Texto integral em Letra Miúda Revista Literária, numero 02, 2023.
A mágica dos contos clássicos é que mesmo não sendo possível o escrito escapar completamente da moral presente no espírito de quem o escreve, ele (o escrito) se completa na insubmissão dos sentidos que evoca e que atravessam a percepção de quem se dedica a lê-lo com olho e mente bem abertos.
O belo e o monstruoso, o justo e o injusto, o bem e o mal cabem todos na literatura. E a literatura não existe para se curvar a qualquer que seja a moral, embora ela mesma não se constitua sem uma. Isso me leva até *Larrosa que sabiamente nos diz que "A literatura não reconhece nenhuma lei, nenhuma norma, nenhum valor. A literatura, como o demoníaco, só se define negativamente, pronunciando repetidamente o seu 'non serviam'. Tratando, claro, da condição humana, e da ação humana oferece o belo e o monstruoso, o justo e o injusto, o virtuoso e o mau. E não se submete, ao menos em princípio, a nenhuma servidão.”
A bela e a fera, conto popularizado por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont em sua revista Les magasins des enfants em 1756 é o conto que trago para nos inquietar. Ao contrário do que ainda se pode pensar, esse não é um conto de C. Perrault, que transformou a fera em dragão em sua versão. O conto-primeiro surgiu em 1740 pelas mãos de Gabrielle-Suzanne de Villeneuve em seu romance intitulado La Jeune Américaine ou les contes marins. Madame Leprince tomou 'emprestado' de Madame de Villeneuve a fórmula do conto e esqueceu, como todos depois dela, de mencionar a autoria do conto que a inspirou. Um belo de um plágio à moda antiga. Se bem que Villeneuve escreveu sua história recompondo de outras histórias orais. É o fio interminável de nossas conexões criativas.
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