Coprólitos
Fezes fossilizadas
Ao identificar o modo de vida de um animal, utilizamos a morfologia de seus ossos e dentes para inferir alguns de seus hábitos alimentares. Os coprólitos são, por outro lado, evidências diretas da dieta de seus produtores, visto que frequentemente preservam restos alimentares não digeridos e posteriormente evacuados. Restos de plantas, fragmentos de ossos e escamadas de peixes estão entre os materiais mais comumente encontrados no interior dos coprólitos.
FICHA TÉCNICA
Tamanho: de 1,8 cm a 23 cm de comprimento
Época: Meso- a Neotriássico (237 a 225 milhões de anos)
Sítios onde foram encontrados: Sanga Pinheiros, Sanga da Divisa, Sanga Menezes, Sanga Hinz, Cerro do Gomes, Sítio Oveiras e Vale do Sol.
Coprólitos, palavra que significa fezes (copros) de pedra (lithos), são relativamente abundantes no registro fossilíferos, apesar de aparentar ser um material de fácil destruição. Isso ocorre porque cada animal produz um volume muito maior de fezes durante sua vida do que o próprio corpo. Para termos uma noção destes valores, as grandes manadas de herbívoros africanos (zebras, gnus, antílopes, etc.) produzem 4 mil toneladas de esterco diariamente, fertilizando os pastos onde vivem. Desta forma, o potencial de preservação das fezes pode ser tão alto quanto os restos corporais de seus produtores.
Além dos restos alimentares, ovos e cistos de parasitas podem também ficar preservados no interior dos coprólitos. Dentre os principais parasitas, protozoários e vermes dos grupos das tênias e das lombrigas são os mais comuns. Em um coprólito de Candelária já foi encontrado um ovo de parasita, identificado como sendo da espécie extinta Palaeoxyuris cockburni (Palaeo=antigo, oxyuris=grupo dos oxiúros, cockburni= homenagem ao pesquisador Aidar Cockburn). Interessantemente, os vermes do grupo dos oxiúros atuais são exclusivos de animais com uma dieta composta por grandes quantidades de matéria vegetal, permitindo-nos inferir que o produtor do coprólitos em que P. cockburni foi encontrado era um herbívoro ou um onívoro. Bactérias e fungos também ocorrem com frequência, embora muitas vezes somente seus moldes fiquem preservados.
Quem fez esta cáca?
Esta é a pergunta mais frequente dentre os paleontólogos que se dedicam a estudar os coprólitos. Com base nos restos alimentares encontrados dentro dos coprólitos (plantas, ossos, escamas, etc.), podem-se discutir os hábitos alimentares dos animais que os produziram. Alguns parasitas específicos de animais carnívoros ou herbívoros também podem nos dar dicas sobre este assunto. No entanto, conseguir identificar a espécie de animal que produziu um determinado coprólito é uma tarefa impossível. Dentre os animais atuais, não existe uma correlação entre os diferentes grupos e a forma e o tamanho de suas fezes. Por outro lado, estas variam bastante de acordo com a dieta, a quantidade de água consumida, a saúde e a idade do animal. Dentre os seres humanos, são reconhecidos sete diferentes tipos de fezes e suas variações são conhecidas no contexto médico como Escala de Bristol. Imagine se cada uma das morfologias das nossas fezes fosse preservada no registro fóssil. Será que conseguiríamos identificar seus produtores corretamente?