A percepção humana da

linguagem visual


Walter Gropius(1883-1969) foi um distinto arquiteto alemão, conhecido por ser um dos maiores nomes da arquitetura do século XX e por ser o fundador da Bauhaus. A Escola de Arte Bauhaus foi fundada em 1919 na cidade de Weimar na Alemanha e juntou artistas e estudiosos vanguardistas de diversas áreas como: propaganda, pintura, tipografia e arquitetura. Até hoje, suas pesquisas e metodologias fazem com que ela seja considerada referência para estudos de diversas áreas da arte contemporânea. Eram conhecidos por seus estudos revolucionários de conceitos científicos como: a psicologia de Gestalt e a linguagem visual; que hoje se tornaram matérias básicas nos estudos de design americano e europeu.

Muito se falava da dualidade e as diferenças das linguagens: visual e verbal, dando destaque em como que a linguagem visual poderia ser trabalhada de forma: abstrata em forma, porém, mas universal em conteúdo. Dessa forma, buscando uma padronização para que a linguagem fosse expressa por meio de signos de fácil e imediato entendimento, contrastando com a arbitrariedade da linguagem verbal...

A linguagem era considerada de certa forma falha, já que depende de um acordo cultural comum, já as series estudadas ultrapassam esses conceitos se conectando diretamente com a percepção humana, mesmo podendo conter associações culturais.

Foram feitos conjuntos de estudos teóricos desenvolvidos por diversos profissionais, que se envolveram para debater e criar teorias para que entendessem como funciona a atribuição sentido, significado e sensações ao que é visto pelo ser humano. Tendo em vista que as imagens provocam respostas mais sensitivas do que intelectuais, os esforços desses estudiosos giravam em torno de tentar criar uma linguagem visual que funcionasse universalmente, independente de cultura ou interpretação pessoal. Houve também um aprofundado estudo voltado na função cultural dos signos, e em como funcionam os mecanismos do cérebro humano na hora de fazer uma ligação direta entre os significados do mundo “físico e espiritual”.

Um dos fundadores da Bauhaus, Wassily Kandinsky tinha a esperança de que um dia, todas as formas de expressão do mundo real pudessem ser traduzidas para uma linguagem visual, por isso, passou a estudar e desenvolver o chamado “dicionário elementar”. Nesse dicionário, ele tenta mostrar para o mundo a correlação universal existente entre cor e geometria, tópico que mais tarde se tornaria um dos mais característicos de Bauhaus. Walter Gropius dizia que a linguagem visual deveria ser aprendida na escola antes que se tornasse um patrimônio comum, já que essa meta não poderia ser atingida apenas pelo saber teórico, pois segundo ele: “a teoria deve sempre ser acompanhada pela experiência prática contínua”. Além disso, defendia que: “toda pessoa normal tem os mesmos órgãos com os quais percebe e experimenta o mundo circundante. Da maior importância é o fato de que a impressão sensorial parte de nós mesmos e não do objeto que vemos. Só depois de compreendermos a natureza do que vemos e a maneira como vemos, saberemos mais acerca dos possíveis efeitos da configuração artística sobre o nosso sentir e pensar”.

Depois de diversos estudos e testes, foi criada uma linguagem visual que se comunicava diretamente com o olho e o cérebro do ser humano, ignorando e ultrapassando condicionamentos culturais e linguísticos... Muitos professores tinham a esperança de que essa linguagem visual universal fosse capaz de substituir para sempre a linguagem verbal e escrita, o que não aconteceu... Mesmo que essa sua tentativa não tivesse sido bem-sucedida, jamais pode ser considerada um fracasso, já que atribuiu diversos conceitos novos e essências para a ciência, psicologia, arte e design.

Para conhecer algumas estratégias interessantes dessa linguagem, fiz uma pesquisa e vou passar pelos três principais elementos da percepção humana que moldam a forma em que vemos. Tais temáticas são explicadas pelo fundador da Bauhaus Walter Gropius, e se relacionam tanto a imagem em si, quanto ao cérebro humano.


REAÇÕES INCONSCIENTES

Esse conceito pode ser explicado a partir de uma sensação que nos é muito familiar. Imagine que você está dentro de um carro, no banco do motorista, e alguém joga uma lata de tinta no para-brisa. Mesmo sabendo que o para-brisa esta lá, e que você não vai se sujar, o corpo sempre retoma cegamente atitudes de defesa.

Gropius explica que: “Se o design deve ser uma linguagem visual específica para a transmissão de sensações inconscientes, o conhecimento dos fatos objetivos no terreno da escala, forma e cor, assim como o domínio da gramática da composição, constituem seus pressupostos indispensáveis”.


ILUSÕES ÓPTICAS

Para definir esse conteúdo, Gropius utiliza o exemplo do quadro de uma paisagem lunar que mostra depressões e vales côncavos. Entretanto, é interessante observar que quando a imagem é colocada de cabeça para baixo,esses vales parecem ser convexos.

Imagem: Convexo e côncavo –M. C. Escher (1955)

Nosso olho é incapaz de perceber a posição correta do quadro nessa situação. Pintores modernos apropriaram-se criativamente desse fenômeno, acolhendo formas que o observador pode interpretar como côncavas ou convexas”.

INFLUÊNCIA PSICOLÓGICA DA FORMA E COR

“Forma e pincelada podem exercer efeito excitante ou calmante. O efeito psicológico visado também pode ser fortalecido por cores vivas ou suaves. [...] O efeito pode ser quente ou frio, aproximativo ou retrocessivo em relação a nós, de tensão ou de repouso, ou mesmo repulsivo ou atraente”, explica Gropius. Isso pode ser visto em essas duas situações hipotéticas boladas por estudiosos nova-iorquinos, em que: “uma caixa de 10kg pintada de azul pareceria mais pesada do que uma de cor amarela” e “um pêssego que se come no escuro aparenta ter menos aroma do que um pêssego visível”.