Memorização

Por Marcos Kiehl

É muito importante e muito bom estimular a memorização musical. Quando tocamos “de memória” estamos realizando uma tarefa que está num nível de consciência muito mais profundo e com isso teremos menos chances de cometer erros e conseguimos resultados musicais também superiores. 

Algumas pessoas têm naturalmente mais facilidade que outras para decorar, mas muitas vezes é apenas uma falta de hábito e estímulo que está faltando. Existem também casos de pessoas que mesmo tocando muito bem, ainda assim tem enorme dificuldade em  memorizar e de se apresentar satisfatoriamente e com segurança tocando de memória.

Já outras pessoas, como meu ex-professor, Ransom Wilson, por exemplo, tem muita facilidade para memorizar. Ransom Wilson sabia quase tudo de memória, até mesmo os estudos de Andersen, Taffanel, Boehm...o problema é que ele exigia que nós, seus alunos, também tocássemos de memória nas aulas. Tínhamos que memorizar em pouco tempo e apresentar nas aulas, e não dava para argumentar com ele que era muito difícil porque ele pegava a flauta e tocava o que você estivesse estudando de memória na mesma hora. O mais impressionante é que ele não memorizava só as notas, ele sabia também tudo o que estava escrito na partitura, como indicações de dinâmica, expressões, andamentos, etc.

Para ajudar a memorizar mais rápido, desenvolvi algum métodos:

- É importante forçar a memória tentando cada vez mais tocar sem a parte. Feche a partitura o quanto antes e tente tocar, quando não souber ou se perder, abra a parte e verifique onde ou porque errou.

- Vá se afastando aos poucos da estante de música para que você tenha uma visão cada vez mais geral da partitura, de forma que cada vez menos consiga ler nota por nota. Isso ajuda a criar uma imagem fotográfica da partitura e possibilita que você possa seguir estas imagens quando estiver tocando de memória. Memória fotográfica!

- Faça anotações que ajudem na memorização, por exemplo: quando uma mesma frase se repete, anote e memorize quantas vezes ela se repete (2 ou 3 vezes por exemplo), se há alguma inversão ou alteração, uma vez em maior outra em menor, etc.

- Anote as tonalidades principais da música e as modulações para ter uma boa idéia da estrutura harmônica da música. Na "forma sonata" (você conhece a estrutura da forma sonata?), por exemplo, você tem a recapitulação, que é quando os temas do início aparecem novamente no final da música, às vezes com alguma alteração, sobretudo na tonalidade que deve conduzir para a tônica e não para o dominante como da primeira vez (exposição). Neste caso anote onde exatamente há esta alteração na melodia para que não se confunda quando estiver tocando (exemplo: conc. em sol de Mozart: compare os compassos 46 com 164 no 1º mov.).

- Quando houver pausas longas na música, preste atenção em qual foi a última nota tocada antes da pausa para o "tutti" da orquestra, e qual a próxima nota que você terá que tocar. Por exemplo: no concerto em sol de Mozart, muitas vezes será a mesma nota: final da exposição: ré, início da recapitulação: ré também. Tudo isso contribui para a uma memorização mais rápida e segura.

 Marcos Kiehl 

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