Ensaio sobre o problema da matematização das ciências desde a filosofia de Simone Weil
Matheus Henrique dos Santos
A emergência da filosofia moderna faz parte de um conjunto de acontecimentos em que se buscou conhecer o mundo físico através de um paradigma mecanicista. Por meio dessa novidade, a filosofia natural passou por uma mudança em seu interior e o que ocorreu foi um embaralhamento de explicações já conhecidas com a possibilidade de suas determinações agora em termos mecânicos. Isso se deu porque uma visão unitária e coerente das diversas ciências era impalpável, o que só se tornou possível com a concepção da física através das leis (não só as do movimento), como modo universal de explicar a natureza. Disso então derivam dois problemas, o da objetificação do mundo e o de uma ciência própria dessas leis. O enfoque então é dado à matemática, e o que se derivou foi um conjunto de aplicações as mais diversas a todas as ciências. Simone Weil (1909 – 1943) foi uma filósofa atenta aos problemas gerados por esse enfoque matemático e, mais especificamente, algébricos, aos quadros teóricos e os fenômenos que os correspondem. Sua obra apresenta não só os impasses ontológicos com os quais as ciências naturais e humanas se confrontam, mas os efeitos das filosofias, fundamentadas na algebrização, ao quadro político do século XX. Para a filósofa, a abstração pura na relação entre sinais algébricos é análoga à tentativa de representar a realidade como espelho do inteligível, ao puramente racional. Tal concepção, constituindo valor per si, seria estranha à experiência concreta do mundo que representa, tendo encontrado na técnica sua força destrutiva vivenciada nas guerras do século XX. O objetivo dessa investigação, nesse sentido, é apresentar o pensamento de Weil acerca do problema da algebrização e os desdobramentos concretos das ciências no espaço social e de trabalho sobre o qual elas se compõem.