RAÇA E ETNIA
Conhecer o conceito de raça
Compreender o desuso do termo raça
Conhecer o conceito de etnia
Relacionar a etnia com a identidade cultural
Pensamento crítico e analítico
Olá, Estudante. Seja bem-vindo a mais uma etapa de estudos da disciplina Educação em direitos humanos e Educação das relações étnico-racial.
Você já reparou que, às vezes, nos deparamos com algumas palavras que parecem ter o mesmo significado, mas representam coisas diferentes?
Você saberia dizer a diferença entre raça e etnia?
Saiba que elas possuem significados distintos e específicos, e aprofundaremos mais a respeito ao longo da trilha.
Quando se fala em raça, a conotação é a da divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de critérios físicos e biológicos hereditários (cor da pele, estrutura óssea, formato da cabeça, do nariz e dos olhos e, ainda, o tipo de cabelo por exemplo).
Entretanto, apesar do uso popular da palavra raça referindo-se a seres humanos, é incorreto afirmar que existem diferentes raças humanas, pois a genética entre um ser humano e outro pode diferir em apenas 0,1%.
Enquanto a raça se refere às características físicas dos indivíduos, a etnia é determinada pelas características de um grupo por seus aspectos socioculturais, como por exemplo as tradições, rituais e linguagem.
Saiba mais sobre o tema fazendo a leitura completa dessa etapa de ensino.
Bom estudo!!!
Imagine que você foi contratado por uma empresa com a responsabilidade de desconstruir os conceitos de raça e etnia, explorando suas nuances e problematizando o uso discriminatório desses termos. Além disso, você também deverá se preocupar em estimular a reflexão crítica sobre a diversidade humana e as desigualdades raciais e étnicas presentes na sociedade, incentivando o respeito à diversidade e a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Para tanto, você deverá realizar uma pesquisa envolvendo os seguintes tópicos:
Raça:
Definição e origem do conceito de raça.
Críticas à utilização do conceito de raça na biologia e na sociedade.
Impactos do racismo na história e na sociedade contemporânea.
Etnia:
Definição e elementos que compõem a etnia.
Diversidade étnica no Brasil e no mundo.
Relação entre etnia e cultura.
Etnia como marcador social e suas implicações.
Após a pesquisa, você deverá divulgar os resultados no formato que você julgar melhor, de acordo com o perfil do seu público-alvo (colaboradores da empresa). Essa divulgação pode ser feita em uma palestra, uma oficina ou até mesmo no formato de um podcast. Lembre-se de considerar na sua abordagem os seguintes pontos:
Uma análise crítica dos conceitos de raça e etnia, com base em autores e pesquisas relevantes.
A problematização do uso discriminatório dos termos raça e etnia, evidenciando seus impactos negativos na sociedade.
A apresentação de dados e exemplos concretos que demonstrem as desigualdades raciais e étnicas existentes na sociedade brasileira e global.
A proposta de ações e políticas que promovam a igualdade racial e étnica e a valorização da diversidade para os colaboradores da empresa.
O resultado da sua ação na organização deverá incentivar os colaboradores a refletirem sobre o tema, a aprofundarem seus conhecimentos sobre raça e etnia e a se engajarem na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Você vai iniciar o estudo dessa trilha aprendendo sobre o conceito de raça.
Quando se fala em raça, a conotação é a da divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de critérios físicos e biológicos hereditários (cor da pele, estrutura óssea, formato da cabeça, do nariz e dos olhos e ainda o tipo de cabelo por exemplo). Portanto, quando se fala em raça, se fala do fenótipo e genótipo de um indivíduo. Entretanto, apesar do uso popular da palavra raça referindo-se a seres humanos, é incorreto afirmar que existem diferentes raças humanas, pois a genética entre um ser humano e outro pode diferir em apenas 0,1%. No dicionário brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis (2015), o significado da palavra raça é descrito da seguinte forma: “Divisão dos vários grupos humanos, diferenciados uns dos outros por caracteres físicos hereditários, tais como a cor da pele, o formato do crânio, as feições, o tipo de cabelo etc., embora haja variações de indivíduo para indivíduo dentro do mesmo grupo.” Contudo, essa definição é seguida de uma observação muito importante, a saber: “A noção de raça é bastante discutível, pois deve-se considerar com mais relevância a proximidade cultural do que o aspecto racial.” Essa observação nos remete justamente ao próximo conceito a ser estudado, que é o de etnia, mas vamos deixar esse assunto para daqui a pouco.
Marconi e Presotto (2019) afirmam que a palavra raça se originou do latim ratio, que significa categoria. Ao se dividir o ser humano em raças, se está categorizando a nossa espécie. Sob a ótica científica, ao se tratar do conceito de raça, se está tratando de um subgrupo das espécies. Ainda de acordo com o relato dessas autoras, o alemão Blumenbach (1806) se baseou na cor da pele para dividir a humanidade em cinco raças: caucásia (branca), mongólica (amarela), etiópica (negra), americana (vermelha) e malaia (parda).
Um naturalista sueco chamado de Linneu (1758) foi o primeiro estudioso a propor uma categorização para as raças, dividindo a espécie humana em quatro categorias: o homem europeu, o homem americano, o homem asiático e o homem africano. Apesar de essa categorização se basear em certas características físicas e sociais, ela não consegue se sustentar como uma forma precisa para caracterizar as raças, apresentando elementos que podem fazer parte de duas ou mais raças simultaneamente.
Por conta das controvérsias embutidas nas discussões sobre a classificação da raça é importante refletir sobre um trecho extraído de Marconi e Presotto (2019, p.40):
[...] a ideia de “raças humanas”, a despeito de não ter veracidade biológica, foi criada e usada para dividir os seres humanos de acordo com uma hierarquia que ainda hoje influencia o modo em que vivemos. Nessa hierarquia, criada pelo racismo científico corrente no final do século XIX até a primeira metade do século XX, a raça branca teria uma superioridade moral, cultural, política e econômica em relação às demais raças, sendo a raça negra a que estaria supostamente no mais baixo nível evolutivo possível, fator que justificava a escravidão e o domínio do continente africano por colonizadores europeus.
Embora o conceito de raça tenha sido utilizado historicamente para classificar grupos humanos, a comunidade científica moderna o considera ultrapassado e inconsistente. Do ponto de vista biológico, conforme citado a pouco, as diferenças genéticas entre indivíduos da mesma espécie, como o Homo sapiens, são muito pequenas para justificar a divisão em raças.
Dessa forma, a inconsistência do conceito de raça se manifesta em, pelo menos, três aspectos:
1. Falta de consenso científico: Não existe uma definição universalmente aceita de raça, com critérios claros para a classificação de indivíduos. As características físicas, como cor da pele, textura do cabelo e formato do nariz, são apenas superficiais e não refletem a complexa diversidade genética humana.
2. Alta miscigenação: Ao longo da história, a migração, o comércio e as guerras promoveram o contato e a interconexão entre diferentes povos, tornando as fronteiras raciais cada vez mais tênues. A ideia de raças puras é uma ilusão, além de ser muito perigosa.
3. Impacto social negativo: O conceito de raça foi utilizado, no passado, para justificar a discriminação, o racismo e a violência contra grupos minoritários. A categorização racial reforça estereótipos e perpetua desigualdades sociais.
Contudo, no âmbito da Sociologia, o conceito de raça é entendido como uma construção social, moldado por fatores históricos, culturais e políticos. A noção de raça é utilizada para categorizar e hierarquizar grupos sociais, muitas vezes com base em preconceitos e ideologias discriminatórias.
A desconstrução do conceito de raça não significa negar a existência de diferenças entre indivíduos. A diversidade humana é real e deve ser valorizada. No entanto, é fundamental reconhecer que essa diversidade não se limita a categorias raciais artificiais e que a igualdade fundamental entre todos os seres humanos deve ser defendida.
Por isso é extremamente necessário considerar o conceito de etnia. Você já ouviu falar nele?
Então vamos lá! Enquanto a raça se refere às características físicas dos indivíduos, a etnia é determinada pelas características de um grupo, por seus aspectos socioculturais, como por exemplo as tradições, rituais e linguagem.
Marconi et al (2019, p.20) apresenta alguns exemplos de aspectos culturais de certas sociedades que as diferenciam de outras etnias, citando que, enquanto no Brasil a manteiga é um alimento, na África, ela serve para untar o corpo. Outras características culturais de algumas etnias são: Pescoços longos (mulheres-girafas da Birmânia), lábios deformados (indígenas brasileiros), nariz furado (indianas), escarificação facial (australianos), deformações cranianas (índios sul-americanos).
Apesar de serem valorizados pelas sociedades que os adotam, alguns desses costumes podem ser totalmente rejeitados por outras sociedades.
Contudo, é preciso combater o etnocentrismo e promover o relativismo cultural, tomando atitude de respeito pelas diferenças culturais em vez de condenar a cultura de outras pessoas por percebê-la como incivilizada ou retrógrada.
Retomando o conceito de etnia, vale ressaltar que ele é complexo e advém da antropologia, que o define como uma coletividade de indivíduos que se diferencia por suas especificidades sociais e culturais refletidas nas maneiras de agir de um determinado grupo étnico que compartilham características como:
Ancestralidade: Uma história e origem comum, real ou presumida.
Língua: Um idioma ou dialeto particular que os une.
Cultura: Costumes, crenças, valores e tradições transmitidos de geração em geração.
Religião: Uma fé em comum que molda a visão de mundo do grupo.
Localização geográfica: Uma região específica de origem ou de vivência.
A essa altura, você já deve ter percebido as diferenças entre etnia e raça, considerando a raça como um conceito biológico ultrapassado e inconsistente para classificar humanos. Já a etnia se baseia em aspectos socioculturais, como os mencionados acima.
A etnia contribui para a formação da identidade individual e coletiva. Ela fornece um senso de pertencimento a um grupo com costumes e valores específicos. Essa identidade pode ser uma fonte de orgulho e força para seus membros.
O mundo é composto por uma rica diversidade de grupos étnicos distintos. Cada um possui suas próprias características e contribui para a diversidade cultural da humanidade.
Que tal conhecer agora dois exemplos de grupos étnicos no contexto mundial?
Então vamos lá saber um pouco sobre os Maasai e os Hmong.
Os Maasai: são originários do Quênia e da Tanzânia, na África Oriental e o seu idioma é o Maa. Eles são um povo nômade conhecido por seus guerreiros Maasai Mara. Vivem do pastoreio de gado e usam vestimentas vibrantes e joias coloridas. Em relação à religião, tradicionalmente acreditam em Enkai, um deus único, mas muitos se converteram ao cristianismo. Se organizam socialmente em um sistema de clãs e grupos etários com responsabilidades específicas. Atualmente, os Maasai enfrentam sérios desafios como a perda de terras, conflitos com agricultores e dificuldades no acesso à educação e à saúde.
Os Hmong são originários da China, Laos, Vietnã e Tailândia, falando a língua Hmong que, por sua vez, possui diversos dialetos. A cultura deles se caracteriza pelos bordados elaborados de forma rebuscada, a música folclórica e a rica tradição oral. Religiosamente, eles são adeptos do Animismo, Xamanismo e Cristianismo. A organização social dos Hmong é baseada em Clãs patrilineares, com forte valor à família e à comunidade. Infelizmente, eles vivem como refugiados devido aos conflitos políticos, perseguição religiosa e assimilação cultural.
Em alguns casos, a etnia pode ser utilizada para justificar a discriminação e o separatismo entre grupos. É importante combater o uso indevido da etnia para promover a divisão e incitar violência.
Outro aspecto que merece destaque ao se tratar do conceito de etnia é a limitação geográfica, pois, nem sempre, uma etnia vive em sua própria região, compondo um Estado. Como exemplo, vamos analisar a história dos curdos, um povo em busca de um Estado.
Os curdos fazem parte de um povo antigo, com uma história rica e complexa que remonta a milhares de anos. Originários da região montanhosa do Curdistão, que abrange partes da Turquia, Iraque, Irã e Síria, eles nunca formaram um Estado independente, mas mantiveram uma identidade cultural e linguística própria.
As primeiras menções aos curdos datam do século IX a.C., em inscrições assírias. Acredita-se que descendam dos Medos, um povo iraniano que dominou a região no século VII a.C. Existem registros de que no século X d.C., os curdos estabeleceram vários principados na região, como os reinos de Hasanwayh e Marwanid. Estes principados desfrutavam de relativa autonomia, mas foram frequentemente subjugados por impérios maiores, como os Persas e os Otomanos.
Nos séculos XIX e ,os curdos enfrentaram algumas lutas e divisões. Logo que o Império Otomano se desfez, no século XIX, os curdos se rebelaram várias vezes buscando autonomia. No entanto, as potências europeias, após a Primeira Guerra Mundial, dividiram a região do Curdistão entre os novos estados da Turquia, Iraque, Irã e Síria. Dessa forma, a divisão frustrou as aspirações nacionais curdas e os condenou a viver como minoria em cada um desses países.
Diante deste contexto, os curdos realizaram movimentos de resistência, buscando por autodeterminação. Ao longo do século XX, diversos movimentos curdos surgiram para lutar por seus direitos como a criação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), fundado em 1978, que se trata de um dos mais conhecidos e controversos desses movimentos. O PKK travou uma luta armada contra o governo turco iniciada em 1984, resultando em um conflito de longa duração com milhares de vítimas. Vale ressaltar que, nos últimos anos, os curdos também se destacaram na luta contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Apesar de não possuírem um Estado independente, os curdos conquistaram graus variados de autonomia em algumas regiões. No Iraque, por exemplo, existe uma região autônoma curda desde 2005. Já na Síria, os curdos controlam áreas no norte do país, após a guerra civil.
Apesar dos avanços, infelizmente os curdos ainda enfrentam muitos desafios, como a repressão estatal, o terrorismo e a falta de reconhecimento internacional de sua autodeterminação.
Será que temos diferentes etnias aqui no Brasil?
A resposta é sim! O Brasil é um país com uma grande diversidade étnica, fruto da miscigenação entre diferentes povos indígenas, africanos e europeus. Essa diversidade é um patrimônio cultural que deve ser valorizado e preservado.
Os Yanomamis, por exemplo, são um grupo étnico indígena que habita a região da floresta amazônica, entre o Brasil e a Venezuela. Estima-se que existam cerca de 35 mil Yanomamis divididos em mais de 200 comunidades. Eles são considerados como uma etnia por conta das seguintes características:
Língua: Os Yanomamis falam a língua Yanomami, que pertence à família linguística Yanomami-Yanomamö.
Cultura: A cultura Yanomami é rica em rituais, mitos e crenças. Os Yanomamis acreditam em um ser supremo chamado "Watau".
Organização social: Os Yanomamis vivem em aldeias compostas por famílias extensas. A liderança da aldeia é exercida por um xamã, que é responsável pelos rituais e pela cura de doenças.
Economia: Os Yanomamis são um povo agricultor, caçador e coletor. Eles cultivam mandioca, banana e outros alimentos. A caça e a coleta complementam a dieta
Para concluir sobre etnia, é correto dizer que ela é um conceito multifacetado que nos ajuda a entender a riqueza da diversidade humana. É importante reconhecer a importância da etnia na formação da identidade individual e coletiva, combatendo ao mesmo tempo o uso indevido desse conceito para fins discriminatórios e racistas.
Uma empresa multinacional com sede no Brasil está expandindo suas operações para a África do Sul. A empresa deseja garantir que sua política de diversidade e inclusão seja eficaz em ambos os países.
A empresa pode considerar a diversidade étnica em seus processos de recrutamento e seleção, buscando candidatos de diferentes origens étnicas, como afro-brasileiros, indígenas, europeus e asiáticos.
A empresa também pode oferecer treinamento para seus funcionários sobre a importância da diversidade étnica e como promover um ambiente de trabalho inclusivo para todos os grupos étnicos.
Na África do Sul, a raça é um conceito mais presente na sociedade do que no Brasil. A empresa pode considerar a questão racial em suas políticas de diversidade e inclusão, buscando garantir a representatividade de negros, brancos e mestiços em seus quadros de funcionários.
A empresa também pode oferecer treinamento para seus funcionários sobre a história do apartheid na África do Sul e ensinar como promover um ambiente de trabalho livre de discriminação racial.
Vale ressaltar que raça e etnia são conceitos complexos e que não há uma única maneira de defini-los ou utilizá-los. Também é importante frisar que as políticas de diversidade e inclusão devem ser adaptadas à realidade de cada país e contexto, lembrando que o diálogo e a comunicação aberta entre os funcionários são essenciais para garantir um ambiente de trabalho inclusivo para todos. Ao usar os conceitos de etnia e raça de forma consciente e responsável, podemos construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.
Vídeo: Qual a Raça do Brasileiro?
Vídeo: Qual a Raça do Brasileiro?
Site: Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar
URL: https://www.scielo.br/j/dpjo/a/cpSn3rmDvrkMNTHj7bsPxgh#
Referências
MARCONI, Marina; PRESOTTO, Zelia M. Antropologia - Uma Introdução. São Paulo: Grupo GEN, 2019. E-book. ISBN 9788597022681. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597022681/. Acesso em: 06 mar. 2024.
MICHAELIS, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/ra%C3%A7a/ acesso em 20 fev 2024.