2.2.4

2.2.4 Astronomia amadora e profissional

 

A busca incansável pelo conhecimento sobre o universo produz, em quase todos os países de nosso pequeno planeta, um grupo de pessoas, que torna a astronomia uma ciência essencialmente diferente das demais: são os astrônomos amadores colaboradores e competentes, formando uma ponte entre os astrônomos profissionais e o público (DYSON, 1992). Ao observarem o céu noturno pela razão da sua afinidade com ele, diversos astrônomos amadores sérios reportam suas descobertas e dados científicos aos órgãos competentes profissionais astronômicos. Conforme Dyson (1992), a astronomia não é uma ciência como a física nuclear ou a bioquímica, disciplinas distantes e muitas vezes incompreensíveis para cidadãos comuns, pois sempre houve espaço na profissão astronômica para amadores sérios contribuírem com suas pesquisas (por exemplo, não há físicos ou biólogos amadores).

Muitos clubes e associações de astronomia amadora, no Brasil, empenham-se em criar e desenvolver o interesse pela astronomia e ciências afins, sobretudo quando raramente são vinculados ou instalados em instituições de ensino superior e de formação de professores (DAMINELI, 2008). Estas associações têm prestado uma valiosa contribuição local para a motivação, popularização e o ensino da astronomia, suprimindo carências específicas nesta área, mesmo que realizado muitas vezes de modo pontual e isolado, a partir de conhecimento do senso comum ou como fruto de leituras autodidatas, geralmente sem apoio formal de instituições de ensino ou de pesquisa (TREVISAN, 2004; BRANDÃO, 2006).

Reconhecemos, no astrônomo amador aficionado, a importância que o mesmo atribui ao saber astronômico, muitas vezes indicada pelos esforços pessoais relacionados com sua formação individual, ou autoformação (GARCIA, 1999). Deste modo, eles, em grande parte, são autodidatas que sentem prazer em compartilhar seus saberes disciplinares com outros interessados, emergindo, muitas vezes, o cuidado que possuem em dominar o conhecimento pedagógico dos conteúdos e com a transposição didática. Embora talvez caiam no descrédito de alguns, justificadamente por não possuírem formação profissional em astronomia, são eles os que, na maioria das ocasiões, representam um elo entre a população e o conhecimento científico, notadamente quando atuam como ‘pontes’ no sentido da divulgação da astronomia durante fenômenos celestes. Assim, apesar de não possuírem formalmente, durante sua trajetória de vida, uma formação institucionalizada na área, a sua autonomia quanto aos saberes do conteúdo a ser ensinado em astronomia, na maioria das vezes, supera a dos professores que precisam trabalhar tais temas em suas aulas.

Outras contribuições dos amadores, mesmo que limitadas, reside no fato de a astronomia ser uma ciência em que estes podem colaborar com dados e informações para a comunidade científica profissional. Os astrônomos profissionais costumam ocupar-se intensamente com trabalhos bem específicos e segmentados da astronomia, sem muitas observações diretas através das oculares de grandes telescópios. Suas pesquisas baseiam-se, principalmente, através de registros eletrônicos nos observatórios internacionalmente consorciados, análises minuciosas de dados, reflexões e desenvolvimento de teorias complexas, etc. Enquanto isso, astrônomos amadores aficionados observam com seus telescópios menores, muitas vezes nos fundos de suas residências, espalhados por todo o globo terrestre, perscrutando o céu noturno ativamente (DYSON, 1992). Por isso, pelo menos dois fatores contribuem para que haja esta modesta contribuição dos amadores: a) eles são em maior número, quando comparado ao dos profissionais; b) seus pequenos instrumentos observacionais favorecem determinados tipos de atividades de exploração que, algumas vezes, complementam as dos profissionais.

Um dos exemplos é a descoberta de uma supernova em uma galáxia externa, em 1979, por um astrônomo amador. Duas outras supernovas foram também descobertas naquele mesmo ano por profissionais. Diversas outras descobertas foram anunciadas e comprovadas por astrônomos amadores do mundo todo (DYSON, 1992). Em nenhuma outra ciência, há a possibilidade de grupos amadores contribuírem com os grupos profissionais.

Outro exemplo atual é um órgão da NASA que aponta a importância do trabalho dos astrônomos amadores, ao monitorar a Lua e os impactos frequentemente sofridos por ela através da ação de meteoróides, afirmando que o grande grupo global de amadores contribui para a pesquisa profissional no sentido de registrar e medir, através de seus telescópios amadores ao redor do mundo, o brilho que os impactos produzem no solo lunar, principalmente em períodos de chuvas de meteoros. O trabalho deles torna-se de especial interesse quando se consideram fatores tais como luz solar, fase lunar e nuvens, como limitantes para as observações dos grandes centros profissionais, tais como o Marshall Space Flight Center (NASA). Desde 2005, cerca de 100 impactos com brilho suficiente para ser visualizado por telescópios amadores foram confirmados por astrônomos deste órgão oficial, que disponibiliza periodicamente, aos amadores, uma lista de prováveis datas para impactos futuros e de eventuais candidatos a serem detectados, demonstrando a parceria global que há entre amadores e profissionais, no ramo da astronomia (PHILLIPS, 2008).

A própria história da astronomia dos séculos passados está repleta de relatos, descobertas, estudos e trabalhos significativos e de grande importância científica, realizados por astrônomos amadores, o que não é o objetivo de nossa fundamentação abordar para o momento.

Apesar da denominação “amador” remeter a uma atividade de “principiante”, ou simplesmente por “amor”, muitos destes astrônomos desenvolvem estudos, coordenam trabalhos de observação e publicam resultados em revistas especializadas (ROMERO, 2007). Assim, tendo em vista a importância e relevância do trabalho contribuinte dos amadores, poderíamos identificar tais astrônomos amadores com uma designação mais apropriada: astrônomos amadores semiprofissionais ou simplesmente astrônomos semiprofissionais. Escolhemos este termo porque dentro do grupo dos amadores como um todo, há aqueles que atribuem à astronomia apenas como um hobby de final de semana. Assim, podemos dividir os astrônomos em três grandes classes: astrônomos profissionais, astrônomos amadores comprometidos (ou astrônomos semiprofissionais), astrônomos amadores hobbystas, sendo que o foco de nosso interesse neste trabalho encaixa-se nos dois primeiros grupos, uma vez que a educação em astronomia poderia envolver uma relação entre professores, alunos interessados e astrônomos semiprofissionais.

Com relação aos astrônomos profissionais, há algumas características que os distinguem dos amadores, segundo Iwaniszewska (1990): eles devem demonstrar uma atitude de seriedade e rigorosidade científica exigida pela academia a fim de obrigatoriamente apresentar resultados que contribuam para o avanço do conhecimento astronômico; eles devem produzir resultados ao longo de um período de tempo determinado; o trabalho deles deve ser conduzido através de métodos e técnicas aceitáveis pela academia; os resultados obtidos devem obrigatoriamente ser comunicados para outros astrônomos. Além disso, a autora reforça a diferença de que um astrônomo profissional pratica a ciência da astronomia por uma necessidade da profissão e de sobrevivência pessoal financeira, enquanto um astrônomo amador a pratica por prazer, e não espera receber monetariamente por seu trabalho, vendo na astronomia, um campo mais amplo, que vai além do fazer ciência.

Qual a relação dos astrônomos amadores com o ensino desta ciência? Segundo Iwaniszewska (1990), em 1988, cerca de 10% dos astrônomos amadores no mundo interessavam-se pela educação em astronomia ou em sua divulgação e popularização. Atualmente, há um aumento da participação de clubes e associações de astronomia na promoção de atividades nesta área que, se não fosse por eles, os profissionais dificilmente se envolveriam com isso: divulgar a astronomia por informar à população sobre a aproximação de cometas ou outros fenômenos especiais astronômicos fazendo uso da mídia, tal como o jornal local e a televisão; fotografar corpos celestes; organizar exposições, leituras coletivas e cursos especiais; publicação de boletins, livros, mapas estelares e revistas com informações astronômicas; etc. Tais instituições amadoras constituem-se, para a região em que se encontram (ou para o país), em um núcleo de atividades educacionais em astronomia, desempenhando um importante papel na educação e divulgação pública para a cultura científica (IWANISZEWSKA, 1990). Normalmente, astrônomos profissionais não convidam professores de escolas de ensino fundamental e médio, e nem o público, para seus eventos e encontros, embora, no Brasil, a Comissão de Ensino da Sociedade Astronômica Brasileira (CESAB) tem convidado professores para mini-cursos em suas reuniões anuais. E diferentemente dos observatórios astronômicos profissionais, as associações de astronomia amadora, que desenvolvem um trabalho comprometido com o rigor científico de coleta de dados, abrem suas portas com maior freqüência para quaisquer interessados, desde professores até o público em geral, como têm mostrado os encontros de astronomia (ENAST) no Brasil.

Em nosso país, segundo Trevisan (2004), a astronomia amadora não-hobbysta (a classe dos astrônomos semiprofissionais, como decidimos denominá-los), alicerça-se em dois nomes históricos que se destacam na observação astronômica e em sua contribuição na divulgação da astronomia mediante seu apoio e manutenção de clubes de astronomia, observatórios, e a publicação de livros: Jean Nicolini e Nelson Travnik. Além destes comprometidos astrônomos amadores, Trevisan (2004) cita também os vários trabalhos de divulgação do astrônomo profissional Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, que produziram um impacto profundo na atuação dos amadores pioneiros brasileiros. Os trabalhos que todos eles desenvolveram resultou no surgimento de muitos dos atuais observadores e astrônomos amadores, que hoje desenvolvem observações astronômicas de qualidade, contribuindo seriamente com dados para pesquisadores profissionais. Segundo Trevisan (2004), a astronomia amadora brasileira se desenvolveu a partir de trabalhos feitos solitariamente, por abnegados observadores, autodidatas, que não tinham acesso à uma ampla literatura – facilidade atualmente ao alcance de muitos. Diversos deles não tinham condições de adquirir equipamentos, porém, não permitiram que isso os tirasse o prazer de observar mais a fundo o céu, pois muitos deles construíram seus próprios instrumentos. Atualmente, no Brasil, são poucas dezenas de construtores amadores de telescópios (ATM – Amateur Telescope Making, como normalmente são conhecidos mundialmente), que fabricam e comercializam este instrumento de pequeno e médio porte com qualidade óptico-mecânica compatível ou superior a muitos fabricantes internacionais (em Bauru, um destes poucos construtores de telescópios, Lionel José Andriatto, contribui com seus trabalhos para um projeto de Extensão Universitária, coordenado pela Profa. Dra. Rosa Maria Fernandes Scalvi, financiado pela Fundação para o Desenvolvimento da UNESP (Fundunesp), que, desde 2003, envolve a construção artesanal de telescópios com ações de popularização e ensino, bem como de interdisciplinaridade com o curso de Licenciatura em Física. As ações culminaram com a implantação de um Observatório Didático Astronômico, em 2006, nas dependências do IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas da UNESP), através de um projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); atualmente, ampliações estão em andamento).

Uma vez que não há empresas nacionais especializadas em fabricação de telescópios destas dimensões, todos os telescópios existentes em território brasileiro foram importados ou produzidos artesanalmente (com uma grade diferença entre seus valores de aquisição).

Com o tempo, este interesse pela astronomia fez com que clubes e associações de astronomia, compostos basicamente por amadores, fossem fundados no Brasil, mas, conforme Trevisan (2004), o seu embasamento teórico e instrumental era escasso, o que normalmente ocorre até hoje. O autor também destaca os esforços em prol da divulgação astronômica através dos encontros nacionais de astronomia (ENAST), assim como o trabalho desenvolvido pela SEAOP de Ouro Preto/MG no aperfeiçoamento da formação de professores e entusiastas da astronomia. Mas, segundo Trevisan (2004), isto nunca foi suficiente, e sugere que uma mudança radical no ensino básico talvez contribua para o surgimento de mais interessados em astronomia.

Ao passo que a quantidade de interessados em estudar astronomia informalmente aumentava no Brasil desde os primeiros nomes de destaques acima mencionados, mais trabalhos de observação astronômica eram realizados por todo o país, mas de modo pontual, pulverizado, individualmente, ou através de clubes e associações de astrônomos amadores. Porém, segundo Trevisan (2004), isto não garantia o crescimento deste grupo, uma vez que a troca de informações e idéias entre todos os interessados não ocorria de modo sistematizado ou freqüente, pelo fato de muitos dos astrônomos amadores não se conhecerem. Assim, uma sistematização nacional dos trabalhos observacionais por astrônomos amadores aconteceu com a fundação da REA (Rede de Astronomia Observacional) em 10 de janeiro de 1988, por um grupo de astrônomos amadores interessados em trabalhos de natureza exclusivamente observacional em astronomia, e visando a utilização dos dados obtidos em pesquisas e trabalhos de cunho científico (TREVISAN, 2004).

Atuando em um papel que ultrapassa as funções de um clube hobbysta de astronomia, a REA constitui-se como uma rede informal e virtual de observação astronômica amadora, comprometida com o rigor de coleta de dados, formada por observadores espalhados em todo o território nacional, países sul-americanos e de língua espanhola e portuguesa, realizando observações programadas e registros de forma sistemática e padronizada, a fim de que suas investigações possam vir a ser utilizadas como base de dados para trabalhos de natureza científica. Conforme Trevisan (2004), desde a sua fundação até fins de 1998, a REA havia desenvolvido 232 projetos observacionais e realizado cerca de 22.400 observações nos diversos campos da astronomia observacional. A maioria de seus membros é associada a outros clubes de astronomia, a observatórios profissionais, particulares, públicos, planetários e outras instituições.

Apesar de o trabalho ser realizado individualmente e pelo prazer de observar o céu, sem prazos e horários a serem cumpridos em órgãos profissionais, as técnicas e a metodologia das observações do amador associado são padronizadas pela REA, de forma compatível com aquelas praticadas por entidades internacionais da área, a fim de serem utilizados como base de dados. Os principais trabalhos da REA estão disponíveis ao público e constam de noticias e resultados de observações realizadas, alertas observacionais sobre fenômenos de interesse, artigos e reduções efetuadas pelos membros da REA, astrofotografias, além de dados estatísticos e links para os principais sites astronômicos amadores e profissionais, no Brasil e no exterior (estes dados e informações podem ser acessados em: http://www.rea-brasil.org). Os campos de atuação e de interesse astronômico da REA, atualmente, são: estrelas variáveis, planetas inferiores, SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence, em português Busca por Inteligência Extraterrestre), Marte, Sol, cometas, asteróides, planetas jovianos, astrofotografia, eclipses, espectroscopia, fotometria CCD e ocultações.

A divulgação dos resultados e registros fotográficos obtidos por associados da REA têm sido materializada através da publicação em revistas especializadas no Brasil e no exterior. As observações astronômicas registradas pelos membros da REA são enviadas a centros astronômicos profissionais internacionais, mantendo relações com diversos astrônomos profissionais do Brasil e de outros países. Aliás, segundo Trevisan (2004), a interação entre amadores e profissionais em astronomia é uma tendência mundial, cujo objetivo principal é fornecer dados que, se obtidos de forma sistemática, possam contribuir para trabalhos de pesquisa da comunidade cientifica.

Um dos exemplos brasileiros desta importante relação amadores-profissionais é o conjunto de descobertas que têm sido efetuadas no campo das supernovas. Somam-se, desde 13 de junho de 2004 até a redação deste texto, um total de 15 supernovas descobertas por astrônomos amadores, membros da REA, através de um programa automatizado de busca de supernovas, denominado BRASS (Brazilian Supernovae Search), em vigor desde 2001, contando com a parceria do CEAMIG (Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais). Alguns fatores motivaram a elaboração deste projeto: a deficiência de descobertas de supernovas nas declinações austrais (até fins de 2000, somavam-se, em todo o mundo, 23 grupos, amadores ou profissionais, dedicados à busca de supernovas, sendo que destes, apenas cinco encontravam-se no hemisfério sul); e a possibilidade de um trabalho conjunto e harmonioso entre as comunidades profissional e amadora (BRASS, 2008). Além deste trabalho com supernovas, o grupo destaca-se pela robotização brasileira de observatórios e pela descoberta de 13 asteróides e três estrelas variáveis, além de colaborar com a IAU em diversos programas de astrometria de NEOs (Near Earth Objects), asteróides e cometas.

Outro exemplo é a descoberta de um cometa (denominado provisoriamente de C/2002Y1) através dos trabalhos de um dos membros da REA em conjunto com um norte-americano, na noite de 28 de dezembro de 2002. Através das entidades subordinadas à IAU (Central Bureau for Astronomical Telegrams, International Comet Quartely e Minor Planet Center), o cometa passou a se chamar Juels-Holvorcem, como normalmente ocorre em homenagem aos seus descobridores. O diferencial é que este cometa leva o nome de um brasileiro (Paulo Holvorcem). Atualmente, há um grupo de observadores visuais de cometas no Brasil, dedicando algumas horas para encontrar direta e indiretamente os cometas (REA, 2008). Em relação aos cometas, embora existam mundialmente centenas de profissionais neste campo observacional, são os astrônomos amadores que, historicamente, fazem a maior parte das descobertas (ROMERO, 2007).

Segundo Juste (2008), muitos astrônomos profissionais concordam sobre a importância da parceria com os astrônomos amadores semiprofissionais, porque procuram cobrir algumas lacunas de observação deixados pelos grandes telescópios, complementando os trabalhos dos observatórios profissionais. A título de exemplo, um astrônomo amador brasileiro colaborou com um astrônomo profissional espanhol, da Universidade do País Basco, com estudos sobre a atmosfera de Júpiter, divulgando seus trabalhos na revista Nature (SÁNCHEZ-LAVEGA, 2007).

Diante destes exemplos de cooperações entre a comunidade amadora e a comunidade científica no ramo da astronomia, além das experiências internacionais mencionadas anteriormente, apontamos para a necessidade de trilhar caminhos para o aproveitamento do potencial, em nosso país, de todos os grupos e entidades envolvidas com astronomia, fomentando a criação de mais associações amadoras desta natureza, inclusive no âmbito escolar, por professores de ciências e física (TREVISAN e LATTARI, 2000).

Quanto à comunidade científica, composta pelos astrônomos profissionais brasileiros, tem apresentado um destacado crescimento a partir de 1974, segundo Viegas (1998), embora alguma atividade astronômica fosse realizada no país anteriormente (clique aqui para uma breve consideração histórica da astronomia no Brasil, ou consulte Langhi e Nardi (2009), ou a homepage do Observatório Didático Astronômico UNESP/Bauru). Mas, este mesmo ano, torna-se um marco especial devido ao estabelecimento da pós-graduação em astronomia, e a fundação da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), pela comunidade de astrônomos profissionais brasileiros, que têm promovido, desde então, reuniões anuais. Cerca de metade (46%) dos astrônomos titulados em atividade no país encontram-se locados no Instituto Astronômico e Geofísico (IAG/USP), no Observatório Nacional (ON/MCT), no Rio de Janeiro, e no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCT). As demais instituições que abrigam astrônomos profissionais formados e em formação são, segundo Steiner (2009), em ordem decrescente de número de alocações:

UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/MCT), Unifei (Universidade Federal de Itajubá), LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica/MCT), Univap (Universidade do Vale do Paraíba), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), UPM (Universidade Presbiteriana Mackenzie), UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Unipampa (Universidade Federal do Pampa), UERN (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte), UnB (Universidade de Brasília), UEL (Universidade Estadual de Londrina, UFPR (Universidade Federal do Paraná), UFABC (Universidade Federal do ABC), CTA (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial/MD), Unochapecó (Universidade Comunitária Regional de Chapecó), UFPel (Universidade Federal de Pelotas), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), UCS (Universidade de Caxias do Sul), UFF (Universidade Federal Fluminense), Uninove (Universidade 9 de Julho), Unirio (Universidade do Rio de Janeiro), Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), UFJF (Universidade Federal de Juíz de Fora), UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Cefet-SP (Centro Federal de Ensino Tecnológico de São Paulo), UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), FSA (Centro Universitário Fundação Santo André).

Normalmente, a política nacional adotada para a formação deste pessoal consiste em fornecer uma formação básica, mestrado e doutoramento, e posteriormente enviá-los a centros de pesquisa no exterior para complementar a sua formação acadêmica e de investigação científica. Segundo Steiner (2009), existem hoje 234 doutores empregados em 40 instituições, além de 60 pós-doutores, formando-se cerca de 30 mestres e 25 doutores por ano, nos 12 programas de doutorado e 17 programas de mestrado no Brasil. Atualmente, a formação de mestres e doutores no país está concentrada no IAG/USP, ON, INPE, UFRGS, UFMG, UFRJ, UFRN e em outras instituições federais de ensino e pesquisa no país. Quase todos os doutores em astronomia existentes no Brasil tiveram a oportunidade de estagiar durante pelo menos dois anos em observatórios europeus ou americanos (SAB, 2008).

A situação atual da pesquisa brasileira no campo da astronomia se resume, segundo Viegas (1998), como prioridade na astronomia óptica, enquanto Lépine (1998) identifica como ponto fraco nacional a área da radioastronomia. De fato, Steiner (2009) contabiliza que a maior parte dos artigos científicos publicados em 2008 são da área de astronomia estelar óptica e infravermelha (30%), cosmologia teórica (17%) e astronomia extragaláctica óptica e infravermelha (13%).

O mercado de trabalho para a profissão astrônomo, no Brasil, restringe-se principalmente ao setor público nas universidades, entidades de pesquisa e observatórios profissionais, onde podem trabalhar como pesquisadores ou professores, na maioria das vezes, selecionados através de concursos públicos. Mas Oliveira (2007) mostra que, além das áreas de pesquisa e docência, o profissional formado em astronomia possui campo aberto para exercer atividades em divulgação científica em ambientes tais como museus de ciências, observatórios didáticos e planetários. Há ainda um pequeno, mas crescente, campo na área aeroespacial, cuja formação específica abrange também outras áreas, não somente a astronomia.

Comentando a carreira que o aluno formado em astronomia opta por trilhar, Arany-Prado (2001) mostra, numa pesquisa que usou como amostra os alunos formados entre 1967 a 1991 no curso de graduação de astronomia do Observatório do Valongo, que aproximadamente 63% deles seguiram o mercado de trabalho em astronomia e áreas correlatas e em atividades de pós-graduação. Dos que seguiram carreira somente em astronomia, a maioria foi contratada por instituições vinculadas à pesquisa astronômica, mas uma minoria foi aproveitada para a divulgação em astronomia no país, sendo que tal aproveitamento só começa a aparecer modestamente por volta de 1977 (ARANY-PRADO, 2001) e se mantém constante até 2001.

Isto reflete especialmente na necessidade de docentes em cursos de graduação que contemplam conteúdos de astronomia. Por exemplo, pesquisando os cursos nas instituições de ensino superior brasileiras com suas disciplinas que contemplam conteúdos de astronomia introdutória, Bretones e Compiani (2001) mostram que a formação dos formadores destas disciplinas é predominantemente em física, sendo cerca de 53% deles doutores, 26% mestres, e os demais com graduação e especialização.

Apesar desta situação, Arany-Prado (2001) previu um aumento geral da procura de carreiras em astronomia, devido ao incremento de atividades de divulgação científica nos últimos anos junto ao público em geral e aos alunos do ensino fundamental e médio, comentando que a expansão da pesquisa brasileira em astronomia tem acompanhado o crescimento da divulgação e ensino da mesma.

Para ingressar nesta carreira, cursos de graduação em astronomia ou em física com habilitação em astronomia são os requisitos iniciais. O profissional de astronomia participa ativamente do mercado de trabalho após obter o doutorado (pós-graduação stricto sensu), e durante os últimos anos da graduação e durante a pós-graduação, a grande maioria dos estudantes trabalha mediante o recebimento de bolsas das agências financiadoras.

Segundo Oliveira Filho (2008), no Brasil, a maioria dos pesquisadores em astronomia e astrofísica cursou um bacharelado em física seguido de uma pós-graduação (mestrado e doutorado) em astronomia, sendo que um profissional de astronomia só entra realmente no mercado de trabalho após obter o doutorado. Durante os últimos anos da graduação e durante a pós-graduação, a maior parte dos estudantes recebe bolsa das agências financiadoras brasileiras.

 

Este texto é parte integrante da tese de doutoramento:

LANGHI, R. Astronomia nos anos iniciais do ensino fundamental: repensando a formação de professores. 2009. 370 f. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2009.