SIGNIFICADO VERSUS FORMA

DENTRO DA GESTALT.


A Gestalt, ou psicologia da forma, é tratada a anos como uma visão mais objetiva do fenômeno da percepção artístico-visual. Apesar disso, existem divergências dentre as análises do uso da “boa Gestalt” no design contemporâneo.


Apesar de bastante conhecido, o uso do conceito de pregnância que constitui o símbolo do Carrefour, por exemplo, pode não ser claro de imediato ao apreciador mediano, a letra “C” constituída na contraforma das figuras pode não ser percebida, seja pela falta de um contraste mais claro ou pela proximidade dos elementos visuais. Mesmo assim, muitos argumentariam que é aplicado o conceito de “boa forma” pregado pela Gestalt, e o que causa essa divergência opinativa?

A priori, é fundamental destacar a noção, dentro da teoria gestaltica, de que existe um elemento qualitativo à uma forma que define sua atratividade e categoria visual, nas palavras de Caetano Fraccaroli, “Temos que reconhecer que há algo na arte que transcende a um exclusivo gosto pessoal ou a um gosto na dependência de um momento histórico. Os aspectos culturais refletem-se nela, mas não constituem seu fundamento” (1952, p. 33). Dentro da psicologia da forma, esse elemento é definido pela coesão geral da compreensão do todo antes do entendimento individual dos seus componentes. Assim sendo, seria natural apontar a divergência perspectiva dentro desses entendimentos, ou: Diferentes pessoas não compreenderiam o mesmo “todo” de formas diferentes? A resposta entregue pela escola da boa forma prega que, independente da carga cultural do observador, existem componentes neurológicos que garantem uma percepção inicial da forma de maneira regular, ou nas palavras de Fraccaroli, “a psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura explicar a relação sujeito-objeto no campo da percepção” (1952, p.8). Mas a pregnancia embutida no contexto do símbolo do Carrefour não é percebida por todos, e mesmo dentre pessoas com situação neurológica comum ela pode ser de difícil compreensão.

Dessa forma, torna-se possível inferir que existe alguma diferença perceptiva entre diferentes perspectivas, noção que é apoiada pela resposta de Kurt Koffka, “A resposta de Koffka é em termos do que ele chama ‘conceitos de classe’. Em consequência de preocupações de ordem cultural, ou seja, de preconceitos intelectuais, morais e religiosos, o sujeito se desvia da percepção espontânea e puramente formal do objeto. Há uma cortina de bagagem cultural que lhe impede esse contato direto com os valores reais de uma obra de arte” (apud FRACCAROLI, p.30). Pode ser observada, também, uma alteridade na percepção da contraforma vista no exemplo, de acordo com o conhecimento prévio de que existe um conceito de pregnância associado ao símbolo da empresa. Assim sendo, seria pertinente afirmar que a conexão entre significado e forma ajudaria a consolidar a compreensão dessa “boa forma”.

A posteriori, de forma colidente existe também a noção de que a percepção estética não deve ser vista com significado, mas apreciada dentro de si mesma, segundo Kepes, “é necessário, para que exista uma percepção estética, não ver objetos com significados, mas forma, todos estruturados como resultado de relações... Que se possa sentir o prazer de uma inscrição somente pela harmonia da caligrafia, independente do significado da palavra” (apud FRACCAROLI, 1952, p.8).

Em síntese, conclui-se que, apesar da divergência opinativa entre estudiosos do assunto, há uma diferença perceptiva no público médio comum, quando observando o mesmo exemplo de uso da psicológia da boa forma.


“Aceitando como válida uma relação entre os padrões de organização de caráter psíco-fisiológico e uma percepção propriamente estética, uma pergunta pode se apresentar: se esses padrões são espontâneos no homem, como atividade de seu próprio organismo, por que não estão sempre presentes na apreensão de uma obra de arte?” (FRACCAROLI, Caetano, p.30).


Referências

FRACCAROLI, Caetano. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno artístico. Universidade de São Paulo, 1952.


Ficha Técnica


Texto desenvolvido por Paulo Eduardo Figueredo Mendes para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).