(RÁDIO)ATIVIDADES

(Re)Viver a Revolução na E.B. do Ave

Como reviver e fazer sentir os ideais da liberdade, da democracia, da fraternidade aos nossos alunos da Escola Básica do Ave, neste tempo em que todos nos queixamos do individualismo, da competição desenfreada, da “bolha” tecnológica que tanto nos isola?

A resposta nasceu de uma ideia. primeiro partilhada entre os professores de História da escola e os elementos da Rádio Escola, depois conversada e sussurrada entre outros professores e funcionários, que congregou todos os que “vieram por bem” naquilo que se tornou um trabalho de equipa que deu frutos e que se agregará a mais gente e mais vontades para integrar e colaborar com o espetáculo da EB do Ave previsto para a noite de dia 24 de maio, no terreiro das Músicas.

Primeiro, foi preciso relembrar os tempos da ditadura. Entre as atividades formais de comemoração dos 50 anos do 25 de abril, iniciadas com a divulgação de imagens, textos e recursos multimédia, um grupo de alunos do sétimo ano aceitou desempenhar o papel mais ingrato... Aceitaram representar o papel de agentes da PIDE e da Censura. Foram dotados de cartões de identificação, e sempre que identificassem algum colega que tivesse, afixasse ou distribuísse material subversivo, deviam identificá-lo e preencher o respetivo processo de averiguação.

Um grupo de alunos do segundo ciclo recebeu a missão de, sem ser apanhado, colar pela escola e distribuir aos colegas esses cartazes e poemas. Muito rapidamente esse pequeno grupo inicial passou a ter a colaboração da maioria dos restantes, que, sem os denunciar, ajudaram nessa “resistência” à ditadura.

Durante o mês de abril, a “resistência” distribuiu e colou os poemas e canções de abril e cartazes de contestação à ditadura. A nossa “PIDE” teve o trabalho inglório de retirar os mesmos e procurar identificar e deter quem o fazia.

Inglório porque mãos anónimas voltavam a colocar os poemas e cartazes retirados, e a multidão solidária de alunos procurava encobrir e ajudar os resistentes.

Enquanto isto, nas várias turmas, grupos de alunos foram sendo contactados para integrar as tropas do MFA, para reencenar o dia da revolução. Foi-lhes pedido que falassem com os pais, mas não contassem nem a colegas de outras turmas nem aos restantes professores.

Foi neste dia 24 que o dia amanheceu radioso (já que no 25 a escola estava encerrada...).

Às 8h30, começa o dia de aulas normal, mas nota-se um grande número de alunos vestidos de verde caqui ou camuflado. Os cartazes com palavras de ordem contra a ditadura estavam (mais uma vez) espalhados pela escola, entre todos os materiais afixados

9h20: início da segunda aula. As “tropas” ainda não revoltosas aguardam o sinal, desempenhando as suas tarefas normais.

9h55: O primeiro grupo de assalto (alunos do 5º ano) sai da sala onde se encontrava, sobe rapidamente ao primeiro andar e toma posições em volta do miniestúdio da Rádio Escolar, que é ocupado, controlando e protegendo também os acessos envolventes, a sala de professores e a biblioteca.

10h00: Inicia-se a emissão com o primeiro sinal, seguindo-se os comunicados do MFA e os sons e notícias de 25 de abril de 1974, que ecoam pelos espaços da escola, interrompendo os últimos 10 minutos de aula. O segundo e terceiro grupo de assalto dirigem-se às salas de aula do 1º, 2º e 3º ciclos. Têm uma dupla missão: Agrupar os camaradas fardados e enviar os “civis” para o polivalente da EB do Ave, onde todos se manifestarão (recriando o ambiente junto ao Quartel do Carmo em 1974) e cantarão em conjunto a “Grândola Vila Morena”.

10h10: Reunidos os revoltosos com os civis e apoiantes (alunos dos três ciclos, pessoal docente e não docente), foi cantada em coro a “Grândola”, homenageando aqueles que abriram a porta a cinquenta anos de democracia em Portugal. De seguida, iniciaram-se as atividades previstas de comemoração desta data.

O grupo de revoltosos vem agradecer profundamente o carinho e o entusiasmo de todos os que se foram juntando a nós, tornando verdadeiramente esta atividade o início vibrante, comum e partilhado das nossas celebrações dos 50 anos do 25 de abril.

Ramiro Romão (membro da equipa da Rádio Escola)