Imaginação narrativa e testemunho: um ensaio sobre o fim da ética
Jaison M. Partchel
Esse texto tem por objetivo traçar um paralelo entre a literatura narrativa de Margatet Atwood, Primo Levi e a ideia agambiana do fim da ética. Três fontes primárias serão usadas, quais seja, O conto da aia, É isto um homem, Os salvos e os sobreviventes, e O que restou de Auschwitz. Em Levi, será explorada a noção de esgotamento da linguagem ordinária para fins de descrição de fenômenos de situação limite. Em Atwood, o uso será da sua noção de testemunho enquanto história que se pretende permanecer viva. Por fim, completando a estratégia metodológica, Agamben fornece a ideia de fim da ética, em uma releitura de Nietzsche frente ao grande desastre do século XX. O artifício principal a ser envocado por esse texto, o da imaginação narrativa, coloca-se como uma poderosa ferramenta quando pensamos sobre questões de justiça. Esta experiência artística tem, neste sentido, uma importância cívica, e desta fonte será derivada tal ideia de imaginação narrativa, contemporaneamente empregada por Martha Nussbaum, isto posto como uma noção fundamental para a ideia de razão prática O argumento principal a ser desenvolvido é uma linguagem de testemunho é o principal instrumento para se entender um cenário ético de áreas cinzentas em que os padrões normativos concebidos não mais dão conta, tornando difíceis juízos de responsabilidade e incentivando a imaginação narrativa como instrumento primo de reflexão filosófica. Procura-se avaliar uma possibilidade ceticismo normativo diante desta argumentação. Conclui-se que a todo testemunho, afinal, está a questão da credibilidade: uma testemunha deve ser capaz de gerar crença para – e garantir a confiança – do leitor/ouvinte, uma noção que se aplica ao gênero distópico como um todo. A capacidade de gerar plausibilidade e crença é o que separa a literatura distópica da literatura de fantasia. O resultado é uma narrativa enervada, mas plausível. Combinando sua exploração dos aparelhos estatais e uma abordagem alegórica, Atwood retrata a teocracia como um sistema escravista no qual as mulheres são oprimidas de todas as maneiras possíveis, privadas de seus direitos sobre seus corpos, pensamentos e palavras. Seus corpos são o que Michel Foucault chamaria de “dócil”, moldado pelo sistema panóptico e carcerário de Gilead. Seus pensamentos são interpelados por seu aparato ideológico, e sua linguagem é restringida pelo aparato repressivo de Gilead com seu discurso monológico.