O que é meditação?
Meditar não é refletir, mas esvaziar a mente. O silêncio desperta a alma e a mente vazia nos conecta com o Universo. Em busca do autoconhecimento, o não-fazer nos prepara para o que deve ser feito
Embora conhecida há milênios, essa técnica ancestral de autoconhecimento ainda é vista com estranheza por muitos. Mesmo tendo cada vez mais adeptos em todo o mundo, e hoje sendo recomendada até por médicos, meditar para os não-iniciados continua sendo "coisa de monges de cabeça raspada que vivem em mosteiros da China e se sentam em posição de lótus, como a gente vê no cinema". Dá para entender. Apesar de o compositor Walter Franco ter ensinado, ainda na década de 70, que "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo", sentar sobre uma almofada e ficar atento à própria respiração exige mesmo um preparo de monge. Mais: como cada um sente e vivencia a meditação de modo único, essa experiência é quase intraduzível em palavras e ensinamentos. No entanto, como em tudo na vida, esse caminho pode ser aprendido caminhando. Todos nós somos capazes de meditar, uma atitude que pode ser tomada em qualquer lugar, a qualquer hora, independente de termos ou não uma religião. Para embarcar nessa viagem fantástica, só duas coisas são exigidas: determinação e disciplina. Está disposto?
Meditar não é refletir
Antes de mais nada, esqueça a definição contida nos dicionários. Diferentemente do que a maioria imagina, meditar não é refletir sobre alguma coisa ou um determinado tema. Meditar é esvaziar a mente. Como assim? Deixando de lado os valores do Ocidente, que superestimam o fazer sem cessar e os bens materiais. Para tanto, siga os mestres orientais, cujos ensinamentos têm como fundamental o saber ficar em silêncio, manter a mente vazia e buscar a sabedoria interior. Nada de novo. Os gregos já pregavam isso. "Conhece-te a ti mesmo", dizia Sócrates. "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses" está inscrito no Oráculo de Delfos. Pensar sem parar, falar continuamente e ficar todo o tempo fazendo alguma coisa produz ansiedade e nos afasta de nós mesmos. Já o silêncio desperta a alma, a mente vazia nos conecta com o Universo e o não-fazer nos prepara para o que deve ser feito, que dessa forma acaba acontecendo cada vez melhor. Com a meditação, treinamos a atenção e acalmamos nossa mente, nosso corpo, nossa alma. E é assim que iniciamos a caminhada rumo ao autoconhecimento.
No começo, fração de segundos Quanto tempo perdemos nos preocupando com coisas que aconteceram no passado e sobre as quais nada mais resta a fazer? Quantas vezes não entramos em pânico pensando em algo que no final acabou não acontecendo? Dividida entre o passado e o futuro, a mente nunca está no momento presente. Meditar é focar a mente, deixar as preocupações de lado, viver o aqui e o agora. Durante a meditação, a pessoa se conecta com o campo da pura energia, inteligência e consciência.
Segundo Deepak Chopra, médico de homens e de almas, tudo isso entra em ação para que o melhor aconteça. O médico e escritor indiano diz: "Com a meditação, trazemos a sabedoria para nossa vida e nos aperfeiçoamos a cada momento. Devemos meditar num lugar tranqüilo, duas vezes por dia, durante 20 minutos, se possível sentado no chão, com as pernas em posição de lótus e as mãos sobre os joelhos, respirando profundamente".
Não imagine que isso aconteça de um momento para outro. Essa viagem exige disposição e leva um bom tempo. Nossa mente se divide em duas. Temos uma consciência dos sentidos - visão, audição, olfato, paladar, tato - e uma consciência mental, que envolve nossos processos intelectuais, os sentimentos e as emoções, a memória e os sonhos. Ela abrange desde as nossas vivências mais grosseiras (a inveja, por exemplo) até o nível mais sutil da percepção humana.
Meditar é uma atividade da consciência mental. Domar a mente e trazê-la à compreensão da realidade não é um trabalho fácil. Mas há muitas formas de meditar. Podemos fazer isso em um lugar quieto, enquanto trabalhamos, quando caminhamos, dentro de um ônibus, dirigindo um carro ou preparando um jantar. Quem medita consegue ter e manter a mente vazia de pensamentos em qualquer situação: uma vez desenvolvido o estado meditativo, somos capazes de gerar esse processo mental a qualquer hora e em qualquer situação. Agora, não se iluda: o tempo recomendado por Chopra é fruto de muita prática.
Atingir o nirvana, levar nosso cérebro ao paraíso, exige determinação e muita força de vontade. No começo, conseguir focalizar a atenção no mundo interior não dura mais do que segundos. Um instante em que os neurônios desligam os mecanismos das funções visuais e motoras e a pessoa perde a noção do eu, sentindo-se expandida para além de qualquer limite.
Diferentes, mas semelhantes
Embora as diversas culturas adotem métodos de meditação variados, todos eles procuram familiarizar a mente com os muitos aspectos de si mesma. Na cultura oriental ou na ocidental, a mente tem os mesmos elementos, as mesmas experiências básicas, os mesmos problemas fundamentais, o mesmo potencial.
Meditando, se foge dos problemas
Ao contrário: a pessoa procura ser totalmente honesta consiga mesma, avalia o que está fazendo e, tornando-se mais positiva, procura ser mais útil a si própria e ao próximo. A mente abriga tanto aspectos negativos quanto positivos. Os negativos provocam desordens mentais, surgem de uma compreensão errônea da realidade e do apego, suscitam sentimentos como o ódio e o orgulho. Com a meditação, podemos reconhecer nossos erros, pensar e reagir melhor. Assim, a realidade se suaviza, desenvolvemos uma auto-imagem mais positiva e realista, ficamos menos ansiosos, aprendemos a ter menos expectativas. Dessa forma, passamos a ter menos desapontamentos, nossos relacionamentos melhoram, a vida se torna mais estável e prazerosa. Só pouco a pouco nos livramos de nossos instintos nocivos e conseguimos adotar em seu lugar hábitos positivos, capazes de trazer bons resultados para nós e para os outros.
Serenidade e superconsciência
Os pensamentos são feitos basicamente de duas substâncias: idéias e experiências que ouvimos, vivemos e aprendemos no passado; planos e apreensões que temos para o futuro. Quem medita, ainda que por raros momentos, consegue livrar-se de parte desses ruídos e, além de ter a sensação de estar ligado com o Universo, tem uma superconsciência do mundo. Ou seja, a meditação esvazia a mente e permite que ela se conecte a um nível mais sutil. É como se, em estado de alerta, a pessoa mergulhasse naquele embotamento dos sentidos que acontece quando estamos pegando no sono.
Dê atenção a tudo
Quando meditamos, nosso cérebro funciona num ritmo mais lento e poderoso, o que gera a serenidade necessária para levar a mente ao estado de superconsciência, quando o ser humano pode conhecer seu verdadeiro eu e a alegria daí advinda. Existem algumas técnicas para nos mantermos concentrados e conscientes durante a meditação. Não adianta dizer para você próprio que não quer mais pensar em nada. Nesse caso, a mente começa a trabalhar justo no sentido oposto, suscitando e fazendo brotar uma infinidade de pensamentos. Portanto, aceite os pensamentos, mas sem deixar se envolver por eles. Isso é difícil, mas irá se tornando cada vez mais fácil na medida em que desenvolva a prática. Não pensar é uma batalha que exige empenho. Vencida a luta, os resultados se fazem notar em todos os níveis e são mais que compensadores. O simples fato de estar lendo isso: você está interessado em conhecer os princípios da meditação. Se é assim, não perca mais tempo.
Comece agora mesmo o processo que vai levá-lo à sabedoria. Como? Simplesmente prestando atenção. Desenvolver a atenção é o primeiro passo nessa jornada. Com ela, você poderá observar o que acontece a sua volta, perceber como reage às situações, saber o que causa medo e o que traz alegria. Descobrirá também por que determinados pensamentos causam tristeza, enquanto outros provocam otimismo e o levam adiante.
Adquirida essa consciência, você pode deixar as coisas como estão ou meditar. Não podemos nem devemos ser muito duros conosco nem com quem nos cerca. O bambu só é forte e agüenta as ventanias porque é flexível. Assim, na medida em que for ampliando sua consciência, procure igualmente desenvolver o sentimento do perdão.
Perdoe a si próprio e ao próximo. Perdoar, além de gerar compaixão, amor e aceitação, produz atitudes que reforçam em nós esses sentimentos e levam à sabedoria. Viu só? Um pouquinho de atenção e você já está no meio do caminho...
O que interessa é o aqui e o agora
Passe a agir como um observador de si mesmo no dia-a-dia. Preste atenção em si próprio: fique atento ao que faz, ao que fala, ao que come, ao que provoca sua risada, à maneira como anda, aos pensamentos que tem antes de dormir, às coisas que podem lhe entristecer. Desligue o piloto automático e fique antenado com o que está fazendo aqui e agora.