RAIOS-X DE DUAS ESCOLAS NO ANO DE 2013

 PROFESSOR ANGELO ANTONIO LEITHOLD, ENSINO, UMA RADIOGRAFIA

Este artigo foi parte de um estudo realizado para o Programa de Formação Pedagógica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná em 2013. O objetivo do presente trabalho, é diagnosticar a partir de entrevistas, e suas comparações pelos membros do grupo laboral, se há estímulos ou não, ao desenvolvimento da responsabilidade. Assim, foi proposto um questionário para ser aplicado pelos entrevistadores em duas instituições ensino públicas de porte e clientela semelhantes, sendo uma em Curitiba e outra na região metropolitana.

A capacidade do ser humano de aprender é a base para a educação e formação. Durante o processo, se pode generalizar como, a introdução de conceitos pelos pais, educadores, professores, clérigos, políticos, dentre outros líderes, no sentido orientação ao educando. O aprendizado pode ser sistematizado a partir de regras, normas e comportamentos, mas não se pode descartar o pensamento e ação do indivíduo no seu próprio aprender.

Em salas de aulas, os professores, dentre as diversas orientações aos seus educandos, sempre dão ênfase ao cumprimento de tarefas, seja na escola, seja em suas casas. Para tal, é evidente que os alunos devem aprender a sistematizar o cumprimento das lições de casa em tempo pré-determinado. Ocorre que, para a execução de suas atividades, é necessária a estímulação para que as ações obedeçam a regras estipuladas pelo educador, no sentido do desenvolvimento da responsabilidade do educando.

Foram feitas entrevistas e observadas 2 instituição, na primeira, o perfil dos entrevistados é bem variado, na segunda, segue um padrão composto por mulheres, com idades entre 30 e 38 anos. As entrevistas após trasncritas, foram analisadas e discutidas pelos membros do grupo para posterior conclusão, editada no final desta pesquisa.

MÉTODO 

Após a transcrição das entrevistas, foi discutida e realizada a interpretação das respostas dadas pelos profissionais de cada estabelecimento de ensino. posteriormente, feita a síntese das opiniões dadas como um todo, visando encontrar pontos coincidentes.

Questionário aplicado à entrevista:

a) Defina a profissão professor para você?

b) Como você conduz o seu primeiro contanto com a turma? Estabelece regras e normas claras a fim de evitar situações de conflito?

c) Cite quais estratégias utiliza para minimizar ou evitar agressões físicas e morais entre os pares e com você professor?

d) Diante de uma situação inesperada de agressão, qual seria sua postura ou condução?

e) Você estabelece estratégias de diálogo e respeito referenciando temas atuais como bulling, preconceito ou racismo a fim de assegurar igualdade?

f) Quais os tipos de estímulos você utiliza com seus alunos para evitar ou inibir as interrupções impróprias que prejudiquem as regras e rotinas estabelecidas?

g) Os alunos estão sempre nos desafiando. Muitas vezes, boicotando os trabalhos propostos.

h) Quais estratégias você utiliza para conduzir e estimular seus alunos a desenvolverem os trabalhos, não perdendo o domínio docente?

COLÉGIO ESTADUAL L.

Localizado na região metropolitana de Curitiba, município de Pinhais. Possui aproximadamente 1.200 alunos, matriculados nas modalidades de ensino Fundamental, Médio e Profissional. Conta com aproximadamente 70 professores em sala de aula, com clientela bastante heterogênea.

A pesquisa deste estabelecimento é composta por três professoras, com idades entre 30 e 38 anos ao serem perguntadas sobre como veem a profissão professor, todas colocaram que enxergam na profissão uma forma de mediar, ou compartilhar, ou construir o conhecimento, ou formar pessoas com dignidade para o futuro. Nota-se certo idealismo com a profissão de professor.

Sobre como as profissionais tentam evitar situações de conflito, aparece a unanimidade que é fazer uma espécie de “contrato” com cada turma, ou seja, as regras são essas, as coisas são assim, e etc., portanto, vamos segui-las.

Na questão que aborda as formas de minimizar possíveis agressões verbais ou físicas envolvendo alunos e profissionais da educação, uma resposta interessante: todas as profissionais desta instituição de ensino procuram solucionar o conflito ou possibilidade de conflito no próprio ambiente, sem precisar se socorrer à pedagogia, direção ou coordenação.

Quando questionadas quando presenciam uma situação de agressão física ou verbal, apenas a profissional com mais experiência procura resolver por iniciativa própria o conflito, os demais profissionais recorrem à estrutura formal, representada pela equipe pedagógica da instituição.

Questionadas sobre como abordam temas complexos como racismo, bulling e outras formas de preconceito, todos pontuaram que trabalham esses temas dentro dos conteúdos de suas disciplinas, enquadrando à medida do necessário. Parte foi

respondida de um modo por cada profissional. Uma delas é direta, usa a questão do respeito e hierarquia, com palavras diretas como “ordem” e “respeito”.

A profissional com menos experiência em sala de aula procura usar formas descontraídas, parecendo não demonstrar incômodo, mas usando de uma leve ironia, que parece ser saudável no ambiente escolar.

Por fim, a outra profissional desta instituição prefere usar o diálogo, lembrando sempre aquele “contrato” feito lá atrás no primeiro dia de aula.

Uma posição uniforme dos profissionais é que esse tipo de situação é provocada por apenas uns poucos elementos do grupo, sendo que a maioria não compartilha dessa forma de conviver em sala de aula.

Uma questão de suma importância, que tem muito a ver com a responsabilidade do aluno dentro do ambiente escolar, que é assumir suas responsabilidades, não desafiar de forma vaga o profissional que está orientando-o, e cumprir os prazos estipulados para entrega das atividades sugeridas foi respondida de forma distinta pelas três profissionais. A primeira coloca de forma clara que adota o método. As formas de se evitar que as aulas sejam interrompidas pela turma ou por ironias, etc são similares, mas foram percebidas algumas incongruências no discurso das profissionais.

Quanto ao controle de tarefas, são anotadas as datas para entrega, recebem, anotam quem entregou e também anotam quem não entregou, colocando na agenda dos alunos.

Algumas vezes são adotados prazos mais elásticos, para dar tempo para os alunos se programar e entregar as atividades solicitadas, participar com comentários do decorrer do prazo e sugerir melhoras. Ficou vaga a questão se isso funciona ou não. Importante salientar que esse tipo de prática é feita pela profissional com menos tempo de magistério.

Alguns profissionais preferem realizar as atividades em sala de aula, de modo a garantir o bom desenvolvimento da atividade e estar sempre próximas para possíveis questionamentos.

Uma questão colocada para as profissionais, é a explicação ao corpo discente sobre a diferença que existe entre autoridade e autoritarismo.

Uma profissional colocou que autoridade é ela, a professora, e

autoritarismo são as ações da comunidade escolar. Outra colocou que a autoridade é aquela que a profissional da educação exerce e que autoritarismo é algo imposto, que vem de fora. Por fim, a terceira profissional pontuou que autoridade é quando o professor sabe qual o seu papel, mas não usa de uma atitude prepotente, sabe usar essa condição como forma de construir um diálogo, com respeito mútuo e aponta também que se quisesse impor as regras combinadas no contrato inicial ou do regimento escolar até poderia, mas ela entende que isso seria uma atitude autoritária.

COLÉGIO ESTADUAL H.

Estabelecimento de ensino localizado no bairro Jardim Botânico, região central de Curitiba, próximo a algumas comunidades carentes, Vila Torres e Jardim Isaura. Possui cerca de 1200 alunos matriculados nas modalidades de ensino Fundamental, Médio e Profissional. O colégio possui cerca de 60 professores atuando em salas de aulas, com clientela bastante heterogênea.

Entrevistados três profissionais, duas mulheres e um homem, respectivamente formação em Letras, vinte e cinco de experiência; formação em história, quinze anos de experiência e formação em Educação Física, e três anos de experiência.

Os profissionais sintetizaram que os professores são ‘’instrutores’’ e ‘’difusores’’ do conhecimento. Procuram deixar claros os métodos de trabalho, as regras da instituição de ensino, e/ou, procuram fazer algum tipo de “contrato” com as turmas.

Afirmam a procura do diálogo com os alunos como forma de evitar os eventos de agressões e desrespeito. Sua reação em casos de agressão física teve um consenso, denotando uma visão global da escola. Assim, o profissional, quando presencia esse tipo de situação encaminha os alunos envolvidos à equipe pedagógica, quando muito, procura acalmar os ânimos, mas não procura tentar nada de novo ou de diferente para resolver o conflito. Nota-se uma obediência às normas estipuladas pelos regimentos internos.

Quando o assunto é diálogo, respeito, discriminação, bulling, a forma de evitar é evidenciada nas próprias aulas, na contextualização destas situações, dentro da disciplina.

Ao serem questionados sobre as formas que os profissionais utilizam para inibir interrupções na sala de aula, que contrariam o que foi acordado com a turma, o diálogo foi colocado como resposta. Outra forma colocada de resolução do problema, foi a brincadeira, com o intuito de se acalmar os ânimos da turma. Uma terceira solução dada foi o uso, além de brincadeiras, de jogos que despertam o lado lúdico dos alunos.

Nota-se nas respostas também divisões de opiniões acerca dos desafios impostos aos profissionais da educação. Como essa atitude é habitual num proposto como avaliação. Outra possibilidade que foi colocada por um profissional, é a valorização daquilo que os alunos fazem, através de exposição em murais do estabelecimento e até mesmo no site da escola. Por fim, uma profissional pontuou que prefere realizar as atividades em sala de aula, onde ela pode controlar a evolução do processo, e, ajudar tirando dúvidas eventuais dos alunos.

DISCUSSÃO

Após a análise das respostas, é possível extrair alguns adjetivos e pontuar o porquê de terem aparecidos:

a) Idealismo: os profissionais enxergam a profissão como um ideal, quase uma vocação, (para alguns é uma vocação). Apesar da pequena qualitativa e quantitativamente, esse tipo de visão é percebida sempre em conversas informais com professores não pesquisados.

b) Contrato: os profissionais fazem uma espécie de “contrato” de convivência com suas turmas, como forma de terem condições de cumprir os conteúdos propostos;

c) Diálogo: palavra recorrente, impossível saber se é prática usual ou apenas para transparecer-se aberto;

d) Pedagogia: situações críticas são sempre pra lá encaminhadas;

e) Contextualização: os profissionais colocaram que procuram contextualizar situações cotidianas, pontuais em seus planos de trabalho;

f) Brincadeiras: em situações de stress leve, como uma conversa durante a aula entre os alunos, ou uma leve discussão, usar de brincadeiras ou de jogos lúdicos foi uma forma apontada para controlar a situação e trazer a turma para o objetivo, que é o conteúdo.

Diante de um universo de mais de 60 profissionais da educação que estão em regência no dia-a-dia, apenas o profissional mais jovem tenta fazer algo diferente ou por conta própria, foi observado que tal procedimento é mais enxergado de forma negativa do que positiva, profissionais mais experientes usam dos recursos formais existentes.

Não houve muitas diferenças entre as respostas entre os profissionais das instituições analisadas. As respostas à questão do que é ser professor, há o idealismo, quanto aos “contratos” de convivência é um traço comum.

CONCLUSÃO

Apesar de haver muitos profissionais dedicados ao seu ofício, na análise geral não foi possível perceber traço em comum que leve a interpretar como uma preocupação com o desenvolvimento da responsabilidade na prática observacional, apesar dos discursos que sim. Não foi observado na prática, de modo geral, uma preocupação em se evitar violência física ou verbal.

Quanto aos “contratos” são marcantes sim, mas esses “contratos” são algo que a grande maioria dos profissionais, não só da educação, nada mais são do que simples acordos de convivência.

Quanto ao diálogo também é princípio básico de convivência, sem conversa nenhum grupo consegue evoluir num sentido de crescimento, seja pessoal, profissional ou intelectual. O desenvolvimento da responsabilidade, é um tema por demais complexo, que embora tenha sido encontrado profissional com essa preocupação, a idade e/ou o tempo de experiência do profissional não permitem que seja usado como modelo.

Finalmente foi concluído após análises observacionais que no início dos anos letivos, tais preocupações são marcantes, mas no decorrer dos mesmos, a responsabilidade no cumprimento de tarefas vai se tornando mais mecanizada do que humanizada, e não somente do corpo discente, mas do corpo docente também.