Neste semestre (2025-2 por 2025-1), os alunos das turmas da disciplina "Tópicos Especiais em Arte Computacional - Estética, Arte e Inteligência Artificial/ IA" do curso de artes visuais da UFU depararam-se com algumas das mais contundentes questões contemporâneas :
- Produzir arte com IA é realmente tão simples quanto sugere o senso comum? Doravante, qualquer pessoa será capaz de criar arte, sem necessidade de formação específica? Estaria a arte ingressando na era de uma dispensa do próprio artista?
Tais indagações remetem a antigas querelas do universo artístico e de seus conceitos fundamentais. Como avaliar o trabalho do artista? O que deve ser levado em consideração: a poética, a técnica ou a estética?
A poética diria respeito ao impulso do artista em face de determinadas ocorrências. Nela estariam as escolhas feitas ou os caminhos trilhados para a expressão do que ele desse como finalizado - ainda que provisoriamente. Apesar de necessária à obra, a poética não lhe seria fator suficiente. Na verdade, ela consolidar-se-ia como tal apenas pela finalização temporária que a obra demarcasse. Ela seria a pergunta indeterminada que o artista faria a si mesmo. Nesse sentido, tratar-se-ia de alguma forma de diálogo interno, portanto de certa emulação comunicativa e, assim, também da constituição de um outro em si mesmo, na demanda por externalidade que vocaciona a poética, mas que a transcende.
Do ponto de vista técnico, talvez fosse uma questão de perguntar se aquele que domina a execução de uma atividade - um desenho, uma pintura, uma escultura, uma animação etc. - faria jus, apenas por isso, à consideração de artista. Provavelmente, Duchamp responderia dizendo, por exemplo, que, se, de um lado, nem todo ilustrador seria artista, de outro, por óbvio, nem todo artista seria ilustrador. Ora, não faltam nos portfólios dos sites de IAs geradoras imagens bem definidas, formosas, detalhadas e até mesmo de notório preciosismo. Todavia cabe indagar: o que perguntam ao observador? o que solicitam dele? Um breve exame mostra que a grande maioria dessas imagens estão repletas de efeitos, exotismos, exuberâncias, excentricidades ou extravagâncias, para não dizer apenas clichês, sem propor qualquer desafio consistente à percepção. Achar que a IA poderia substituir o artista seria incorrer numa grave confusão entre técnica e arte, como se à arte bastasse qualquer espécie de “formosura”.
Já o âmbito estético parece trazer a devida luz à questão. A produção esteticamente focada preveria a efetiva participação do observador no acontecimento da obra, isto é, exigiria que ele a integrasse. Nesse sentido, seria necessário que ela registrasse algum lapso, que instilasse alguma questão, que fosse dotada de abertura. Por esse ponto de vista, a arte jamais se faria banalmente; e produzir artisticamente com IA seria tão desafiador quanto com qualquer outro meio - senão mais, haja vista o assolamento por clichês que marca o uso e o treinamento dessa tecnologia.
Dessas reflexões e da experimentação com diversas IAs geradoras de imagens, nasceram as exposições on-line Pixellage e Imago, publicadas em 08 de setembro de 2025. Em virtude de seus objetivos — sobretudo estéticos — bem estabelecidos, grande parte das imagens para elas escolhidas resulta também da demanda por táticas menos modernas — como a pintura digital — e até por aquelas tidas como tradicionais — como o desenho à mão —, sinalizando que a arte permanecerá na solicitação do artista para ser feita.