A Boca da Guerra

Capítulo 7: Sáeril Quepentorne – Entre cadáveres

Poucos dias antes, Sáeril caminhou entre cadáveres. Ele não estava na Boca da Guerra, portanto aquela batalha não fazia parte da Guerra Civil da Franária. Lembrou-se que havia se abrigado em Lune, que ficava em Deran, no norte da Franária. Enquanto Patire e Baynard se batiam na Boca da Guerra, Deran defendia a Franária inteira das invasões nórdicas.

As pancadas metálicas da batalha recém-terminada ainda pulsavam no ar. O rasgo surdo de lâmina desfazendo carne, gritos silenciados em aço, gargarejos de sangue. Sáeril cobriu o nariz com uma mão enluvada. Ele notou um movimento, um corpo ainda vivo, vazando vida sobre lama. O cadáver adiado era Séramon.

O Mestre de Lune tentou falar. A garganta já estava morta e nenhum som saiu de sua boca. Mesmo assim, Sáeril ouviu e se aproximou.

— Você quer minha ajuda — Sáeril leu nos olhos do moribundo aquilo que os lábios não conseguiam dizer. — Sinto muito, não posso.

Ele tocou com a ponta do dedo uma lança partida em dois, então disse:

— Receio estar sonhando. Não discuta, tenho consciência de que isto é a realidade, mas magos às vezes sonham com realidades. Afinal, todas as certezas que elas contêm não passam de sonhos para nós. Garanto que ainda estou descansando no quarto que você me cedeu em seu castelo.

— Por favor — o mago leu nos olhos do homem — não deixe que meus filhos morram.

— Mortais tendem a morrer com ou sem minha permissão. — Ele ergueu as mãos em sinal de paz. — Está bem, está bem, não se exalte. Verei o que posso fazer por seus filhos.

O Mestre de Lune encheu de gratidão os olhos, que não fecharam, simplesmente esvaziaram. Sáeril Quepentorne acordou. Ainda estava muito fraco. Precisaria de mais alguns dias para conseguir se sustentar nas próprias pernas.


Capítulo 8

Nota da tartaruga: Realmente, a ilustração não tem nada a ver com a história. Estes são o Nuille e a Lucille. Eles demoram um pouco para aparecer, mas são dois dos meus favoritos.