QUINTAL DE OFÍCIOS
A iniciação na arte e no saber popular é marcada pela integração da vida ao ofício. No Cariri cearense, de um lado temos mestras e mestres que cresceram nos quintais, praças, terreiros e calçadas, aprimorando a habilidade de aprender pela imitação e preparando-se para idas às feiras e mercados regionais, tendo a rua como extensão da oficina.
Do outro, sobrevive a ancestralidade das parteiras, esculpidas por sangue de mulher e água de criança, que carregam os sons do antigo conhecimento, de ler a noite e o dia. O dom que não se ensina, nem mesmo se explica, acontece no tempo de nascer.
"Quintal de oficios" propõe a documentação por meio do audiovisual das narrativas dos que herdaram o saber popular pela experiência, evocando a lembrança da sua comunidade e atravessando esse universo a fim da difusão de conhecimentos, possibilitando a visibilidade e a valorização das práticas tradicionais e incentivando a sua preservação e salvaguarda.
Dôra e Fran
Nesta edição, apresentamos a arte popular em barro por meio de Maria das Dores Monteiro - Mestra Dôra e Francisca Monteiro - Mestra Fran, filhas da Mestra Maria de Lourdes Candido (1939 - 2021). O ofício, desenvolvido a princípio pela mãe em Juazeiro do Norte (CE) na década de 1970, se perpetua até hoje, ganhando vida no fazer das filhas.
A tradição da família Cândido está nos temas, que consistem em placas de barro com personagens inspirados em sua maioria, nas manifestações culturais e na religiosidade popular, mas foram os brinquedos de barro, como cavalinhos e panelinhas que iniciaram as filhas da mestra na tradição.
Francisco Graciano
Na segunda edição, apresentamos a arte popular em madeira, a matéria-prima que dá vida aos imaginários. Na cidade de Brejo Santo (CE), bichos e seres da natureza ganham forma através do entalhe de Francisco Graciano. Quando criança, criou forte relação com a mata e acredita ser intuído em suas criações.
Filho do Mestre Manoel Graciano (1927 - 2014), um dos mais importantes escultores do estado do Ceará, cresceu fabricando seus próprios brinquedos na madeira e hoje se dedica com esmero à produção e especialmente a pintura das peças, criando novos tons e padrões.
Cícero Soares e Dona Lourdes
Lampiões e candeeiros abrem os caminhos da terceira edição do "Quintal de Ofícios". Apresentamos a arte popular em flandre por meio de Cícero Soares, filho do Mestre José Maurício dos Santos (1951 - 2018), com quem aprendeu desde os 5 anos a artesania. Dona Lourdes também é convidada, atualmente produz tapetes e bolsas de tranças de pano em Juazeiro do Norte (CE) e foi companheira do Mestre Maurício, acompanhando suas descobertas, auxiliando na oficina e nas vendas das peças.
A tradição segue na cidade e Cícero afirma que o seu maior desejo é dar continuidade ao trabalho de seu pai. Sua oficina está localizada no bairro Frei Damião e já conta com filhos e sobrinhos como ajudantes na produção.
Maria Bernardino
A ancestralidade das parteiras é quem dá vida a 4ª edição do "Quintal de Oficios". Apresentamos a sabedoria e conhecimento de Maria Bernardino, moradora do Sítio Olho D'água Grande, na zona rural do município de Caririaçu (CE). Detentora e especialista na técnica de "pegar menino", por mais de 60 anos, a mulher realizou partos em sua comunidade e traz narrativas do ofício de partejar.
Mãe de 13 filhos, carrega consigo a memória de suas assistentes, que juntas sustentaram a prática na oralidade e no exemplo, dedicando-se uma vida inteira à promoção da saúde popular e continuação da tradição.
IDEALIZADORES
Gustavo Ramos
Sociólogo e pesquisador, tem trabalhos voltados para políticas culturais, cultura e universidade, território, meio ambiente e movimentos sociais, memória e tradição. De 2013 a abril de 2022, esteve na Pró-Reitoria de Cultura, onde atuou como Coordenador de Política e Diversidade Cultural e Pró-Reitor Adjunto de Cultura da Pró-reitoria de Cultura da UFCA.
Bibiana Belisário
