Presença de Palco

por Bohumil Med

Concerto é um espetáculo em que se executam obras musicais" (Aurélio). Concerto realizado em locais apropriados, como salas de concerto, teatros ou auditórios, é o acontecimento no qual o artista a presenta o resultado de seu trabalho para espectadores ávidos por prazeres musicais. O artista se prepara anos e anos para conseguir transmitir, com técnica e sensibilidade, as idéias musicais codificadas em partituras elaboradas por compositores que também estudaram anos e anos para formular e codificar suas melodias, ritmos e harmonias. De outra parte, a maioria do público possui experiência acumulada de outros concertos a que assistiu. Desse conjunto de fatores, que envolve ambiente, público e artistas, surgem as condições que determinam a magnificência ou não do espetáculo musical.

Traje impróprio e comportamento inadequado são dois aspectos que podem prejudicar a concentração do público e reduzir o efeito de uma execução. O bom músico sabe que não basta tocar bem: precisa também representar o papel de artista.

Nos concertos de gala, o traje obrigatório para homens é fraque ou smoking; para mulheres, vestido longo. Cuidado maior exigem os concertos menos formais, em que existe mais liberdade na escolha do traje. O homem que sobe ao palco calçando tênis ou chinelo e vestindo bermuda ou camiseta provavelmente vai criar certa antipatia no público, sobretudo se as pessoas estiverem bem trajadas.

Da mesma forma, a mulher não deve desviar a atenção do público para seus dotes corporais. Grandes decotes e saias apertadas, às vezes abertas do lado, podem fazer com que o foco de interesse se afaste execução musical. O traje do artista deve ser sóbrio e discreto, compatível com o ambiente, o horário e o tipo de público. Para concerto educativo numa escola, à tarde, certamente o traje não fraque nem roupa de praia.

O aspecto comportamento também exige atenção. Muitas vezes, o público começa a ter contato auditivo com o artista quando ele, nos momentos que antecedem o espetáculo, aquece o instrumento nas proximidades do palco, com escalas, acordes e passagens difíceis da obra a ser apresentada. Nem sempre o público aprecia essa introdução. O primeiro contato visual do público com o solista ocorre quando ele entra no palco. O modo como o músico se apresenta tem influência positiva ou negativa na platéia e varia de artista para artista. Alguns entram quase correndo e começam logo atacar. Outros, ao contrário, entram devagar, majestosamente, cumprimentam o pianista ou o conjunto que o acompanhará, saúdam demoradamente o público, que em geral retribui com aplausos. Depois, verificam a afinação do instrumento, a posição e a altura da estante de partitura, a posição do microfone (se houver), experimentam a cadeira, ajustam a altura do banco do piano, tiram o suor da testa com o lenço branco e finalmente começam a tocar. Artistas há que entram no palco com medo, consciência pesada ou sentimento de culpa. Cumprimentam o público vagarosamente, como se pedissem antecipadas desculpas pelo que vai acontecer quando começarem a tocar. Um virador de página no palco, se necessário, não deve tentar atrair para si a atenção do público, seja por sua aparência, seja por seu comportamento indiscreto.

Durante a apresentação, o comportamento dos executantes varia. Alguns permitem que seus sentimentos aflorem: sorriem, choram, respiram fundo, balançam o corpo ao ritmo da música e nem percebem a presença do público. Outros aparentam extremo e parecem criar a expectativa de que vão desmaiar a quer momento. As caretas que denuciam notas erradas e/ou passagens mal-executadas levam todos, artistas e público, a torcer para que a execução termine logo.

Restam ainda os impassíveis, que entram despreocupados, tocam de qualquer jeito, mas absolutamente à vontade, e enganam o público com uma postura de "estou acima da crítica".

O hábito de bater o pé para marcar o compasso da música pode incomodar o público tanto auditiva como visualmente. Quando chegamos a ouvir as batidas de pé, elas se transformam em acréscimo de um instrumento de percussão à partitura original. O aspecto visual também pode perturbar, sobretudo quando o movimento do pé es em desacordo com a música. Pior ainda é quando, num conjunto câmara ou numa orquestra, cada um bate o pé no próprio tempo denunciando assim as divergências rítmicas na execução.

Aplausos traduzem o reconhecimento do público ao artista pelo esforço e qualidade de seu desempenho. O artista deve aprender induzir o público a aplaudir. Tocando bem ou mal, a última impressão que ica é a intensidade e a duração dos aplausos. Artistas que cumprimenta o público com timidez ou com expressão de culpa, no fim da peça do concerto, dificilmente conseguirá aplausos frenéticos. Artista que foge do palco logo depois da última nota também não deve esperar aplausos prolongados. De forma equivocada, algumas solistas aproveitam o momento da inclinação do corpo em direção ao público para mostrar atributos físicos revelados por decotes generosos e, dessa maneira, procuram aumentar a admiração parte do público masculino.

Quando o aplauso é prolongado, o artista costuma voltar ao palco para novo agradecimento. Nessas ocasiões, pode brindar o público com um bis, quase sempre uma peça curta e de efeito. A quantidade do bis não deve passar de três, para não se transformar numa extensão desproporcional e cansativa do concerto. O número de retornos ao palco deve também ter limite. Alguns artistas se gabam de terem voltado ao palco cerca de 20 vezes ou de terem sido aplaudidos durante 15 minutos ou mais.

Em seguida, o maestro cumprimenta os músicos, apertando a mão do spala, que representa a orquestra. Conforme a atitude de ambos, pode-se perceber qual é o relacionamento do maestro com a orquestra. Aperto de mão cordial e afetuoso, abraço ou beijo podem denunciar um bom relacionamento. Em alguns casos, porém, o bom relacionamento do maestro é com o spala e não com a orquestra. Durante a execução, alguns maestro cantam as melodias principais junto com os instrumentos, às vezes mais forte do que o próprio instrumento. Outros têm o costume de bater o pé no n chão ou a mão no peito, pular, dançar fazer coreografias, esconder-se atrás da estante, reger para o público em vez de coordenar a orquestra.

O erro de um músico durante um concerto não confere ao maestro o direito de xingá-Io em voz alta, jogar a batuta ou partitura em cima do infeliz nem ou atitudes agressivas.

O bom regente não precisa de atitudes exóticas. Basta, por meio da regência transmitir aos músicos a sua idéia ' sobre a interpretação. Gestos simples e comportamento sóbrio quase sempre produzem melhores efeitos do que os obtidos pelos regentes exagerados.

Na hora dos aplausos, a estrela é o maestro. Agradece ao público expressão de herói vitorioso ou com falsa modéstia. Se o concerto bem-sucedido, o mérito naturalmente é dele. Se não, a culpa é da orquestra.

Os músicos de orquestra às vezes também exibem comportam censurável no palco. Admite-se uma discreta troca de comentários entre eles nos intervalos das peças, mas não durante a execução. Ao longo do concerto, é inconveniente o músico paquerar pessoas da platéia, discutir ou brigar com o colega, manifestar sua aprovação (ou não) à interpretação de um solo instrumental no meio da música. A postura com pernas cruzadas é pecado capital. O músico deve evitar, a todo custo, cochilar no palco, mesmo nas obras com muitas pausas para seu instrumento. Também não fica elegante mascar chiclete. Guardar o estojo do Instrumento embaixo da cadeira não é estético.

A prática de começar a desmontar e limpar o instrumento ainda no palco, logo após a última nota e ainda durante os aplausos da platéia, é antipática. A saída do palco não deve lembrar a corrida de passageiros a para pegar um ônibus superlotado.

Coralistas, especialmente os amadores e semiprofissionais, não devem aproveitar a presença no palco para acenar para conhecidos na platéia ou conversar com vizinhos. Também devem evitar fazer barulho excessivo ao virar as páginas da partitura (o nome técnico é ''parte", e não ''partitura''), sobretudo em momentos de pianíssimo ou de solo do cantor ou de algum instrumento. Recomenda-se também não cantar da muito mais forte do que os demais. Além de chamar a atenção para sua pessoa, desequilibra o conjunto. O uso de jóias reluzentes é até tolerável para as solistas (particularmente as bem idosas), mas não para as coralistas.

Nos shows de música popular, especialmente de rock, não existem regras. Vale quase tudo: alguns artistas quebram de propósito seus instrumentos no fim do espetáculo (em alguns casos, deveriam quebrar antes e nem se apresentar); outros fazem gestos obscenos. É um mundo diferente, em que o público muitas vezes aprecia mais a excentricidade do artista do que propriamente a música. Há, porém, outros shows de música popular que têm ritual elaborado até o último detalhe e requinte de um espetáculo ao estilo hollywoodiano. Alguns artistas têm o condenável hábito de começar a apresentação com grande atraso. Além de demonstrar falta de respeito, isso muitas vezes provoca reações negativas do público, culminando, em casos extremos, com a destruição das instalações.

Finalmente, deve-se frisar que o comportamento do artista é muito importante e pode influenciar positiva ou negativamente o resultado de uma apresentação. Além de tocar bem, o músico precisa representar bem. Vida de músico não é fácil ! Tem que ser artista !

Autor: Bohumil Med

Extraído do livro Vida de Músico Não é Fácil, Abril de 2004.

Link da postagem onde encontramos este artigo:

http://www.livrariamusimed.com.br/curiosidades.php

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