período em que o papel da mulher era cuidar do lar, ter uma vida religiosa e participar em atividades beneficentes, Anna assumiu os negócios da família e foi muito além da participação tradicional da mulher. Envolvida na política, também defendia o direito de voto para as mulheres, que só foi assegurado em 1934.
Inharica faleceu em 12 de setembro de 1941.
Túmulo de Inharica e Diogo no Cemitério Vera Cruz - Passo Fundo
Quando a Prefeitura de Passo Fundo decidiu criar uma comenda para agraciar mulheres com participação meritória na vida da municipalidade, o Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF) foi consultado para pesquisar sobre mulheres que representaram pioneirismo na história da cidade. A pesquisa do IHPF chegou ao nome de Anna Theodora, que foi proposto e aceito pela Secretaria de Cultura, que busca, com essa condecoração, reconhecer o mérito pessoal e profissional de mulheres que estão abrindo caminhos.
“Buscamos, com essa condecoração, reconhecer o mérito pessoal e profissional de mulheres que estão abrindo caminhos, como tantas já o tem feito. É graças à mulheres corajosas e preparadas que hoje temos tantos espaços justamente compartilhados, independente de gênero”, enfatiza a secretária de Cultura, Miriê Tedesco.
2022 - No Dia Internacional da Mulher, seis mulheres que constroem uma trajetória inspiradora no setor cultural de Passo Fundo receberam a Comenda Anna Theodora
O prefeito, Pedro Almeida, falou sobre a relevância da homenagem. “Oito de março é um dia de fortalecermos a luta pela garantia dos direitos das mulheres. Por isso, o Município utilizou a data para a implementação do Fundo Municipal de Amparo às Mulheres Vítimas de Violência. Nesta data, também devemos reconhecer a atuação das mulheres em diferentes frentes sociais e, com a comenda, enaltecemos aquelas que se tornaram grandes referências”, considerou.
A secretária de Cultura, Miriê Tedesco, declarou: "Neste ano, buscamos mulheres em atividades culturais por antiguidade, mulheres que construíram parte importante do que temos na música, nas artes visuais e na cultura popular e que merecem, portanto, o reconhecimento público."
As condecoradas foram:
Maria Teresinha Fortes Braz – Música - Maria Teresinha Fortes Braz contabiliza 56 anos de dedicação à música e aos corais que criou ou por onde passou. Ela, que adorava cantar e sempre fora apaixonada por piano, tem uma trajetória intensa na música. Regeu o Coral Universitário de Passo Fundo por dois anos, o Coral Universitário UPF de Carazinho durante 12 anos, o coral Creati UPF de Passo Fundo por duas décadas e o coral Creati UPF de Lagoa Vermelha por sete anos.
Teresinha Vargas (Zóca) – Música - A maestrina e professora Zóca Vargas fundou e regeu mais de 40 corais. Fundou, em 1992, a sua escola de música, espaço que ainda dirige e em que segue sendo professora de Regência Coral, Piano, Musicalização, Teclado, Canto Popular, Canto Coral, Didática da Música e Musicoterapia. Foi apresentadora do Programa “Arte e Cultura”, da TV Passo Fundo. Foi fundadora e é maestrina da Associação Artística Coral Madrigal de Passo Fundo há 28 anos, com o qual produziu e gravou 03 CDs com Músicas Folclóricas, Natalinas e Sacras Eruditas.
Maria Lucina Busato Bueno – Artes Visuais - Maria Lucina Busato Bueno atuou, durante 27 anos, como docente nas disciplinas de pintura na Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo. Em 1982, começa a pesquisa com pigmentos naturais da região de Passo Fundo para a produção de tintas alternativas para uso artístico e didático, valorizando as cores do meio ambiente. Entre inúmeras premiações e exposições, destaca as seguintes individuais na cidade: percurso poético das cores, 40 anos de arte – MAVRS; Cores de Maria Lucina: paisagens – SESC Passo Fundo; Cores que vêm da natureza: resultado da pesquisa – FAC-UPF; Do real ao imaginário – Centro Administrativo da UPF.
Ledir Bernardes - Costura - Ledir Bernardes iniciou o seu ofício de costureira aos 15 anos, em um curso no Sesi. Ao decidir ser autônoma, começou a fazer vestidos de prenda e trajes sociais masculinos e femininos. Nos últimos 30 anos, ela se dedica às pilchas gauchescas e a trajes para prendas e peões e já indumentárias para muitos grupos de danças de CTGs de Passo Fundo e região, contabilizando milhares de peças confeccionadas em 55 anos de trabalho.
Maria de Lourdes Campos Isaias - Cultura - Maria de Lourdes Campos Isaias iniciou, em 1962, suas atividades como professora dando início à sua trajetória na inclusão da cultura negra na cidade de Passo Fundo e no estado, fazendo estudos e divulgando os conhecimentos como pesquisadora da Cultura Afro-brasileira, tendo sua monografia “O Negro e sua Contribuição a Passo Fundo” estudada e pesquisada até os dias de hoje por inúmeros estudantes em conclusão de suas teses de formações acadêmicas. Foi uma das fundadoras do Movimento Negro em Passo Fundo, em 1987, e grupos culturais como Zumbi dos Palmares, Confraria de São Miguel – Grupo Alforria, entre outros. Foi a primeira Coordenadora da Igualdade Racial em Passo Fundo.
Dalva Machado Bisognin - Literatura - Dalva Machado Bisognin atuou como professora de Português, Literatura e Redação por 34 anos na Universidade de Passo Fundo. Realizou com alunos a Mostra da Cultura Sul-rio-grandense em homenagem às etnias formadoras do Rio Grande. Seu envolvimento na Coordenação das Pré-jornadas de Literatura/UPF levaram-na a participar da Comissão organizadora da Feira do Livro de Passo Fundo, atividade pela qual se apaixonou e dedicou mais de 15 anos.
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Nota: Considero esse texto como uma versão 01. Espero correções e comentários para aperfeiçoamento do texto, em particular mais detalhes interessantes sobre Inharica. Ficaria muito longo incluir detalhes sobre toda a decendência de Inharica e Diogo. O foco é o tratamento como meus antepassados.