Canção do subúrbio *
Cubatas velhas vermelhas
do solo velho vermelho,
e a chuva tamborilando
por cima do zinco velho
e a minha velha lavando
na velha celha cantando
já não há mais folhas secas
sobre o zinco das cubatas,
umas o vento as levou
outras são velhas canoas
sobre as vermelhas lagoas,
que a chuva improvisou
e onde o neto da ximinha
xapinha contente e nu"
Por: Eleutério Sanches -- Angola
https://www.youtube.com/watch?v=r44K_yxgnpI
Eleutério Sanches, igualmente conhecido como artista plástico, assim como o seu irmão Carlos Sanches, são os intérpretes e autores da maioria dos temas do CD “Serenata Luanda, nomeadamente: “Canto híbrido”, “Coração do Pescador”, “Canção do Subúrbio”, “Aiué Mussulo”, “Luanda aiué”, “Serenata a Luanda”, “Anda ver a minha terra”, “Saudade de Luanda” “Luanda é um cafeco”, “Musseque saudade”, “As belas de Sangandombe”, “Mulata é a noite” e “Luanda”, com a colaboração da cantora angolana Milita, que despontou nos anos sessenta em Luanda, assim como essa senhora inesquecível da canção angolana que se chama Sara Chaves, que, neste CD, interpreta a célebre canção “Mulata é a noite”, um tema que a grande Ana Maria Mascarenhas musicou a partir de um bonito poema do saudoso jornalista Adelino Tavares da Silva.
Resumindo, trata-se de uma selecção de temas, em tom de serenata, que corresponde a uma das opções possíveis numa recolha antológica que decorre das últimas cinco décadas, “viajando sons antigos” e “trovando massembas” da Luanda cuja vivência deixou saudades a muita gente, uma nostalgia que as memórias e os afectos, intemporais, continuam a unir.
Albano Silvino Gama de Carvalho das NEVES e SOUSA
(Matosinhos, 1921 – S. Salvador da Baía, Brasil, 1995) – partiu com os seus pais para Angola, em 1924, onde completou o curso liceal. Voltando a Portugal no princípio da década de 1940, a fim de concluir os estudos, formou-se, no Porto, no Curso de Pintura pela Escola Superior de Belas Artes, logo após o que regressou a Angola (Luanda), onde viveu cerca de quatro décadas.
Prelúdio
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...