AZULEJO TRADICIONAL MANUAL

Hospital Sº António dos Capuchos Hospital de Arroios Hospital de Santa Marta

O BRILHO DO AZULEJO PORTUGUÊS

O AZULEJO MANUAL E AS CORES TRADICIONAIS DO ANTIGAMENTE

MANUFACTURA

Dos barros e interação do fogo com os vidrados e pigmentos, aos azuis e verdes de cobalto,morados de manganês...

AS ARGILAS são quimicamente misturas heterogéneas de silicatos de alumínio hidratado contendo impurezas tais como: sílica em excesso, óxidos de ferro, titânio, cálcio, magnésio, sódio, potássio e, algumas vezes, manganésio, estrôncio e matérias orgânicas. Os óxidos coram diversamente as argilas dando origem a uma grande variedade, com propriedades especiais. As argilas são tanto mais puras quanto mais a cor se aproxima do branco (caulino).

As pastas para os nossos azulejos são adquiridas no mercado da especialidade, já amassadas e prontas a serem trabalhadas. Por isso a sua escolha revela-se de estrema importância, porque as suas características físicas e propriedades térmicas, reflectem-se na qualidade final do azulejo, quer a nível de cor, como do coeficiente de dilatação, com reflexos futuros na compatibilidade com vidrado.

Na imagem, amostras de pastas cruas e azulejos enchacotados das diversas pastas.

EXECUÇÃO DA LASTRA Depois de escolhida a pasta ideal, passamos à execução da lastra que consiste, com a ajuda de um rolo grande (tipo rolo da massa), estender o barro entre duas réguas de madeira que servem para controlar a espessura pretendida para o azulejo (1 cm), por baixo coloca-se previamente arreia para que o barro não apegue à mesa. A lastra fica pronta e com a espessura desejada, quando o rolo assentar totalmente nas réguas. Um rolo grande (tipo rolo da massa), estender o barro entre duas réguas de madeira que servem para controlar a espessura pretendida para o azulejo (1 cm), por baixo coloca-se previamente arreia para que o barro não apegue à mesa. A lastra fica pronta e com a espessura desejada, quando o rolo assentar totalmente nas réguas.

(1)- Para o corte do azulejo (14x14cm) é utilizado um molde de corte de madeira ou chapa com 15 cm de lado e com uma faca corta-se o azulejo que durante o seu processo de secagem irá contrair-se à volta de 7 % ficando no final com os seus tradicionais 14x14cm. Após o corte empilham-se dois a dois face com face, e dá-se início ao processo de secagem.

(2)-o processo de secagem é muito importante uma vez que devido à perda inicial da humidade nas bordas os azulejos têm uma tendência para empenar. Para evitar estes empenamentos empilham-se os azulejos e sobre estas pilhas coloca-se um peso. Devem secar lentamente num local onde não sofram grandes variações térmicas. A secagem demora entre 1 a 2 meses, consoante as condições climatéricas, até estarem prontos para a primeira cozedura.

(3) – Para a 1ª queima os azulejos têm que estar realmente secos, porque a existência de humidade pode provocar muitas quebras. Os azulejos são colocados em gasetes refractárias para que o ar circule bem em sua volta e assim reduzir o número de quebras. A queima é lenta até atingir os 700º, sendo a temperatura final de 1040º e demora à volta de 12 horas a atingir. O arrefecimento deve ser lento, podendo demorar mais de 15 horas

O VIDRADO E A VIDRAGEM

O vidrado cerâmico é uma mistura complexa de vários óxidos ligados sob a forma de um silicato, quimicamente é um sal do ácido silícico. O vidrado aqui utilizado nos azulejos é basicamente composto por um vidrado incolor (sílica, alumínio, chumbo, sódio, zinco e potássio), opacificado com estanho (7%) e ao qual é ainda adicionado feldspato e caulino (5%). Uma das propriedades importantes do vidrado é o seu coeficiente de dilatação que convém ser inferior ao da pasta, para que se previne o aparecimento de defeitos como o “craquelê” (vidrado fendilhado).

Após a pesagem de todas as matérias-primas (previamente moídas), mistura-se em água numa proporção e densidade que varia consoante o poder de absorção da chacota. Depois de preparado o vidrado, este deve repousar alguns dias antes de ser aplicado, para evitar o aparecimento do defeito das bolhas de ar (na superfície do vidrado).

A vidragem dos azulejos pode ser executada por banho de cortina ou imersão, que corresponde à que é aqui utilizada. Este processo consiste em deslizar com o lado do azulejo a vidrar sobre o vidrado de modo que não contamine o outro lado (o tardoz). Depois de alguns segundos está seco, devendo-se limpar os excessos de vidrado das zonas laterais e tardoz, para evitar aquando da cozedura do vidrado, os azulejos se apeguem às gasetes. Após a limpeza, os azulejos são colocados sobre o taipal (superfície inclinada aproximadamente 70graus) para a execução da pintura, depois de decidido o desenho a pintar e as cores a utilizar.

O desenho é normalmente executado sobre papel vegetal, o qual é picotado sobre uma superfície macia com uma “agulha”, após esta operação coloca-se o desenho sobre os azulejos e por cima deste passa-se com uma “boneca de carvão” (pó de carvão embrulhado num pedaço de pano), e o contorno picotado do desenho ficará registado sobre os azulejos.

Após a vidragem, a definição do desenho e a escolha das tintas, passa-se à pintura (sobre vidrado cru), a qual deve ser concisa e objectiva porque o azulejo não permite muitas rectificações. Na pintura sobre vidrado cru é semelhante a pintar sobre mata-borrão (superfície muito absorvente), pois a água da tinta é absorvida automaticamente, tornando relativamente difícil a pintura sobre azulejos.

Pintura de Painel de Azulejos tradicional com oxido de cobalto (João Moreira)

Resultado após a 2ª Queima a 1090º, do painel em execuçao na foto anterior

As tintas que utilizo no azulejo manual tradicional e no restauro de azulejos, são constituídas basicamente por óxidos, carbonatos e cromatos de vários metais. As cores da maioria destas tintas, mudam totalmente de cor após a cozedura do vidrado e respectiva pintura (como as imagens superiores ilustram)

COBALTO (OCO, O3Co2, O4Co3), – são pós insolúveis em água dos quais se obtêm os belos azuis cobalto da azulejaria portuguesa. O tom do azul depende da mistura com outros óxidos colorantes. Por exemplo, o óxido de cobalto misturado com titânio dá tons de verde.

MANGANÊS (O2Mn-pirolusite, Mn(O3Mn)-psilomelânio, CO3Mn-rodocrosite, SiO3Mn-rodonite)- do manganésio obtém-se as tonalidades castanhas, dourados, púrpuras e avermelhados, dependendo muito do vidrado base e da sua mistura com outros óxidos.

COBRE (OCu2-cuprite, OCu, CO3Cu(OH)2Cu-malaquite),- com o cobre consegue-se tons de verde.

CROMIO (O3Cr2, CrO4Pb-crocoíte, (CrO4) 3Fe2-cromite), – A sua designação provém do grego chroma, que significa cor, por formar produtos ricos em cores. Do óxido crómico obtêm-se vários tipos de verde-esmeralda, podendo também obter-se tons avermelhados e amarelos, isto dependendo do vidrado base e a temperatura final da queima. Do cromato de chumbo consegue-se tons cremes, amarelos e avermelhados, consoante o vidrado e a temperatura.

ANTIMONIATO DE CHUMBO (Sb2O6Pb), – Dá amarelos e é conhecido por amarelo de Nápoles.FERRO (O3Fe2-Hematite), – O óxido férrico também é conhecido por mínio férrico ou vermelho inglês, dá dourados e altera as cores dos outros óxidos consoante a sua percentagem na mistura, com cobalto e manganês dá vários tons de negros. NIQUEL (ONi-protóxido, O3Ni2-sesquióxido), – os óxidos de níquel dão cores esverdeadas e com o cobalto dá azul acinzentado. URÂNIO (U(O4U)2-uraninite), - Dá amarelos vivos, mas devido a sua toxicidade só é utilizado em restauro. PURPURA DE CÁSSIUS (É uma mistura de ácido estânico e ouro coloidal que se prepara lançando estanho numa solução de cloreto de ouro), – dá púrpuras, avermelhados e rosas.

Os óxidos de zinco e titânio (rútilo), são utilizados nas composições das tintas de alto fogo, e que apesar de não serem colorantes, modificam as cores dos outros óxidos.

Painel de azulejos com a imagem da “Nossa Senhora da Conceição”, executada segundo os métodos antigos, ou seja, foi pintada com as tintas de óxidos e em azulejos de fabrico artesanal com vidragem manual, e com cozedura idêntica à dos antigos fornos a lenha. O brilho do vidrado estanifero, e, o “fumado” avermelhado do manganês mais o fumado azulado dos azuis cobalto e dos verdes, dão-lhe uma beleza única equiparada à dos azulejos antigos. Na imagem inferior, temos a comparação de azulejos executados pelo processo anteriormente explicado (azul anilado), e ao da produção geral actual, em que a pincelada de azul é mais seca, e com menos “brilho”.

reprodução de painel antigo com cena de caça ao touro

Painel de azulejos reproduzindo "O banho de Diana" de François Boucher - em azulejo totalmente artesanal

Colecção "Mosteiro de Alcobaça" em azulejo manual tradicional português. (Mosteiro, Sª.Maria de Alcobaça e Coleção de abades cisterciences celebrando vinho).

Coleção de Azulejos individuais sobre o vinho do Porto

Placa cerâmica com dizer (reprodução de uma placa original da antiga ceramica battistini de Maria de Portugal)

Azulejo tradicional com dizer

Figura avulsa

Cesta com flores e frutos (réplica dum painel do Hospital de Sº António )

Painel identificativo de uma propríedade.

Silhares clássicos (Meninos da Luz-1º com cesta e 2º com jarão). o 3º painel policromado - anjinhos a segurar cesta com flores.

Painel clássico com uma caçada como motivo central

painel com motivo equestre (La Corbette)

Decoração de bancada para peixe de um amigo pescador.(uma combinação perfeita entre azulejo e pedra)

Azulejo com anjinho-atlante (desenho do Hospital Sª. Marta).

Este azulejo faz parte de uma colecção (azulejos dos H. Civis de lisboa)

(no inicio desta página pode ver mais três exemplares)

Nova colecção "Mosteiro de Alcobaça" de frades cisterciences, bem dispostos

Colecção completa (32 azulejos), preço:10€ cada azulejo

Painel, de um conjunto de dois, para edíficio público ( França.)

Painel de figura avulsa - Grande parte destes azulejos fazem parte de experiências de cor, de vidrado e de queima que difere de fornada para fornada, provocando um matizado

de tonalidade de vidrados, e cores fumadas (especialmente azul) muito caracteristico da beleza dos azulejos antigos

Réplica de azulejo de emolduramentos (anjinho atlante) de paineis existententes na fortaleza de Luanda-Angola.(Experiência de azuis)

Consulte também a Página de Consevação e Restauro de Azulejos