Durante muito tempo, memorização era sinônimo de decorar conteúdos. Porém essa idéia arcaica se transformou, e hoje sabe-se que a memória é um fator primordial na aprendizagem, diferente do "decoreba" que é considerado um inimigo da educação.
A memória é a base de todo o saber, por isso, deve ser trabalhada e estimulada. "É ela que nos permite acumular experiências. A memorização é um processo consciente, já a `decoreba´ é um processo de repetição mecânica, algo passageiro", explica o professor de Técnicas de Memorização da Universidade São Judas, Rodolfo Gasparetto.
Técnicas de Memorização
Para facilitar o aprendizado, existem algumas técnicas que podem agilizar o processo de memorização. "Nós estamos na era da informação. São muitas informações e as pessoas têm dificuldades de memorizar tantos dados. Por isso, é importante conhecer técnicas de memorização", conta o professor de Psicologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Emílio Takase.
A mais utilizada é a mnemônica, uma técnica por associação de imagens, que utiliza a vivência, a associação e o repasse de informações. "A base da memória é associação, quanto mais associações relacionadas a uma informação, mais fácil será para resgatá-la no futuro", afirma a neurocientista e professora do departamento de Anatomia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Suzana Herculano Houzel.
A professora de Metodologia da Universidade São Judas Sueli Gaspareto explica que a técnica mnemônica trabalha com imagem mental de grande impacto para fixar a informação. "Na memória, nós temos três etapas: a primeira, a fixação, o registro da informação; a segunda, o armazenamento dessa informação; e por fim, o resgate".
Na memorização de números, pode ser utilizada a técnica mnemônica ou os códigos alfa numéricos. Esses códigos são representações de números em consoantes. Por meio dessas representações é possível transformar números em palavras ou frases. "Fica muito mais fácil lembrarmos de frases do que de números. Algumas pessoas acabam confundindo os números quando os necessitam em grandes quantidades", assegura a professora Sueli.
É muito importante o repasse das idéias memorizadas, pois, segundo Sueli, a memória perde 90% das informações, caso elas não sejam resgatadas em até 24 horas do seu registro. "Nas primeira oito horas, é muito comum perder de 40 a 50% de informações. Agora, se fizer um repasse dentro das primeiras oito horas, a mente traz a informação e ela acaba fixando", explica.
Memória em benefício do estudo
A curva do esquecimento descreve o quanto somos capazes de reter de informações recém adquiridas. Ela é baseada nas informações adquiridas após uma palestra de 1 hora de duração ou o estudo de qualquer material durante esse mesmo período.
Suponha que, hoje pela manha, você entrou na revista Papo de Homem para aprender um pouco mais sobre a arte da conquista e passa 1 hora lendo as respostas de nosso amigo Dr. Love. Em nosso gráfico, iremos supor que antes da leitura você não sabia nada sobre o tema. Logo, após uma hora de leitura, você saberá 100% do assunto ensinado (ao menos saberá o máximo que ele tem condições de aprender, dado o conhecimento prévio sobre o assunto). Assim, após a leitura, a curva chega em seu ponto máximo.
No segundo dia, se o nosso leitor não fizer qualquer revisão do assunto (aplicar os conhecimentos, ler, pensar sobre ele, discutir sobre os tópicos aprendidos…) o estudante provavelmente se esquecerá de 50%-80% daquilo que foi aprendido. Perceba que o ser humano esquece mais nas primeiras 24 horas após a aquisição do que ao longo de 30 dias. Ao final dos 30 dias, restarão apenas 2%-3% de toda informação adquirida no primeiro dia. Assim, ao final dos 30 dias, você terá a impressão de que nunca ouviu falar do assunto estudado, precisando estudar tudo desde o inicio – garantindo uma fortuna para a revista no adsense!
No entanto, é possível que os alterar a forma da curva do esquecimento. Nossos cérebros constantemente gravam informações de maneira temporária: conversas no corredor da faculdade, a roupa que você estava usando no dia anterior, o nome de amigos apresentados em uma reunião, a música que acabou de tocar no rádio… No entanto, se você não criar gatilhos de memória importantes, toda essa informação será descartada. A cada revisão, você cria novos gatilhos,fixando a informação cada vez mais.
Uma fórmula interessante de revisão seria a seguinte: para cada hora de leitura, faça uma revisão de 10 minutos. Observe que essa revisão deve ser feita nas primeiras 24 horas após a aquisição – período em que ocorre maior parte do esquecimento. Essa revisão será o suficiente para “segurar” em sua memória toda a informação aprendida em 1 hora de leitura. Uma semana depois (dia 7), para cada hora de leitura ou aula expositiva, você precisará de apenas 5 minutos para “reativar” o mesmo material, elevando a curva para 100% mais uma vez. Ao final de 30 dias, você precisará de apenas 2-4 minutos para obter novamente os 100% da curva de aprendizagem.
Algumas pessoas dizem não ter tempo para esse tipo de revisão. No entanto, nada justifica essa alegação, visto que o maior ganho com as revisões se refere principalmente ao tempo. Se ao longo dos 30 dias, os estudantes não fizerem qualquer tipo de revisão, eles precisarão de mais 50 minutos de estudo para cada hora de aula expositiva. Dado o inevitável acumulo de matéria, provavelmente o aluno dispensará muito mais tempo do que se tivesse simplesmente feito um bom calendário de revisões. A ausência de revisões também comprometerá o fenômeno da reminiscência (tópico a ser abordado no próximo artigo), já que a memória não costuma funcionar muito bem quando trabalhada com sobrecarga e pouco tempo disponível.
É claro que não existem regras rígidas sobre as revisões, já que essa rigidez esbarra em outras variáveis como diferenças individuais e densidade do material a ser estudado. No entanto, é preciso que você estabeleça um sistema eficiente de revisões caso realmente queira ser academicamente bem sucedido.