O violão percussivo na música brasileira

Dr. Stanley Levi (UEMG)

Dr. Stanley Levi

(Universidade do Estado de Minas Gerais)

Stanley Levi é professor da cadeira de violão na UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais (Brasil), já tendo atuado também na UFMG (dpto. de Teoria Geral da Música) e na Unimontes (violão). É doutor em performance musical pela UFMG (Brasil) com estágio na Westfäliche-Willhelms Universität Münster (Alemanha)) com pesquisa sobre recursos percussivos para violão. Sua atuação como pesquisador se centra na performance musical, sobretudo com violão, dialogando com Musicologia, Teoria Musical, Composição e Análise. Compositor e violonista, transita por diversos estilos (do contemporâneo ao de inspiração popular) e artes (trabalhando com teatro, performance e vídeo). No violão, atua como solista e possui trabalhos focados na música do século XXI, sobretudo a latino-americana. Em 2010, ajudou a fundar o Corda Nova, agrupação dedicada à Música Contemporânea; também é membro do Shama Duo, de repertório eclético. Também já desempenhou a função de técnico da área de Música na Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Na UEMG, coordena pesquisas em Performance de Violão e o projeto de extensão AgoraMúsica!. É idealizador e coordenador do SIM! – Simpósio Internacional de Violão UFMG/Unimontes/UFSJ, e do projeto Violões pela Cidade, através do qual já se produziram mais de 100 concertos.

"Escambo (2019-20) 

para violão 

por Sérgio Freire 

A obra pretende explorar os efeitos de uma divisão autoimposta - colocar um capotasto no meio do instrumento - no microambiente de tocar e fazer música com um violão de náilon. O que fazer com esse grande número de trastes à esquerda, tradicionalmente inúteis? E o que fazer com o outro lado, que não tem mais toda a escala do instrumento, ficando apenas com sua região mais difícil de pisar? De um lado, uma escala curta não ressonante com sons microtonais epercussivos, do outro uma pequena harpa com seis cordas temperadas, e a possibilidade de tocar alguns harmônicos. 

O propósito inicial de uma exploração contrapontística contrastante dessas duas regiões, mediada pela percussão no tampo com ambas as mãos, deu lugar a uma série de colaborações decorrentes das limitações vividas por cada lado. Aqui começa o escambo, esse tipo de troca que proporciona vantagens mútuas e diretas para cada um dos envolvidos: frases musicais alternando notas entre os dois lados; expansão da afinação de temperamento igual por meio de microtons; compartilhamento de um ostinato e dos elementos que o decoram; ajuda da mão direita para um lado esquerdo mais fluente; realização de ritmos muito rápidos; exploração de todo o corpo do instrumento em frases rítmicas energéticas. 

O resultado final é nitidamente percussivo, embora as principais características sonoras do violão não tenham sido completamente perdidas. E como costuma acontecer no repertório contemporâneo para percussão, há uma mistura não hierárquica de elementos de diferentes tradições musicais."