Ser mulher no Estado Novo: contexto educativo e mundo laboral

As turmas de B2.1 e B2.2 de Português da Escola de Línguas de Navalmoral  de la Mata já trabalharam na sua primeira oficina de cultura material do período correspondente aos tempos do Estado Novo em Portugal (1933-1974). 

Neste período vigorava em Portugal o regime salazarista que recebe o nome do ditador António de Oliveira Salazar, quem governou entre 1933 e 1968, sendo sucedido por Marcello Caetano, que exerceu como Presidente do Conselho de Ministros até 25 de Abril de 1974.

Manuel Alves de San Payo Retrato de António Oliveira Salazar, CC

Eram as palavras de ordem DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA, alicerces e garantes dos ideais do regime ditatorial. A figura do homem, chefe de família, era responsável pela educação dos filhos, o sustento económico do lar familiar e representante legal da esposa e dos filhos. A mulher, considerada como um ser frágil e dependente, devia ser submissa e tinha como tarefas fundamentais obedecer o marido, tratar dos filhos e governar os assuntos domésticos.

Neste contexto, a educação escolar das meninas era fortemente marcada por estereótipos sociais, religiosos e económicos derivados dois ideais do Estado Novo. A Mocidade Portuguesa Feminina, transmitia o modelo de mulher necessária para o sustento do Regime. Tendo isto em conta, o analfabetismo era aceite como uma volta às origens do estilo de vida ligado ao campo e às tradições. O tempo de escolarização viu-se reduzido e apenas as camadas mais favorecidas da sociedade atingiam lugares de relevância social e económica.

A mulher, apesar de intelectualmente formada e com capacidade para desenvolver funções de carácter público limitadas, era sempre subordinada às decisões do chefe de família (pai ou marido) que era suposto agir como responsável económico do lar.

Esta situação é aquela que, na série portuguesa Conta-me como foi da RTP, réplica da espanhola Cuéntame, podemos ver refletida entre os protagonistas.

Enfermeiras, professoras do Ensino Primário e hospedeiras da TAP não podiam casar sem a licença correspondente emitida pelo organismo oficial em cada caso e dadas certas condições morais e económicas do futuro marido. As mulheres enfrentavam a hipótese de perderem o trabalho se o marido assim o considerasse oportuno. Não podiam gerir o seu ordenado, as suas poupanças e o próprio bem-estar económico. A vida matrimonial, familiar, religiosa, moral e até mesmo sexual encontravam-se à mercê da supervivência do estado ditatorial e as necessidades do país considerado de forma global.

Neste contexto, encontramos vozes que proclamam a necessidade de liberdade, o resgate de roles com uma maior relevância social muito para além do recinto fechado do lar.

As figuras de Maria Lamas, autora da obra  As mulheres do meu país, Margarida Tengarrinha, ativista ligada ao PCP, ou Isaura Borges Coelho, enfermeira que lutou pelo próprio direito e o direito das colegas de profissão ao casamento abriram caminho, ao passo que muitas mulheres anónimas, no seu quotidiano, trabalhavam, de forma silenciosa, à procura da igualdade social.

Eis o resultado do nosso trabalho!