O gestaltismo e o Design Emocional.


Apesar do termo ‘Design Emocional’ só ter surgido na década de 90, o design já possuía de certa forma um cunho emocional, tendo em vista que um dos objetivos principais dos designers seria despertar interesse, desejo e prazer pelo produto ou obra, esse fenômeno se dá através da capacidade cerebral de percepção, onde o cérebro humano se mostra mais suscetível a reconhecer certas formas e cores, atrelando-as sensações capazes de superar a necessidade de um repertório cultural.

“Para Hofmann, as imagens possuem um significado universal porque suas forças abstratas subjacentes apelam antes à faculdade “imediata” e natural da percepção que à convenção cultural; a resposta que evocam é mais sensitiva e emocional que intelectual.” (Lupton e Miller, 1991, p.27).

Essa ideia de Hofmann junto com as teorias da gestalt estão diretamente ligadas à psicologia, que no âmbito do design emocional ajudou significativamente na evolução do mesmo, possibilitando o desenvolvimento de teorias e estudos na área, pois facilitou a aproximação do designer e do usuário através de pesquisas direcionadas ao estudo comportamental do ser humano.

“Em 1923, Kandinsky afirmou a existência de uma correspondência universal entre as três formas básicas e as três cores primárias.” (Lupton E Miller, 1991, p.26).

Um dos principais estudos que fazem relação com cores formas e que serve de base na construção de um design focado na percepção até a contemporaneidade foi o do professor da Bauhaus,Wassily Kandinsky. Nessa pesquisa ele por meio de atuação direta questionou aos alunos da Bauhaus quais das cores primárias eles relacionam as três formas básicas,através disso ele pôde constatar uma prevalência nas respostas que ligava a cor azul ao círculo, a vermelha ao quadrado e a cor amarela ao triângulo.

Todavia, o estudo de Kandinsky mesmo mostrando uma certa subjetividade, tendo em vista de que nem todos fariam a mesma assimilação, foi fundamental para a construção de um caráter que se tornaria fundamental para o desenvolvimento do design emocional, uma vez que a combinação de cores e formas poderia resultar em novas percepções, já que cada elemento transmite de maneira independente um diferente tipo de sensação.


Logo do Sistema Único de Saúde, SUS (SUS, 2012)

Um dos principais exemplos que utiliza os significados de forma e cor de maneira inteligente para passar uma ideia é a logo do SUS, o azul representa confiança e tranquilidade, já as formas quadráticas presentes na construção da identidade visual transmitem a ideia de estabilidade e de segurança, uma vez em que sua forma os quadrados possuem lados perfeitamente simétricos sendo ideal para passar a imagem de resistência.

Quando se fala de design emocional, é inevitável falar de Donald Norman, em sua teoria ele aborda a forma em como as pessoas lidam com com o mundo ao seu redor e de que forma isso influencia nas emoções a serem sentidas, para isso ele dividiu seu estudo acerca do design emocional em três níveis: o visceral, comportamental e o reflexivo.


Os três níveis emocionais de Norman (Pencimagico,2019)

1.Design visceral

Trata-se dos aspectos que fazem com que algo seja instintivamente atrativo ou não, que desde o primeiro contato haja a sensação de desejo ou repulsa, o que faz muito sentido tendo em vista que o próprio termo “visceral” tem como significado algo profundo,particular e que faz referência às vísceras, que seríamos órgãos internos de um indivíduo.

Nesse nível podemos identificar condições que se mostram mais suscetíveis a percepção biológica do ser humano de maneira mais positiva,como o uso de cores saturadas, objetos que apresentem simetria, superfícies lisas e/ou arredondadas,etc.


2.Design comportamental

Refere-se a usabilidade e a praticidade de algo, nele é analisado a forma em como o'indivíduo se porta utilizando tal artefato, se ele é complexo ou simples, se apresenta uma fácil acessibilidade e manejo, ou até mesmo se seu uso proporciona uma boa sensação.

Nesse contexto o design vai além de apenas aparência,é necessário que ele se mostre útil para o consumidor e atenda as expectativas para facilitaro vínculo entre indivíduo-objeto.


3.Design reflexivo

Como o próprio nome já sugere, esse tipo de design provoca a reflexão do usuário acerca de algo, nele ocorre a contemplação da beleza e excentricidade do artefato de forma consciente e subjetiva, tendo em vista de que cada indivíduo está inserido em um contexto cultural e possui valores diferentes.

Nesse âmbito o consumidor começa a buscar uma semelhança com o objeto, analisando se o mesmo é capaz de refletir parte do seu ser de maneira positiva ou negativa com a intenção de criar uma conexão.

“Na formação de imagens, o equilíbrio, a clareza,a unidade e simplicidade constituem, para o homem, uma necessidade e é por isso que procuramos esses elementos e os consideramos indispensáveis numa obra de arte”. (Fraccaroli,1952, p.29).

Assim como foi supracitado no design visceral, elementos que possuem uma estética bem definida, apresentam certa simetria e clareza são mais bem recebidos pelo cérebro humano,uma vez em que eles despertam sensações de prazer e satisfação induzindo uma certa necessidade no indivíduo de ter ou de admirar tal peça.



IPhone 12 (Apple, 2021)

Uma marca que apela muito para esse lado estético e atrativo é a Apple, toda sua linha de produtos segue um padrão de configuração e sofisticação cativantes que desperta no consumidor um interesse instantâneo por seus aparelhos, que acompanhado a sua praticidade e tecnologia de ponta o tornam um dos smartphones mais cobiçados pelo público.


“A missão do artista seria, pois, criar obras que satisfizesse essa necessidade de boa estruturafigural”. (Fraccaroli, 1952, p. 29).


Em suma, mostra-se imprescindível o estudo acerca da psicologia da gestalt, o uso de cores,formas e configuração para criar um bom design que seja capaz de transmitir emoções, pois os mesmos são ferramentas de suma importância para o design de forma geral, fazendo com que assim a conexão com o interceptor se dê de forma mais fácil e direta.


Bibliografia:

LUPTON, E.; MILLER J. A. Abc da Bauhaus. São Paulo: Editora Gustavo Gili, 2019.

FRACCAROLI, Caetano. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno artístico: o problema visto através da Gestalt (Psicologia Da Forma). São Paulo: FAU,1952.

NORMAN,A. Donald. Design emocional:por que adoramos(ou detestamos) os objetos do dia a dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.

Texto desenvolvido por Hudson Bruno Fonseca de Araújo Para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande Do Norte - Departamento de Design- Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”,coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).