Apresentação

A Associação Nacional de Professores Universitários de História (Anpuh), carrega uma longa trajetória que agrega mudanças e permanências. A sigla Anpuh, criada em 1961, à época da sua constituição, no decorrer do tempo, foi abarcando profissionais da Educação Básica, graduandos, graduados e demais profissionais que têm a história como ofício. Nessa época, vivíamos o crescimento dos movimentos sociais. Era o tempo das ligas camponesas, das reivindicações populares, de um movimento estudantil articulado às lutas dos trabalhadores, do avanço de movimentos urbanos e rurais. Isso trouxe conquistas para as lutas imediatas e para a compreensão do mundo e a de organização popular, em seus vários matizes e segmentos. Como tentativa de controlar esses avanços, sob pretexto de crescimento do comunismo no Brasil, as forças hegemônicas instauraram a ditadura civil militar, em 1964.     
Então, é no contexto das contradições da história recente do Brasil, entre as lutas e a repressão, que a Anpuh Brasil é constituída.  Também como produção desse momento, em 1978, é criada a Anpuh, sessão Goiás. Isso significa dizer que a criação da Anpuh – a Nacional e depois as estaduais – se deu na intrínseca relação entre ciência e luta política, entre ter a história como ofício e objeto de investigação e a defesa dos direitos à liberdade de expressão e os interesses da maioria da população, reconhecendo que pensar e fazer história está intimamente ligado ao debate político e suas posições como sujeito de seu tempo e seu lugar.  Fazer ciência, inclusive a história, é um fato dialógico – para lembrarmos de Paulo Freire.
Nesse sentido, falar da Anpuh significa falar de política. Significa lembrarmos dos embates, dos confrontos políticos, das conquistas. Ao longo dessas décadas foram vários os encontros bianuais, seja da Anpuh Brasil, seja das Anpuh’s estaduais. Estamos nesse ano de 2024, chegando ao nosso XIV Encontro da Anpuh-GO, tendo completado 45 anos de vida em 2023. Entre 2020 e 2023 atravessamos uma pandemia que matou 700 mil brasileiros, à época, com um país dirigido por um político cujos interesses bebiam da política neoliberal e do negacionismo, acirrando os ânimos de seus seguidores, que para a manutenção das forças hegemônicas utilizaram da intolerância e do preconceito, em todos seus matizes, instigando a prática do ódio e se fundando em mentiras – e, por isso, a perseguição à produção fundamentada na ciência.
Calar, então, não é uma opção. Aparentemente, o silêncio sobre a política nos retira das situações de confronto, mas o silêncio também poderá nos levar à condição de “concordantes” com essa lógica hegemônica que reforça uma ideia de que alguns têm poder e outros, não. É comum escutarmos expressões como: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” ou, “sempre foi assim e nada vai mudar” .... ou só para citar mais um bem comum: “tudo bem, eu aceito, mas não precisa ser na minha frente” .... ou, “eu até tenho amigos pretos”, e assim por diante. Esse debate é, então, sobre democracia. O reconhecimento não somente das diferenças, mas sobretudo das desigualdades implica em indagar a ordem hegemônica das coisas, escutar o outro para ver a si, perceber que tudo o que está a nossa volta e conosco chega pelas mãos de muitos e não de um só, mas que nos moldes da sociedade em que vivemos, isso não é igualitário, as oportunidades não são iguais. Não somos a união harmônica das três raças, como narra a monografia de Karl Filip Von Martius, ganhadora do concurso proposto pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na primeira metade do século XIX, para darmos início à imagem da História do Brasil. Essa História, se não indagada, mascara as lutas de classe, e abre espaço para que os neoliberais criem nomenclaturas como “equidade” para substituir “igualdade”, “coordenação” por “liderança”, “trabalhador” por “colaborador”, apenas para citar algumas.
Esse debate pertence a nós, portanto. Foi não nos calando, por exemplo, que chegamos à regulamentação da profissão do historiador e da historiadora, com a Lei 14.038, de agosto de 2020.
A discussão sobre a Ciência como resposta aos negacionismos, além de contestar mentiras (elaboradas para reforçar a lógica hegemônica de poder), também articula com democracia como categoria fundamental para o estabelecimento de relações sociais mais justas. Problematizar a produção da Ciência é uma prática democrática e de resistência.
Esse evento vem para acolher, então, a produção científica em Goiás. Além disso, reforçar a importância de, presencialmente, ter a ciência como um ato de resistência ao negacionismo, problematizando Goiás e o mundo a partir da produção de pesquisadores goianos.


 Justificativa


Ao longo do tempo, desde as décadas de 1960 e 1970, a Associação Nacional vem reunindo pessoas, realizando debates, elaborando modos de enfrentamentos e nos aglutinando, hora em eventos Nacionais, hora em eventos Regionais. Desde os anos de 1970 a Anpuh-Go vem estabelecendo movimentos de resistência importantes, sobretudo nos encontros bianuais onde a produção do conhecimento se faz a partir de Conferências, Mesas Redondas, Minicursos, Simpósios Temáticos, lançamentos de livros. Nos eventos estaduais é possível, nas divergências e convergências, encontrar caminhos comuns para resistir à forma conservadora de História, responder aos negacionismos de modo consistente e reforçar o papel transformador da História como um campo significativo das Ciências Humanas. Atualmente, são dezoito Grupos de Trabalhos (GTs) com objetos diversos, o que nos dá ideia do papel desses GTs na constituição da Associação, apontando a potência que cada um e todos representam histórica e politicamente não somente para o corpo de profissionais da área, mas para cada um e todo mundo nas sociedades.Nesse sentido, o XIV Encontro Estadual da Anpuh-GO é um evento fundamental para o campo da História, o Ensino da História e para as questões que envolvem a contemporaneidade. O tema: “Ciência, Democracia e Resistência” é uma abordagem atual que abrange as problemáticas sobre o negacionismo e seus usos públicos. Significa construir fundamentação científica para a desconstrução das inverdades na História.