Data de postagem: Oct 24, 2012 12:21:17 PM
Agência FAPESP – Chamados muitas vezes de meras “comedoras de moluscos”, as sociedades sambaquienses que habitaram o litoral brasileiro durante um período entre 2 mil e 7 mil anos mantiveram hábitos e culturas elaboradas, de acordo com uma pesquisa coordenada pelo professor Paulo Antônio Dantas de Blasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP).
As informações foram levantadas durante o Projeto Temático “Sambaquis e paisagem: modelando a inter-relação entre processos formativos culturais e naturais no litoral sul de Santa Catarina”, apoiado pela FAPESP.
Desde 2005, os pesquisadores coletam informações de sítios arqueológicos catarinenses sobre as sociedades que construíam os morros conhecidos como sambaquis, palavra que significa “monte de conchas” em tupi-guarani.
Essas comunidades ocupavam uma ampla faixa do litoral brasileiro que vai da região Sul até o Nordeste e desapareceram há cerca de mil anos. Os primeiros colonos europeus que chegaram ao Brasil ficaram intrigados com essas construções litorâneas, segundo Blasis. “Mas, até hoje, sabemos muito pouco sobre a finalidade dos sambaquis”, disse.
Entre suas funções principais estava a funerária. Covas rasas eram feitas na areia para depositar os mortos. O material encontrado pelo estudo evidencia grandes festas funerárias que reuniam várias comunidades sambaquianas. Os restos de comida eram depositados sobre os corpos que depois ficavam sob conchas.
Esses túmulos em forma de pequenos montes eram construídos lado a lado, recebiam mais corpos em novas camadas e, por fim, eram agrupados em um único monte. Com o passar do tempo, o cálcio se espalhava por toda a estrutura, petrificando-a.
O ritual funerário aponta para uma sociedade mais sofisticada do que se estimava anteriormente. “A maneira de tratar os mortos é bem característica de cada cultura”, disse Blasis, que também destacou outros aspectos encontrados que apresentam um maior aprimoramento daquelas sociedades.
Um deles é o sedentarismo. Diferentemente do que se estimava, os sambaquianos não eram nômades, mas estabeleciam comunidades fixas, o que exigia um maior grau de organização.
Seus membros também eram mais numerosos do que se pensava. Estima-se que havia milhares pela costa brasileira e os grupos interagiam entre eles, como indicam os rituais funerários que eram partilhados por mais pessoas do que caberia em uma única comunidade.
Essa característica levantou a hipótese de haver uma outra função para os sambaquis, a de funcionar como um marcador territorial, servindo de aviso a forasteiros de que o local pertencia a um determinado grupo.
Para levantar esses dados, os pesquisadores do Projeto Temático executaram escavações minuciosas, além de lançar mão de recursos tecnológicos como radares de superfície e instrumentos de datação de objetos com o método de carbono 14 e da luminescência opticamente estimulada.
Túmulos empilhados
Uma das principais conquistas do Temático, segundo Blasis, foi a realização de mais de cem datações, o que permitiu detalhar o mapa do desenvolvimento das sociedades sambaquianas e a construção de uma “supercronologia regional”.