A psicologia do desenvolvimento considera quatro dimensões do indivíduo para realização de seus estudos. Você sabe dizer quais são essas dimensões? Sabemos que o desenvolvimento humano vem ocorrendo desde os tempos mais remotos, quando surgimos enquanto seres humanos. Mas, quando iniciaram os primeiros movimentos no sentido de refletir sobre a importância dos processos determinantes para o comportamento?
Até o século XVII, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura, sendo as roupas, os hábitos e os ambientes compartilhados por todas as pessoas, inclusive, nas salas de aula, que comportavam estudantes de dez a vinte anos. A ideia de que as crianças deveriam ser preservadas de determinados convívios e ambientes partiu de concepções religiosas que primavam pela oferta de atividades adequadas às fases do desenvolvimento.
Traremos isso para sua realidade pensando em aspectos mais pessoais para compreender melhor o conteúdo que abordaremos. Anote num papel as respostas para as seguintes perguntas:
Você lembra da sua adolescência?
Quais eram as principais características pessoais que você tinha naquela época? E as características de seus amigos?
Compare seu desenvolvimento com colegas que partilharam as mesmas experiências que você neste período? Foram similares?
Quais aprendizagens você desenvolveu na adolescência que apresenta até hoje? Quais comportamentos você apresentava na época e que não apresenta mais?
Depois de anotar suas percepções, proponho algumas breves reflexões:
Será que podemos educar as crianças como educamos os adultos?
Ao fazer essa avaliação, você conseguirá, rapidamente, estabelecer relação entre as principais características do estudo da Psicologia do Desenvolvimento Humano e o seu próprio desenvolvimento respondendo estas perguntas:
Qual é a linguagem utilizada para ensinar uma criança ou um adolescente?
Qual é a linguagem utilizada para ensinar um adulto?
Todo mundo aprende da mesma maneira?
Todo mundo se desenvolve, fisicamente, da mesma forma?
Antes de entendermos melhor como funciona este processo de aprendizagem, aprenderemos um pouco sobre como foi a evolução histórica da psicologia do desenvolvimento humano. Mota (2005) apresenta essa evolução em fases que se dividem em períodos de, aproximadamente, dez anos:
Quadro 1 - Evolução em Fases / Fonte: adaptado de Mota (2005).
Percebemos que foi apenas a partir de meados dos anos 90 que o foco do estudo do desenvolvimento humano passou a ter uma abordagem mais sistêmica, considerando todas as etapas da vida humana. Atualmente, sabemos que o desenvolvimento humano se caracteriza pelo desenvolvimento mental e pelo crescimento orgânico e se estabelece pela interação do indivíduo com o ambiente físico e social.
Em seus estudos, Gallo e Alencar (2011) reportam que a psicologia do desenvolvimento se apresenta como uma abordagem para a compreensão das fases vivenciadas pelo ser humano, como crianças, adolescentes e adultos, explorando as mudanças psicológicas que se apresentam no decorrer do tempo e como estas podem ser descritas e analisadas. É importante ressaltar que a avaliação abarcada pela Psicologia do Desenvolvimento não se dá, essencialmente, pela idade cronológica, pois é necessário considerar os eventos que ocorrem em determinado segmento de tempo, o que torna as mudanças de comportamento em função dos processos individuais e ambientais o real objeto de estudo desta ciência (GALLO; ALENCAR, 2011). Percebemos que estudar o desenvolvimento humano é como explorar um terreno vasto, onde vivenciamos a todo momento, da concepção à morte e, de modo singular, a descoberta, as mudanças, os avanços, as novas aprendizagens, e o crescimento. Ou seja,
[...] diz respeito a nossa vida cotidiana com questões que vão desde a aquisição da fala ou do andar, passando pelo processo de aprendizagem escolar e pelas inquietações da adolescência, até as transformações biopsicossociais que a vida adulta e a velhice trazem consigo (XAVIER; NUNES, 2015, p. 9).
A Psicologia do Desenvolvimento caracteriza-se pelo seu objeto de estudo, que é a compreensão não somente dos processos mentais, mas como é que a partir de um equipamento inato, o indivíduo, que vai sofrendo uma série de transformações decorrentes da maturação fisiológica, neurológica e psicológica, interage com o meio físico e social, e a partir deste conjunto de fatores, constrói seus comportamentos (GALLO; ALENCAR, 2011). Para Xavier e Nunes (2015), é possível dizer que o estudo do desenvolvimento humano refere-se ao entendimento do como e do por que nosso organismo cresce e se modifica ao longo de nossa existência.
Embora o objeto de estudo desta disciplina seja o homem, independentemente da idade, constituindo-se de um estudo específico sobre o ser humano, da concepção à morte, existe certo consenso entre os estudiosos em priorizar as etapas da infância e da adolescência, pois, nestas etapas, acontecem processos importantes e comportamentos são definidos, de forma a influenciar as atitudes do homem na demais etapas de sua existência (SANTOS, 2011). De fato, os primeiros 20 anos de vida são de mudanças intensas, que resultam em avanços comportamentais para níveis cada vez mais complexos, como a criança que evolui do engatinhar para a marcha, do balbucio à fala, do pensamento concreto para o abstrato, da dependência infantil para a autonomia adolescente, e assim por diante (XAVIER; NUNES, 2015).
Pesquisadores contemporâneos como Baltes (1987) apresentam três importantes características do estudo da Psicologia do Desenvolvimento Humano:
O desenvolvimento é vitalício – ocorre da concepção à morte. Nenhuma etapa é mais ou menos importante, mas todas estão relacionadas e exercem influência sobre comportamentos futuros.
O desenvolvimento depende do período histórico e contexto – é influenciado pelas experiências vividas e locais de tempo e espaço. O homem influencia a sociedade e é influenciado por ela.
O desenvolvimento é multidimensional e multidirecional – em todas as fases da vida existe um desenvolvimento específico para tal. Ao mesmo tempo em que algumas habilidades são adquiridas, outras vão se perdendo, em um constante processo para manutenção do equilíbrio e equivalência entre ganhos e perdas relativos ao seu desempenho.
Como vimos, o desenvolvimento humano é uma sucessão de etapas que se sobrepõe, sem que uma seja mais importante do que outra, mas há entre elas uma interdependência, pois é necessário que cada uma seja vivenciada de forma plena para que as demais também possam ser. Neste contexto, são vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento humano, mas alguns podem ser considerados determinantes, como os fatores: Biológicos, Cognitivos, Emocionais e Sociais.
Embora determinantes, mostram-se interdependentes à medida em que o desenvolvimento de um se dará em maior ou menor medida, conforme o desenvolvimento do outro. Uma criança, ao nascer, pode herdar de seus pais uma carga genética potencial para o estabelecimento de desenvolvimento, porém estas potencialidades poderão, ou não, se desenvolver conforme os estímulos que essa criança recebe do ambiente. Assim, uma criança que seja muito estimulada, oralmente, pode ter ótimo vocabulário, mas não subir bem as escadas, pois não experiencia isso.
Do mesmo modo, para que haja um desenvolvimento cognitivo adequado, é necessário o crescimento orgânico/biológico e a maturação neurofisiológica, que tornam possíveis determinados comportamentos, como segurar, adequadamente, o lápis e manejá-lo com habilidade para ser alfabetizado. Por Maturação Neurofisiológica, compreendemos o aspecto físico-motor, ou o crescimento biológico e orgânico, e que, também, possibilita determinados padrões de comportamento da criança, o que possibilita, ou não, o recebimento e a internalização de determinados estímulos de crescimento e desenvolvimento.
No Quadro 2 a seguir, sistematizamos os conceitos de Piovesan (2018) sobre tais aspectos.
Quadro 2 - Aspectos que contribuem para o Desenvolvimento Humano / Fonte: adaptado de Piovesan (2018).
Para saber mais sobre este assunto, leia o livro Desenvolvimento Psicológico e Educação – Psicologia da educação escolar, de COLL, C. et al. v. 2. Tradução Fátima Murad. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
Todas as teorias do desenvolvimento humano partem deste pressuposto em que existe uma indissociabilidade destes quatro aspectos, mas podem estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um deles, como a psicanálise de Sigmund Freud (1856 - 1939) toma como princípio o aspecto afetivo-emocional, ou o Construtivismo de Jean William Fritz Piage (1896 - 1980) que enfoca sua teoria no desenvolvimento intelectual. O aspecto biológico engloba grandes implicações no processo de aprendizagem, em especial quando o corpo não apresenta desenvolvimento normal para a fase em que o indivíduo vivencia. Sobre este aspecto, Gallo e Alencar (2011) relembram que a implicação genética é fator importante para o desenvolvimento humano, pois o material genético determina como a pessoa será e como seus órgãos funcionarão. Contudo, se alguma alteração ocorrer neste material de modo a interferir no funcionamento do organismo humano, podem ocasionar algumas doenças ou síndromes que poderão comprometer o desenvolvimento normal da criança. Estas alterações podem ser de origem genética ou provocadas por agentes ambientais.
Gallo e Alencar (2011) sinalizam os principais fatores de risco ao desenvolvimento, ainda no período intrauterino, sendo:
Quadro 3 - Os principais fatores de risco ao desenvolvimento humano, ainda na fase uterina / Fonte: adaptado de Gallo e Alencar (2011).
Observa-se que os aspectos biológicos têm grande influência sobre os demais aspectos, ao considerarmos que a ausência do crescimento orgânico e da maturação neurofisiológica podem impossibilitar determinados padrões de comportamento. Se, por exemplo, o indivíduo não tiver condições de segurar o lápis e manejá-lo com habilidade, haverá implicações no seu processo de alfabetização e nos processos cognitivos mobilizados para tal aprendizagem. Da mesma forma, observamos como as transformações sociais têm impactos diretos nos aspectos emocionais dos indivíduos. Se considerarmos o período da adolescência, percebemos como, historicamente, esta fase se modificou com o passar dos anos.
A adolescência é fruto de um constructo social, é resultado da infinita rede bio-psíquica-social da qual o sujeito faz parte. Adolescer não é universal, nem algo inato ao ser humano, mas sim um período da vida humana cuja caracterização depende, inteiramente, do tipo de sociedade em que o jovem se encontra e, também, das diferentes camadas sociais existentes no estado, país, comunidade em que o adolescente esteja.
Economicamente, percebemos que, nas classes mais altas, verifica-se um protecionismo prolongado, um entendimento de que a infância social quanto às responsabilidades, enquanto nas classes menos abastadas, desde muito cedo, os jovens são inseridos no mercado de trabalho para auxiliar seus pais na geração de renda familiar. Siegel (2015) reflete que o final da adolescência está se dando cada vez mais tardiamente, entre 24 e 26 anos, pois as experiências que marcam o fim da desta etapa estão sendo postergadas por conta de fatores, como falta de emprego e dificuldade de se manter, financeiramente, fora da casa dos pais. Essa situação favorece o amadurecimento emocional tardio, é um fenômeno denominado Transição Interminável, em que o indivíduo foge das escolhas, não assume responsabilidade e adia seu ingresso na fase adulta.
Vamos observar que cada geração age de acordo com seus valores, que são construídos a partir da sua interação com o meio, que, por sua vez, é influenciado por questões econômicas, culturais e sociais. Quantas vezes você, caro(a) aluno(a) se indispôs com seus pais ou familiares por terem diferentes pontos de vista sobre relacionamento, trabalho ou sociedade?
Isso é resultado do que chamamos de conflitos de gerações. A seguir, no Quadro 4, especificamos as principais características de cada uma das nossas gerações. Analise com atenção.
Quadro 4 - Conflito de Gerações (A faixa etária considera para cálculo o ano de 2021) / Fonte: a autora.
Observe em qual geração você se enquadra e em qual geração seus pais se enquadram. Por fim, se tiver filhos, observe em qual geração seus filhos ou seus alunos se enquadram. Com base nas informações desse quadro, fica mais fácil entender por que nos comportamos de formas tão diferentes, não é mesmo?
Quando entendemos os aspectos sociais, emocionais, cognitivos e biológicos pelos quais o indivíduo está sendo impactado, temos mais clareza sobre como esses fatores impactam na aprendizagem. E por falar em Aprendizagem, convido você a seguirmos em nossos estudos para nos aprofundarmos um pouco mais nesse processo de aquisição e construção de conhecimento.
Vamos começar entendendo um pouco mais o conceito de Aprendizagem?
A história da humanidade é constituída por um contínuo processo de aprendizagem, pois desde sempre se ensinou e se aprendeu. É preciso termos isso presente para compreender o valor deste processo e do seu valor adaptativo na constituição do Homem (PINTO, 2003). Embora aprender não seja uma característica única da nossa espécie, o homem possui algumas características e particularidades que lhe conferem qualidade própria ao estudo, sendo:
Pode se comunicar utilizando uma diversidade de linguagens.
Lidam com o tempo de forma específica, em que passado e futuro se projetam no presente.
Possui grande capacidade imaginativa.
Tem uma cultura e um conjunto de competências que permitem a interação social.
Podem ver-se, simultaneamente, como sujeitos e como objetos do conhecimento.
Para Pinto (2003), tais características evidenciam que o potencial humano está ligado à capacidade de extensão da sua própria existência em um mundo simbólico, assim, a aprendizagem é algo mais que uma coisa passível de ser descrita e observada, mas, essencialmente, um processo cognitivo. Mesmo as aprendizagens motoras implicam uma ideia para se organizarem, visto que podemos saber acelerar um carro, ou virar a chave na ignição, contudo, isoladamente, estes saberes não são suficientes para guiar um carro. É preciso que estes gestos se organizem numa sequência de ações e em uma sequência temporal, um plano de utilização.
Graças a este entendimento, a aprendizagem pode ser entendida como uma capacidade que exercemos todos os dias para dar respostas adequadas às solicitações e aos desafios a que somos expostos, devido às nossas interações com o meio. Estes desafios são múltiplos e diversos e, por esta razão, não podemos reduzir toda aprendizagem a um único processo básico. Santos (2011) entende que aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e que ocorre quando há uma modificação de comportamento, mediante uma experiência. Nunes e Silveira (2015) também percebem a aprendizagem como algo intrínseco nas mais variadas atividades humanas, sendo que algumas se dão desde os primeiros anos de vida e estão vinculadas ao cotidiano da pessoa como andar, sentar, falar, identificar pessoas ou interagir, socialmente.
Veja, você, no seu dia a dia, é chamado, constantemente, a ajudar um aluno a resolver uma dificuldade, engajar pessoas em uma tarefa, organizar uma atividade, reparar uma avaria elétrica em casa, aprender uma nova tecnologia, um novo processo, ajudar um familiar a resolver um problema pessoal, ou mediar um conflito. Para cada uma destas situações deverá mobilizar vários tipos de aprendizagem para responder a cada uma delas de forma assertiva. Bom, e quanto à aprendizagem sistematizada de novos saberes? Além das aprendizagens do cotidiano, outras acontecem de forma sistematizada, em instituições próprias, como a escola. Estas aprendizagens estão relacionadas ao desenvolvimento da sociedade ao longo do tempo, que define o que os indivíduos devem saber nas diversas áreas do conhecimento humano. Em todos os campos da vida humana, em especial no que se refere à educação, os fracassos e os êxitos na aprendizagem têm repercussões importantes no desenvolvimento individual e coletivo de um povo (NUNES; SILVEIRA, 2015).
É importante ressaltarmos que, para que haja a aprendizagem, é preciso considerar três condições básicas do aprendente, que são definidas por Santos (2011) como:
Fatores fisiológicos: o aluno tem a maturação biológica, seja do seu sistema nervoso central ou dos demais órgãos e musculaturas requeridas para aquela aprendizagem?
Fatores psicológicos: o aluno está motivado para aquela aprendizagem? Possui autoestima, conceito positivo, confiança na sua capacidade e potencial de realização, ausência de conflitos emocionais que possam impactar, negativamente, sua aprendizagem?
Experiências anteriores: o aluno apropriou-se dos conhecimentos que são pré-requisitos necessários para a aprendizagem deste novo saber?
O conhecimento sobre estas três condições básicas de aprendizagem explica por que os conteúdos curriculares são estruturados de forma espiralada, porém sequencial, com avanço do nível de aprofundamento a cada ano. A cada ciclo ou ano escolar, o aluno amadurece, fisiológica e cognitivamente, o que lhe permite compreender conceitos mais complexos, além de estabelecer relação entre determinadas áreas do conhecimento.
Quando observamos a aprendizagem de adultos, a Andragogia, já podemos contar com o amadurecimento fisiológico, por exemplo, mas precisamos considerar as experiências anteriores e, principalmente, os aspectos que motivam esses alunos à aprendizagem. Apesar de já termos avançado muito em relação ao conhecimento do desenvolvimento humano e da aprendizagem, ainda encontramos a vigência de ideias de senso comum sobre a aprendizagem escolar, como essas três, apresentadas por Pinto (2003):
A aprendizagem se resume a prestar atenção aos saberes enunciados pelo professor, que estão em um livro ou que alguém executa. Neste viés, a atenção permitiria um trabalho cada vez mais perfeito em termos de imitação do modelo teórico e prático.
A aprendizagem é apenas um processo cumulativo, como uma pirâmide regular em que aula após aula vão se depositando conhecimentos adquiridos até se chegar no topo.
Os conhecimentos são semelhantes a coisas que se pode adquirir, colecionar, acumular e quando se tornam inúteis, podem ser jogados fora ou substituídos por outros de maior valor.
Na sua perspectiva, qual das duas concepções sobre aprendizagem são usuais nos tempos atuais? Embora estejamos vivendo em um contexto de educação que se prepara para a transposição 3.0 – 4.0, com forte influência das neurociências, não se surpreenda se encontrar ainda muitos professores que corroboram com ideias bastante arcaicas sobre os processos de ensino e de aprendizagem. Isso acontece porque ainda se olha a aprendizagem pelos resultados. Efetivamente, o resultado de uma aprendizagem se traduz em um comportamento, em uma ação que é, facilmente, associada a algo de concreto que podemos descrever e, a partir de então, inferir que o sujeito aprendeu, ou não.
É importante considerar que, mesmo que uma aprendizagem se manifeste deste ou daquele modo, não se processa desta forma. Ao dizermos que para aprender é preciso imitar, repetir, estar atento, estamos descrevendo comportamentos sem nada relatar sobre as operações mentais envolvidas na aprendizagem ou na efetiva compreensão do objeto de conhecimento. Podemos citar algumas características do processo de aprendizagem, descritas por Bernardo (2009) que ajudarão você a compreender melhor este conceito, sob as lentes de um olhar mais amplo.
A aprendizagem depende de intensa atividade do indivíduo em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. Aprendizagem só acontece por meio da atividade externa (física) e interna (mental), por isso, ela é DINÂMICA.
Todas as ações do indivíduo, desde o início da infância, já fazem parte do processo de aprendizagem. Todas as adaptações cotidianas demandadas são processos de aprendizagem vivenciados, por isso, ela é CONTÍNUA.
Todo comportamento humano é global e, assim, todo envolvimento para mudança de comportamento terá que mobilizar os aspectos motores, emocionais e mentais como produtos da aprendizagem, por isso, ela é GLOBAL.
A aprendizagem é um processo que acontece de forma singular e individual, sendo pessoal e intransferível. Ninguém pode aprender que não seja por si mesmo, por isso, ela é PESSOAL.
A aprendizagem acontece por meio de situações cada vez mais complexas. Em cada nova situação, um maior número de elementos é envolvido, gradativa e ascendentemente, por isso, ela é GRADATIVA.
A aprendizagem resulta sempre das experiências vividas pelo indivíduo, que servem como base para novas aprendizagens. A experiência atual aproveita-se das experiências anteriores, por isso, ela é CUMULATIVA.
Figura 1 - Características do processo de aprendizagem / Fonte: adaptada de Bernardo (2009).
Descrição da imagem: vários círculos interligados por uma flecha cada um. Cada círculo contém uma palavra. Primeiro círculo contém a palavra: Pessoal; no segundo círculo, Gradativa; no terceiro círculo, Cumulativa; no quarto círculo, Dinâmica; no quinto círculo, Contínua; no sexto círculo, Global, e, por fim, volta para o círculo onde está a palavra Pessoal.
Você já assistiu ao filme Escritores da Liberdade? Nesse filme, podemos observar como vários destes processos estão presentes e se manifestam na aprendizagem de um grupo de alunos de uma escola localizada em uma região mais pobre da cidade.
É importante você ter compreendido que a aprendizagem é um processo dinâmico e ativo, afinal, não somos receptores passivos do conhecimento ou espectadores de nossa experiência. Estudos sobre a plasticidade do cérebro e as possibilidades de estabelecimento de novas conexões neurais nos sinalizam que as diversas situações de aprendizagem modificam as capacidades cognitivas cerebrais, que, por sua vez, ampliam nossa capacidade de aprendizagem.
À medida em que múltiplas aprendizagens vão surgindo e são incorporadas às já existentes, temos a construção de novas visões, novos comportamentos, novos sentimentos e novas ideias. Porém, como não aprendemos da mesma forma, individualmente, desenvolvemos diferentes estratégias de aprendizagem que nos permitem mais compreensão do objeto de conhecimento, ou seja, como aprendizes, criamos sistemas mediados por instrumentos simbólicos com a linguagem, o pensamento entre outros processos (NUNES; SILVEIRA, 2015).
Assim, se um aluno, ao estudar ciências, necessitar definir estratégias para classificar, analisar, identificar, organizar, sistematizar, cabe ao professor conhecer o modo como o aluno construirá, elaborará e dará significado ao seu conhecimento para que sua prática pedagógica respeite os ritmos, os níveis e as singularidades dos alunos em cada uma das etapas de formação. Apesar das características da natureza do processo de aprendizagem, foi apenas antes do início deste século que algumas teorias sobre como se aprende começaram a ser sistematizadas, com desenvolvimento de uma ciência denominada Psicologia cujo objeto de estudo é a mente do homem.
Até aqui, falamos um pouquinho sobre os conceitos de aprendizagem. Você conseguiu estabelecer uma relação entre a aprendizagem e o entendimento do desenvolvimento humano? Recomendo que faça um breve resumo, com suas percepções iniciais sobre essa inter-relação. Mais à frente, vamos nos aprofundar neste tema e você poderá aprofundar seu entendimento sobre este aspecto.
Agora, convido você a relembrar do seu tempo de escola. Pense no seu melhor professor, recorde-se das estratégias que ele utilizava, da sua personalidade, daquele conteúdo que ele ensinou e você nunca mais esqueceu. Agora, pense no professor com o qual você não tinha muita afinidade, em como eram as estratégias, qual foi sua maior dificuldade em aprender? Pois é, sempre que ensinamos alguém, o fazemos de uma forma e, dessa maneira, varia muito de pessoa para pessoa, porque todos nós temos, consciente ou inconscientemente, uma teoria ou um modelo sobre como se ensina e se aprende e que acabamos colocando em prática quando somos chamados a ensinar algo. Percebemos que algumas pessoas têm êxito nessa prática, e outras não, assim como existem pessoas que, nas mesmas situações, aprendem melhor do que outros.
Para compreender por que isso acontece, nós nos valemos das teorias de aprendizagem, que nos ajudam a olhar para este processo de aprender de forma global, não apenas pelo lado de quem ensina, mas principalmente pelo lado de quem aprende. Esse olhar qualificado oportuniza uma compreensão sobre o momento biopsicossocial do sujeito que está aprendendo, o que nos ajuda a organizar um processo de ensino favorável à aprendizagem. Pinto (2003, p. 6) nos traz uma importante reflexão neste sentido: “[...] é esta análise que nos pode ajudar a organizar a formação de modo a facilitar a emergência e o trabalho desses processos cognitivos e assim rentabilizar o trabalho quer do formando quer do formador, e a tornar mais ‘humana’ e ‘normal’ a tarefa de formação”.
Retomando o quadro do Conflito de Gerações, imagine que você precisa planejar e ministrar uma aula sobre determinado conteúdo para alunos da geração Baby Boomers e da Geração Z. Você utilizaria as mesmas estratégias, as mesmas abordagens, os mesmos exemplos para contextualizar os conteúdos? Certamente que não. As diferentes visões sobre o Homem nos proporcionam uma percepção ampla e eclética sobre a aprendizagem, instrumentalizando-nos a uma melhor intervenção para qualificação dos processos de ensino e de aprendizagem. Evidencia-se, desta forma, a importância no aprofundamento do conhecimento sobre o desenvolvimento humano e de sua intrínseca relação com a aprendizagem, constituindo-se de uma matéria de relevância na interface entre Psicologia e Educação.
Ao compreendermos que cada fase do desenvolvimento humano: pré-natal, infância, adolescência, maturidade e senescência apresentam características muito próprias que permitem seu reconhecimento, possibilitamos melhor compreensão, interpretação e, quando é o caso, intervenção no comportamento humano, orientados para seu desenvolvimento pleno.
Vamos aprofundar nosso conhecimento sobre como se dá o processo de aprendizagem durante nosso desenvolvimento?
O desenvolvimento humano pode ser pensado e estudado como um processo de construção do conhecimento que ocorre mediante a interação entre o sujeito e o objeto de estudo. A maturação é tida como um fator primordial para esta construção e ocorre durante o processo de desenvolvimento originado pelas mudanças do organismo e ocorrem de dentro para fora do indivíduo. Além da predisposição natural do corpo humano, ela depende de estímulos do meio ambiente para se desenvolver plenamente.
Assim, a maturação está, diretamente, relacionada ao amadurecimento físico e do sistema nervoso do indivíduo, sendo imprescindível, mas não suficiente para possibilitar o desenvolvimento do mesmo; não havendo relação direta entre a maturação e os fatores sociais e culturais do meio no qual o indivíduo está inserido (SANTOS, 2011). Para melhor exemplificar, podemos entender a puberdade como um processo de maturação, e a adolescência como um processo de aprendizagem. A puberdade diz respeito a um processo biológico, e a adolescência a um processo social. Ambos não ocorrem, necessariamente, no mesmo momento, mas tem inter-relação.
Em termos escolares, observa-se que a atuação dos professores quanto ao processo de ensino está, de certa maneira, restrita aos padrões de maturação dos alunos. A aprendizagem deve respeitar esse processo de maturação, pois o não entendimento do que o aluno está apto, ou não, a realizar pode gerar consequências negativas neste processo. Evidencia-se a importância de que educadores e pesquisadores da educação direcionem esforços para possibilitar a construção do conhecimento, desenvolvendo atividades em sala de aula, que considerem não somente a estrutura cognitiva dos estudantes, mas também a adequação das atividades que propõem para que o conhecimento seja compreendido e assimilado (SANTOS, 2011).
Caro(a) estudante, até aqui, entendemos as origens da Psicologia do desenvolvimento e da Aprendizagem e compreendemos que a Aprendizagem não acontece de forma isolada e com a mera repetição de conteúdo. Muito pelo contrário. O processo considera aspectos emocionais, biológicos e sociais, que são experienciados por nós, desde o momento de nossa concepção até nossa idade mais adulta. Você precisará ter esse conhecimento muito presente quando for atuar na Educação Formal, por exemplo, em que o currículo escolar é construído em espiral e norteado pela Base Nacional Curricular Comum, a BNCC.
A BNCC informa as 10 macros competências que devem ser desenvolvidas nos alunos desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio. Ao olharmos para a Base, observamos, ainda, que existem habilidades em desenvolvimento que, também, permeiam todos os segmentos. Como saber, então, em que nível desenvolveremos cada uma destas competências e habilidades em cada uma das etapas de formação dos alunos?
Considerando tudo que aprendemos aqui sobre a Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, compreendemos que o ciclo de aprendizagem deve acompanhar o ciclo de vida do indivíduo. Ou seja, antes de ensinar, é preciso ter clareza sobre em qual momento físico, emocional e social o aluno está. Somente assim poderemos garantir o desenvolvimento de uma aprendizagem que se evidencia pela mudança de determinado comportamento ou determinada competência. Isso vale para processos educacionais em qualquer contexto, seja na educação formal, no local de trabalho, nas empresas seja no convívio social.
Você percebeu quais competências e conhecimentos precisou mobilizar para resolver esta questão?
Entender qual a relação entre o desenvolvimento humano e a aprendizagem.
Entender as dimensões do desenvolvimento humano.
Conceituar aprendizagem.
Entender que a aprendizagem depende também de um processo de maturação.