O AENelas gosta de estar na linha da frente no que diz respeito às novidades. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Autonomia e Flexibilidade Curricular. Neste caso concreto, existe, desde há muito anos, uma dinâmica de escola que valoriza as artes. Isso está presente na oferta do Ensino Articulado da Música, dos Cursos Profissionais de Desenho Gráfico, de Design de Comunicação Gráfica e de Animação Sociocultural, da disciplina de Comunic’Arte, dos Clubes de Teatro, de Música e de Artes, nos diversos eventos culturais que se têm organizado. Uma escola é mais do que um conjunto de professores e alunos que se encontram, diariamente, uns para ensinarem e outros para aprenderem. Estando o nosso Agrupamento sedeado num concelho do interior do país, a escola tem de se assumir como um pólo de dinamização cultural para atenuar eventuais clivagens com alunos que vivem em locais cuja oferta cultural existe abundantemente.
O desenvolvimento das artes na escola dá resposta a processos cognitivos, sociais e humanistas que permitem o desenvolvimento de processos críticos e criativos pela perceção da realidade e sua fixação na folha de papel, na tela, na película, no suporte audio,… . A educação pela arte é fundamental para que o mundo não seja percecionado todo a preto ou a branco, mas como um conjunto de imagens coloridas que preenchem um vasto espetro de pontos de vista e de perspetivas. Ela permite conjugar sentidos, emoções e razão num só momento, ditando seres humanos mais sensíveis e capazes de verem tanto o lado oculto e obscuro do que os cerca como o seu contrário. Esta sensibilidade é importante para inverter a constatação ditada por Sophia de Mello Breyner que, num dos seus poemas, afirma ironicamente que “As pessoas sensíveis não matam galinhas, porém comem-nas”, levando-nos a crer que se a sensibilidade tivesse sido bem trabalhada era escusada a hipocrisia que origina lutas, guerras, desavenças, violência gratuita. É este o sentir do AENelas acerca da prioridade a dar às artes na Escola, é esta a visão que se deseja manter para conseguirmos erguer uma “Escola de referência e excelência [onde cada aluno se integre] crítica e ativamente na sociedade e [possa] vir a dar um contributo para a vida económica, social e cultural do país. Uma escola como instituição de referência nos planos educacional, cultural, social e cívico, cumprindo a sua missão de serviço público e reforçando o diálogo entre todos os intervenientes da comunidade educativa.” (Projeto Educativo, p. 30)
Era uma vez um reino com muitos montes distantes uns dos outros. Em cada monte havia uma casa diferente de todas as outras: havia a casa das letras todas retorcidas e certinhas, cheia de regras e muito subjetiva, a dos algarismos, muito exata, a da história, virada para o passado, mas muito importante, a casa da geografia, com muitos lugares e rios e mares e escalas, a casa do pensamento, com muitos pontos de interrogação nas paredes, a da pintura, muito colorida e cheia de pinceis e de estilo(s), a da escultura, a da vida, cheia de seres vivos e os seus habitats, a da música, vibrante de sons e de silêncios, a do teatro, com um grande palco e pessoas muito felizes a fingirem serem pessoas imaginárias, a do universo, com muitos astros, estrelas e leis realmente importantes, a das crenças, com muitos templos ricamente construídos e cheios de orações e de silêncios, a das máquinas, onde se carregava em botões e, por vezes, até se tropeçava nos fios que ligavam toda a maquinara…e tantos mas tantos montes mais…e outras tantas casas também. Até havia uma grande casa num monte onde nasciam, cresciam e morriam leis todos os dias…
Contudo, as letras, os algarismos, os acontecimentos passados, os lugares, os seres vivos, as pedras, os rios, os mares, as tintas, os pontos de interrogação, as orações, as máquinas, os sons, as personagens imaginárias…não se sentiam infinitamente felizes na regularidade das suas idiossincrasias. Observavam os habitantes dos outros montes, que, do longe, também os olhavam.
Certo dia, mas à noite, entrou naquele reino uma aranha, vinda de outros reinos, que logo subiu ao monte mais alto, onde morava uma casa muito grande, porém vazia e escura. Tratou logo de se instalar, após o que, durante toda a noite, teceu, numa placa resplandecente “Escola Universo, Casa da Cultura”. E dos outros montes, todos os habitantes admiravam, extasiados, aquela placa, na grande casa do monte maior. Habituados a não se afastarem muito do seu domínio, desejavam, mas não podiam chegar facilmente ao grande monte, pois teriam, também, que subir e passar pelos outros montes, e quanto tempo e dificuldades enfrentariam!… A experiente aranha passou o dia seguinte a descansar e, nessa noite, quando todos os seres de todos os montes dormiam e sonhavam com a grande casa do monte maior, desceu e subiu, subiu e desceu, desceu e subiu, tecendo pontes e pontes e pontos de luz entre todos os montes e de todos ao monte maior.
Então as letras, os algarismos, os acontecimentos passados, os lugares, os seres vivos, as pedras, os rios, os mares, as tintas, os pontos de interrogação, as orações, as máquinas, os sons, as personagens imaginárias desceram o seu monte e caminharam devagar, mas juntos, até ao monte maior e compreenderam que esse seria o lugar onde todos poderiam ser uma comunidade com vivências e aprendizagens comuns e projetiva do Universo, onde “O Sol nasce morre e volta a nascer" (Hélder, Herberto. 1987. Magias. 1ª edição. Hiena Editora).