Canção de amor

Canção de amor

Como hei-de eu conter a minha alma,
que não toque a tua? Como hei-de eu
erguê-la por sobre ti para outras coisas?
Como eu desejaria dar-lhe abrigo

à sombra de qualquer coisa perdida no escuro,
num recanto estranho e repousado,
que não vibrasse com o teu vibrar.
Mas tudo o que nos toca, a mim e a ti,

Toma-nos juntos numa só arcada
que arranca de duas cordas um som único.
Sobre que instrumento estamos retesados?
Que músico nos tem na sua mão?
Oh, doce canção!


Rainer Maria Rilke (trad. por Paulo Quintela)