Reportagens 2025
Reportagem Premiada pelo JRA
no mês de março
Montalegre é uma vila raiana, sede do concelho com o mesmo nome, localizada no distrito de Vila Real, em Trás-Os-Montes, composto por aldeias tranquilas, parte delas pertencentes ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde a agricultura, a pecuária e o turismo são a principal fonte de rendimento. Na freguesia de Morgade, está prevista a exploração de uma mina a céu aberto, para extração de lítio, com uma extensão de 30 hectares - a Mina do Romano, também existindo perspectivas de reactivação da mina da Borralha, para exploração de volfrâmio, estanho, molibdénio e outros minerais associados e a mina do Alto das Forcada, com exploração do quartzo e feldspato. Para perceber melhor qual o impacte da exploração mineira, no ambiente e na população do concelho, foi entrevistado Vítor Afonso, morador neste concelho e um dos principais impulsionadores do “Movimento Não às Minas- Montalegre”.
A população do concelho de Montalegre encontra-se apreensiva, senão mesmo revoltada, com os possíveis impactes resultantes da exploração mineira. Segundo Vitor Afonso, um dos principais impulsionadores do Movimento Não às Minas – Montalegre, “As consequências, independentemente do minério a explorar, são sempre devastadoras” as minas irão afetar o ambiente do concelho, contaminando o ar, a água e os solos, “com várias consequências na biodiversidade local, nomeadamente, em espécies em perigo de extinção”, como é o caso do mexilhão do rio e do lobo ibérico. Acrescenta ainda que “além destes contratos de exploração já assinados, existem vários pedidos de prospeção e pesquisa para outras zonas do concelho”. A contaminação do ar ocorre sobretudo pela “libertação de poeiras nocivas resultantes dos trabalhos e das escombreiras, as quais poderão ser transportadas pelo vento até várias dezenas de quilómetros de distância”, afirma Vitor Afonso. Também “a laboração das máquinas movidas a combustíveis fósseis e as chaminés da eventual refinaria contaminam o ar com gases altamente tóxicos”, acrescenta. Quanto à contaminação das águas esta pode ocorrer nas águas superficiais (ribeiros, rios, barragens), mas Vitor Afonso alerta que também os lençóis freáticos subterrâneos serão contaminados devido “às perfurações e às crateras das explorações que atingem profundidades de centenas de metros”. Já a contaminação dos solos ocorre sobretudo pelas “escorrências das escombreiras e das zonas de trabalhos, assim como pelas poeiras contaminadas que se depositam à superfície”. A população do concelho também será diretamente afetada pelas minas, devido à proximidade das crateras às aldeias, à contaminação da água, do ar e do solo com produtos químicos altamente tóxicos, à poluição sonora proveniente de máquinas em funcionamento e explosivos, à produção de poeiras prejudiciais à saúde e que podem provocar cancro, à expropriação forçada de terras e casas, com baixas compensações, e consequente perda de subsídios agrícolas e à desvalorização dos imóveis situados junto das áreas mineiras. A população de Montalegre está também alerta para a possibilidade de desclassificação da região como Património Agrícola Mundial, atribuído pela FAO e Reserva da Biosfera atribuído pela Unesco. Mesmo em relação à criação de empregos, um dos pontos que empresas concessionárias e políticos usam como positivo para o concelho, Vitor defende que “os empregos criados não são para a população local e são temporários” e que terá o efeito contrário pois a abertura das minas eliminará muitos dos empregos ligados à agricultura, turismo, apicultura e “interferirá na qualidade e venda de produtos locais altamente valorizados”, tais como o fumeiro, o cabrito e o cordeiro do barroso, a vitela barrosã, o mel e a batata de Montalegre. Vitor pergunta se “os consumidores continuariam a comprar e a consumir produtos originários de uma região mineira, existindo a forte possibilidade de estarem, de algum modo, contaminados?” A maioria da população de Montalegre rejeita completamente a abertura das minas no concelho. O sentimento é mesmo de “alguma revolta, por perceberem que lhe estão a impor uma indústria das mais contaminantes do mundo”.
Será que Montalegre continuará assim após a exploração mineira prevista no concelho?
Repórter: Pedro Alves Repórter: Leonor Silva
Reportagens 2024
Reportagem por Bárbara Vassalo
Reportagem por Diana Filipe
PERDIDOS NO CONSUMO
Todos os anos produzem-se 2,2 mil milhões de toneladas de lixo na União Europeia. A União Europeia encontra-se atualmente a tentar atualizar a legislação relativa à gestão de resíduos para promover uma mudança na atual economia linear e assim se tornar numa economia circular, reutilizando produtos e diminuindo a quantidade de lixo produzida.
A economia circular é um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível. Desta forma, o ciclo de vida dos produtos é alargado.
Mas será que nas escolas se aplica a economia circular?
Na minha escola, quando alguém perde algum material ou roupa, esta vai diretamente para os perdidos e achados. Mas, no final do ano, apercebo-me que os perdidos e achados se encontram quase sempre cheios de materiais e roupas. Mas, afinal, o que é que acontece a todos estes materiais que ficam lá? Para responder a esta e outras perguntas foi entrevistada a professora, e membro da direção, Paula Edra. Foi-lhe então perguntado se eram perdidos muitos materiais e roupas diariamente. Ela respondeu, convictamente, de forma afirmativa. De facto, há uma grande quantidade de materiais que são depositados, quase diariamente, nos perdidos e achados.
Quando questionada se assim como se perdiam muitos materiais também havia diariamente uma iniciativa de os reaver, a professora Paula Edra respondeu que não, acrescentando que, muitas vezes, os próprios alunos não se dão conta, sendo que, por vezes, são os pais que, quando já passou algum tempo desde a sua perda, se dão conta e tentam reaver os materiais. A docente acrescentou ainda que considerava absolutamente exagerada a quantidade de utensílios que por lá ficavam sem serem procurados.
À pergunta: qual finalidade dada às roupas e materiais que ficavam nos perdidos e achados no final do ano, a professora Paula afirmou que os materiais eram expostos numa sala nas últimas semanas do período letivo e os pais são convidados a entrar como última tentativa para reconhecer e reaver os materiais e roupas. Mesmo após esta exposição dos materiais ficam imensos utensílios. Estes vão para a junta de freguesia para serem distribuídos pelas famílias mais carenciadas.
Fiquei feliz por descobrir com esta entrevista que na nossa escola é utilizada uma economia circular, dando aos mais carenciados roupas e materiais que para nós, se calhar, já não são de tanta relevância. Por outro lado, fico um bocado triste ao saber a quantidade de pessoas que na minha escola não dá valor aos bens que possui (não os tentando recuperar quando os perdem) e muitas vezes nem têm noção do quanto isso prejudica o mundo em que habitamos.
Reportagem por Ana José Marques
Reportagens Premiadas pelo JRA
a nível nacional, em 2023
Reportagem por Mafalda Bueso
A Desflorestação de Vila Nova de Sande:
uma realidade
Esta reportagem propõe-se mostrar como a procura dos produtos florestais, interesses económicos e humanos, com poucas preocupações pela natureza, têm conduzido ao desaparecimento gradual do manto verde existente na freguesia de Vila Nova de Sande, integrante do concelho de Guimarães.
Na verdade, na última década, tal como relatam alguns habitantes desta freguesia, tem desaparecido uma grande parte da fauna e flora que aí existia, havendo uma perda real da sua biodiversidade, nomeadamente a redução dos javalis, dos coelhos bravos e de tantas outras espécies animais e vegetais.
Um dos locais onde outrora apenas se avistava natureza transformou-se num parque industrial, ou seja, o ar puro deu lugar à poluição; belas sombras deram lugar a um ambiente descampado onde já não é possível avistar qualquer tipo de diversidade animal e vegetal.
Por outro lado, há outras zonas desta localidade onde se observa que as áreas desflorestadas estão a transformar-se em áreas habitacionais, há aquelas em que a madeira das árvores serve para a exploração económica e há, ainda, a destruição de áreas florestais, agora destinadas à agricultura.
Sabe-se que a destruição das florestas conduz à diminuição da produção de oxigénio, à diminuição da evapotranspiração e à diminuição da captação de dióxido de carbono da atmosfera, o que interfere diretamente com os ciclos do oxigénio, da água e do carbono. Isto afeta o ecossistema e prejudica todos os seres vivos, incluindo o ser humano.
O abate de árvores e outras plantas, para criação de áreas para novas construções, agricultura e pecuária, prejudica a biodiversidade, a qualidade do solo e da água dos ecossistemas.
Na verdade, e segundo o que foi possível apurar junto de alguns proprietários, não há muitas preocupações ambientais, mas antes preocupações económicas/ pessoais.
Neste contexto, urge sensibilizar toda a sociedade para a importância da conservação dos ecossistemas aderindo à prática do desenvolvimento sustentável.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenhou um conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável que a humanidade deve alcançar até 2030, dois dos quais se enquadram nesta temática: produção e consumo sustentáveis (garantir que as matérias-primas recolhidas dos ecossistemas para elaboração dos produtos que consumimos não danifiquem esses ecossistemas); proteger a vida terrestre (proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, (…) travar a desflorestação e a perda da biodiversidade.
Assim, é fundamental o uso de medidas que possibilite extrair e usar os recursos dos ecossistemas, com benefícios sociais e económicos, sem prejudicar o equilíbrio dos mesmos. Uma gestão florestal sustentável visa a exploração e a utilização da madeira, a plantação de novas árvores e a manutenção da floresta jovem e da floresta madura, ou seja, podem-se cortar algumas árvores, mas deixar que outras atinjam a maturidade. Os ramos e as folhas das árvores devem manter-se no solo para aumentar a matéria orgânica e a humidade deste.
Infelizmente, a conservação dos ecossistemas que pressupõe a aplicação de medidas para a sua proteção ou recuperação até ao seu estado original ou quase original, já não é possível em muitas das situações mencionadas e observadas nesta localidade.
Uma freguesia com ecossistemas com comunidades bióticas maduras que se mantiveram estáveis ao longo de tantos anos, tem-se transformado num ecossistema em desequilíbrio por uma causa antrópica- a desflorestação.
Reportagem por José Pedro Ramôa