A aplicação da psicologia das formas geométricas no Design


As formas geométricas são a base para o formato dos objetos e desenhos que são vistos todos os dias pela maioria dos seres vivos. São estudadas principalmente no campo da Matemática relacionado a Geometria. Para estudar quais são os efeitos que as formas causam aos nossos olhos, foi formulada em meados da década de 1910, a teoria da Gestalt que trata sobre a Psicologia da Forma.

A teoria da percepção Gestalt, fundada no início do século XX por psicólogos alemães, disserta sobre como o cérebro humano consegue agrupar cada forma como um todo maior. É bastante difundida tanto no campo da psicologia, como no da estética, que no caso do presente texto, seria o estudo do Design (sobretudo o Gráfico). Para Fraccaroli, a partir dela pode-se sugerir que:

“A sua teoria, extraída de uma rigorosa experimentação, vai sugerir uma resposta ao porquê umas formas agradam e outras não.” (FRACCAROLI, 1952, p. 7).

Um nome importante para esta teoria é Max Wertheimer. Segundo ele, “O todo é diferente da soma de suas partes” (WERTHEIMER apud LUPTON, 2017, p. 128). Ou seja, o cérebro capta primeiro o todo, ao agrupar características semelhantes e a partir dele identificamos cada parte individualmente. Como exemplo, elementos formados pelo agrupamento por mesmo formato ou cor formam uma mesma camada distinta de informação, quando relacionada a outros elementos não semelhantes (LUPTON, 2017).

A unidade, harmonia e equilíbrio são os pilares para uma Boa Gestalt (FRACCAROLI, 1952), para explicação de como essa percepção ocorre, a psicologia das formas toma como base a fisiologia do Sistema Nervoso. Para os Gestaltistas, a excitação cerebral se dá por extensão e não somente por processos isolados. Em resumo, a primeira sensação que nós temos ao olhar para uma figura é ela como um todo, são relações. Para Fraccaroli:

“O postulado da Gestalt, no que se refere a essas relações psico-fisiológicas, pode ser assim definido: todo processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, está estreitamente relacionado com as forças reguladoras do processo fisiológico cerebral” (FRACCAROLI, 1952, p. 12).

Assim, pode-se afirmar que o cérebro humano tende a agrupar e organizar informações. Tais organizações são espontâneas e independem de algum aprendizado. Seguindo esse raciocínio, foram formulados os chamados Princípios da Gestalt, que demonstram o porquê da percepção das formas ao ser humano é do jeito que é e a depender da forma que são aplicados, podem transmitir emoções. São alguns deles, de acordo com a definição de Fraccaroli (1952):

  • Fechamento: é a tendência psicológica de unir intervalos e estabelecer ligações

  • Sequência: também chamado de boa continuidade, diz que toda unidade linear tende a se prolongar na mesma direção e com o mesmo movimento.

  • Proximidade: elementos próximos uns dos outros tendem a serem vistos juntos, como uma unidade.

  • Semelhança: igualdade de forma e cor tem tendência de constituir unidade.

  • Pregnância: as forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitem as condições no sentido da clareza, unidade, equilíbrio.

É sabido que realmente o indivíduo pode aprender a ver de determinada maneira, uma vez que um artefato é fruto de seu tempo. Segundo Lupton e Miller (2019):

“As estratégias do design não são absolutos universais; e sim geram, exploram e refletem convenções culturais." (LUPTON; MILLER, 2019, p. 27)

No entanto, há sim uma percepção espontânea da forma que independe qualquer aprendizado, como foi piamente defendido pelos Gestaltistas e dissertado anteriormente no presente texto. Só em função de algo inerente ao ser humano que pode ser compreendido a beleza e emoções que são causadas por obras de arte de outro século – a citar como exemplo – uma vez que o contexto cultural da época já não existe mais atualmente.

Partindo desse pressuposto, entende-se que as formas transmitem emoções e de forma inconsciente e espontânea, tais sentimentos são enviados ao cérebro. As formas geométricas quadrado, triângulo e círculo são consideradas bases do Design Gráfico e cada uma delas exprime uma emoção diferente ao serem observadas.

Wassily Kandisky propõe em 1923 uma correspondência universal entre as três formas básicas e as três cores primárias, indo do ativo ao passivo, do quente ao frio, sendo uma sentença da “linguagem” da visão. Tal como é dito por Lupton e Miller (2019):

“Saussure dizia que a linguagem é fundamentalmente social, e que sua sobrevivência depende de um acordo cultural comum. Já a série [triângulo amarelo, quadrado vermelho, círculo azul] simboliza a busca de uma linguagem baseada em leis naturais da percepção. No entanto, ela mesma possui associações culturais." (LUPTON; MILLER, 2019, p. 31)

Essa correspondência universal proposta por Kandisky é refutada por alguns designers atualmente, como Mike Mills. Ele discorre que essa não é uma constante atemporal e tais formas podem ser pintadas por qualquer cor. Sendo assim, a partir de agora, esse texto irá discorrer sobre apenas sobre as formas básicas do Design (triângulo, quadrado e círculo) e seus significados simbólicos/gerais, sem levar em consideração a perspectiva da geometria da psicanálise, que por sua vez, trata que essas formas possuem significados pessoais a cada indivíduo.

De acordo com o livro de Lupton e Miller (2019), uma vez que Kandisky queria buscar significados universais, a psicanálise da geometria (diferente da geometria da psicanálise) também buscava o mesmo, assim, deu-se os seguintes significados as formas geométricas básicas:

A primeira expressão, psicanálise da geometria, sugere a possibilidade de encontrar significados sexuais essenciais para as formas básicas: Círculo poderia ser igualado à mulher, triângulo ao homem e quadrado, á relação entre ambos. Da mesma forma, Kandisky esperava descobrir significados psicológicos universais para essas formas básicas. (LUPTON; MILLER, 2019, p. 57)

De maneira análoga, os círculos transmitem, os círculos são perfeitamente fechados, passando uma ideia de união, estabilidade, uma vez que eles se mantêm constantes. Em suma, as formas arredondadas passam a sensação de serem aproximáveis (VERBRAN, 2020). No design de marcas, expressam o mesmo significado, como exemplo, é válido citar logotipos de redes sociais ou canais de comunicação, como a Rede Globo e Instagram (aliás, dificilmente uma empresa que tem como objetivo aproximação com o público, use formas pontudas).

Figura 1- Logotipo da Rede Globo

Fonte: https://gkpb.com.br/57753/novo-logo-globo-2021/

Já os quadrados transmitem segurança, sua base sólida e lados perfeitamente simétricos transmitem a ideia de serem imutáveis (VERBRAN, 2020). Uma vez que fisicamente, são formas bastante estáveis e é justamente isso que as marcas que utilizam formas quadradas em seu design de marcas querem passar: estabilidade. Temos como exemplo a LEGO de e Microsoft, dentro de uma infinidade de empresas que utilizam do mesmo recurso.

Figura 2 - Logotipo da Microsoft

Ainda segundo Verbran (2020), os triângulos são uma forma dinâmica e podem ir do movimento até a agressividade. No design de marcas, as formas triangulares geralmente são utilizadas para marcas com posicionamento ativo e de atitude marcante. Para exemplificar, pode-se citar a Adidas e o logo da banda de rock Anthrax.

Figura 3 - Logotipo da Adidas

Portanto, pode-se concluir, através de estudos e pesquisas iniciadas há aproximadamente um século pela escola Gestalt, além de conteúdos de autores citados ao longo do texto, que as formas possuem relação direta com nossa percepção de emoções. O estudo do Gestalt e seus princípios é amplamente usado nas formas simples de muitas marcas, por exemplo. Inclusive, é através da construção de logotipos que os designers definem a identidade de uma empresa. Assim,cabe ao designer estudar estas teorias clássicas, a fim de fazer um trabalho diferenciado e muitas vezes atemporal.

Referências

FRACCAROLI, C. A percepção da forma e sua relação com o fenômeno artístico: o problema visto através da Gestalt (psicologia da forma). São Paulo: FAU USP, 1952.

LUPTON, E.; MILLER, J. A. (Ed.). O ABC da Bauhaus: a Bauhaus e a teoria do design. Editorial Gustavo Gili, SL, 2019.

LUPTON, Ellen. O Design como Storytelling. Smithsonian Design Museum: Cooper Hewitt, 2017.

VERBRAN, Romário. A Psicologia das Formas Geométricas em Projetos de Marcas. 2020. Disponível em: https://temporalcerebral.com.br/psicologia-das-formas-de-logotipos/. Acesso em: 28 abr. 2021.


Ficha Técnica

Texto desenvolvido por Heloísa de Paula Silva Ramalho para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).