Historia da Quinta

Quinta do Ferro

A Quinta do Ferro situada no Distrito da Guarda, concelho de Trancoso, com cerca de 700 hectares é atravessada pelo Rio Távora um afluente do Rio Douro que outrora lhe dava o nome (Quinta do Távora).

As primeiras referências à Quinta do Ferro até agora conhecidas surgem no Testamento de D. Beatriz de Menezes, 2ª Condessa de Loulé e 4ª de Marialva, datado de 1537, no qual esta quinta foi integrada na Mordomia que a Condessa instituíu no Convento de Santo António de Ferreirim. Nessa altura a Quinta do Távora rendia 233 alqueires de centeio. Desta forma a Quinta do Ferro passou a integrar os bens do Convento sendo administrados por um Mordomo, pertencente aos Coutinhos de Fonte de Arcada. Como era usual, o domínio útil destes bens era depois aforado e sujeitos ao pagamento de foro.

No século XVI, o foreiro da Quinta, Manuel Pinheiro Ferro, o Moço, foi preso pela Inquisição acusado de ser judeu e perdeu os seus direitos. Faleceu em 4 de Agosto de 1670 e como os seus herdeiros não conseguiram recuperar o prazo este foi aforado aos Saraivas de Trancoso, na pessoa de Domingos Saraiva da Costa, sargento-mor da Vila de Trancoso casado com Bárbara de Sampaio, filha de António de Gouveia Coutinho, naquela época administrador da Mordomia.

A partir daís os foreiros do prazo sucederam hereditariamente na Família e em 1765, Caetano Saraiva Sampaio Coutinho da Costa obteve, através de provisão régia de D. José I, a alteração do foro do Prazo da Quinta do Ferro, de 276 alqueires de centeio e uma galinha para 14$400 e uma galinha. Cinco anos mais tarde este mesmo membro da família viria a ser nomeado por carta régia de D. José administrador da Mordomia e Capela de Santo António instituída no Convento de Ferreirim, em consequência do lugar ter ficado vago depois do falecimento de Francisco de Gouveia.

O ano de 1834 foi significativo para a história da Quinta do Ferro pois nesse ano foram abolidas as ordens religiosas e nacionalizados os seus bens. O Convento de Santo António de Ferreirim, por ser masculino, foi naturalmente abolido e a administração das suas propriedades passou a ser feita em Trancoso, na Casa da Mordomia. Nesse mesmo ano, pouco depois do falecimento de Caetano Saraiva Sampaio Metelo Quevedo a casa foi assaltada tindo sido roubados grande parte dos seus bens, pouco mais do que a documentação e livros. Este é um dos episódios mais conhecido da sua história e que foi relatato no Diário do Conde de Tavarede.

Mais tarde, e após o falecimento de António filho varão de Caetano Saraiva Sampaio Metelo Quevedo, Júlio César Faria Coutinho e sua esposa Maria do Carmo filha de Caetano, vieram residir para a Quinta do Ferro. Uma das primeiras medidas que Júlio tomou foi a edificação da torre da casa em 1878, ano em que foi criado por D. Luís o Título de Visconde da Quinta do Ferro na pessoa de Júlio César. Após o seu falecimento, em 1881, a Casa passou a ser um local de férias dos seus descendentes, então ligados por casamento à família Pessanha de Figueiró (Viseu).


Arquivos e Biblioteca

O Arquivo existente na Quinta do Ferro que foi alvo de tratamento em 2007-2008 era composto por 90 caixas de arquivo, com documentação referente às casas da Quinta do Ferro, Solar da Fidalga (Caria-Belmonte), de Barcos - Tabuaço, Castelo Mendo, Vilar Maior, Quinta do Ribeiro (Caria – Moimenta da Beira) entre outras e cujas relações familiares convergiram para a Quinta do Ferro e seus membros (Castro Amaral – Outeiro dos Gatos; Quevedos – Vilar Torpim; Metelos Pachecos – Figueira de Castelo Rodrigo; Araújo Coutinho – Barcos, Tabuaço; Faria Coutinho – Mundão, Viseu; Pessanha – Quinta dos Buxeiros - Viseu).

Abrangendo documentação produzida entre 1629 a 1930, incluia ainda 33 pergaminhos, cartas régias (D. Filipe II, D. João V, D. José I, D. Maria I, D. João VI), sobretudo e breves e cartas eclesiásticas (Papas: Pio VII, Urbano VII, Alexandre VII, Inocêncio XI, Bento XIV, Pio VI).

Do ponto de vista geográfico reportava-se a acontecimentos numa vasta área – distritos de Coimbra, Viseu, Guarda, Braga, Aveiro, Castelo Branco e vários solares e famílias nobres de então.

Nela se encontram elementos históricos referentes aos Condes de Marialva e Loulé, dado que a Quinta do Ferro (ou Távora) era originalmente sua arrendatário, bem como do Convento de Santo António de Ferreirim (Tarouca-Lamego) onde foi constituído o morgado após a morte da Condessa D. Beatriz de Menezes e que chegou a ter como administrador um membro da família da Quinta do Ferro – Caetano Saraiva de Sampaio.

A documentação foi produzida por várias gerações e reflecte as actividades profissionais e de gestão dos seus membros (Licenciados em Cânones ou em Direito na Universidade de Coimbra, foram cónegos da Sé de Coimbra, membros familiares do Santo Ofício (inquisição), Juízes de Fora, Presbíteros, Corregedores de Comarca, Superintendente Geral das Carruagens e Transportes do exército da Província da Beira, Capitães-mor de Ordenanças, Administradores dos dinheiros das órfãs e viúvas, Desembargadores da Relação do Porto (Tribunal), Inspector Geral de Revistas do Exército, Fidalgos, Diplomadas, etc.

Devido aos cargos administrativos e militares de vários membros da família é possível obter dados sobre as Invasões Francesas e a Guerra civil ou lutas liberais em Portugal. Muitos destes dados serão inéditos mas um episódio bastante conhecido na Quinta do Ferro foi o assalto em 1834, que é referido em várias obras do escritor Aquilino Ribeiro e que se relacionou directamente com os acontecimentos que estavam a acorrer no âmbito das lutas liberais entre Miguelistas e partidários de D. Pedro IV.

A História de Portugal é feita destes acontecimentos um pouco por todo o país, pois o que se passava a nível regional era sem dúvida o reflexo do modelo governativo e da sociedade de cada época, ainda mais interesse assumem estes documentos pois referem-se a elites e fidalgos, que eram o rosto do poder em cada região. Por outro lado, a historiografia actual centra-se no papel das comunidades e a tónica já não é tão acentuada no discurso e poder régios. Por outro lado, nesta família entroncam diversas famílias nobres da região centro e não só e sei que muitas famílias e historiadores gostariam de ter acesso a elementos que estão presentes neste arquivo. Estes arquivos são portanto mais procurados pois detém informação sobre as comunidades e suas elites locais e naturalmente, por estarem inacessíveis até agora suscitam grande interesse por parte dos investigadores pois contém informações inéditas.

O arquivo da Quinta do Ferro foi valorizado por diversas acções promovidas pelo Vasco Luís S. de Quevedo Pessanha, nomeadamente a elaboração do livro sobre a história da família ("Quinta do Ferro: memória sobre a história da Quinta e algumas das suas personagens"), e as acções de tratamento arquivístico e tradução de documentos em latim de que foi alvo. Além da organização de toda a documentação foi, realizada descrição arquivística de todos os documentos e elaborado um catálogo das descrições em papel e em formato digital.

Também foi realizada a catalogação da biblioteca de livro antigo do andar superior, a qual está nitidamente relacionada com os membros da sua família e que possui também um catálogo.

Depois passamos para o arquivo da Quinta dos Buxeiros, o qual se relaciona claramente com o da Quinta do Ferro. Aquele é composto por 29 caixas com documentos desde 1530 a 1936, contém 3 documentos em pergaminho.