--- Velha Goa --- Postais Ilustrados - Sousa & Paul Fotografos e Christovam Fernandes - Nova Gôa
--- Velha Goa --- Postais Ilustrados - Sousa & Paul Fotografos e Christovam Fernandes - Nova Gôa
( Atualizado em: 19/01/2018 )
Velha Goa (Konkani: पोरणें गोंय – Pornnem Goem; Hindi: ओल्ड गोवा – Old Gova, पुराणा गोवा – Purana Gova) é uma cidade histórica em Goa Norte, no estado de Goa, que se situa aproximadamente a 10 kms da capital Panaji.
A cidade foi fundada no local do antigo porto de "Govapuri" ou "Gokapattana", construído pela dinastia Kadamba no século XI, nas margens do Zuari. Govapuri foi um dos principais portos do primeiro reino Kadamba e, posteriormente, do Império Vijayanagara. No século XV, uma série de guerras foram travadas entre os Sultanatos Decanos e Vijayanagar pelo controle da região de Goa, tendo como resultado Govapuri ficado sob o controle do sultão Yusuf Adil Shah, de Bijapur. Govapuri foi devastado pelas guerras. Além disso, o Zuari tinha começado a regredir a partir do porto como resultado do assoreamento. Como resultado, os novos governantes Adilshahi construíram um novo porto na cidade de Goa, ao norte, nas margens do Mandovi.
Os portugueses a partir do século XVI deram ao antigo porto de Govapuri o nome de "Velha Goa", e fizeram da nova cidade a capital da Índia Portuguesa, até ser abandonada no século XVIII devido a uma epidemia. Continuou a existir como uma pequena cidade portuguesa, e em 1961 foi incorporada na Índia, com o resto de Goa. Terá tido em determinada época uma população de cerca de 200,000 habitantes, e daí os portugueses negociaram através dos continentes. As suas ruínas são hoje Património Mundial da UNESCO.
Autor: Ioannes Hugonius A. Linschoten, 1595
Jacques Nicholas Bellin – Da obra “Histoire Generale des Voyages”, de Abbé Prevost d’ Exiles, edição francesa de 1757.
Vistas da velha cidade de Goa
Vista geral da Velha Goa seiscentista
Porta da Cidade ou Arco dos Vice-Reis – Famoso monumento da velha cidade de Goa situado na margem do Mandovi. É composto de um elegante arco de cantaria bem lavrada com o friso da cimalha ornamentado alternadamente de esferas e corças (?). No cimo assenta outro corpo mais estreito, ladeado por dois socos com globos, e no centro um nicho em que está a estátua de Vasco da Gama em pé de face, fechando superiormente num frontão, tendo na arquitetura a seguinte legenda:
REINÃDO ELR. D. PHELIPE I POS A CIDADE AQVI DOM VASCO DA GAMA 1º CO
MDE ALMIRANTE DESCOBRIDOR E CONQVISTADOR DA INDIA SENDO VI
ZO-REI O CONDE DOM FRANCISCO DA GAMA SEV BISNETO O ANO D97.
IVLIVS SIMON ING. MAG. INV.
O frontão deste segundo corpo parece ter sido cortado no centro para dar lugar ao outro nicho de menores dimensões onde se acomoda a figura em bronze dourado de Santa Catarina, padroeira da cidade, posta sobre peanha em pé, de face; e do frontão em que também termina este terceiro corpo sai uma espécie de marco com o escudo das armas portuguesas.
Arco dos Vice-Reis, construído em 1597
Rua Direita – Onde ficava o Palácio da Inquisição defrontando com o do Senado da Câmara, terminava na Santa Casa da Misericórdia, e era a mais formosa e frequentada da cidade; aí estavam as tendas dos logistas ricos, e tinha de comprimento, segundo o testemunho de Pyrard, mais de mil e quinhentos passos. Com exceção dos domingos e dias santificados, faziam-se leilões desde as seis horas até às doze da manhã, pelo que também se chamava Rua dos Leilões. Linschoten desenhou-a do natural, quando esteve em Goa nos fins do século XVI.
Palácio da Inquisição – Antiga habitação do sabayo e depois da conquista até 1554 residência dos vice-reis. Em 1560 instalou-se ali o Santo Tribunal que o transformou a seu modo, e pela sua extinção em 1812 ficou abandonado o edifício, que em pouco tempo se começou a arruinar e a desmoronarem-se os dois pavimentos superiores. A Junta da Fazenda mandou-o demolir em 19 de julho de 1820, e D. Manuel de Portugal aproveitou-se muito dos seus materiais para as novas construções de Pangim, exemplo seguido pelo conde de Torres Novas. Quando Cottineau de Kloguen visitou Goa em 1829, conservava-se unicamente do vasto edifício o andar térreo, já sem portas nem janelas, cheio de entulho e arbustos e povoado de imensos répteis, cujo sossego não se perturba impunemente.
Acredita-se que o estabelecimento da Inquisição em Goa foi uma das mais poderosas causas da decadência do nosso comércio no Oriente e que muito concorreu para a declinação do nosso poder político. Os excessos que os ministros de uma religião toda baseada na paz e no amor do próximo cometiam, lançando vítimas nas chamas por julgamentos iníquos e praticando infinitas atrocidades, só podiam incutir naqueles povos a desconfiança, o terror e o ódio com desejo de se libertarem de tão miseráveis verdugos. Os comerciantes mouros, gentios, parses, arménios e judeus, que nos traziam o oiro, a prata, as pedras preciosas, o marfim, as porcelanas, os damascos, as especiarias e muitas outras riquezas da África e da Ásia, fugiram aterrados pelas violências dos fanáticos, que os queriam obrigar ao cristianismo, arrancando-lhes os filhos para os batizarem. A perseguição religiosa promovia muitas vezes a revolta, e a tropa tinha de marchar contra os rebeldes, carregando também com o odioso.
(A. C. Teixeira de Aragão)
Pelourinho da Inquisição
Sé Primacial e Palácio Arquiepiscopal (1) – Logo após à segunda conquista de Goa em 1510, o pagode que ali existia foi convertido em igreja cristã e recebeu como orago Santa Catarina, que Afonso de Albuquerque havia escolhido para padroeira da cidade. Serviu de primeira paróquia; teve a sua colegiada, ampliando-se o templo em 1523, e anos depois pela bula de 3 de novembro Aequum reputamos foi feita catedral do bispo de Goa. PauloIV, por outra bula Etsi sancta, de 4 de fevereiro de 1557, elevou-a a Sé Arquiepiscopal Metropolitana Primacial da Índia, e desde o arcebispo D. Fr. Aleixo de Meneses que se intitula Primaz do Oriente. A magnífica fábrica que hoje ainda se admira foi principiada nas proximidades da antiga nos primeiros anos da segunda metade do século XVI.
O sumptuoso templo e o palácio arquiepiscopal levaram a construir mais de sessenta anos e concluíram-se em 1619. A Sé tem a fachada principal voltada para o nascente, e fica a 9 quilómetros de Pangim e um pouco afastada das margens do Mandovi.
Sé Catedral de Goa, construída em 1523
Interior da Sé Catedral
Altar-Mór e Altar do Sagrado Sacramento
Igreja e Convento de S. Francisco (4) – Afonso de Albuquerque pelo mesmo tempo em que fez a doação do pagode, entregou a mesquita dos mouros aos franciscanos, capelães da sua armada, para também a transformarem em templo cristão. Em 1517 chegou a Goa, indo do Reino, fr. António do Louro da mesma ordem, incumbido de ali formar convento para oito frades e fabricar nova igreja, que se concluiu em 1521, ficando com a invocação de S. Tomé. Pertenceu à província de Portugal até 1583, e neste ano o capítulo geral celebrado em Toledo deu-lhe o título de província de S. Thomé da Índia Oriental, mas só o usou desde 1612 depois de confirmado por Paulo V.
Por esta época as paredes denunciaram tão iminente ruína que tiveram de ser apeadas, principiando-se a reconstrução à custa de esmolas em 1661, e do antigo apenas se conservou o precioso portal de pedra preta muito ornamentada, que, segundo a opinião de Sr. Cunha Rivara, talvez seja o único espécimen que existe em toda a Ásia, da arquitetura portuguesa no começo do século XVI. O convento teve posteriormente várias alterações nos claustros e celas, acrescentaram-se-lhe dois dormitórios, o do Rato e do Guardião e outras obras de menos vulto.
A frontaria do templo é amparada por três valentes gigantes de alvenaria; no interior a igreja de elegante arquitetura, as suas abóbadas são elevadas e bem construídas, prometendo longa duração. No pavimento estão muitas campas com curiosas inscrições e brasões de armas, onde repousam ilustres cavaleiros e ricas donas portuguesas.
O convento fica situado próximo do palácio arquiepiscopal, e quando foi extinto em 1853 continha vinte e sete frades; as suas propriedades, dinheiro, metais preciosos, alfaias e outros móveis, foram avaliados em 320 117 xerafins, 2 tangas e 19 1/16 réis.
Convento de S. Francisco de Assis, construído em 1521
Capela de Santa Catarina de Alexandria (5) – A história do motivo da sua fundação encontra-se resumida numa lápide colocada ao lado da porta da parte do nascente, que diz:
AQVI NESTE LVGAR ESTAVA A PORTA POR QVE ENTROV O GOVERNADOR AFFONSO DALBOQVERQVE E TOMOV ESTA CIDADE AOS MOVROS EM DIA DE SANTA CATARINA ANNO 1510 EM CVIO LOVVOR E MEMORIA O GOVERNADOR JORJE CABRAL MANDOV FAZER ESTA CASA ANNO DE 1550 Á CVSTA DE S. A.
Gaspar Correia refere que antes da edificação de Jorge Cabral já ali existia uma capelinha dedicada à santa para memória do feito, e a que hoje existe é de construção moderna, tendo a inscrição ao lado da porta em vez de estar por cima, como a observou Pyrard.
No interior do templo junto à porta da sacristia existe outra lápide representando em relevo a figura de S. Martinho a cavalo, dividindo a capa com um pobre, e por baixo a seguinte legenda:
POR ESTA PORTA ENTROV D. JOAO DE CASTRO, DEFENSOR DA INDIA, QVANDO TRIVMFOV DE CAMBAYA,
TODO ESTE MVRO LHE FOI DERRVBADO, ERA DE 1547 A.
Gaspar Correia, descrevendo a entrada triunfal de D. João de Castro em Goa, no ano de 1547, menciona a construção de um altar na face interna do muro que havia sido alargado para passar o cortejo, onde se pôs a imagem de S. Martinho, por ser neste dia que o governador conseguiu a grande vitória de Dio; e na parede colocou-se uma pedra com as letras talhadas e douradas, que falava a memória do feito. O nicho foi depois convertido em capela, de que não restam vestígios.
A capela de Santa Catarina está situada entre a cerca do Arsenal e a do Convento de S. Francisco. No dia 25 de novembro, aniversário da santa, saía da Sé uma luzida procissão para a sua capela, onde se cantava missa a que assistiam as primeiras autoridades de Goa.
Capela de Santa Catarina, edificada em 1510
Capela de Nossa Senhora da Conceição – Ficava junto ao Hospital Real, e figurou até 1595 no tombo geral do Estado, como pertencente à Fazenda.
Arco de Nossa Senhora da Conceição, construído em 1679